Wazamonogatari ~Brazilian Portuguese~/Bom Apetite, Acerola 006

From Baka-Tsuki
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006[edit]

Não fui eu que nomeei este meu castelo de “Castelo Cadáver”.

Quer dizer, isso seria um pouco demais, até mesmo para mim.

Mas ainda assim, eu estou conectado à história, em certo sentido — o nome se origina de muito tempo atrás, quando um dos reis do país comandou este lugar como um tirano despótico.

Enquanto ele empilhava as montanhas de corpos de dentro do país e fora dele, ele se tornou conhecido como “O Rei Cadáver”, e, portanto, o castelo no qual ele vivia se tornou “Castelo Cadáver”.

Bem, por ele ter uma história ruim, a geração seguinte de reis construiu um novo castelo em outro lugar e realocou suas famílias e séquitos por lá — considerando a quantidade de impostos que seriam requisitados para executar uma migração dessas, não consigo deixar de sentir que é um pouco paradoxal como o país não entrou em colapso; mas, de qualquer modo, foi assim que eu me instalei neste vazio e abandonado castelo com sua história negra.

Na verdade, é mais preciso dizer que eu “choquei” como um monstro dentro do vazio Castelo Cadáver — o profundo ressentimento e ódio dos humanos que mataram o Rei Cadáver deram vida a um pequeno vampiro.

A lenda nasceu.

Da história negra deste castelo abandonado, minha legenda negra nasceu.

Para contrabalancear a escala com o número vasto de pessoas que esse estúpido rei massacrou, uma aparição monstruosa foi criada; de fato, essa história provavelmente explicaria o quão poderoso eu sou — é por isso que eu gosto dessa interpretação.

Eu não sei se foi dessa maneira que isso realmente aconteceu, no entanto.

Ninguém pode realmente falar sobre a razão pelo qual nasceram, certo?

Os únicos pontos certos são que, há muito tempo, havia alguém chamado de “Rei Cadáver”, e que o seu castelo era chamado de “Castelo Cadáver”.

Mas espalhado ao redor deste castelo estava uma vista que nem mesmo o Rei Cadáver poderia ter imaginado em sua vida.

Corpos, corpos, corpos.

Falando geralmente, as pessoas estavam mortas.

Todos no reino estavam mortos.

Houve um bocado de mortes. Ficaram sem pessoas para morrer.

Claro, a cena era assim como Tropicalesque relatara, mas essa vista soberba ultrapassou em muito o que eu imaginara. A terra estava em tal estado que não havia nenhum lugar para se andar; eu tive que usar minhas asas para se mover.

Olhando para baixo do céu, a visão era ainda mais soberba.

Uma vista inimaginavelmente soberba.

O tempo passara desde o reinado do Rei Cadáver, e sob o comando do rei atual, esse há de ter sido um reino bem pacífico (exceto pelo fato de que um monstro como eu vivia aqui, claro) — porém essa imagem idílica fora derrubada em suas fundações.

Agora, longe de ser pacífico, tornou-se mortifico.[1]

As montanhas de cadáveres pareciam requisitar um redesenho do mapa.

Desejar autenticidade de um conto de fadas não é são, e desde que pensei que o propenso a se preocupar Tropicalesque estivesse somente exagerando, tomei cuidado para não esperar demais baseado no relato frívolo dele, mas... agora que eu estou testemunhando a situação, penso que possa realmente haver uma certa quantia de verdade nesse conto de fadas da “Princesa Beleza” — Castelo Cadáver, hein; ela realmente acumulara um castelo de cadáveres por aqui.

Faz o meu coração palpitar.

Seria difícil perdoá-la por magnificamente estragar toda essa comida em potencial que eu poderia ter comido em algum momento (fazer-me morrer de fome, porém... bem, desde que isso foi por conta do nosso descuido, eu suponho que hei de ignorar isso), mas se ela é dotada com a beleza a altura deste espetáculo, realmente deve ser algo comê-la.

No que se refere a comida, quantidade não é qualidade.

De qualquer modo, este reino, uma vez dominado por um “Rei Cadáver”, fora destruído por uma “Princesa Beleza”. O reino tivera orgulho do tamanho de seu território, até mesmo de suas montanhas e lagoas, então não importa o quanto eu insista que minha refeição comece quando eu saio para procurar por comida, eu teria pensado que encontrar uma única humana nesta vasta área de terra seria um trabalho de quebrar os ossos — mas, novamente, havia ossos quebrados e cartilagens rígidas até onde os olhos podiam ver.

Olhando para baixo da minha visão de olho de pássaro, eu pude claramente julgar o meu caminho olhando os corpos — podes chamar isso de navegação, melhor dizendo, onde o número dos corpos estava aumentando.

Se eu seguir a direção em que o odor de morte é mais forte, alcançarei a “Princesa Beleza” — esse cheiro mostrou a rota para os paradeiros dela ainda mais claramente que pegadas.

Os corpos se multiplicaram.

Há muito tempo, fui descrito como “após ele passar, nem uma única lâmina de grama cresce”, mas parecia que essa princesa era dotada com uma beleza que não podia ser expressada com um ditado tão ordinário — eu estou ansioso por ela.

Afinal de contas, beleza é um componente importante no sabor.

Até mesmo humanos determinam que animais, peixes e coisas do tipo eles comerão nos méritos de sua aparência, certo? Quão largo é, que forma tem, quão brilhosa é sua pele, quão carnudo é.

Há também o fator do frescor.

Essa beleza que destruiu um país — er, longe disso; essa beleza que destruiu múltiplos países teria um sabor intenso, certamente. Agora que eu vi isso, é difícil controlar as minhas expectativas.

E então, olhando do céu para baixo, eu procedi a usar os corpos como postes indicadores. Curiosamente, a destinação a qual cheguei estava longe de ser bonita — era um barraco desgastado e dilapidado.

Estava praticamente oculto na sombra dos corpos, ou melhor, enterrado nos corpos, então eu quase o ignorei — parecia que a princesa viajante estava ficando nesse barraco, porém, hm, poderia isso ser verdade? Se eu fosse ela, eu sequer desejaria me acolher da chuva em tal gasta construção — parecia que ruiria com uma rajada de vento.

Parecia mais uma ruína do que uma construção.

Estava em tal estado que eu podia mais prontamente ver isso como um monte de lenhas que, pego em um redemoinho, acabou por pousar na forma de uma casa — entretanto, certamente havia sinais de um humano lá dentro.

Eu não pretendo afirmar algo oculto como “Eu posso ouvir a voz da minha comida porque eu sou um vampiro”, mas eu sou do tipo com boa intuição assim. Instinto — não, não há necessidade de disfarçar isso, é somente o meu apetite regular.

Pensando em como eu me serviria da princesa quando estivesse dentro do barraco — talvez tentar os entrecostos primeiro — eu aterrissei e suavemente abri a (tábua de madeira parecida com uma) porta.

Eu não decidi a regra de que vampiros não podem entrar em quartos sem permissão, então eu não a sigo.

Não se precisa de nenhuma permissão para se entrar em uma construção tão desgastada, em primeiro lugar, suponho eu.

Na verdade, pensando no risco de desmoronamentos, isso não deveria estar mais fora dos limites para humanos do que para vampiros?

Eu comecei a duvidar da minha intuição quanto a se a minha comida realmente estava lá dentro, mas acabou que não houve a necessidade de uma varredura completa pela casa; eu encontrei a humana que estava caçando no mesmo instante.

No chão sujo.

Borbulhando e chiando uma panela em uma lareira que queimava.

Vestindo um avental sobre modestas roupas ocidentais, cozinhando para si mesma; ela não se parecia muito com uma princesa, porém...

A beleza daquele rosto de perfil estava além de qualquer descrição.

O bastante para me fazer querer lambê-lo, de qualquer maneira.[2]

Notas do Tradutor[edit]

  1. No japonês, há uma repetição do primeiro kanji das palavras "paz" (平和, heiwa) e "suave" (平ら, taira). Por isso, decidi adaptar repetindo o sufixo "fico" de "pacífico" e "mortifico".
  2. Há um ditado japonês que diz 筆舌に尽くしがたい (hitsuzetsu ni tsukushigatai), o que é geralmente traduzido como "além de qualquer descrição". A linha seguinte diz 舌の上に載せたいくらい (shita no ue ni nosetai kurai), que significa “o bastante para me fazer querer colocá-lo em minha língua" ou algo assim e usa língua (舌) como uma referência ao 筆舌 da linha anterior.


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