Suzumiya Haruhi:Volume3 Cap02 br

From Baka-Tsuki
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Bamboo Leaf Rhapsody (A Rapsódia da Folha de Bambu)

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A Lenda de Tanabata (七夕)

Antes de começarmos o capítulo, vamos dar uma breve leitura na Lenda de Tanabata.

Duas estrelas separadas pela Via-Láctea (銀河 ou 天の川) no céu noturno do verão. Uma delas, de acordo com as lendas chinesas, é a estrela “Shokujo” (織姫), traduzido no japonês como “Orihime”. Filha do Imperador do Céu (天帝), Orihime era uma tecelã habilidosa e bastante trabalhadora. Do lado oposto da Via-Láctea, existe uma luminosa estrela chamada “Kengyu” (牽牛, 彦星 “Hikoboshi” no Japão), que se tornaria o noivo de Orihime. Assim como Orihime, Hikoboshi também era muito trabalhador. Considerando a dedicação dos dois em seus serviços, o Imperador do Céu permitiu o casamento entre as duas estrelas. Passado um tempo de casados, Orihime e Hikoboshi deixaram de cumprir seus deveres para ficarem juntos.

Diante disso, o Imperador do Céu enfureceu-se e separou o casal através da Via-Láctea, mas generosamente concedeu também um dia por ano para se reencontrarem, o dia 7 de julho, o dia de Tanabata. A história dessas duas estrelas é muito popular no Japão e o nome de Hikoboshi e Orihime aparecem no livro de poesia chinês mais antigo descoberto até hoje. Sabendo que o modelo da história de Tanabata já estava formulada há pelo menos 2000 anos atrás, é divertido pensar que as pessoas da antigüidade olhavam o céu das noites de verão como nós o vemos hoje.

Enfeites de Tanabata

Olhando tiras de papel com pedidos escritos pendurados em ramos de bambus, logo notamos que são enfeites de Tanabata. Este costume é relativamente novo, pois se iniciou na era Edo, sendo um costume particularmente japonês. Antigamente havia muitos tipos de cerimônias para se comemorar o Tanabata, variando de acordo com a região. Havia desde lugares que acendiam incensos pedindo progresso nas habilidades artísticas até lugares que confeccionavam cavalos de palha e enfeitavam o telhado pedindo aos ancestrais um ano de boa safra.]. Os enfeites de Tanabata mais comuns hoje em dia foram originados dos enfeites de Sendai, os quais enfeitavam sete objetos (紙衣 “kamigoromo”, 千羽鶴 “senbazuru”, 短冊 “tanzaku”, 投網 “toami”, 屑籠 “kuzukago”, 巾着 “kinchaku”, 吹き流し “fukinagashi”), cada um com um pedido com sucesso comercial, saúde, etc.

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O mês de maio já estava o suficientemente quente, porém em julho chegamos ao ponto do insuportável. A umidade estava ainda pior, o que elevava minha infelicidade a níveis recordes. E não havia chance nenhuma de uma escola medíocre como a nossa ter instalado algum tipo de ar condicionado de alto nível. A escaldante sala da 1-5 parecia agora a sala de espera para um ônibus sem escalas para o inferno. Tinha certeza de que o arquiteto que projetou aquilo não tinha idéia do que “um ambiente confortável se convivência” significava.

Para piorar as coisas, nessa semana começavam os exames de fim de semestre, fazendo que toda a alegria que ainda restava em meu coração fosse passear pelos arredores do Brasil, e aparentemente ela não estaria de volta tão cedo.

Os meus resultados durante o meio do semestre já haviam sido desastrosos, então não podia imaginar uma nota muito melhor no fim das provas. Isso era devido ao meu tempo de permanência junto a Brigada SOS, o que me impedia de concentrar-me apropriadamente nos estudos. Infelizmente não conseguia fazer nada a respeito, pois desde o começo da primavera, cada vez que Haruhi dava uma sugestão, misteriosamente eu acabava a seguindo. Isso se tornara parte da minha rotina diária, e sinceramente, eu estava começando a me odiar por me acostumar com essa vida.

A aula já havia acabado, e o sol brilhava no oeste da nossa sala. A garota que sentava atrás de mim cutucou as minhas costas com sua lapiseira.

"Você sabe que dia é hoje?"

Suzumiya Haruhi me perguntou com um sorriso no rosto, aqueles geralmente vistos em crianças durante a véspera de natal. Quando ela revelava esse tipo de expressão, era um claro sinal de que ela estava maquinando algo diabólico. Fingi estar pensando naquilo durante uns três segundos, e então disse;

"É o seu aniversário?”

"Não!”

"O aniversario da Asahina-san.”

"Nãããão!”

"O aniversario da Nagato ou do Koizumi.”

"E eu lá deveria saber quando são os aniversários deles!?"

"Falando nisso, meu aniversario é no dia...”

"Quem liga para isso? Você realmente mão sabe o quão importante é o dia de hoje?”

Não importa o quão importante você ache que o dia de hoje é, não passa de dia normal, porem muito quente, para mim.

"Então, me diga, qual é a data de hoje?”

“Sete de julho... eu não tinha pensado nisso, mas você não está falando do festival de Tanabata, está?”

"É claro que estou! Hoje é o dia de Tanabata! Como japonês você tem o dever de lembrar disso!”

Na verdade esse festival teve origem na China. E de acordo com o calendário chinês, o Tanabata é só mês que vem.

Haruhi segurou a lapiseira e agitou em frente ao meu rosto.

"A Ásia começa no Mar Vermelho e vem até aqui."

Que tipo de conceito geográfico é esse?

"Eles não estão todos juntos nas eliminatórias da Copa do Mundo? E afinal, julho e agosto são meses de verão, então não faz diferença.”

Sério?

"De todo modo, temos de fazer um evento de Tanabata. Eu insisto que esse festival seja tratado com seriedade."

Eu sinto que existe uma porção de coisas que merecem ser tratadas com mais seriedade do que isso. Mas você realmente tem que me dizer isso? Eu realmente não tenho idéia do que você está querendo fazer.

"Será mais divertido se fizermos isso juntos. Anuncio agora, que organizaremos algo grande para o Tanabata todos os anos, desse em diante."

"Não decida esse tipo de coisas sozinha."

Mesmo que tivesse dito aquilo, ver Haruhi excitada daquele jeito, já era o suficiente para me fazer perceber o quão estúpido seria contrariá-la.

"Me espere no clube! Não vá para casa sozinho!" - ela disse.

Não era necessário me dizer aquilo, de todo modo, estava mesmo planejando ir até o clube. Porque lá estava uma pessoa que precisava ver, nem que fosse uma vez. Apenas aquela pessoa.


Os outros membros já estavam reunidos na sala, localizada no segundo andar do prédio antigo que hospedava as salas dos clubes de artes. Ao invés de dizer que a Brigada SOS emprestou a sala do clube de literatura, de fato seria uma melhor expressão dizer que a brigada a ocupou por meio da força.

"Oh, olá."

A pessoa que sorriu para mim e me cumprimentara de maneira tão animada era Asahina-san. A fonte de todo o conforto do meu coração, sem ela, a existência da Brigada SOS teria tanto sentido quanto de um prato de arroz com curry, sem os cubos de curry.

Desde julho, Asahina-san tem usado um uniforme de maid de verão. Obviamente foi Haruhi quem o comprou - ainda não tenho a mínima idéia de onde ela tira essas roupas estranhas. Mesmo assim, Asahina-san sempre iria agradecer sinceramente a ela pelas fantasias com um "Ah... mu... muito obrigada.". Resumindo, ela continuava a ser a maid titular da brigada SOS, fazendo diligentemente chá para mim. Beberiquei meu chá e estudei as redondezas;

"Então, como vão as coisas?"

Koizumi me cumprimentou. Ele estava sentado em frente a um tabuleiro de xadrez que estava jogado sobre a mesa, segurando um livro de xadrez em uma mão, enquanto movimentava as peças com a outra.

"As coisas nunca têm estado normais para mim desde que entrei no colegial."

Koizumi disse que estava cansado do Othello, então decidiu trazer um tabuleiro de xadrez durante a última semana. Porem, como ninguém mais ali saiba jogar, ele teve de se divertir sozinho esse tempo todo. Certamente ele parece relaxado, mesmo com as provas finais chegando.

"Bem, não estou exatamente relaxando. Estou usando o tempo que não estou estudando para exercitar meu cérebro. A circulação do meu cérebro melhora a cada problema resolvido. Então, que tal um jogo?”

Não, obrigando. Não estou com vontade de exercitar o meu cérebro já exausto. Se pensar em mais alguma coisa complicada, todas as palavras em inglês que sofri para memorizar serão ejetadas do meu cérebro.

"É uma pena. Será que eu devo trazer banco imobiliário ou batalha naval da próxima vez? Ou será que uma coisa que todos possamos jogar juntos? Tem alguma coisa em mente?”

Qualquer coisa, ou melhor, coisa alguma. Esse não é o clube de estudos de jogos de tabuleiro, essa é a Brigada SOS. Falando nisso, ainda não tenho idéia do tipo de atividades nas quais a Brigada SOS está envolvida. Não tenho certeza do que esse clube misterioso devia estar fazendo. Na verdade nem queria saber, afinal, a ignorância a respeito vai aumentar as minhas chances de sobrevivência. Então não tinha motivação alguma para fazer qualquer coisa, essa era a minha lógica perfeita.

Koizumi deu de ombros e voltou a ler seu livro de xadrez. Ele pegou o cavalo preto e o movimentou pelo tabuleiro.

Sentada atrás de Koizumi, estava a garota com menos emoções do que um robô, Nagato Yuki, ocupada demais lendo seu livro para se incomodar com a minha presença. A alienígena silenciosa perdera o interesse em romances traduzidos, e agora os lia em suas linguagens originais. Neste momento ela estava lendo um livro, cuja capa estava escrita em uma linguagem que eu era incapaz de reconhecer, como esses grimórios antigos e esquecidos. Acho que deveria estar escrito em etrusco antigo, ou qualquer outra língua estranha. Tenho certeza que Nagato não teria nenhum problema em ler a pedra de roseta se a encontrasse.

Puxei uma cadeira dobrável e me sentei. Asahina-san rapidamente colocou um copo em minha frente. Quem diabos tomaria chá quente em um dia infernal como esses... não tenho intenção alguma de reclamar, afinal isso podia trazer a ira divina sobre mim, então bebi o chá com um senso de gratidão crescente. Hmm, está escaldante.

Parado em um canto da sala, estava um ventilador que Haruhi deve ter roubado de alguém. Mesmo assim, seus efeitos apaziguadores eram tão grandes quanto jogar água quente sobre pedras ainda mais quentes. Se você pode roubar esse tipo de coisa, porque não pegou um daqueles ventiladores de teto da sala dos professores?

Tirei o meu olhar do livro de inglês, cujas páginas balançavam com o vento, e me estiquei sobre a cadeira de metal.

Sei muito bem que não vou estudar quanto chegar em casa, achei que seria melhor para mim estudar no clube, mas percebi que enquanto não estiver realmente interessado em uma coisa não vou ter como fazê-la, não importa aonde eu esteja. Não vai ser bom para mim, tanto fisicamente quanto mentalmente, me forçar a fazer algo contra a minha vontade. Em outras palavras, é mais saudável para mim não me forçar a nada. É assim, eu não estou estudando, então guardei a minha lapiseira e fechei meu livro, e decidi dar uma olhada no meu estabilizador mental. Esse estabilizador que aliviava o meu coração cínico agora estava vestido de maid e realizando problemas de matemática bem na minha frente.

Olhando intensamente para as questões enquanto rabiscava no caderno; parecendo inabalável enquanto pensava, até começar a escrever loucamente como se inspirada por alguma coisa – a pessoa que estava fazendo essas ações não era ninguém menos que Asahina-san.

Me senti mais relaxado só de olhar. De repente um grande senso de pena se abateu sobre mim, como se dar todo o meu dinheiro para a caridade fosse algo trivial. Asahina-san não percebera que eu estive olhando para ela esse tempo todo, e permanecia concentrada em seus problemas de matemática. Qualquer ação que ela fizesse já era o suficiente para me fazer sorrir, de fato, já estava sorrindo. Me sinto como se estivesse observando um bebê foca.

Nossos olhos se encontraram.

"Ah... o, o que foi? E... eu fiz alguma coisa estranha?"

Asahina-san se ajeitou freneticamente, o que fez meu coração chegar ainda mais próximo do derretimento. Justo quando estava prestes a cantar minhas preces aos anjos...

"Ya-ho!"

A porta se abriu violentamente, e a garota selvagem entrou caminhando a passos largos. "Desculpem pelo atraso."

Não precisa se desculpar, afinal, ninguém estava esperando por você.

Haruhi entrou em cena carregando uma muda de bambu no ombro. Era um ramo comprido de bambu verde, com folhas saindo em ramos por toda a superfície. Por que você trouxe essa coisa até aqui?

Haruhi bateu no peito e replicou.

"Por que!? Para pendurar desejos, é claro."

O que? Como é?

"Na verdade nada importante, já faz algum tempo que não penduro tanzakus [1], então achei que seria legal fazer isso agora, afinal, hoje é Tanabata!"

1-[Nota do tradutor: O costume de atar tanzaku (papel com poemas ou pedidos) de diferentes cores aos ramos de bambu, teve início em 1818. Qualquer pessoa pode escrever seu pedido no tanzaku, onde cada cor de papel (branco, amarelo, verde, vermelho/rosa e azul) simboliza um tipo de pedido].

... como sempre, as atitudes de Haruhi não tinham nenhum significado real.

"Onde você conseguiu isso?"

"No bosque de bambus atrás da escola."

Se me lembro bem, aquele é um terreno particular, sua ladra de bambus.

"E quem liga pra isso? As raízes do bambu são subterrâneas, ela não vai ser afetada, mesmo se cortarem a parte de cima! Só seria uma ofensa se eu tivesse roubado o broto inteiro. Até fui picada por mosquitos no caminho, e cara, como isso coça. Mikuru-chan, você pode passar um pouco de pomada para coceira nas minhas costas?"

"Sim, agora mesmo!"

Asahina-san caminhou em passos curtos, carregando o kit de primeiros socorros, parecendo até uma pequena enfermeira. Ela pegou o creme, espalhou nas mãos, e colocou as mãos sobre a gola do uniforme de Haruhi, sobre as suas costas. Haruhi se inclinou para frente e disse;

"Um pouco mais para a direita... uhmm. Bem ai mesmo."

Haruhi parecia uma daquelas gatas de rua sendo afagadas no queixo, piscando continuamente em relaxamento. Ela colocou o pedaço de bambu ao lado da janela, e calmamente se sentou na cadeira de comandante, então tirou uns pedaços de papel de Deus-sabe-onde, e sorriu com alegria.

"Agora, vamos escrever os nossos desejos!"

Nagato levantou a cabeça lentamente, enquanto Koizumi sorria com cautela, e Asahina-san arregalava os olhos. O que ela estava tramando agora? Haruhi saltou da mesa, com a sua saia flutuando com o vento, e então disse;

"Mas existem algumas condições."

"Que condições?"

"Kyon, você sabe quem garante os desejos das pessoas no Tanabata?"

"Não são Orihime e Hikoboshi [2]?"

2-[Nota do tradutor: A paixão de Orihime e Hikoboshi era tamanha que quando se encontravam, ambos se esqueciam dos seus afazeres, e acabaram provocando a ira do rei. Como castigo, o vaqueiro foi enviado para além da galáxia. Mas com pena de Orihime, que passava os dias chorando, o rei permitiu que os dois pudessem atravessar a Via Láctea, e se encontrar um dia a cada ano, no dia sete do mês sete, data em que hoje se comemora o Tanabata. Os antigos chineses se basearam nas estrelas Vega e Altair, representadas por Orihime e Hikoboshi, localizadas em lados opostos da Via Láctea, para criar essa romântica lenda.].

"Correto. Você ganhou dez pontos. Então me responda; você sabe a quais estrelas Orihime e Hikoboshi estão se referindo?"

"Não tenho idéia."

"Não são as estrelas de Alpha Lyrae e Alpha Aquilae [3]?"

3-[Nota do tradutor: significa "alfa lira e alfa águia", ou simplesmente "Vega e Altair". Resumindo, são momes diferentes para "Orihime e Hikoboshi"].

Koizumi respondeu rapidamente.

"Correto! 85 pontos para você! São essas duas estrelas! Em outras palavras, você tem de apontar o pedaço de bambu com os tanzakus na direção dessas duas estrelas. Entenderam?"

O que diabos você está tentando dizer? E a que categoria pertence os quinze pontos restantes?

Heh, heh. Subitamente a expressão de Haruhi se encheu de malícia.

"Deixe-me explicar. De acordo com a teoria da relatividade, não há como viajarmos mais rápido que a velocidade da luz."

Tem algum motivo para você estar me dizendo isso? Haruhi então tirou um caderno de notas do bolso da saia, e falou em voz alta enquanto lia.

"Só para vocês saberem. A distância entre a terra e as estrelas de Alpha Lyrae e Alpha Aquilae são de vinte e cinco anos luz, e dezesseis anos luz, respectivamente. Isso significa que vai demorar vinte e cinco e dezesseis anos para mandar uma mensagem da Terra até essas estrelas. Esses são fatos – você está entendendo?"

Então o que? Falando nisso, você realmente se incomodou em pesquisar essas informações?

"Então esse é o tempo que demorará para que nossos desejos sejam atendidos, certo? Temos de esperar um bom tempo para que o que escrevemos se torne realidade. Então escrevam o que vão querer para daqui dezesseis e vinte e cinco anos no futuro! Escrever coisas como ‘Eu quero um namorado bonitão até o natal! ’ não vai funcionar, porque o desejo não vai poder ser realizado a tempo!"

Haruhi chacoalhou os braços com grandeza, e continuou a sua explicação.

"Espera um pouco, se demora vinte e tantos anos para que nossos desejos cheguem até lá, então não vai demorar o mesmo para que eles voltem? Isso não significa que teremos que esperar cinqüenta e trinta e seis anos respectivamente até que nossos desejos se tornem reais?"

"Bem, estamos falando de deuses. É claro que eles vão bolar alguma coisa para nos ajudar. É com dizem por ai; tem sempre uma promoção de 50% acontecendo todo ano."

Quando é conveniente para ela, Haruhi ignora completamente as leis da relatividade e as joga pela janela.

"Então, entendem o que eu quero dizer? Existem dois tipos de tanzakus, um para Alpha Lyrae e um para Alpha Aquilae. Então pensem e escrevam o que vocês irão para daqui a dezesseis e vinte e cinco anos."

Isso é ridículo. Pedir que os seus dois desejos sejam realizados imediatamente é uma atitude de gente sem pudor. Alem do mais, não temos como saber o que estaremos fazendo depois desses anos todos. Como saber o que pedir para o futuro? Nesse caso melhor coisa a se pedir é para que a previdência e os planos de poupança estejam funcionando direito até lá, eu acho.

Se Orihime e Hikoboshi tivessem de ouvir esse tipo de pedido o tempo todo, certamente seria uma grande dor de cabeça. Eles só podem se encontrar uma vez por ano, e ainda tem de ouvir esses pedidos estúpidos. Porque ao invés disso você não pede ajuda para os políticos? Se eu fosse eles, com certeza diria isso.

De qualquer forma, como sempre, essa garota estava pensando em todo o tipo de coisa sem sentido. Não podia deixar de imaginar se havia um buraco negro na cabeça dela que sugava todo o bom senso para outra dimensão.

"Bem, isso não é totalmente verdade."

Koizumi parecia estar defendendo Haruhi. Mas disse de uma maneira tão baixa que somente eu consegui ouvir.

"É verdade que as atitudes, e as palavras de Suzumiya-san são únicas, mas julgando da situação atual, está claro que ela sabe o significado do senso comum."

Koizumi deu o seu sorriso animado de sempre, e prosseguiu.

"Se seus padrões de pensamento fossem mesmo anormais, o mundo não seria tão estável. Se fosse o caso, esse planeta se tornaria algo estranho, ditado por regras bastante peculiares."

"E como você tem certeza disso?" - perguntei.

"Suzumiya-san deseja que o mundo todo mude um pouco, e tem os poderes de reconstruí-lo do zero, se necessário. Você deveria saber disso melhor do que eu."

É claro que eu sei disso. Mesmo tendo dúvidas.

"O porquê do mundo não ter ido para a completa irracionalidade, é que Suzumiya-san apesar de tudo valoriza o bom senso, acima dos seus próprios desejos."

"Pode soar uma infantilidade, porém." - Koizumi levantou a cabeça e falou - "Vamos usar um exemplo, ela deseja que o Papai Noel exista. Pelo conhecimento comum, o Papai Noel não existe. Se considerarmos apenas o Japão, veremos que não é possível que alguém entre em uma casa trancada no meio da noite, e deixe um presente sem ser detectado. E como ele sabe o que cada criança quer no natal? Somando isso com o fato que seria fisicamente impossível percorrer o mundo todo no espaço de uma noite."

Para alguém levar esse tipo de coisa a sério, tem se ser completamente retardado.

"Exatamente, e é por isso que o Papai Noel não pode existir."

A razão em ter o contrariado, é que me irritava ver Koizumi tomando o partido de Haruhi. Então expus minha indagação:

"Se você estiver certo, isso não significa que é impossível que existam aliens, espers, e viajantes do tempo? Então como você está aqui?"

"O que consigo imaginar é que Suzumiya-san estava muito desconfortável com o senso comum existente dentro dela. Pois ele novamente rejeitou os seus desejos - ou seja, um mundo onde ocorrências sobrenaturais são normais."

Quer dizer que os pensamentos selvagens de Haruhi estão levemente acima do seu bom senso?

"Talvez ela tenha sido incapaz de suprimir esses pensamentos, é por isso que Asahina-san e Nagato apareceram ao seu lado, e é por isso que eu recebi esses poderes sobrenaturais. Mas estou incerto do que você deve pensar a respeito."

Talvez seja melhor permanecer sem certezas. Afinal, não sou como você. Tenho a total consciência de que sou um ser humano normal.

Mas não tenho como saber se isso é uma benção ou uma maldição.

"Ei vocês! Parem de cochichar! Estou falando de coisas sérias aqui!"

Não satisfeita com nossa conversa, Haruhi nos olhou com frieza, enquanto ela esbravejava conosco. Então obedientemente recebemos os tanzakus e canetas, e voltamos para os nossos lugares.

Haruhi resmungou e então começou a escrever. Nagato estava sentada e imóvel, olhando para o tanzaku; enquanto Asahina-san tinha uma expressão de dúvida no rosto, como se tivesse encontrado algo mais complicado do que o problema de matemática. Koizumi disse de maneira relaxada, "Hmmm, que coisa incômoda."”, enquanto chacoalhava a cabeça pensando profundamente. Você realmente precisa pensar tão a sério em um assunto leviano como esse? Não seria melhor pegar leve, e escrever qualquer coisa que você queira?

Esse era o tipo de coisa que uma criança mimada e perturbada escreveria. Ficaria tudo bem, se fosse tratado como uma piada, mesmo com Haruhi parecendo estar tão séria a respeito disso enquanto pendurava os tanzakus nos ramos de bambu.

Girei o lápis ao redor dos dedos e olhei para o lado. A muda de bambu que Haruhi havia "roubado" estava encostada sobre a janela aberta, com seus ramos bagunçados como resultado. Uma brisa ocasional agitava as folhas, produzindo um som suave e relaxante.

"Todos acabaram? "

A voz de Haruhi trouxe minha atenção de volta a realidade. Em frente a ela, sobre a mesa, estavam duas tiras de papel onde podiam se ler:

"Que o mundo gire em torno de mim! " "Desejo que a Terra de voltas ao contrario."

Esse era o tipo de coisa que uma criança mimada e perturbada escreveria. Ficaria tudo bem, se fosse tratado como uma piada, mesmo com Haruhi parecendo estar tão séria a respeito disso enquanto pendurava os tanzakus nos ramos de bambu... e não me diga que esses desejos seus se tornarão realidade!

Asahina-san havia escrito com a sua elegante caligrafia:

“Desejo costurar melhor.” “Desejo cozinhar melhor.”

Os dois desejos de Asahina-san eram adoráveis demais. Ela juntou as palmas das mãos e orou para os tanzakus que estava pendurando no ramo de bambu. Acho que ela deve ter entendido algo errado.

Não havia nada de interessante nos tanzakus de Nagato, com uma letra regular e precisa, ela escreveu coisas abstratas cheias de palavras monótonas, como “harmonizar”, e “reorganizar”.

Koizumi não havia sido muito diferente de Nagato, com uma letra rabiscada, ele escreveu frases simples como “paz mundial” e “uma família fraternal”.

E eu? Os meus também eram simples. Como serão vinte e cinco anos e dezesseis anos no futuro, acho que nessa época já serei um velho chato, então tenho certeza que o futuro me permitirá desejar o seguinte:

“Eu quero dinheiro.” “Quero uma casa com jardim, onde possa dar banho no meu cachorro.”

"Que desejos mais chatos!"


Haruhi declarou seus pensamentos em um tom espantado. Ela era a pessoa menos qualificada para se surpreender com os meus desejos. Afinal, eles são muito mais saudáveis do que pedir para a terra girar ao contrario!

“Esquece! Gente, fiquem certos de lembrar desses desejos que vocês escreveram! O primeiro período chave será daqui dezesseis anos. Vamos apostar em quem tem o seu desejo realizado antes!”

"Ah... com certeza".

Asahina-san fez um sinal para mim com a cabeça, e me olhava com seriedade. Quando olhei em volta Nagato já havia voltado para o seu mundo literário.

Haruhi botou o ramo de bambu para fora da janela, em uma posição firme. Então colocou uma cadeira ao seu lado e se sentou nela. Colocando o cotovelo sobre o parapeito, Haruhi olhava para o céu com um pouco de melancolia, sem saber o que fazer em seguida. Ela era o tipo de pessoa com um humor extremamente variável, e pensar que ela estava eufórica até agora a pouco.

Abri meu livro, e novamente recomecei a minha tentativa de sobrepujar as provas, enquanto memorizava os diversos tipos de adjetivos.

"Dezesseis anos, huh? Isso é uma porção de tempo".

Ouvi Haruhi resmungando atrás de mim.


Nagato continuava a ler seu romance estrangeiro em silêncio, Koizumi começara novamente a jogar xadrez sozinho, enquanto eu estava preocupado em memorizar as sentenças em inglês. Esse tempo todo Haruhi permanecia sentada, olhando para o céu. Ela era bastante bonita nesse tipo de situação, onde ficava quieta e não se mexia. No começo pensei que ela havia decidido imitar as atitudes de Nagato, mas de alguma forma, a visão de Haruhi sentada pensando consigo mesma, me fazia ficar ainda mais desconfortável. Suspeito que ela esteja tramando mais coisas que nos trariam problemas futuros, e com certeza, ainda mais dores de cabeça.

Por algum motivo Haruhi parecia estar particularmente deprimida hoje. Algumas vezes ela olhava para fora e deixava escapar um longo e penoso suspiro. Isso me fazia tremer. Esse silêncio provavelmente era a calmaria antes da tempestade, com certeza era um tipo de situação assustadora. O imperador Sutoku deve ter se sentido assim nos dias antes do seu exílio em Sanuki [4].

4-[Nota do tradutor: O imperador Sutoku deve ter se sentido assim nos dias antes do seu exílio em Sanuki. - Em 1156, os partidários do In Toba e de seu filho, o imperador Goshirakawa entraram em conflito com o grupo do In Sutoku. A esse choque de interesses somou-se a rivalidade do Kampaku Fujiwara Tadamichi e seu irmão mais novo, o Sa-Daijin Yorinaga. Morrendo o In Toba, o partido do In Sutoku, a que se juntou Yorinaga convocou os chefes guerreiros Taira-no-Tadamasa, Minamoto-no-Tameyoshi e seu filho Tametomo para atacar o imperador e o Kampaku. Estes por sua vez recorreram a Minamoto-no-Yoshitomo, também filho de Tameyoshi e ao futuro autocrata Taira-no-Kiyomori (1118-1181). Foi a famosa Revolta de Hôgen, que terminou com a vitória do partido imperial, o confinamento do In Sutoku na província de Sanuki, na Ilha de Shikoku, a morte de Yorinaga em combate e a execução de Tameyoshi e Tadamasa pela mão de seus próprios parentes].


Ouvi o som do atrito do papel, e levantei a minha cabeça. Sentada do outro lado da mesa, trabalhando nos seus exercícios de matemática até a pouco, Asahina-san colocou o seu indicador sobre os lábios e fechou seu olho direito, me entregando um tanzaku extra que pegara agora pouco. Olhando para Haruhi com o canto dos olhos, Asahina-san retraiu a sua mão e abaixou a cabeça, como uma garotinha que havia acabado de pregar uma peça em alguém.

Minha necessidade de ser cúmplice nesse crime estava completamente desperta, rapidamente peguei o tanzaku que Asahina-san me entregou, e o li com cuidado.

“Por favor, fique no clube após as aulas terem terminado. – Mikuru-chan“

A mensagem acima estava escrita no papel com uma letra pequena e graciosa.

É claro que eu ia obedecer.


"Isso é tudo por hoje".

Haruhi disse aquilo, e prontamente pegou a sua mala e foi embora. Seu comportamento continuava anormal, ela era como um caminhão a diesel que subitamente se transformara em um carro movido a energia solar. Acho que as coisas ficarão bem por hoje.

"Então irei me retirar também".

Koizumi guardou as peças de xadrez e se levantou. Depois de trocar olhares comigo e com Asahina-san, ele saiu da sala do clube de literatura.

Nagato fechou seu livro. Oh, você também esta indo embora? Obrigado pela compreensão... quando estava sentindo gratidão pela situação, Nagato veio até mim, caminhando silenciosa como um gato.

"Fique com isso".

Ela me entregou um pedaço de papel. Era outro tanzaku. Realmente não posso te ajudar a mandar isso para o espaço, mesmo que você tenha o entregue para mim! Pensei com meus botões enquanto analisava o papel.

Varias formas geométricas estranhas estavam desenhadas nele. Que diabos era isso? Algum tipo de linguagem suméria? Creio que nem o computador Enigma [5] poderia decifrar o significado dessas mensagens.

5-[Nota do tradutor: Máquina usada pelos alemães para criptografar mensagens trocadas entre o front e as bases militares na Segunda Guerra Mundial].


Estudei esses desenhos com um olhar confuso no rosto. Não eram nem palavras nem desenhos, apenas formas triangulares, circulares, e onduladas. Nesse momento Nagato já havia terminado de pegar suas coisas, e tinha deixado a sala.

Esquece. Coloquei o tankazaku no meu bolso, e me virei para Asahina-san.

"D-desculpe pedir isso, mas espero que você possa vir comigo a um lugar".

Esse convite não veio de ninguém mais do que a própria Asahina-san. Seria condenado a ir para o inferno se recusasse. Até pularia em um poço flamejante se ela me mandasse.

"Claro, para onde nós vamos?"

"Bem... uhm... para três anos atrás".

Pedi um lugar, e ela me respondeu um tempo. Porem...

Essa história de três anos atrás de novo? Pensei um pouco, mas não podia deixar de estar interessado a respeito. Afinal, Asahina-san clamava ser uma viajante de um futuro desconhecido, apesar de esquecer isso com freqüência, devido a sua beleza. Mas três anos atrás? O que faremos nesses três anos do passado? Isso significa que viajaremos no tempo?

"S... sim".

"Claro, fico feliz em poder ir, mas por que eu? O que nós temos de fazer lá?"

"Bem... você vai entender assim que chegarmos... eu acho".

Huh?

Talvez fosse o olhar de questionamento em meu rosto que levou a isso, então Asahina-san chacoalhou as mãos freneticamente e me implorou com lágrimas nos olhos.

"Eu imploro! Não pergunte nada, só concorde em ir por enquanto! Se não... uhm... isso vai se tornar um grande problema".

"Então... tudo bem, vamos lá".

"Sério? Muito obrigada!"

Asahina-san sorriu e segurou as minhas mãos com alegria. Ah, a felicidade da Asahina-san é a minha felicidade, hahaha!

Pensando bem, quando Asahina-san declarou ser do futuro, não havia prova alguma da veracidade da história. Não foi quando encontrei a sua versão crescida que passei a acreditar realmente nela, mesmo não podendo negar que ainda tenho suspeitas sobre uma possível conspiração por trás disso. Então hoje terei uma grande chance para provar o seguinte questionamento; "Asahina-san realmente veio do futuro?".

"Então, cadê a maquina do tempo?"

Achei que precisaríamos entrar em um armário ou coisa parecida, mas Asahina-san disse que não existia um mecanismo assim. Então por onde iríamos viajar pelo tempo? Ela encolheu os ombros e apertou o avental, então disse;

"Saqui mesmo".

Huh? Aqui? Virei e olhei com descrença para a sala vazia do clube.

"Sim, por favor, se sente. Você poderia fechar os olhos? Sim, e relaxe os seus ombros também".

Fiz o que ela havia pedido. Só espero não ser acertado na cabeça repentinamente.

"Kyon-kun..."

Asahina-san suprimiu sua voz atrás do meu ouvido. Que respiração suave.

"Me desculpe".

Tive um pressentimento ruim a respeito. Quando ia abrir os olhos, tudo ao meu redor ficou escuro. Então fui jogado a inconsciência, enquanto sentia uma forte sensação de náusea e falta de equilíbrio. Se soubesse que seria assim, nunca teria concordado em vir.


Quando recuperei meus sentidos, minha visão estava uns 90 graus invertida. Tudo que deveria estar em pé estava jogado na horizontal, quando vi o poste atravessando meus olhos da esquerda para a direita, percebi que eu estava deitado. Foi ai que senti uma sensação de calor ao lado da minha cabeça.

"Oh, você já acordou?"

Uma voz angelical falou. Já estava completamente acordado. O que era esse calor sob o meu ouvido esquerdo?

"Uhm... se você não levantar a sua cabeça... então eu teria que..."

Asahina-san parecia preocupada. Me levantei e confirmei onde estávamos.

Em um banco de praça, no meio da noite.

O que está acontecendo aqui? Estava dormindo sobre os joelhos de Asahina-san e por estar dormindo, não lembro de nada... é mesmo uma pena.

"Minhas pernas estão dormentes, isso já está ficando cansativo".

Asahina-san sorriu com constrangimento e abaixou a cabeça. Não sei quando ela se trocou, mas no lugar da roupa de maid, ela estava com o uniforme do colégio. Pensando bem, até o horário que estamos deve ter dado tempo mais que o suficiente, afinal fiquei dormindo o tempo todo. Mas, por que diabos eu estava dormindo?

"Porque não podia deixar você saber dos métodos de viagem no tempo, afinal é uma informação confidencial... você ficou bravo Kyon-kun?"

Não, nem um pouco. Se fosse a Haruhi, já teria ficado furioso com ela, mas como foi a Asahina-san, não me importei muito.

Falando nisso, agora a pouco estava sentado de olhos fechados no clube, então como eu vim parar em um parque no meio da noite? O pior é que sinto já ter estado nesse parque antes. Eu lembro de Nagato me pedindo para vir aqui outro dia, será que esse parque é a terra santa das pessoas excêntricas?

Cocei a minha cabeça, ainda havia algo que queria perguntar.

"Em que tempo nós estamos?"

Sentada ao meu lado, Asahina-san respondeu.

"Tomando nosso tempo de origem como referência, esse é o dia sete de julho de três anos atrás. Deve ser umas nove horas da noite, eu acho".

"Então é isso?"

"Sim".

Ela me olhava com seriedade.

Nunca achei que chegaríamos aqui tão facilmente. É claro que não era ingênuo o suficiente para acreditar em tudo que ela me dizia, eu tinha que confirmar isso. Tentaria primeiro ligar para o número que oferecia informações sobre o horário e sobre o clima.

Quando estava preste a contar meus planos para ela, senti meu obro direito pesar subitamente. Huh? Asahina-san estava agora com a cabeça encostada sobre o meu ombro. Essa exausta garota estava agora se apoiando em mim; alguém poderia me dizer qual é o significado disso?

"Asahina-san? "

-- Nenhuma resposta. --

"Uhm..."

"(Ronco)..."

Ela está roncando?

Joguei minha cabeça para frente, e me virei 85 graus para a esquerda, vendo Asahina-san de olhos fechados, e lábios entreabertos, deixando escapar um ruído suave dos lábios. O que diabos está acontecendo aqui?

Os arbustos se mexeram repentinamente. Senti meu coração subir até a garganta, o que é isso?

"Ela está dormindo?"

Vindo de dentro dos arbustos, surge ninguém menos que... outra Asahina-san.

"Boa noite, Kyon-kun".

Era a versão de luxo de Asahina-san. Uma jovem senhorita, mesmo assim, bem mais velha que a Asahina-san que dormia em meu ombro, e que havia crescido em todas as partes. Ainda assim continuava linda, e seu charme havia aumentado em pelo menos dez vezes. Eu já havia a encontrado antes, e como da última vez, ela vestia uma blusa branca, e uma minissaia azul bastante justa. Essa mulher agora caminhava em nossa frente.

"Hee hee, olhando por esse ângulo".

A Asahina-san adulta apertou as bochechas da Asahina-san que dormia, e então disse;

"Ela parece apenas uma criança".

Olhando com nostalgia, Asahina-san (a grande), acariciou suavemente o uniforme de Asahina-san (a pequena).

"Então é assim que eu era nessa idade?"

Ao sentir o hálito de Asahina-san (a pequena) em meu braço, não pude me mover, e permaneci parado como uma pedra, olhando fixamente para a Asahina-san (grande).

"A missão dela era o trazer até aqui, e desse ponto em diante, a minha função é de lhe guiar".

Parecendo um idiota, perguntei a Asahina-san, que exalava uma aura de maturidade enquanto sorria.

"Uhm... o que é que..."

"Não posso explicar em detalhes, afinal, são todas informações confidenciais. Tudo que posso fazer agora é servir como sua guia".

Virei-me para olhar Asahina-san dormindo em meu ombro.

"Por isso que eu a fiz dormir, para não ser vista por ela".

"Mas por quê?"

"Porque quando eu era ela, nunca me vi".

Esse motivo parecia esclarecedor e confuso simultaneamente. A charmosa Asahina-san fechou um dos olhos e disse.

"Vá para o sul seguindo a linha do trem, até chegar a uma escola pública; Você poderia, por favor, ajudar a pessoa que está para fora do muro dessa escola? E você pode fazer isso agora? Se possível espero que não se importe de me carregar junto, não devo ser muito pesada".

Ela soava como uma aldeã daqueles RPG´s de videogame. Imagino a recompensa que ganharei fazendo isso.

"Recompensa? Bem..."

A Asahina-san adulta elegantemente colocou a mão sob o queixo e pensou profundamente, então me deu um sorriso maduro.

"Não tenho nada a oferecer para você, mas você pode me beijar enquanto eu estiver dormindo. Mas apenas enquanto eu estiver dormindo, entendeu?"

Que negócio mais atraente! Era exatamente nisso que eu estava pensando. A visão de Asahina-san dormindo era linda demais para que não me sentisse tentado a respeito, porém...

"Isso é um pouco..."

Não sei se era devido ao meu humor ou a essa situação estranha, mas acho que não era uma coisa apropriada para mim. Francamente, estava com raiva de mim mesmo por ser tão racional.

"O tempo está acabando, eu devo ir agora."

Essa é a pista que você está me dando dessa vez?

"Ah, sim, por favor, não a deixe saber que eu estive aqui. Vamos fazer um yubikiri [6]"

6-[Nota do tradutor: Yubikiri é uma promessa feita unindo os dedos mindinhos, em geral é uma promessa de amizade feita por crianças.].

Automaticamente levantei o meu dedo mindinho e o cruzei com o de Asahina-san (a grande). Posso continuar segurando por mais um minuto?


"Até mais, Kyon-kun".

Asahina-san (a grande) disse com animação e caminhou em direção a escuridão, em pouco tempo ela já não podia ser mais vista.

"Então..." - resmunguei comigo mesmo. Será que encontrarei essa Asahina-san adulta novamente? Tenho a sensação que ela não mudou muito desde que me deu aquele conselho estranho da última vez que nos vimos.

Talvez essa Asahina-san tenha vindo de um plano temporal anterior a aquela que vi da última vez. Eu não entendi. E não acho que tinha como entender. Julgando pela situação que estou, é possível que encontre Asahina-sans de diversos períodos temporais.


Asahina-san, a qual eu carregava nas minhas costas, não era necessariamente leve, mas também não era pesada. Era natural que meu passo diminuísse. Seu rosto angelical respirava levemente sobre meus ouvidos, de maneira quase criminosa. Até meu pescoço começou a coçar por causa da respiração dela.

Esquivei-me dos olhares dos outros pedestres (mesmo achando que não havia quase ninguém na rua esse horário), e rapidamente rumei para a direção que a Asahina-san adulta havia indicado. Acho que andei por uns dez minutos, e a quantidade dos pedestres da rua começava a diminuir conforme eu caminhava. Depois de virar uma esquina, finalmente cheguei ao nosso destino.

A escola média do leste. Já havia ouvido sobre esse lugar. Essa é a escola onde Taniguchi e Haruhi estudaram. E falando no diabo, uma silhueta familiar estava em frente aos portões da escola. Eu reconheci aquela pequena figura instantaneamente quando ela tentava escalar a cerca de metal.

"Ei!"

Depois de gritar, percebi o quanto eu estava surpreso. Como eu poderia saber quem era essa pessoa? Era inacreditável demais. Olhei para as costas dela, e sua altura era bem menor, e seu cabelo negro não era tão longo e nem tão curto.

Mas é claro, só havia uma pessoa que eu conheço que iria invadir a escola no meio da noite.

"O que foi?"

Naquele momento finalmente estava começando a acreditar que estava frente à realidade de três anos atrás. Sem brincadeira, realmente parecia ter voltado três anos.

Apoiada na cerca, a pessoa que se virou para mim realmente era mais nova do que a comandante da Brigada SOS que eu conhecia. Mas aquele par de olhos brilhantes não me enganava, aqueles eram realmente os olhos de Haruhi. Mesmo vestida casualmente com uma camiseta e um short, ela parecia igual para mim. Três anos atrás, acho que estávamos na quinta série do fundamental. Será que essa era a pessoa que Asahina-san queria que eu ajudasse?

"Quem é você? Um tipo de maníaco sexual? Um seqüestrador? Você parece realmente suspeito".

As lâmpadas embaçadas da rua nos banhavam com uma luz branca fraca. Não pude ler claramente a expressão de Haruhi. Sim Haruhi, aquela estudante de ensino fundamental, que me olhava com os olhos cheios de receio. Quem parecia ser mais suspeito aqui? Uma garota tentando pular a escola no meio da noite, ou eu que estava andando por ai carregando uma garota inconsciente? Realmente, não acho que essa seja uma pergunta que mereça algum crédito.

"Você é a pessoa suspeita aqui. O que está fazendo num lugar desses?"


"O que mais eu estaria fazendo? Estou tentando invadir esse terreno, é claro".

Não declare abertamente essas suas intenções criminosas, há um limite para a falta de vergonha!

"Você chegou bem na hora. Não te conheço, mas se estiver livre, então me ajude em uma coisa! Ou eu vou chamar a polícia!"

Sou eu que deveria estar chamando os policiais, mas prometi para a outra Asahina-san que ajudaria. Por outro lado, gostaria de saber por que a existência chamada Suzumiya Haruhi sempre arranja um jeito de se aproveitar de mim. Sou forçado a fazer esse tipo de coisa até mesmo nessa época?

Haruhi saltou para o outro lado do portão e o destrancou pelo outro lado com uma chave. Onde diabos você arranjou essas chaves?

"Roubei quando ninguém estava olhando. Foi muito fácil".

Ela era realmente uma criminosa. Haruhi lentamente deslizou a porta de metal e acenou para mim. Andei em direção a aquela pequena garota, quer no futuro teria mais um menos uma cabeça de altura a mais do que tem agora. Tudo isso enquanto carregava Asahina-san apropriadamente.

Ao lado da entrada da escola do leste, estava a pista de corrida. O complexo escolar ficava do lado oposto ao nosso. Haruhi então começou a caminhar diagonalmente pelo campo escuro.

Era bom que estivesse escuro, assim ela não seria capaz de ver claramente o meu rosto ou o de Asahina-san. Daqui três anos, nunca passou pela cabeça de Haruhi que havia nos conhecido na quinta série. Então era melhor que as coisas continuassem assim, ou isto poderia se tornar uma grande dor de cabeça.

Haruhi foi diretamente para o canto da pista de corrida, em direção ao deposito de equipamento. Dentro dele havia um carrinho de mão enferrujado e uma maquina de desenho com giz atrás de suas rodas, assim como alguns sacos de pó de giz.

Apoiada na cerca, a pessoa que se virou para mim realmente era mais nova do que a comandante da Brigada SOS que eu conhecia.

"Deixei isso escondido durante a limpeza do depósito hoje à tarde, bem esperto não é?"

Ela sorriu com astúcia, e então começou a carregar o saco de giz, que era quase tão pesado quanto ela para o carrinho, e então puxou a sua alça. A maneira que ela puxava o carro me fez perceber o quão jovem ela era. Acho que esses estudantes do fundamental não são mais que crianças durante a 5ª série.

Cuidadosamente coloquei a desacordada Asahina-san no chão, apoiando-a a parede do depósito, por favor, fique aqui sentada como uma boa garota até eu voltar.

"Deixe-me fazer isso! Me entregue essa coisa, você leva a maquina de giz."

Será que eu devia estar realmente a ajudando? Todo esse tempo fui escravizado por Haruhi, ela era como um andróide que entrava em frenesi e não parava até destruir tudo ao seu redor. Pelo jeito continuava igual, no passado ou no presente. Aparentemente a natureza de uma pessoa não muda assim tão facilmente em um espaço de três anos.


"Siga as minhas instruções e desenhe as linhas. Sim, você mesmo! Afinal, eu preciso olhar de longe para não cometer nenhum erro. Ah! Você desenhou errado ali! O que pensa que está fazendo?!"

Para sair por ai dando ordens para um rapaz do ensino médio que nunca viu na vida, sem ao menos hesitar, ficava claro que aquela tinha que ser a Haruhi. Se estivesse encontrando essa garota pela primeira vez, com certeza a acharia completamente insana.

Se eu a conhecesse antes de encontrar Nagato, Asahina-san, e Koizumi, é claro.


Seguindo as ordens de Haruhi, desenhei as linhas brancas ao redor da pista. Pelos primeiros trinta minutos, nenhum professor sequer apareceu, e nenhum carro da polícia deu as caras para investigar após receber queixas dos vizinhos.

Será que as estranhas figuras simbólicas que Taniguchi disse terem aparecido na pista de corrida teriam sido feitas por ninguém menos que eu mesmo?

Silenciosamente olhei para os padrões que me esforcei tanto para desenhar. Haruhi caminhou para o meu lado e pegou a maquina de desenho das minhas mãos. Então começou a desenhar algumas linhas a mais e disse;

"Ei, você acredita que alienígenas existem?"

Que pergunta mais súbita!

"Acho que sim."

A imagem de Nagato passou rapidamente pela minha cabeça.

"E os tais viajantes do tempo?"

"Hmm, não seria muito surpreendente se eles existissem."

Para falar a verdade, nesse momento, eu mesmo sou um deles.

"E que tal espers?"

"Eles estão em todo o canto, não é?"

De repente, pensei em numerosos pontos escarlates cruzando os céus.

"E sliders?"

"Não encontrei nenhum deles ainda."

"Hmph."

Haruhi deixou a maquina de lado, e esfregou o pó de giz para fora do seu rosto com o canto do ombro.

"Hmm, isso deve dar."

Comecei a me sentir desconfortável, será que disse algo que não devia ter dito? Haruhi olhou para mim e disse:

"Esse é um uniforme do colégio médio do norte?"

"Exatamente."

"E qual é o seu nome?"

"John Smith."

".... você é um idiota por acaso?"

"Não posso usar um pseudônimo de vez em quando?"

"E quem é aquela garota?"

"É a minha irmã. Ela sofre de uma doença chamada narcolepsia [7]. Ela tem sido assim já faz um tempo, caindo no sono de repente nas piores horas e lugares, é por isso que tenho de ficar carregando-a por ai."

7-[Nota do tradutor: Narcolepsia é uma condição neurológica caracterizada por episódios irresistíveis de sono e em geral distúrbio do sono. É um tipo de dissonia].

"Hmph."

Haruhi mordeu seus lábios, e se virou de costas, com uma expressão de descrença no rosto. Então, decidi mudar de assunto.

"Falando nisso, para que isso serve?"

"Você não percebeu? É uma mensagem."

"Para quem? Não me diga que é pra Hikoboshi e Orihime?"

Haruhi me olhou com surpresa e retrucou;

"Como você sabia?"

"... bem, hoje é o dia do Tanabata. É que eu conheço uma pessoa que faz coisas desse tipo também."

"Sério!? Realmente gostaria de encontrar essa pessoa. Existe alguém assim no seu colégio?"

"Sim."

Na verdade, de hoje em diante, a única pessoa que faria esse tipo de coisas é você.

"Hmm, a escola média no norte, huh..."

Haruhi resmungou enquanto pensava profundamente. Ela ficou em silêncio por um tempo como um vegetal. Então se virou de repente, dando as costas para mim.

"Estou voltando para casa. Acho que já fiz o que tinha que fazer. Até mais."

Ela caminhou a passos largos. Nem uma palavra de agradecimento? Que rude, mesmo sabendo que Haruhi iria reagir assim nesse caso. Além do mais, ela não falou seu nome nesse tempo todo. Acho que é melhor assim.


Não podemos ficar assim para sempre, então decidi acordar Asahina-san. É claro, não antes de devolver o carrinho e o pó de giz que Haruhi abandonara atrás do depósito.

Dormindo como uma gata de rua. Asahina-san estava tão linda que estava tentado a fazer algo pervertido com ela, mas no final, eu resisti a essa provação e lentamente chacoalhei os seus ombros.

"Uhm... huh. Eh?"

Abrindo seus olhos, Asahina-san começou a olhar freneticamente ao seu redor.

"EH!?"

Ela gritou, então levantou aos saltos.

"O, o, o... onde estamos? Por que? Que tempo é esse?"

Como eu deveria respondê-la? Enquanto procurava um argumento válido. Asahina-san subitamente gritou, "AH!!!" mesmo no escuro, conseguia ver que seu rosto alvo se tornara ainda mais pálido do que o normal.

Asahina-san tateou o seu corpo com ambas as mãos.

"O TPDD... sumiu. Eu não consigo encontrar~~."

Ela estava à beira das lágrimas, então depois de alguns instantes Asahina-san começou realmente a chorar. Ela era como uma criança perdida que esfregava as mãos pequenas sobre seus olhos úmidos. Mas agora não é a hora de admirar a sua beleza.

"O é um TPDD?"

  • Soluça~~ "... isso é uma informação confidencial, eu não devia dizer isso... mas é algo como uma maquina do tempo. Eu a usei para chegarmos nesse plano temporal... mas não consigo a encontrar. Sem isso, não podemos retornar ao tempo de que viemos..."

"Como você perdeu isso?"

"Não sei... não era para eu o perder... mas realmente desapareceu."

Pensei na outra Asahina-san, que estava mexendo em seu corpo há algum tempo.

"Ninguém poderia aparecer e nos ajudar..."

"Isso é impossível. Sob~~"

Asahina-san me explicou enquanto choramingava, que todos os eventos ocorridos em um plano temporal estão pré-definidos, e se existe um TPDD, ele deveria estar com ela. Agora que ele sumiu, significa que sua perda era inevitável, e com isso havia sido decidido que "ela não mais o possui"... ou algo assim. O que isso deveria significar?

"Em outras palavras. O que vai acontecer conosco agora?"

  • Soluço~~ "Isso significa que se as coisas continuarem assim, ficaremos presos nesse plano, e seremos incapazes de voltar ao nosso tempo original."

Agora as coisas ficaram sérias! Pensando bem, de alguma forma não fico muito alarmado. A Asahina-san adulta nunca disse nada disso para mim. Então acho que ela foi quem pegou o tal de TPDD, e acabou criando toda essa situação. Deduzo que Asahina-san (a adulta) veio para o passado apenas para isso. Para aquela Asahina-san que veio de um futuro ainda mais distante do que essa Asahina-san, fazer isso era inevitável.

Tirei meus olhos de Asahina-san, que soluçava nervosamente, e os centrei na pista de corrida, os padrões misteriosos que Haruhi pensou e que foram desenhados por mim, pareciam extremamente distorcidos. Os professores e alunos dessa escola entrariam em choque quando vissem isso pela manhã. Só espero que esses rabiscos não sejam uma maldição voltada aos alienígenas... quando pensava nisso, finalmente percebi uma coisa.

Estava escuro, a escola estava apenas mal iluminada pelas lâmpadas opacas dos postes da rua. Como as linhas que desenhei eram tão grandes, não conseguiria ver as figuras se não recuasse um pouco antes de olhar.

Por isso demorei tanto para descobrir.

Tateei meus bolsos e peguei o tanzaku que Nagato havia me entregue. Nele haviam misteriosas formas geométricas desenhadas.

"Deve ter um jeito de sairmos dessa."

Quando disse isso, Asahina-san me olhou piscando confusamente, enquanto eu continuava estudando o tanzaku.

Os padrões simbólicos desenhados nele, eram exatamente os mesmos da mensagem de Haruhi para as estrelas, a mensagem que ela e eu desenhamos na pista da escola não muito tempo atrás.


Rapidamente fomos embora da escola intermediaria do leste, em direção ao luxuoso bloco de apartamento perto da estação.

"Essa não é... a casa de Nagato-san?"

"Sim. Eu não perguntei especificamente quando ela veio para a Terra, mas tenho certeza que ela estava aqui há três anos... eu acho."

Fiquei parado em frente à entrada do prédio e apertei o botão para o apartamento 708. Um ruído continuo e estridente podia ser ouvido através do interfone, conseguia sentir o calor das mãos nervosas de Asahina-san segurando o meu braço. Então falei no fone.

"Essa é a residência de Nagato Yuki?"

" ... " - o interfone respondeu assim.

"Uhm, eu não sei como posso dizer isso."

" ... "

"Sou um amigo de Suzumiya Haruhi... isso faz algum sentido para você?"

Uma respiração surpresa podia ser ouvida pelo auto falante. Uma breve pausa, e então...

"Pode entrar."

Beep. O portão se abriu. Levei Asahina-san, que estava apavorada, até o elevador. Nós então chegamos ao sétimo andar, em frente ao apartamento 708, que já havia visitado uma vez antes. Empurrei levemente a porta que se abriu devagar.

Ali estava Nagato Yuki em frente a porta. Tudo parecia tão surreal para mim. Era mesmo verdade que tínhamos viajado no tempo?

Nagato parecia exatamente a mesma de antes, o que me levou a dúvida sobre a veracidade dessa viagem no tempo. A maneira que ela vestia o mesmo uniforme do nosso colégio, e olhava para mim com aqueles olhos sem emoção, alem da aparente falta de calor corporal e de senso de existência não era nem um pouco diferente da Nagato que eu costumava conhecer. A única diferença entre elas é que a nossa Nagato parou de usar óculos recentemente, enquanto essa os usava como da primeira vez que eu a vi.

"Ei!" - levantei o meu braço e dei um sorriso amistoso a ela. Nagato como sempre era um poço de emoções. Asahina-san se escondeu atrás de mim, tremendo sem parar.

"Podemos entrar?"

" ... "

Nagato silenciosamente se virou em direção ao seu apartamento. Acho que ela nos deu permissão para entrar. Tiramos nossos sapatos e fomos até a sala de estar. Que por sinal estava igual a daqui três anos, o lugar permanecia vazio como da última vez. Nagato permaneceu parada ali esperando para que entrássemos. Sem escolhas, decidi explicar tudo para ela. Por onde eu posso começar? Pelo dia em que encontrei Haruhi pela primeira vez na escola? Essa é uma história extremamente longa.

Suprimindo os detalhes, a dei um breve resumo do que aconteceu. Seus olhos sem emoção continuaram me fitando por entre as lentes dos óculos. Acho que passei uns cinco minutos explicando, apesar de pessoalmente achar que toda história envolvendo Haruhi não faz sentido nenhum.

"... e então, a você de três anos no futuro me deu isso."

Nagato encarou o tanzaku que eu tirei do bolso, seus dedos passavam sobre os símbolos estranhos como se lessem um código de barras.

"Entendido."

Nagato simplesmente abanou a cabeça. Era só isso? Espere, de repente pensei em algo que realmente estava me incomodando.

Coloquei minha mão na testa e disse.

"É verdade que conhecemos a Nagato já faz algum tempo, mas essa é você daqui três anos. Para você, essa é a primeira vez que nos vemos, certo?"

Mesmo eu não entendia do que estava falando. Os óculos de Nagato brilharam enquanto ela respondia como se nada tivesse acontecido.

"Sim."

"Então..."

"Obtendo permissão para compartilhar memória com a disparidade temporal. Adquirindo dados reversíveis do plano móvel temporal."

Que diabos é isso?

"O 'eu' que existe nesse plano temporal, e o 'eu' que existe no plano futuro, são essencialmente a mesma pessoa."

E o que? Esse não é geralmente o caso? Mas não pode ser possível que a Nagato de três anos atrás possa compartilhar a memória com a Nagato de três anos no futuro.

"É possível."

Como você faz isso?

"Sincronização."

Uhm, ainda não entendi.

Nagato não respondeu, e lentamente tirou os óculos. Seus olhos sem emoção piscaram para mim. Esse era o rosto da garota devoradora de livros que eu conhecia. Essa era a Nagato Yuki que eu conhecia.

"Por que você está com o nosso uniforme? Você já começou a ir para a escola?"

"Não, atualmente estou em modo de espera."

"Espera... você pretende esperar pelos próximos três anos?"

"Sim."

"Isso é realmente..."

Uma demonstração de paciência. Você não acha isso muito chato? Nagato abanou a cabeça em negação e disse;

"Essa é a minha missão."

Seus olhos límpidos olharam diretamente para mim.

"Há mais de uma maneira de se mover pelo tempo."

Nagato disse com uma expressão vazia.

"TPDD é só uma ferramenta para controlar o espaço-tempo, e contêm incertezas e erros. Muitas teorias existem sobre a movimentação pelo continuo espaço-tempo."

Asahina-san novamente se agarrou forte ao meu braço.

"Uhm... e o que isso significa?"

"Usar o TPDD para transferir formas orgânicas através do tempo é possível, mas isso irá gerar interferências. Para nós, ela não é uma ferramenta ideal."

Quando você diz "nós", quer dizer a Entidade Senciente de Dados Integrados?

"Nagato-san pode realizar um salto no tempo em sua forma completa?"

"Forma não é necessária. Já é o suficiente se uma viagem no tempo contiver os mesmos dados."

Ficar alternando entre o passado, presente, e futuro, hun?

Se Asahina-san pode fazer isso, não me surpreenderia se Nagato também conseguisse. Afinal, ela possui os poderes adequados para tal tarefa. Comecei a pensar, que se comparada com Koizumi e Nagato, Asahina-san não fica meio fora do padrão?

"Tudo bem então."

Interrompi a conversa entre Nagato e Asahina-san, afinal agora não era hora de discutir a teoria e o funcionamento das viagens no tempo. A questão agora era como nós conseguiríamos voltar para o nosso futuro.

Mesmo assim, a única coisa que Nagato fez foi dar um aceno com a cabeça e dizer;

"Isso pode ser feito."

Ela se levantou e abriu a porta de papel para o quarto adjacente a sala de estar.

"Aqui."

Era um quarto no estilo japonês, forrado com tatami [8], na verdade, não existia nada no quarto a não ser o tatami. Parecia realmente solitário, como esperado da casa de Nagato. Eu podia entender isso, mas porque ela nos trouxe a esse quarto? Tem uma maquina do tempo escondida aqui? Quando estava prestes a soltar toda essa torrente de questionamentos, Nagato nos trouxe um futon do armário e o colocou no chão. Ela até trouxe um par de travesseiros junto.

8-[Nota do tradutor: Tatame, que significava originariamente "dobrado e empilhado", é o piso tradicional japonês. O tatame tradicional é feito de palha de arroz prensada revestida com esteira de junco e faixa preta lateral. Seu formato e tamanho são padronizados. É o piso das áreas secas de uma residência e serve de medida para os cômodos.].


"Espero que seja só a minha imaginação... mas você não está pedindo para dormirmos aqui, está?"

Nagato carregava os travesseiros enquanto olhava para mim. Asahina-san e eu podíamos ser vistos claramente refletidos em suas pupilas cristalinas.

"Sim."

"Aqui? Com Asahina-san? Nós dois?"

"Sim."

Olhei de relance para o meu lado e vi Asahina-san com um olhar envergonhado, sua face corava furiosamente. Acho que já esperava por esse tipo de reação.

Mas Nagato não parecia nem um pouco preocupada.

"Agora durmam."

Não seja tão direta!

"É só dormir."

Sigh... é isso que pretendo fazer então. Troquei olhares como Asahina-san, e ela corou novamente, então dei de ombros. Viemos atrás de ajuda de Nagato, se ela está nos mandando dormir, então vamos dormir! Se acordarmos no nosso tempo, então essa vai ter sido uma solução um bocado simples.

Nagato desligou a o interruptor e começou a murmurar alguma coisa. Ela não estava nos desejando uma boa noite, estava? A lâmpada enfraqueceu e se por fim se apagou.

Tenham uma boa noite! Me deitei e puxei o cobertor sobre o meu corpo.


No momento seguinte, as luzes se acenderam novamente. A lâmpada fluorescente piscou lentamente até se estabilizar. Huh? Que sensação estranha é essa? A janela nos mostrava o mesmo céu noturno de antes.

"Espero que seja só a minha imaginação... mas você não está pedindo para dormirmos aqui, está?"..."Sim."

Me sentei sobre o futon [9], Asahina-san também se sentou, agarrada em seu travesseiro.

9-[Nota do tradutor: Um futón é um tipo de colchão usado na cama tradicional japonesa. Os futons japoneses são baixos, com cerca de 5 cm de altura e têm no interior algodão ou material sintético. Vendem-se conjuntos no Japão que incluem o colchão (shikibuton), o edredão (kakebuton) e a almofada (makura). Estas almofadas enchem-se com feijão verde, trigo negro ou peças de plástico].

Seu rosto inocente e infantil parecia confuso, me olhando com olhos questionadores, mas é claro que eu não saberia responder as suas questões.

Nagato estava ali parada como antes, ligando o interruptor.

Tinha uma sensação que aquela não era a Nagato de sempre, era como se tivesse alguma emoção dentro dessa. Olhei atentamente para aquele rosto pálido, e parecia que ela queria dizer alguma coisa que conflitava com o seu coração. Se não tivesse observado seu rosto por algum tempo, não teria percebido. Posso garantir que isso não é apenas a minha imaginação.

Um som de espanto podia ser ouvido do meu lado. Me virei e encontrei Asahina-san olhando o relógio digital em seu pulso direito.

"Eh? Será mesmo? ... eh? Isso é realmente verdade?"

Dei uma olhada em seu relógio, seria esse o infame TPDD?

"Não, é só um relógio digital automático."


Você diz que isso é um daqueles relógios que se sincronizam sozinhos com o tempo correto? Asahina-san sorriu para mim e disse;

"Nós voltamos. Nosso tempo de origem era sete de julho... logo depois das nove e meia da noite. Que alivio..."

Ela soltou um suspiro de alivio do fundo da alma.

Em frente a porta, estava a Nagato que conhecíamos. Se tivéssemos de distinguir entre essa e aquela que ainda usava óculos, essa Nagato Yuki era aquela que tinha se suavizado um pouco. Vendo ela três anos depois, finalmente compreendi. Essa Nagato em nossa frente realmente havia mudado um pouco desde nosso primeiro encontro no clube de literatura, antes mesmo de Haruhi fundar a brigada. Essa mudança era tão pequena, que provavelmente nem ela mesmo havia percebido.

"Mas como você fez isso?"

Nagato explicou para Asahina-san, sem demonstrar emoção alguma.

"Congelamento seletivo dos dados liquefeitos com conexão com o espaço-tempo, preservando-o até o destino apropriado no continuum espaço-tempo conhecido, e então o descongelamento dos dados."

Ela disse esses termos abstratos, então fez uma pausa e acrescentou.

"E é apenas isso."

Asahina-san tentou se levantar, mas seus joelhos cederam, e ela se ajoelhou novamente.

"Não pode ser... isso é impossível... Nagato-san, você..."

Nagato permaneceu em silêncio.

"Tem alguma coisa errada?" - perguntei.

"Nagato-san parou o tempo aqui dentro. Ela provavelmente esteve esse tempo todo aqui dentro, enquanto estávamos congelados, até hoje, quando ela descongelou o tempo... certo?"

"Sim." - Nagato respondeu com um aceno de cabeça.

"Isso é incrível, a capacidade de parar o tempo... wah~"

Asahina-san tombou exausta enquanto suspirava.

Acho que voltamos a salvo para o nosso presente. Tenho certeza disso só de olhar para a reação de Asahina-san, ela é o tipo de pessoa que deixa transparecer as preocupações no seu rosto. Mas enfim, acredito que voltamos de três anos atrás e o tempo esteve parado até agora. Nesse momento posso tolerar quase qualquer coisa, não importa o que seja, eu posso aceitar sem problemas. Tudo bem... mas ainda tem uma coisa que me incomoda.

Essa não era a primeira vez que visitei a casa de Nagato. Ela já havia me convidado uma vez, a mais de um mês atrás, mas daquela vez, eu só tinha visto a sala de visitas e não entrei nesse espaço, que na verdade nem tinha ciência que existia. Então... uhm, em outras palavras, o que está acontecendo aqui?

Olhei para Nagato, que me devolveu o olhar.

... em outras palavras, quando eu a visitei pela primeira vez, e ouvi aquela historia envolvendo explosões de dados, havia outro "eu" dormindo na sala ao lado.

Era isso que havia acontecido? Bem, pelo menos é a coisa mais correta segundo a dedução lógica.

"Sim." - Nagato respondeu. Me senti tonto de repente.

"... isso significa que você sabia o que iria acontecer quando me encontrou pela primeira vez? Incluindo a minha existência e os eventos de hoje?"

"Sim."

Pela minha perspectiva, a primeira vez que encontrei Nagato foi durante o começo das aulas, quando Haruhi fundou a Brigada SOS. Porém, Nagato já havia me encontrado no Tanabata, três anos atrás. Para mim, isso havia acontecido a não muito tempo, mas para ela, já haviam se passado três anos. Acho que estou enlouquecendo.

Asahina-san e eu olhávamos chocados para essa súbita mudança no curso dos eventos. Sempre soube do que Nagato era capaz, mas nunca achei que ela pudesse parar o tempo. Nesse caso, isso não a faz mais incrível que a própria mulher maravilha?

"Isso não é verdade." - ela abnegou meus elogios com humildade - "Foi uma exceção especial. Uma emergência. A não quer que o caso seja muito importante, esse método raramente é utilizado."

E nós somos considerados "muito importantes".

"Muito obrigado, Nagato."

Decidi a agradecer primeiro, acho que isso era o mínimo que eu poderia fazer.

"Isso não importa."

Nagato balançou a cabeça de forma fria, então me entregou o tanzaku com as estranhas formas geométricas desenhadas. Percebi que a qualidade do papel havia piorado muito, afinal, ele havia sido deixado ali por três anos.

"Ah sim, os símbolos no tanzaku, o que eles significam?"

Perguntei casualmente. Não acho que alguém pode ter entendido os símbolos sem sentido desenhados por Haruhi, então acho que tudo isso deve ter sido uma grande piada.

"Eu estou aqui."

Nagato respondeu. Estava ficando irritado com toda essa situação.

"Isto era o que estava escrito."

Estou ficando cada vez mais confuso.

"Esses símbolos e desenhos como os de Nazca [10] são algum tipo de linguagem alienígena?"

10-[Nota do tradutor: As linhas de Nazca são geóglifos de enormes dimensões localizados no deserto de Nazca, no altiplano do Peru. Criados pelo povo de Nasca entre os séculos III a.C e VIII, estes geóglifos representam centenas de figuras, incluindo imagens estilizadas de animais como macacos, beija-flores ou lagartos, traçados no solo plano do deserto, em linhas se constituem em extensas esteiras de pedras não muito grandes catadas dos arredores.]. Mas Nagato não respondeu essa pergunta.


Asahina-san e eu deixamos à casa de Nagato e andamos sob o céu estrelado.

"Asahina-san, tem algum motivo para você me mandar pro passado?"

Ela fez o seu melhor para pensar em uma resposta, então levantou a cabeça e disse em um tom suave;

"Me desculpe. Eu... bem... uhm... não estou muito certa... é que eu sou como... a interface final... não, o fundo... não, eu sou mesmo uma amadora."

"Mesmo assim, você está ao lado de Haruhi."

"Mas nunca pensei que ela me pegaria para criar o clube."

Ela fez uma cara de descontentamento e falou. Asahina-san, sabia que você também fica linda com esse tipo de expressão?

"Só estava seguindo ordens... dos meus superiores, ou de alguém de um posto ainda mais alto. Então nem eu mesmo sei o significado das coisas que estou fazendo."

Olhando para a corada Asahina-san, pensei comigo mesmo, será que esse superior não poderia ser ninguém menos que a Asahina-san adulta? Era uma especulação sem bases, mas afinal elas eram as únicas viajantes do tempo que eu conhecia, então não acho que podia ser culpado por pensar assim.

"Entendo."

Chacoalhei a cabeça e resmunguei.

Sim, eu ainda não compreendo a situação toda. Se a Asahina-san adulta apareceu para me dar uma pista, afinal ela devia saber o que acontecia conosco. E ela nunca havia contado nada disso para a nossa Asahina-san. Afinal, que diabos estava acontecendo?

"Hmm..."

Não tenho por que esquentar a cabeça com isso. Se ela não entende o que está acontecendo, não sou eu que vou entender. Nagato disse que existe mais de uma maneira de viajar no tempo. Os viajantes de tempo do futuro devem ter suas próprias regras, não é? Espero que alguém as explique para mim algum dia, então estará tudo acertado.

Separei-me de Asahina-san na estação. Sua figura pequena mais uma vez me agradecera, e fora embora como se estivesse carregando uma grande culpa. Depois que a perdi de vista, também fui para casa, até perceber que esquecera a mala na sala do clube.


No dia seguinte, oito de julho, pelo menos para a minha consciência era realmente o dia seguinte, mas para meu corpo era como se três anos e um dia tivessem se passado sem eu ir para a aula. Fui para escola de mãos vazias, diretamente para a sala do clube, então voltei para a sala após recuperar a minha mala. Aparentemente Asahina-san havia aparecido antes de mim, pois não via a sua mala em lugar nenhum.

Chegando na sala, vi Haruhi sentada ali, olhando concentrada para fora da janela, como se esperasse atentamente a chegada de alienígenas ou algo do gênero.

"O que aconteceu? Você parece deprimida desde ontem. Andou comendo algum cogumelo venenoso?"

Falei com ela e então me sentei. Haruhi deu um suspiro intencional e respondeu.

"Não é nada. Só estava meio melancólica pensando no passado. Algumas lembranças minhas sobre o Tanabata"

Desisti logo de uma vez. Quais eram as suas memórias?... bem, sobre isso eu não perguntei.

"Entendo."

Haruhi virou a cabeça e continuou a observar as mudanças nas nuvens. Dei de ombros. Não tinha intenções de acender o pavio dessa bomba. Acho que qualquer um com o mínimo de bom senso faria o mesmo.


Depois da aula, o clube de literatura se tornara mais uma vez a base oculta da Brigada SOS.

Haruhi só disse, "Joguem o bambu fora, ele é inútil agora." - e então foi embora. A faixa de "comandante" parecia solitária jogada sobre a mesa. Sigh, aposto que amanhã ela vai voltar a ser a garota excêntrica de sempre, nos pedindo para fazer todo o tipo de coisas impossíveis. Afinal, ela é esse tipo de pessoa.

Asahina-san também não estava lá. Só Nagato Yuki permanecia na sala, alem de mim e de Koizumi, que jogávamos xadrez. Fui incapaz de resistir a sua vontade de me "evangelizar" no mundo do xadrez, e acabei concordando em aprender o jogo.

Achei que Koizumi começou a jogar xadrez porque era horrível no Othelo, mas acho que eu estava errado. Ele é péssimo no xadrez também.

Capturei um dos peões de Koizumi com meu cavalo, enquanto encarava Nagato, que olhava atentamente para o tabuleiro com seu rosto vazio.

"Diga, Nagato, eu não entendi nada ainda. Asahina-san é realmente do futuro?"

Ela balançou lentamente a cabeça.

"Sim."

"Mas eu sinto certo paradoxo em ir para o passado e então voltar para o futuro."

Como eu esperava. Era como se não houvesse continuidade entre o passado e o futuro - nós voltamos três anos, fomos dormir, e acordamos novamente no presente, e esse "presente" que estamos agora é diferente do mundo de "ontem", de onde partimos. Mesmo se vermos pelos resultados, eu acabei dando idéias que não deveria ter dado a Haruhi, e essas idéias a trouxeram para o colégio do norte, aumentando seu interesse em toda a forma de vida não humana... essa possibilidade não deixa de existir.

Se não tivesse ido para o passado três anos atrás, tudo poderia na obter acontecido. Julgando pelo tom de voz da Asahina-san adulta, ela parece saber mais de nós. Em outras palavras, a continuidade realmente existe entre o passado e o futuro. O que contradiz o que ela me disse anteriormente. Pelo menos posso perceber isso, não importa o quão estúpido eu seja.

"Como não há conclusão na teoria do paradoxo, não há como provar que não há paradoxo algum."

Nagato disse calmamente, como uma expressão que dizia 'Isso deve explicar tudo.'. Essa explicação deve ter sido boa o suficiente para você, mas eu não entendi coisa alguma. Nagato então levantou seu rosto alvo e olhou para mim.

"Logo você vai entender."

Ela voltou para a cadeira de sempre e retornou ao mundo dos livros. Agora era a vez de Koizumi falar.

"Se esse é o caso, então meu rei foi colocado em cheque pela sua torre. Esse é certamente um problema para mim, então, como eu deveria escapar?"

Koizumi disse isso enquanto pegava o rei preto e o colocava casualmente dentro do bolso do seu blazer. Ele então mostrou a palma da mão, como um mágico revelando seus truques.

"Bem, é criado algum paradoxo se eu fizer isso?"

Brinquei com a torre entre meus dedos e pensei; não estou com vontade de fazer um joguinho de filosofia zen [11] com você, e não me satisfaço pensando nesse tipo de assunto abstrato. Então me recuso a responder a sua pergunta.

11-[Nota do tradutor: Zen é o nome japonês da tradição C'han, surgida na China e associada em suas origens ao Budismo do ramo Mahayana. Foi ou é cultivado sobretudo na China, Japão, Vietnam e Coréia. A prática básica do Zen na versão japonesa e monástica é o Zazen, tipo de meditação contemplativa que visa a levar o praticante à "experiência direta da realidade". Todas as escolas de Zen são versadas em filosofia e doutrina budistas, incluindo as Quatro Nobres Verdades, o Nobre Caminho Óctuplo e as Paramitas. No entanto, a ênfase do Zen em experimentar a realidade diretamente, além de idéias e palavras, o mantém sempre nos limites da tradição].

Em todo o caso - não existe dúvida alguma que Haruhi é uma existência paradoxal, e o mesmo pode se dizer sobre este mundo.

"Alem do mais o rei não representa nada para nós, ao invés disso, quem cumpre o papel principal é a rainha."

Coloquei a torre branca no quadrado onde o rei preto estava. Rainha para cavalo 8.

"... não sei o que vai acontecer de agora em diante, só espero que não seja algo que me de uma grande dor de cabeça."

Nagato permaneceu em silêncio, enquanto Koizumi sorriu e disse.

"Acho que é melhor que as coisas continuem pacíficas, ou será que você prefere que algo interessante aconteça?"

Suspirei, enquanto desenhava um circulo ao lado do meu nome no placar.



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