Suzumiya Haruhi:Volume1 Capítulo7br

From Baka-Tsuki
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Capítulo 7


Auto-proclamada humano artificial criado por aliens. Auto-proclamada garota viajante do tempo. Auto-proclamado esquadrão de garotos espers. Cada um deles me deu uma prova concreta de sua identidade. Aparentemente, os três - cada um por suas razões próprias - tem se focado em Suzumiya Haruhi. Ok, eu posso viver com isso. Ou não, como se diabos eu pudesse viver com isso. Mesmo se aceitasse tudo que aconteceu, ainda havia uma coisa que eu não entendia.

Por que eu?

De acordo com Koizumi; aliens, viajantes do tempo, e espers, se reuniram em volta de Haruhi, porque ela quis que isso acontecesse.

E quanto a mim?

Por que fui tragado para o meio dessa mistura bizarra? Eu sou um humano 100% normal. Nunca acordei subitamente com memórias de uma estranha vida passada. E nunca fiz nada digno de nota. Não tenho super-poderes e nem nada do tipo. Sou apenas um estudante comum.

Então quem criou essa situação?

Ou alguém me fez cheirar alguma droga estranha, e eu estou alucinando bem agora? Ou cai em algum tipo de fantasia barata? Quem está puxando as cordas aqui?

É você, Haruhi?


Estou só brincando.


Eu realmente não sei de nada.

Então por que eu tenho que me preocupar com essa droga? Parece que a culpada de tudo isso é Haruhi. Nesse caso, é ela quem devia se preocupar, não eu. Não existe motivo para que eu fique confuso em seu lugar. Nenhum - absolutamente nenhum - é o que eu digo. Se Nagato, Koizumi, e Asahina-san decidiram me incomodar, revelando seus segredos para mim, por que não dizer tudo diretamente a Haruhi? O que acontecer com o mundo em seguida é de responsabilidade dela. E não tem nada a ver comigo.

Podem colocá-la em seu carrossel! Mas me deixem fora disso.

Com os dias contados para o verão, andei suado pela ladeira, limpando o suor com a minha blusa, enquanto puxava a gola e abria o terceiro botão da camisa. Estava quente já de manhã. E alguém bateu no meu ombro. Enquanto eu gritava "Não me toque! Está quente!" e virava para trás, o rosto de Taniguchi entrou em meu campo de visão.

"Yo!"

Taniguchi, que agora andava ao meu lado, também suava. "Que irritante, meu penteado vai ficar arruinado com todo esse calor." Mesmo dizendo isso, ele ainda parecia bastante animado.

"Diga Taniguchi."

O interrompi quando ele começava a falar sobre o seu cachorro, um assunto que eu não podia ligar menos, para fazer a minha pergunta.

"Eu sou um estudante normal, certo?"

"O que?"

Taniguchi deu uma risada como se afrontasse com uma piada muito engraçada.

"Talvez você devesse definir o que é 'normal'. De outra forma essa conversa não faria sentido algum."

"Sério?"

Eu havia me arrependido de perguntar isso a ele.

"Só brincandadeira! Você, normal? Eu não acho que um estudante de ensino médio comum vai deitar com uma garota em uma sala de aula vazia!"

É claro, Taniguchi não esquece esse tipo de coisa.

"Eu sou um cara também, então sei os meus limites. Seu segredo está a salvo comigo, entende o que eu digo?"

Eu não entendo isso, afinal.

"Desde quando vocês têm esse relacionamento? Nagato Yuki é algo que eu avaliaria como categoria A-!"

Então, Nagato era A- pelo ranking dele. Eu tentei me explicar para Taniguchi.

"Isso foi por que...”

Suponho que a mente de Taniguchi estivesse cheia de desejos e fantasias que destoavam imensamente da realidade. Então, decidi usar a seguinte explicação.

A pobre Nagato foi vitima da ocupação sem motivos da sala do Clube de Literatura. Ela tinha problemas em não poder realizar as atividades do próprio clube, então veio a mim pedir ajuda. Ela me perguntou use havia alguma maneira de fazer Haruhi desistir da sala de literatura e ir para outro lugar. Comovido com sua sinceridade, resolvi ajudar a pobre menina, e discutir com ela em um lugar que Haruhi não nos encontrasse. Assim resolvemos conversar na sala assim que Haruhi foi embora, Nagato desmaiou devido a sua anemia crônica. Porém, eu consegui aparar sua queda antes que ela atingisse o chão, e é isso que você viu. Taniguchi, uma vez que a verdade vem à tona, realmente parece uma coisa trivial.

"Mentiroso."

Instantaneamente rejeitado. Droga. Achei que minha mistura de realidade e ficção iria criar a historia perfeita.

"Mesmo que eu acredite em suas mentiras, o fato que a anti-social Nagato Yuki veio pedir ajuda a você, o que automaticamente faz de você alguém não normal."

Nagato era assim tão famosa, hein?

"Ainda mais, você é um dos caras da Suzumiya. Se você for considerado um cara normal, eu sou tão normal quanto uma pulga d´água."

Bem, acho que não custa perguntar.

"Diga, Taniguchi. Você pode usar PES?[1]"

1-[Nota do tradutor: PSE é o conjunto de poderes psionicos em que se enquadra a; telepatia, empatia, clarividência, precognição, e outros poderes que se usam das ondas psi. ESP também é a sigla para percepção extra-sensorial.]

"O quê?"

Um olhar estúpido subiu-lhe ao rosto. Taniguchi, você parece um daqueles seqüestradores de grupos religiosos perigosos que acabou de encontrar uma garota bonita.

"... entendo. Você finalmente foi infectado pelo veneno de Suzumiya… Não foi por muito tempo, mas foi legal conhecer você. Agora fique longe de mim. Se não eu vou pegar Suzumiya também."

Eu acertei um soco leve em Taniguchi, fazendo-o gargalhar descontroladamente. Se esse cara é um esper, eu sou um General Secretario das Nações Unidas.

Enquanto andávamos pelas escadas em frente ao portão da escola, eu me senti um tanto grato a Taniguchi. Pelo menos eu pude esquecer do calor por um tempo.


Aparentemente, nem mesmo Haruhi pode agüentar o calor. Ela se estendeu pela mesa, olhando desanimada para as montanhas ao longe.

"Kyon, tô com calor."

É? Eu também.

"Me abane com o seu livro."

"Se eu vou abanar alguém, esse alguém serei eu. Eu não tenho energia para gastar com você tão cedo."

Haruhi se inclinou para frente, sem nenhum sinal de ter feito aquele discurso ontem.

"O que devemos fazer Mikuru-chan vestir da próxima vez?"

Depois de Bunny-gal e maid, o próximo será... espera, tem mais?

"Orelhas de gato? Roupa de enfermeira? Ou talvez uma rainha?"

Eu imaginei a pequena figura de Asahina vestida em cada fantasia, com suas bochechas vermelhas. Isso está fazendo minha cabeça ficar leve. Ela é tão linda.

Eu comecei a pensar no assunto, Haruhi estreitou as sobrancelhas, e me encarou, ajeitando o cabelo atrás da orelha.

"Você está com uma cara idiota." - Haruhi decidiu.

Foi assim que ela taxou isso. Você é a pessoa que trouxe o assunto. Bem, provavelmente não é uma descrição muito precisa, mas não posso reclamar. Ela abanou o peito com o seu livro.

"Sério, está muito chato."

A boca de Haruhi parecia com um 'V' de ponta cabeça. Ela se aparentava ser um personagem de história em quadrinhos.


Mesmo sob a intensa radiação solar, conseguimos sobreviver a infernal aula de educação física da tarde. Depois da aula todos estavam reclamando "Maldito Okabe! Nos fez correr uma maratona de duas horas!", enquanto tirávamos nosso uniforme, que viraram peças inúteis de roupa molhada, a sexta aula começou, depois de voltarmos para a sala 1-5.

As garotas saíram da aula de educação física mais cedo para se trocar, mas como o ultimo período era apenas o conselho estudantil, algumas poucas pessoas que tinham clubes esportivos depois da aula, permaneceram com seus uniformes. Por alguma razão, Haruhi, que não participava de nenhum clube esportivo, continuava com seu uniforme de educação física.

“Porque está quente.”

E esse era o motivo.

“Quem se importa. Vou ter que me trocar de novo assim que for para o clube mesmo. E como tenho que limpar a sala esse semana, vai ser mais fácil se mexer assim.”

Haruhi descansou seu rosto oval sobre as mãos, enquanto olhava para fora da janela, acompanhando as imensas torres de nuvens no céu.

“Acho que faz sentido.”

Podemos usar isso para próxima fantasia de Asahina-san. Se bem que isso não conta como uma fantasia, afinal. Não tenho certeza de quem ela realmente é, mas por hora, ela é uma estudante de ensino médio.

“Você provavelmente está fantasiando sobre alguma coisa, certo?”

Ela me olhou de maneira perturbadora após esse comentário preciso. Era como se pudesse ler a minha mente.

“Não faça nada pervertido com Mikuru-chan até eu chegar ao clube.”

Engoli o meu “E quando você chegar eu posso?” e levantei as mãos para o ar, como um fora da lei que se vê apontado pela arma do xerife em algum faroeste antigo.


Como sempre, esperei por uma resposta as minhas batidas antes de entrar na sala. A empregada sentada na cadeira era como uma boneca de porcelana me acolhendo com um sorriso de girassol em um campo gramado. Isso reconfortava a minha alma.

Nagato, que folheava o livro em canto, parecia uma camélia que florira na estação errada. Sim, nem mesmo eu entendo mais as minhas metáforas.

“Vou preparar o chá.”

Asahina-san ajustou a sua tiara antes de caminhar em direção a mesa cheia de entulho. Ela cuidadosamente colocou as folhas de chá na chaleira.

Sentei-me na mesa da chefe da brigada, e maravilhado vi Asahina-san preparar o chá, então fui atingido por um pensamento repentino.

Eu liguei o computador, esperando o sistema operacional iniciar-se. Esperando atentamente o ícone do mouse mudar de uma ampulheta para uma seta. Abri o visualizador e digitei a senha para abrir a pasta “MIKURU”. Posso entender o porquê o Clube de Informática estava em lagrimas quando nos deu essa maquina. As miniaturas das imagens de Asahina em sua fantasia de maid carregaram-se instantaneamente.

Eu verifiquei se Asahina-san estava ocupada preparando o chá com um dos olhos, e aumentei uma das imagens dando um zoom.

Era de quando Haruhi a forçou a sua pose de leopardo. Chequei a ponta do seu decote exposto. Havia um ponto escuro no seio esquerdo. Eu aumentei novamente. O ponto estava um pouco borrado, mas achei que ele realmente se parecia com uma estrela.

“Entendo. É isso que ela quis dizer.”

“Você percebeu alguma coisa?”

Fechei a janela segundos antes de ela colocar a xícara sobre a mesa. Eu não cometo erros. Asahina-san parou ao meu lado e olhou para o monitor. Não havia nada para ver ali.

“Huh? O que é isso? Essa pasta MIKURU.”

Droga. Cometi um erro.

“Por que o meu nome está ai? Ei, ei. O que tem ai dentro? Me mostre, me mostre.”

“Bem, é apenas... eu imagino o que seja isso. Tenho certeza de que não é importante. É, é isso. Não é nada.”

“Parece mentira.”

Asahina-san se estica para pegar o mouse com um sorriso brincalhão no rosto e se inclina sobre mim para alcançar a minha mão direita. Eu não vou deixar isso acontecer, agarrei-me ao mouse. O rosto de Asahina surge ao lado do meu ombro, enquanto sinto o seu corpo macio pressionando sobre as minhas costas. Eu até posso sentir sua respiração doce contra o meu rosto.

“Uh, Asahina-san... você podia sair?”

“Me mostre —”

Asahina, que estava com a mão no meu ombro para tentar alcançar o mouse, estava agora completamente em cima de mim; senti a situação indo de mal a pior.

Sua risada doce atingiu os meus ouvidos. Incapaz de resistir a tamanha tentação, minha mão perdeu a firmeza, e nesse momento...

“O que vocês dois estão fazendo?”

Fomos assustados por uma voz gélida, de 273 graus negativos. Haruhi com seu uniforme de educação física, carregava a sua mala, com uma expressão medonha no rosto, era como se tivesse testemunhado seu pai molestando alguma garota inocente.

No instante seguinte, Asahina atordoada, começou a se mexer. Ela desastradamente se afastou das minhas costas, e recuou lentamente, e devagar se sentou na cadeira como um robô ASIMO [2] que está com suas baterias próximas ao fim. Seu rosto pálido estava a beira das lagrimas.

2-[Nota do tradutor: ASIMO é um robô produzido pela Honda. Seu nome, curiosamente, não é uma referência ao escritor russo de ficção científica Isaac Asimov. Em japonês, ASIMO é pronunciado ashimo, que significa algo como "também com pernas"].

Haruhi soltou um “humph” e olhou para a mesa, me encarando.

“Então, maids te excitam?”

“O que você está insinuando?”

“Preciso me trocar.”

Vá em frente! Vou ficar aqui e beber o chá que Asahina fez para mim.

“Não disse que preciso me trocar?”

Então?

“ENTÃO SAIA DAQUI!!”

Eu fui praticamente chutado para fora da sala, a porta bateu bem na minha frente.

“Mas que diabos foi isso!?”

Eu nem tive tempo de deixar o copo. Limpei o chá que vazou na minha camisa com os meus dedos, e então me apoiei na porta.

Engraçado. Tem algo estranho aqui.

“Ah, é isso!”

Normalmente Haruhi troca de roupa abertamente na sala, mas agora ela me expulsou do local.

Parece que ela começou a mudar. Talvez ela tenha chego à idade de se envergonhar com essas coisas? Não sei, pois garotos da sala 1-5 têm o habito de fugir da sala assim que o sinal toca. Pensando bem, a pessoa que nos tirava da sala, Asakura, não está mais entre nós.

Coloquei o copo no chão e me sentei no corredor por um tempo. O som das roupas sendo colocadas parou, mas não ouvi ninguém me chamando. Então sentei novamente e esperei por mais dez minutos.

“Pode entrar...”

A voz baixa de Asahina veio de trás da porta. Uma impecável maid abriu a porta em frente a mim, e atrás dela vi Haruhi sentada irritada com suas pernas brancas sobre a mesa. Ela usava um par de orelhas de coelho em sua cabeça, junto à nostálgica roupa de bunny-gal. Talvez ela não devesse ser incomodada por não estar usando nenhum acessório. Na verdade ela não estava usando nem aquelas meias.

“Mesmo que os braços e as costas fiquem frescos, essa roupa é meio apertada.”

Havendo dito isso, Haruhi pegou o copo de chá e tomou como se estivesse apreciando, enquanto Nagato lia o seu livro.

Sendo cercado por uma maid e uma bunny-gal, não sabia como reagir. Estava pensando quanto ia ganhar se usasse essas duas garotas para atrair clientes.

“Whoa, o que é isto?”

Koizumi subitamente abriu a porta, respondendo prazerosamente a histeria instaurada na sala e mantendo um sorriso no rosto.

“Oh! Uma festa a fantasia? Desculpe-me por não preparar nada.”

Não diga nada que pode complicar ainda mais as coisas.

“Mikuru-chan, sente-se aqui.”

Haruhi apontou para a cadeira dela. Asahina sentou obedientemente, olhando amedrontada para a assustadora Haruhi. Eu pensei no que ela estava tramando, mas apenas a vi fazendo tranças no ondulado cabelo castanho de Asahina.

A primeira vista, ela parecia uma irmã mais velha trançando o cabelo da irmãzinha. Mas como Asahina estava petrificada perante a expressão vazia de Haruhi, transformando o que era para ser uma cena terna em algo bastante perverso. Aparentemente ela estava apenas tentando fazer um rabo de cavalo para Asahina, a empregada, e isso era tudo.

Olhei para Koizumi, que sorria o tempo todo ao ver a cena, e finalmente disse.

“Quer jogar Othello?”

“Claro, não jogo há eras.”

Enquanto as peças brancas e pretas lutavam pelo controle do tabuleiro (nunca pensei que Koizumi, que podia se transformar em uma esfera brilhante, fosse tão ruim nos jogos de tabuleiro.), Haruhi trançava o rabo de cavalo de Asahina, então o desfez, e fez duas tranças e um coque...

Cada vez que Haruhi tocava em Asahina, ela tremia inteira, enquanto Nagato continuava absorta no livro.

Estou cada vez mais confuso sobre o motivo de estamos todos aqui!


Certo, naquele dia conduzimos as atividades da Brigada SOS pacificamente. Nada a ver com aliens, dimensões diferentes, viajantes do tempo do futuro, gigantes azuis, ou esferas vermelhas brilhantes, acontecia naquela hora. Ninguém queria fazer nada especial, ou ninguém sabia o que deveria ter sido feito. Apenas nos permitimos boiar no fluxo do tempo, vivendo nossa vida escolar bucolicamente. Tudo parecia perfeitamente normal.

Mesmo que estivesse insatisfeito com uma vida tão normal, eu sempre me dizia “Para que pensar tanto? Você ainda tem muito tempo.” E então novamente olhe para o amanhã.

Mesmo assim eu estava feliz. Eu vinha sem rumo para a sala do clube, e observava Asahina trabalhar como uma empregada de verdade, Nagato sentada como uma estatua de Buda, e Koizumi, com seu sorriso brilhante, e até mesmo Haruhi com suas bruscas mudanças de humor. Todas essas coisas davam ao ambiente uma aura de completa normalidade, e eu encontrei essas pequenas coisas como parte da minha surpreendentemente satisfatória vida escolar. Penso que mesmo tendo experiências fora da realidade como ter uma colega de classe tentando me matar, ou encontrar monstros furiosos em um mundo cinza, eu não tinha certeza se estes fatos não eram apenas delírios da minha imaginação, como resultado de hipnose, ou quem sabe alguma alucinação.

Eu estava meio que bravo por Haruhi ter me arrastado para o seu clube, mas usando-se de uma perspectiva mais ampla, vejo que foi por causa dela que pude matar tempo pacificamente ao lado de pessoas interessantes. Colocando de lado a questão de “Porque eu?”, talvez algum dia algum outro humano normal, assim como eu, irá se juntar a esse clube.

Sim, eu estive pensando nisso faz algum tempo.

Todo mundo iria pensar isso, não é?

Mas ainda assim, existia alguém que nunca pensara dessa forma.

Está certo, esse alguém era Suzumiya Haruhi.


Aquela noite, após jantar, tomar banho e terminar a revisão para a aula de inglês de amanhã, olhei para o relógio e descobri que já era hora de dormir. Deitei em minha cama e abri o grosso livro de capa dura que Nagato me empurrou aquele dia. Acho que uma leitura rápida não vai me matar - então casualmente li as primeiras páginas. A historia era surpreendentemente interessante, então continuei página após página. Você realmente tem que ler algo para entender quão agradável poder ser um livro. A leitura não era tão ruim afinal!

Era impossível terminar de ler um livro daquele tamanho em uma noite, então o deixei de lado após ler um longo monólogo de um dos protagonistas. O sono veio sobre mim, coloquei o marca página com a mensagem de Nagato dentro do livro, desliguei a luz, e me enfurnei embaixo do cobertor. Em poucos minutos, estava na terra dos sonhos.


Você sabe por que as pessoas sonham? O sono se divide em períodos alternados de sono REM e NREM. O NREM acontece nas primeiras horas de sono de uma pessoa, enquanto o cérebro fica em um estado estático. O estágio em que o cérebro se torna parcialmente ativo, mesmo com o corpo inconsciente é o REM, e é nesse estágio que os sonhos ocorrem. Pela manhã os estados REM aumentam de freqüência, significando que quase todos sonham antes de acordar. Eu sonho todas as noites, mas como geralmente acordo atrasado para aula e tenho que sair correndo, os esqueço com facilidade. Porém, às vezes lembro-me de um sonho esquecido há tempos. É realmente incrível como a memória humana é bem estruturada.

Pronto, chega dessa conversa casual. Na verdade, eu não dou à mínima.

Sinto alguém acertar o meu rosto. Vai embora! Estou cansado! Não atrapalhe os meus sonhos!

"... Kyon."

O despertador não tocou ainda. E mesmo se tocou, eu devo ter desligado ele de vez, e ainda tem algum tempo para que a minha mãe ou a minha irmã me arrastem da cama.

"Acorde logo."

Não! Eu quero dormir mais. Não tenho tempo para esses sonhos estranhos.

"Eu disse para acordar! Você pode me ouvir?"

Mãos envolveram o meu pescoço e começaram a se mexer violentamente. Finalmente abri os meus olhos quando senti a parte de trás da minha cabeça bater no chão duro.

Chão duro?

Eu levantei confuso. Haruhi me olhava de cima, e recuou para impedir que batêssemos nossas cabeças.

"Finalmente acordado?"

Parada ao meu lado estava Haruhi, vestindo o seu uniforme. Seu rosto pálido estava repleto de ansiedade.

"Você sabe onde estamos?"

É claro que sei; é a Escola Secundaria do Norte, a escola aonde estudamos, e bem agora estamos do lado da escada perto dos armários de sapatos da entrada da escola. Não tem nenhuma luz acesa, e a escola a noite apareceu cinza em nossa frente.

Não, tem alguma coisa errada.

Não tem nenhum céu noturno lá em cima.

Apenas um vasto horizonte cinza. Um céu monótono. Não existem luzes ou estrelas, nem mesmo uma única nuvem. Apenas um céu cinza como as paredes de concreto.

Esse mundo estava coberto em trevas e silêncio.

Esse era um Espaço Restrito.

Lentamente fiquei em pé. Estava surpreso de não estar vestindo os meus pijamas, e sim meu uniforme escolar.

"Quando eu acordei, me vi aqui, com você do meu lado. O que está acontecendo afinal? Porque estamos na escola?"

Haruhi perguntou em uma anormal voz suave. Não respondi a ela imediatamente, estiquei os meus braços para sentir o meu corpo. Da dor de um beliscão sobre a minha mão, até a sensação do meu corpo e do uniforme, isso não parecia um sonho. Eu arranquei dois fios de cabelo. E percebi que aquilo realmente doía.

"Haruhi, somos os únicos aqui?"

"Sim, eu acho que deveria estar em baixo do meu cobertor agora. Por que aparecemos aqui? E o céu parece estar estranho..."

"Você viu o Koizumi?"

"Não, por quê?”

"Nada não, só perguntando."

Se esse Espaço Restrito tivesse sido criado por uma fissura nas linhas dimensionais ou por fatores externos, e por todo aquele blábláblá, um gigante luminoso e Koizumi com seus amigos deveriam estar aqui também.

"De qualquer maneira, vamos sair da escola! Agora! Talvez possamos encontrar alguém."

"Porque você não parece nem um pouco surpreso?"

Certamente eu estou surpreso, especialmente por ver que você também está aqui. Esse não era para ser o parque de diversões dos gigantes que você cria? Ou estou tendo um sonho com realidade em excesso? Sozinho aqui com Haruhi em uma realidade vazia... se Freud [3] estivesse aqui, ele poderia analisar esse sonho para mim!

3-[Nota do tradutor: Sigmund Freud (Príbor, 6 de maio de 1856 — Londres, 23 de setembro de 1939). Médico neurologista e fundador da Psicanálise].

Permaneci a certa distancia de Haruhi enquanto andávamos em direção a entrada escola, quando fomos barrados por uma parece invisível. Ainda me lembro da sensação elástica dessa parede. Ela poderia ser empurrada um pouco, mas pouco depois, uma parede mais dura iria bloquear as tentativas de prosseguir.

"... o que é isso?"

Haruhi estendeu os braços e tentou empurrar a parede invisível, ela perguntava com os olhos arregalados. Andei em torno da quadra esportiva enquanto mapeava a parede.

Parece que estamos presos na escola.

"Não parece haver maneira de sair daqui."

Não podia sentir o vento. Era como se o movimento do ar tivesse parado.

"Vamos tentar a entrada dos fundos!"

"Certo, existe alguma forma de fazermos contato com alguém? Vamos procurar por um telefone. Não trouxe o meu celular."

Se esse era um Espaço Selado de que Koizumi havia me falado, encontrar um telefone seria inútil. Deixando isso de lado, ainda decidimos entrar na escola para olhar. Deveria haver um telefone na sala dos funcionários.



A escola era assustadora no escuro. Passamos pelos armários e sorrateiramente entramos no prédio da escola. Durante o caminho, acendemos as lâmpadas do primeiro andar, e felizmente as luzes do teto se acenderam de uma só vez. Mesmo sendo luzes frias e artificiais, elas eram o suficiente para proporcionar certo alivio para mim e para Haruhi.

Após ter certeza de que não havia ninguém nas salas, seguimos para a sala de funcionários. Naturalmente, ela estava trancada, então peguei um extintor de incêndio que estava próximo, e estilhacei a janela, para podermos entrar.

"... não parece estar funcionando."

Haruhi segurou o telefone contra o ouvido, mas não podia se ouvir nada. Ela discou alguns números, mas nenhum som veio dele.

Saímos da sala, acendendo todas as lâmpadas no caminho, subimos as escadas, pois Haruhi sugeriu que voltássemos a nossa sala. Como a sala da classe cinco dos primeiros anos estava no último andar, era possível que pudéssemos ver algo lá de cima.

Haruhi continuou agarrada a minha jaqueta enquanto caminhávamos. Não conte comigo; não tenho nenhum poder sobrenatural. Se você está assustada, então segure no meu braço! Isso cria um clima melhor!

"Idiota!"

Haruhi me encarou irritada, mas seus dedos não se soltaram por um minuto da minha blusa.

Não havia mudança alguma na sala 1-5, ela estava bem como deixamos ao sair da aula.

"... Kyon, olha..."

Haruhi silenciosamente andou em direção a janela. Andei ao seu lado e observei a situação.

Tudo a nossa volta era um mundo cinza. Olhando para baixo do quarto andar até o topo da colina, eu só podia ver o horizonte antes da praia. O panorama estava completamente negro, sem nenhuma luz acesa. Parecia o fim do mundo.

"Que lugar é esse..."

Não era como se as pessoas tivessem desaparecido, mas, na verdade nós desaparecemos. Parece que entramos nesse Espaço Restrito por acidente.

"Que coisa estranha."

Haruhi agarrou os ombros e murmurou.


Como não tínhamos para onde ir, voltamos à sala do clube, onde passamos à tarde anterior. Roubamos as chaves da sala dos funcionários, então conseguimos destrancar a porta e entrar.

Ambos soltamos um suspiro de alivio ao ver a sala familiar e bem iluminada.

Ligamos o radio, mas não conseguimos ouvir nada, nem mesmo estática. A sala do clube estava tão quieta que somente o som de chá sendo feito poderia ser ouvido. Eu não estava interessado em trocar as folhas, então fiz um chá com as folhas usadas e sem gosto. Haruhi estava ao meu lado olhando vividamente o mundo cinza lá fora.

“Quer um pouco de chá?”

“Não.”

Peguei o meu copo, puxei uma cadeira, e me sentei. Tomei um gole. Sigh, o chá feito por Asahina é muito melhor que isso.

“O que está acontecendo aqui? Eu não entendo! Que lugar é esse? Por que eu estou aqui?”

Haruhi estava ao lado da janela e olhava para fora; de costas ela parecia realmente frágil.

“E por que estamos só nós dois?”

E como se eu soubesse. Haruhi arrumou a saia e o cabelo, me olhando irritada.

“Vou explorar um pouco” – ela começou a andar para fora da sala. E eu também ia me levantando.

“Fique aqui, eu já volto.”

Ela correu para fora da sala após falar aquilo. É bem típico dela fazer isso! Enquanto eu ouvia os passos vividos de Haruhi desaparecerem na distância, tomei o meu chá morno e sem gosto. Foi então que ele apareceu.

Era uma pequena esfera vermelha. No começo era do tamanho de uma bola de pingue-pongue; então a esfera se tornou maior, brilhando como um vaga-lume antes de adquirir uma forma humanóide.

“Koizumi?”

Em minha frente estava um humanóide luminoso, mas não parecia humano, não tinha olhos nem boca, era como um grande boneco vermelho.

“Bem, olá.”

Uma voz otimista veio de dentro do objeto luminoso.

“Você demorou demais! Achei que ia aparecer em uma forma mais... tangível...”

“As coisas ficaram um pouco complicadas, então vou demorar um pouco para explicar. Para ser honesto, esse não é um acontecimento normal!” - a esfera tremulou um pouco - “Se esse fosse um Espaço Restrito comum, poderia ter entrado facilmente, mas não dessa vez. Tive que aparecer nesta forma incompleta, e ainda por cima precisei dos poderes de meus colegas para poder entrar aqui, mas não posso permanecer por muito tempo, nem mesmo nesse estado. Nossos poderes estão desaparecendo lentamente enquanto falamos.”

“O que está acontecendo realmente? Só estamos eu e Haruhi aqui?”

“Precisamente” - respondeu Koizumi.

“Isso significa que o que temíamos finalmente aconteceu. Suzumiya-san se cansou desse mundo e decidiu criar outro.”

“ ... ”

“Nossos superiores entraram em pânico. Ninguém sabe o que vai acontecer quando nosso Deus desaparecer. Mesmo sendo possível que o mundo resista se Suzumiya-san decidir ter piedade de nós, mas também é possível que desapareçamos em um instante.”

“O que você está tentando dizer?”

“Falando de modo simples.” - a luz vermelha bruxuleou como uma chama - “Você e Suzumiya desapareceram de nosso mundo. Esse lugar em que estão não é um Espaço Selado, mas uma realidade completamente nova criada por Suzumiya-san. Os Espaços Selados que havíamos visto antes talvez tenham sido apenas testes antes dela resolver re-criar este mundo.”

Que piada interessante, em que parte eu devo rir? Há há há.

“Não estou brincando. Esse provavelmente é o mundo mais próximo do qual Suzumiya-san deseja. Ainda não sabemos que tipo de mundo ela deseja, mas temo que descobriremos em breve.”

“Vamos deixar isso de lado, o problema real é; porque eu estou aqui?”

“Você realmente não sabe? Você foi o escolhido por Suzumiya-san. A única pessoa de nosso mundo com quem Suzumiya-san queria ficar. Achei que a essa altura você já teria percebido.”

A luz ao redor de Koizumi piscou como uma lanterna com baterias fracas, seus brilho claramente estava diminuindo.

“Estou perto de meu limite agora. Nesse ritmo nunca mais poderei o ver; por outro lado, fico um pouco aliviado de não precisar mais destruir os Celestiais.”

“Vou precisar viver sozinho com Haruhi nesse mundo cinza?”

“Adão e Eva. Se vocês se esforçarem o suficiente para repopular este mundo, tudo ficará bem.”

“Eu vou bater em você, sério.”

“Estou apenas brincando! Esse estado restrito provavelmente é apenas temporário, muito em breve ele vai se tornar similar ao mundo que você conhece. Mas mesmo assim esse novo mundo será completamente diferente. Agora mesmo esse mundo pode ser considerado o mundo real, enquanto o mundo real é agora o Espaço Restrito. Mas é uma pena que não saberei quais são as diferenças entre os dois mundos. Se tiver sorte e renascer neste novo mundo, eu lhe peço que me procure.”

Nesse momento o humanóide brilhante começou a se desintegrar lentamente, como uma estrela que havia queimado todo o seu combustível. Agora ele voltara ao tamanho de uma bola de pingue-pongue.

“É impossível que voltemos para o mundo original?”

“Se Suzumiya-san desejar isso, será possível. Apenas te conheci por pouco tempo; é uma pena, realmente, mas eu realmente gostei do meu tempo na Brigada SOS... ah, quase esqueci, tenho que transmitir as mensagens de Asahina Mikuru e Nagato Yuki para você.”

Antes de Koizumi desaparecer completamente, ele deixou a seguinte mensagem:

“Asahina Mikuru me mandou desculpar-se em seu lugar: ela disse ‘Desculpe. É tudo minha culpa. ’ Nagato Yuki pediu para dizer ‘Não esqueça de ligar o computador. ’”

O fim foi bem rápido. Era como uma vela sendo apagada pelo vento.

Pensei sobre a mensagem de Asahina. Porque ela está se desculpando? O que foi que ela fez? Decidi pensar sobre isso mais tarde, e liguei o computador devido a outra mensagem. Como o disco rígido fez sons de funcionamento, o logo do sistema operacional apareceria em breve... ou não. A tela to sistema operacional que deveria surgir em poucos segundos, não apareceu. O monitor permaneceu preto. Mas havia um pequeno cursor branco piscando no topo esquerdo da tela. O cursor começou a se mover sem som, para escrever uma mensagem curta.

YUKI.N> Você pode ler isso?

Após um curto período de duvida, puxei o teclado para perto de mim. Comecei a digitar.

« Sim. »
YUKI.N> A conexão com o nosso tempo-espaço ainda não foi completamente cortada. 
Mas é apenas questão de tempo para que isso aconteça. Então será o fim.
« O que eu devo fazer? »
YUKI.N> Nada pode ser feito. A erupção de dados anormais cessou completamente nesse mundo. 
A Entidade de Dados Integrados está em desespero. A possibilidade de evolução foi perdida.
« O que é essa possibilidade de evolução ou coisa assim?  Em que parte podemos considerar Haruhi evoluída? »
YUKI.N> Um alto nível de inteligência se refere em velocidade de processamento e precisão. 
A inteligência de uma forma orgânica tem a capacidade de processamento limitada pelos erros e ruídos de seus corpos  orgânicos. 
Como resultado, atingido certo nível, a evolução.
« Então seus corpos físicos são um problema? »
YUKI.N>   A Entidade Senciente de Dados Integrados foi criada de dados desde o inicio. 
Acreditamos que suas habilidades de processamento de dados cresceriam infinitamente até o que o universo deixasse de existir.  Mas estávamos errados. 
Assim como o universo tem limites, a evolução também tem. Ao menos enquanto permanecermos como entidades de dados desencarnadas.
« E Suzumiya? »
YUKI.N> Suzumiya Haruhi possui a habilidade de criar dados do nada. 
Uma habilidade que a Entidade Senciente de Dados Integrados não tem. 
Um humano, uma mera forma de vida orgânica, está criando mais dados do que se pode processar na vida toda. 
Se pudermos analisar essa habilidade, podemos achar alguma pista sobre a auto-evolução, ou assim pensamos.

O cursor apagou-se. Senti certa hesitação antes das palavras começarem a surgir novamente.

YUKI.N> Estou apostando em você.
« Apostando no que? »
YUKI.N> Desejamos que vocês voltem a esse mundo. Suzumiya Haruhi é um vital assunto de observação. 
Uma existência importante que nunca mais irá surgir neste mundo. Eu individualmente também desejo o seu retorno.

As letras estavam desaparecendo. O cursor apagado lentamente produzia palavras.

YUKI.N> Vamos fazer outra visita a biblioteca.

O monitor escureceu. O brilho crescente não ajudava. As últimas palavras de Nagato foram breves.

YUKI.N> sleeping beauty [4]

4-[Nota do tradutor: “A Bela Adormecida”. Como no original japonês foi utilizado este termo em inglês, decidimos mante-lo].

O barulho alto do disco rígido escaneando quase me fez pular. As luzes de entrada piscaram e o monitor exibiu o conhecido logotipo do sistema operacional. A ventoinha do computador girando era o único som naquele mundo.

"O que vocês estão tentando me dizer, Nagato? Koizumi?"

Soltei um suspiro pesado, e olhei casualmente pela janela.


A janela estava coberta por uma luz azul.


Um gigante de luz estava parado na quadra. Olhando atentamente, era como uma parede azul.

Haruhi pulou para dentro da sala.

"Kyon! Tem algo ali!"

Haruhi quase me atropelou enquanto eu estava parado lá, era rapidamente parou e ficou ao meu lado.

"O que é isso? Certamente é imenso. Um monstro? Não é uma miragem, certo?"

Ela soava excitada. Como se a sua chateação nunca tivesse acontecido. Seus olhos brilhavam sequer dar uma pista de ansiedade.

"Talvez seja um alien. Ou o reaparecimento de uma super arma desenvolvida por um povo antigo. É isso que nos impedia de sair da escola?"

A parede azul de moveu. Minha mente lembrou-se dos prédios sendo esmigalhados. Imediatamente agarrei a mão de Haruhi e corri para fora do clube.

"O qu – e-ei! O que você está fazendo?"

Praticamente caímos no corredor. Ao mesmo tempo, um rugido colossal vibrou pelo ar. Empurrei Haruhi no chão e a protegi com o meu corpo. A sala vibrou violentamente. Apenas pude ouvir o som de objetos pesados caindo ao chão. Baseado no volume do som, o gigante não mirou no clube com o seu ataque. Provavelmente havia sido o prédio do outro lado.

Segurei a mão de Haruhi, que estava completamente absorta, e comecei a correr. Estranhamente ela me seguiu sem reclamação.

Minhas mãos estavam suando, ou seriam as de Haruhi?

O gosto de poeira em nossa sala destruída foi embora. Corri o mais rápido que pude pelas escadas, ouvindo um segundo barulho de impacto.

Corremos para baixo. Podia sentir o calor do corpo de Haruhi por sua mão. Cortamos caminho pelo campo, e rumamos para a descida na pista de corrida. Olhando de perto, o rosto de Haruhi, parecia estar - posso estar enganado com isso - um tanto feliz. Como uma criança no natal que encontra a sua cama rodeada de todos os presentes de queria.

Depois de correr uma distância considerável do prédio da escola, olhamos para trás, e descobrimos quão grande o gigante era. O que Koizumi me mostrara no Espaço Restrito era pelo menos tão grande quanto um arranha-céu.

O gigante balançou os punhos, e o prédio da escola desabou. Como a estrutura de quatro andares barata do prédio já havia sido atingida pelos ataques anteriores, ele desabou com facilidade. A poeira e escombros voaram em todas as direções, produzindo um baque oco ao acertar o chão.

Corremos desesperadamente para o centro da pista de duzentos metros antes de parar. Um inacreditável colosso de luz azul apareceu na antes monótona e escura escola.

Se você quer tirar fotos, deveria tirar disso, e não de coisas como do presidente do Clube de Informática agarrando os peitos de Asahina, e definitivamente não dela usando todos os tipos de fantasias. O nosso site deveria ter fotos como essas que estamos vendo agora!

Enquanto pensava sobre isso, Haruhi disse rapidamente em meu ouvido.

"Você acha que ele vai nos atacar? Não acho que ele seja mal, o que você acha?"

"Eu não sei."

Enquanto respondia Haruhi pensei no que Koizumi havia me dito quando me levou para o Espaço Restrito. Se deixarmos os Celestiais continuarem em sua trilha de destruição, após todo o caos, esse Espaço Restrito irá substituir o nosso mundo, isso significa que esse mundo cinza vai tomar o lugar do mundo de que viemos, e então...

O que será do nosso mundo?

De acordo com Koizumi, Haruhi aparenta estar criando um novo mundo. Será que a Asahina e a Nagato que conheço existirão nesse novo mundo? Ou será um mundo surreal aonde esses Celestiais caminhem livremente, e aliens, espers, e viajantes do tempo sejam coisas comuns?

Se o mundo se tornar assim, qual será o meu papel nele?

Argh, esquece, é inútil pensar nisso agora, porque eu não entendo. Não entendo o que Haruhi está pensando, e não tenho nenhum poder telepático que me permite saber no que os outros estão pensando.

Nesse instante ouvi Haruhi falar comigo.

"O que realmente está havendo aqui? Esse mundo e esse gigante, tudo é tão estranho!"

Essas coisas foram criadas por você, senhorita! Sou eu que devia estar perguntando isso, e por que você me arrastou para tudo isso? Adão e Eva? Isso é estupidez! Não vou aceitar esse clímax clichê!

"Então você quer voltar ao nosso velho mundo?"

Respondi calmamente, como se estivesse lendo um roteiro.

"O que você disse?"

Haruhi se virou para mim. Seu rosto era alvo e liso mesmo nesse mundo acinzentado, e seus olhos brilhantes agora estavam cercados pelas trevas.

"Não podemos ficar aqui para sempre! Não parece ser o tipo de lugar em que encontraremos algo para comer quando ficarmos com fome. Alem do mais, estamos cercados por essa parede invisível: não tem como sair daqui. Nesse ritmo morreremos de fome."

"Hmm, isso é estranho, mas não me sinto preocupada. Acho que as coisas vão se resolver sozinhas. Por algum motivo estou me divertindo muito com isso."

"E sobre a Brigada SOS? Você criou esse clube! Vai deixá-lo para trás?"

"Eu não dou a mínima mais, porque agora mesmo estou presenciando algo incrível. Não existe mais nenhum motivo para voltar e procurar algo misterioso."

"Mas, eu quero voltar ao mundo original."

O gigante momentaneamente parou a sua destruição.

"Antes de toda essa situação estranha começar, eu não percebi o quanto gostava da minha vida do jeito que era. Incluído o idiota do Taniguchi, Kunikida, Koizumi, Nagato, e Asahina, até mesmo a desaparecida Asakura."

"... do que você está falando?"

"Eu quero vê-los novamente. Sinto que ainda tem muita coisa que quero dizer a eles."

Haruhi abaixou a cabeça, e continuou pouco depois.

"Nós os veremos; esse mundo pode estar coberto pela escuridão. Mas quando a manhã chegar, o sol vai aparecer. Tenho certeza."

"Não falo disso. Não quero os ver nesse mundo, e sim no nosso velho mundo."

"Eu não entendo."

Haruhi olhou para mim, irritada. Era como uma criança que teve seus presentes roubados, revelando assim a sua raiva e tristeza.

"Você também não se cansou daquele mundo chato? Aquele mundo é tão comum, e não há nada de especial nele. Você não quer que algo mais interessante aconteça?"

"Eu costumava pensar assim também."

O colosso começou a se movimentar. Ele chutou as partes restantes do complexo escolar e rumou para a quadra. No caminho ele aniquilou com o corredor com o seu braço, dando um chute no bloco antigo que abrigava as salas dos clubes. A escola estava lentamente sendo destruída, nosso clube incluso.

Olhei por cima do ombro de Haruhi, e fiquei assustado ao ver algumas outras paredes azuis nas redondezas. Uma, duas, três... quando cheguei ao cinco resolvi parar a contagem.

Sem as esferas vermelhas em seu caminho, os gigantes luminosos começaram a destruição sem demora. Não entendia o que havia de tão interessante naquela destruição. Cada vez que eles moviam os braços ou pernas, tudo em que tocavam desaparecia instantaneamente.

Momentos depois, mais da metade da escola tinha sido destruída.

Não posso afirmar qual o tamanho desse Espaço Restrito, e não sabia se ele ia se expandir até se tornar outra dimensão. Naquele momento, minha mente estava cheia de incerteza. Se nesse instante um bêbado se sentasse ao meu lado no trem e dissesse: "Vou te dizer uma coisa, mas não conte para ninguém! Na verdade eu sou um alien.", eu com certeza iria acreditar. Pois eu tinha o triplo de experiência comparado há um mês atrás.

O que eu faria exatamente? Se fosse mês passado talvez não tivesse tido nenhuma idéia, mas agora eu podia. Pois eu tinha recebido algumas pistas.

Uma vez decidido, falei o seguinte.

"Haruhi, nos últimos dias presenciei algumas coisas realmente interessantes. Você pode nem perceber, mas todo o tipo de pessoa tem interesse em você. Não é ridículo dizer que literalmente o mundo gira em torno de você. Todos os consideram como uma pessoa especial, e agem de acordo. Você não sabe, mas o mundo está correndo em uma direção bastante interessante."

Assim que segurei os ombros de Haruhi, percebi que ainda segurava as suas mãos, enquanto ela me olhava com um rosto que dizia "O que deu em você?".

Ela tirou os olhos de mim e se focou nos gigantes furiosos, como se eles fossem a coisa mais natural do mundo.

Olhando para o seu rosto suave, lembrei-me de Nagato e sua "possibilidade evolutiva", Asahina e a "distorção temporal", e Koizumi, a tratando como "Deus". Mas o que Haruhi significava para mim?

A Haruhi era a Haruhi, o que mais podia dizer? Não queria usar esse tipo de tautologia para escapar da questão, mas eu também não tenho uma resposta definitiva. Se alguém apontasse para a colega de classe que se senta atrás de mim e perguntasse "O que ela é para você?", será que conseguiria responder?... sim, me desculpe, estou andando em círculos novamente! Para mim Haruhi não é apenas uma colega de classe, mas certamente não é nenhuma "possibilidade evolutiva", "distorção temporal" ou mesmo "Deus.".

O gigante se virou para a pista de corrida. Ele não tinha olhos, mas podia sentir intensamente a sua visão. Ele deu um passo em nossa direção. Esse único passo era mais como uma porção de metros. Ou ele não teria encurtado a distancia entre nós tão rapidamente, mesmo sendo tão lento!

Entendi! Asahina não falou algo sobre isso? O aviso dela! E a última mensagem de Nagato. Branca de Neve e Bela Adormecida, até eu sei o que Bela adormecida significa afinal. Qual a similaridade entre essas historias? Em uma situação como a minha, a resposta estava clara.

Tão clichê, absolutamente tão clichê. Asahina-san, Nagato-san. Não vou aceitar esse tipo de desfecho para a situação. Como se diabos eu pudesse.

Minha racionalidade insistia naquilo. Mas humanos nunca foram uma forma de vida racional. Isso é o que Nagato chamou de "ruídos". Soltei da mão de Haruhi, segurei os seus ombros e a virei em minha direção.

"O que foi..."

Seus olhos negros resistiram. Mas ignorei os protestos de Haruhi e beijei seus lábios. Era mais educado fechar os olhos nesses momentos, então fechei os meus.

"Na verdade rabos de cavalo me excitam."

"O que?"

"Aquele rabo de cavalo que você usava antigamente ficava tão bem em você, que era quase um crime."

"Você é retardado?"

Seus olhos negros resistiram. Mas ignorei os protestos de Haruhi e beijei seus lábios. Era mais educado fechar os olhos nesses momentos, então fechei os meus. Portanto, não sei com qual expressão ela estava. Seus olhos estariam abertos com o choque? Ou assim como eu ela os fechou? Será que ela levantaria a mão para me bater? Não tinha como saber, mas não importava se me batessem agora. Estava apostando todas as minhas fichas nisso, e rezando para que Haruhi se sentisse da mesma maneira. Continuei segurando forte os seus ombros. Não queria a deixar ir ainda.

Ainda conseguia ouvir os sons ao longe; parecia que o gigante ainda estava destruindo o colégio. Mas no segundo seguinte uma sensação de falta de peso tomou conta de mim, tirando o meu equilíbrio. Senti uma dor lancinante no lado direito do meu corpo, pensando se minhas ações tinham me presenteado com um golpe de judô, mas abri os olhos e congelei ao ver um piso familiar.


Estava em meu quarto, e me virando, percebi que havia caído da cama. É claro, estava de pijamas. Metade do cobertor estava caído no chão. Coloquei a mão na parte de trás da cabeça, e bocejei como um idiota.

Demorou um pouco para conseguir pensar naquilo de novo.

Em um estado semiconsciente, levantei lentamente e abri a janela, olhei para fora. Vi algumas estrelas brilhando no céu e lâmpadas acesas na rua. Confirmei que havia luzes acesas em outras casas, e sombras ocasionais se movendo entre elas.

Foi um sonho? Eu sonhei com tudo isso?

Eu tive um sonho onde estava em um mundo surreal com uma garota que conheço, e no final eu acabei a beijando! Um sonho tão obvio de se entender que faria Sigmund Freud rir alto.

Ugh, eu realmente quero me enforcar agora.

Devia ser grato que o Japão proibiu o direito ao porte de armas. Se uma pistola automática estivesse ao meu alcance, eu atiraria na minha cabeça sem hesitação. Se fosse com Asahina-san, poderia entender os meus desejos reais em relação ao sonho. Mas de todas as pessoas era Haruhi. Em que diabos meu subconsciente estava pensando?

Eu sentei desconsolado sobre a cama, e joguei os meus braços sobre a cabeça. Se fosse um sonho, teria sido o mais realista que já havia tido. Minha mão estava coberta de suor, e ainda podia sentir a sensação quente em meus lábios.

... ou este não era o velho mundo. E sim o novo que Haruhi criara. Se esse fosse o caso, haveria alguma maneira de confirmar isso?

Não. Talvez não devesse pensar em nada. Na verdade eu não quero pensar em nada disso. Se acreditasse que meu cérebro é capaz de produzir um sonho assim, acho que acreditaria que o mundo foi destruído. Por hora, vou negar a existência disso tudo.

Olhei para o despertador e chequei as horas; duas e meia da manhã.

... eu vou dormir.

Coloquei o cobertor sobre a cabeça em uma tentativa de fazer meu cérebro congelado cair em sono profundo.


Não consegui dormir.

Esse é o motivo de estar tão exausto que quase preciso me arrastar para subir a ladeira. Isso está me matando, mas para ser honesto, estou feliz de não ter encontrado Taniguchi no caminho, ou seria forçado a ouvir ele o caminho inteiro. O sol continuou liberando o calor de sua fusão nuclear sem fim. Senhor Sol, eu lhe imploro, você pode dar uma pausa? Desse jeito vou fritar até a morte.

Recusando-se a vir quando eu chamei, o demônio do sono agora rodeava minha cabeça, justo quando eu menos queria. Se as coisas continuassem assim, não sei se conseguiria ficar acordado na primeira aula.

Quando vi o bloco escolar, parei para observar sua antiga estrutura de quatro andares. Os estudantes suados se empurravam para dentro da escola como um bando de formigas. Subi forçosamente pelas escadas, em direção a tão familiar classe 1-5, parando a três passos da janela.

Haruhi já estava sentada na ultima fila ao lado da janela. Ela segurava o queixo enquanto olhava pela janela petrificada. Pude ver a parte de trás de sua cabeça, o que era aquilo?

A parte amarrada do seu cabelo escuro estava para fora e caia sobre seu ombro. Você não pode chamar isso de rabo de cavalo. Você só prendeu um pouco de cabelo, não foi?

“Yo. Como vai?”

Joguei a mala sobre a mesa.

“Sinto-me péssima. Tive um pesadelo noite passada.”

Haruhi respondeu em uma voz sem entonação. Bem, isso não é uma coincidência.

“Acabei não dormindo nada. Nunca quis faltar tanto a aula quanto hoje.”

“Oh, sério.”

Sentei na cadeira dura e olhei para o rosto de Haruhi. As mechas de cabelo sobre a orelha estavam cobrindo parte de seu rosto, então não poderia saber sua expressão. Mas bem, posso dizer que ela não estava de bom humor. Pelo menos é o que aparentava.

“Haruhi...”

“O que?”

Como Haruhi se recusou a tirar os olhos da janela, eu disse a ela.

“Fica bem em você.”



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