Mimizuku to Yoru no Ou: Capítulo 1

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Capítulo 1 - A Mimizuku Suicída e o Rei da Noite que odeia humanos[edit]

Mimizuku acordou com o som dos pássaros cantando no fundo. A luz entrou inesperadamente em seus olhos, e ela piscou várias vezes.

"Você está acordada? Você está acordada? Criança humana. Garota humana."

Pouco a pouco, uma voz chegava a seus ouvidos. Sua fala era quebrada e era muito difícil de entender.

Garota humana.

Como um reflexo, Mimizuku relaxou os músculos ao redor da boca e soltou um sorriso.

"Eu não sou humana. Sou a Mimizuku." Respondeu vagamente, como se estivesse respondendo a voz de um sonho.

"Oh."

Então ela ouviu um ruído de voz, como asas de morcego.

"Você não vai gritar? Estranho. Eu conheço costumes humanos também."

"Gritar?" Puxando as palmas de suas mãos contra seus olhos, ela repetiu a palavra como um papagaio.

"Por não gritar depois de me ver: eu te elogio." disse a voz, então Mimizuku levantou sua cabeça e compreendeu a forma da sua origem.

No entanto, a distância entre a voz e os seus olhos sanpaku era tão pequena que o corpo daquela criatura parecia ser maior que qualquer tronco ao redor. Ela pegou na parte azul escuro daquele corpo, que tapou todo seu campo de visão. Ele tinha duas asas retas, como as de um morcego e seu corpo parecia de alguma forma como a de um humano, mas seu tronco era extremamente musculoso e em cada lado de seu corpo saíam dois finos e eminentes braços. Dois chifres brancos como leite saíam de sua testa e sua boca era dividida em linha reta como um quebra-nozes[1]. Na sua boca havia um conjunto de dentes amarelados, entre eles ficava uma língua vermelha. O rubro absoluto destacava-se e parecia ser flamejante. Ele tinha cabelos como folhas de milho, e seus olhos eram tão susceptíveis que era impossível determinar para onde eles estavam olhando.

Era com certeza uma figura fantástica e assustadora. Porém Mimizuku não achou tão assustador. Antes ela nunca teve medo de nada.

"... Você é um monstro?" perguntou Mimizuku, inclinando o pescoço rapidamente para o lado. "Eu sou." respondeu a figura estranha balançando a cabeça, sua voz fez o ar tremer.

Mimizuku, sem mudar a postura, perguntou, "Você vai me comer?"

"Eu não vou comer você." Uma resposta instantânea.

"Ah... decepcionante..." Ela diminuiu sua estima.

A linda criatura que ela viu a noite passada não vai comê-la, e agora esse monstro, que parecia ter mais vontade de comê-la, recusou-se também.

"Garota humana. Você quer que te comam?"

"Sim! Sim, eu quero! Mas ei! Eu não sou uma garota humana, eu sou Mimizuku, MI-MI-ZU-KU." Ela jogou os braços e as pernas para o ar como uma criança ousada, fazendo com que as algemas balançassem e fizessem barulho. "Por quê? Por quê? Por que você não me come? Mimizuku socou a pele dura do monstro várias vezes em forma de protesto. Porém, Mimizuku era fraca e ele não se moveu nem um pouco. Então, ele arqueou as costas e de repente ele começou a agitar-se.

"Hã?"

Mimizuku assistiu o monstro se transformar em mais ou menos no tamanho de uma galinha e seu verdadeiro e modesto tamanho ficou claro para Mimizuku. O monstro sacudiu seu corpo e batendo as asas, voou para o céu. Olhando para baixo, viu Mimizuku e a conversa continuou.

"Os Ieris nessa floresta nunca comem os humanos. Mesmo agora, se você pedir para eu te comer, eu recusarei." De repente Mimizuku ficou estática. Ieri. Ela já havia escutado antes. No fundo de suas memórias, os humanos também chamavam os monstros de Ieri. Com sua voz quebrada, o monstro não conseguiu explicar à Mimizuku. Embora ela entendesse suas palavras, sua tonalidade fez com que se parecessem palavras de um país distante.

"Por quê?"

Era porque o monstro era menor que a Mimizuku, é claro. Ela provavelmente era muito para ele comer. Mas Mimizuku lembrou-se do monstro muito grande, que tinha o tamanho exato para devorá-la. Ela perguntou sobre esse monstro a ele.

"Porque, porque porque. Você se encontrou com o Rei da Noite," Respondeu o monstro. "Eu não me recordo de ninguém que o Rei da Noite deixou fugir."

"Rei da Noite?"

"Sim, o Rei da Noite. Ele tem olhos de lua e é o governador absoluto da floresta."

Sua maneira de falar mostrou uma reverência profunda sobre quem ele estava falando. Mimizuku ergueu sua cabeça após ouvir essas palavras.

"Oh, ele, olhos de luas lindas!" Ela sorria enquanto falava. Olhos como uma lua. Não havia erro. Eles brilhavam como as verdadeiras. Mimizuku ainda se lembrava.

"O que há com aquele cara?"

"Ele não te comeu?"

"Não."

Não importava quantas vezes ela falasse, ele não iria comê-la, então eventualmente ela adormeceu nas raízes de uma árvore ali perto. Ela conseguiu dormir bem entre o cheiro de barro e a água escorrendo da terra.

"Se esse é o caso, nessa floresta, a Floresta da Noite, não há monstro para comê-la." declarou o monstro.

"Entendo..." Mimizuku balançou a cabeça. Ela não entendeu o porquê. Em todo caso parece que nenhum outro monstro queria comê-la. Mas isso era ruim. Ela teve muito trabalho até chegar aqui.

"Bem, então, eu tenho que ser comida por ele de algum jeito." Ela ficou instável por apenas estar andando, Mimizuku balançava-se para frente e para trás enquanto levantava-se. Mas parecia como se ela tivesse dividido sua área de sono com outros, com sangue nas pernas congestionados, e eles estavam azuis e dormentes. Ela caiu para trás nas raízes como um fruto caindo de um galho.

"O que você está fazendo?"

"Eh, eu acho que vou dormir mais um pouco. Você não se importa, não é?"

"É sua escolha, mas..."

O monstro desceu agitado e parou bem na frente dos olhos de Mimizuku.

"Moça, você é estranha."

"Estranha? Talvez eu seja, mas não me chame de moça. Meu nome é Mimizuku..."

"Mimizuku. Esse é um nome de um pássaro noturno."

"Sim, isso está certo."

"É um bom nome."

Mimizuku sentiu-se lisonjeada claramente, e deu uma risadinha. Eu já me senti tão feliz assim? Ela pensou.

"Sr. Monstro, qual o seu nome?"

"_____________"

"Hã? Desculpe, pode dizer de novo?"

"Não adianta. Ouvidos humanos não conseguem entender o nome de um Ieri."

"Bem então... como devo chamá-lo?"

"Me chame do que quiser. Os humanos não dão nome aos animais que eles gostam?" O monstro cruzou os braços.

"Hum..."

Ele não é humano, entretanto, pensou Mimizuku. Ela considerou um pouco, mas não profundamente, antes dela mostrar um sorriso bochechudo e dizer.

"OK, entendi. Que tal Kuro?"

"Kuro? A cor da noite..." Kuro concordou. O fato dele ter aceitado o nome deixou Mimizuku feliz. Sorrindo, ela levantou a parte superior de seu corpo.

"Mimizuku. A grama está cortando você e fazendo seu sangue sair." Kuro estendeu seu braço inferior esquerdo e sentiu a bochecha de Mimizuku. Mimizuku, coberta de sujeira e cortes, simplesmente respondeu com um "Oh, é mesmo?" Se ela tocasse seus machucados as bactérias entrariam e causariam uma infecção. Ela sabia disso. Mas estava tudo bem.

Segurando um galho por perto, Kuro balançou-se e subiu até a cabeça da Mimizuku. Era estranho; ela não sentia seu peso.

"Mimizuku."

"Hm?"

"Esses números na sua testa, eles são um encanto mágico?"

"Ah, esses?" Mimizuku deu um par de tapas em sua testa. Olhando para trás de sua franja de seu cabelo ruivo, havia três números.

"Eu sou o número três três dois." respondeu Mimizuku confiante.

"O que isso significa?"

"É meu número."

"OK. Mas eu não entendo." a resposta de Kuro também foi confiante.

"Você está bravo?"

"Eu não estou bravo, não." respondeu Kuro quieto. Como sempre, o coração de Mimizuku começou a bater mais rápido.

Eu estou sonhando? Ela pensou por um momento. Era estranho bem no começo. As palavras de Kuro eram palavras que ela nunca havia escutado antes.

Só um pouco estranho.

"Ei, Kuro, é estranho de algum jeito."

"O que é estranho?"

"Por que você está sendo tão gentil comigo?" perguntou Mimizuku enquanto pisava descalça na grama e na folhagem. A pele da sola do pé estava ficando dura, até mesmo uma pedra pontuda não conseguiria cortá-las.

"Eu sou gentil?" respondeu Kuro contrariando.

"Sim! Você é muito gentil." disse Mimizuku soltando um sorriso de coração. As correntes em volta de seus tornozelos ficaram entrelaçados com as raízes de uma árvore, e seus passos ficaram instáveis.

"Gah!"

No entanto, sua cara não acertou o chão. Logo antes do impacto, houve um som estranho. Mimizuku que estava olhando para frente, recuou com um salto, e inclinou-se demais para trás, parecendo que iria cair para o outro lado.

"W-w-w-aah!"

Ela recompôs sua postura em um instante.

De algum jeito, ela estava salva. Ela não entendeu o que havia acontecido, mas havia um som chiando no ouvido.

"Eu acredito que essa ação pode ser considerada 'gentil'." Kuro estava rindo.

"Agora a pouco, era você, Kuro?"

"Aye. Era eu de fato."

"Por quê?" Parando os passos, olhos voltados para cima, ela olhava Kuro. Ela só podia ver um pouco das asas de Kuro em seu campo de visão.

"Eu preciso de um motivo? Entendo, humanos são esse tipo de criatura." Com essas palavras, Mimizuku sacudiu a cabeça devagar, cuidando para não pôr o equilíbrio de Kuro em perigo.

"Eu suponho que Mimizuku não entenda sobre humanos. Eu gostaria de saber o porquê também. Se tem algum jeito em que alguém precisa ser gentil com alguém, eu gostaria de ouvir." Mimizuku ouviu um som chiando novamente. Parecia que era a risada de Kuro. Isso machucava seus ouvidos.

De repente descendo até a cabeça de Mimizuku, Kuro apareceu na frente de seus olhos e disse:

"Eu quero conhecimento."

"Conhecimento?"

"Eu quero o saber. Não importa quantos livros eu leia, eu simplesmente não consigo desmascarar os humanos. Você é uma humana. Assim, me agrada observar você." Mimizuku piscou várias vezes sem reação e pensou nas palavras de Kuro.

Como ele lê livros com esses olhos?

Que seja.

Kuro quer saber sobre humanos. Mimizuku é uma humana. É porque eu sou uma humana que Kuro está sendo gentil.

Mimizuku suspirava enquanto considerava.

Eu acho que vou parar de dizer que eu não sou humana ao Kuro.

"Kuro! Eu entendi! Eu entendi! Que supreendente..."

"Hoho. O que Mimizuku entendeu?" perguntou Kuro com interesse, retornando até a cabeça de Mimizuku.

"Mesmo eu sendo humana, há seres que ainda vão me aceitar. é um pouco estranho." ela andou para frente. Ela levantava o pé em cada passo para que as algemas acima do seu pé não pegassem nada. Em cima de sua cabeça ela ouvia o som de asas batendo.

"Eu não sou humano, mas... você é mesmo uma estranha." disse Kuro com um tom chocante e considerado.

"Ehehe..." Mimizuku riu.

Ela estava muito feliz.


A Floresta chamada de "Floresta da Noite" era coberta por folhas, e a deriva das folhas que sopravam com o vento fazia parecer que a floresta estava soluçando convulsivamente. Ocasionalmente, o som de um pássaro batendo asas podia ser escutado, mas quando Mimizuku olhava para cima, não havia presença de animais. De longe, Mimizuku achava que podia ouvir o som de alguém respirando, mas ela nunca conseguia ver algum outro monstro.

Era Kuro quem voluntariamente guiava Mimizuku, que em outro caso poderia andar sozinha. Mimizuku sentiu uma grande surpresa nisso, mas ela não tinha como expressar em palavras.

Com Kuro em sua cabeça, ela prosseguia na floresta. As algemas em seus pés fazia um som de guizo enquanto andava.

"Não há muitos montros nessa floresta, hã..."

Para uma floresta que deveria estar cheia de monstros, era muito diferente do que ela imaginava. Ela suspirou.

"É por causa do caminho que pegamos." disse Kuro sob sua cabeça. "Durante o dia, os Ieris não costumam vir à margem do rio."

"Entendo..."

Enquanto andava na margem do rio, ela balançava da direita para esquerda. De repente, ela se ajoelhou e colocou as mãos na água. Sentindo o frio da água corrente, ela esfregou as mãos várias vezes para lavá-las. O canal da floresta fluia melancolicamente e sua água era incrívelmente transparente.

Então sem mover seu rosto para frente, Mimizuku jogou água sobre sua cabeça.

Kuro se agitou para trás em pânico.

"Mi, Mimizuku!"

"Ahh..."

Mimizuku levantou seu rosto e sua franja ensopados.

"Oh, desculpe Kuro." disse Mimizuku monótona, enquanto secava sua boca com movimentos varredores e ásperos. "Uugh, minha cara está doendo!" brigou Mimizuku.

"O quê? Mas você não bebeu água?"

"Sim, eu bebi."

"Se a água está se infiltrando em seus machucados talvez seja melhor tirá-la."

Então Mimizuku ficou olhando fixamente para sua própria mão. A mão estava tremendo por causa dos músculos fracos, e ainda estava molhada porque tinha sido lavada.

"Hm?"

Ela espremeu e soltou várias vezes.

"Isso..."

Inclinando seu pescoço ao lado, Mimizuku levantou-se repentinamente.

"Tudo certo Kuro! Vamos!"

Kuro resmungou uma afirmação e voou para a cabeça de Mimizuku. Pareciam que tinham esquecido do que estavam falando, então Mimizuku começou a falar de outra coisa.

"Então, onde está o Rei da Noite?"

"Direto por esse caminho..."

Kuro apanhou suas asas e olhou para Mimizuku.

"Você realmente quer ir até ele?"

"Eu realmente o que?" respondeu Mimizuku, não entendo nada do que o Kuro disse.

"Você disse que ele lhe falou para sair. Se você se expor para ele novamente, você não pode se considerar viva. Quando você estimular sua fúria, você pode virar cinzas num instante, or dissolver-se em água."

"Posso ser comida?"

Luz cobria seus olhos sanpaku, Mimizuku realmente queria ser comida.

Kuro a encarou imóvel por um momento, e então ergueu seu braço direito.

"É sua escolha. Se é o que você quer, então pode ir, Mimizuku. Se a oportunidade chegar. Se o destino deixar, se o mundo deixar. Também pode ser que nos encontraremos novamente."

"Você não vai, Kuro?"

Kuro riu da pergunta da Mimizuku.

"Eu não fui chamado."

É assim que funciona? pensou Mimizuku. Talvez seja.

"Bem então, eu estou indo."

A floresta abriu sua boca verde. No entanto, Mimizuku não achou assustador. Sozinha, ela pisou em frente para dentro da floresta.


Deixando Kuro para trás, Mimizuku prosseguia para dentro da floresta sem hesitar, suas algemas faziam barulho enquanto ela ia. Ela não achou desanimador que o Kuro não podia mais acompanhá-la. Afinal, ela viajou uma longa estrada até a floresta sozinha. Toda hora, Mimizuku queria estar sozinha.

Ela seguia em frente, chocando suas algemas. Quando ela chegou em uma parede de vinhos entrelaçados com algumas árvores, ela forçou passagem ali e de repente chegou em uma grande área aberta.

"Waah..." Mimizuku falou involuntáriamente.

No meio da floresta, havia uma gigante e atropelada mansão. No entanto, não era isso que cativou os olhos de Mimizuku. Na frente da porta havia uma asa negra, mais suave e bonita que a de um corvo. Com um movimento relaxado, balançou-se para cima.

Ali, Mimizuku ficou cara a cara com o Rei da Noite pela primeira vez.

A deformação dos raios de luz do sol atravessando fendas verdes revelavam a forma do monstro chamado de "Rei".

Mimizuku soltou um uivo involuntariamente. Seus dentes tremiam escassamente e seu corpo arrepiava como se estivesse paralizada. Não era medo. Não era ansiedade. Ela não sabia dessas coisas. Os caminhos dos nervos para seu cérebro já havia reconectado a esses sentimentos.

"Ah..." Abrindo metade de sua boca, não conseguia falar uma palavra, ela simplesmente soltou um pequeno som.

"Ah..."

O que eu digo? O que eu devo dizer?

Isso mesmo. Eu tenho que falar pra ele me comer.

Ela tinha que dizer isso.

"Por que você veio?"

Os finos lábios do Rei da Noite mal moviam-se enquanto falava essas frias palavras. Sua voz era franca e forte, como uma lâmina desembainhada.

Sendo olhada por aqueles olhos, com um olhar que congelaria qualquer pessoa normal com um sólido terror, Mimizuku apenas recebeu um pouco de surpresa.

Ohhh?

Seus olhos brilharam.

Eles são de prata

Assim como as luas da noite anterior, os olhos do Rei da Noite agora brilhavam em uma cor prata esbranquiçada.

A cor da lua, pensava Mimizuku. A cor da lua, em plena luz do dia.

Era diferente de como ela lembrava, mas não tanto que confundiria com outra coisa. Antes que ela tivesse certeza, as duas luas estavam brilhando a mesma luz que já haviam brilhado antes.

"Tão lindos..."

Ela soltou algumas palavras. Ouvindo isso, o Rei da Noite franziu as sobrancelhas de modo desagradável. Amostras parecidas com uma tatuagem complicada estendiam dos seus olhos para sua bochecha.

É lindo., pensou Mimizuku.

"Saia. Volte para seu lugar. Garota humana." Suas palavras traíram sua intenção assassina.

Mesmo assim, Mimizuku não hesita em responder.

"Eu não tenho nenhum lugar para voltar." Ela falou alto. Ninguém havia erguido a voz em oposição ao Rei da Noite antes.

"Eu não tenho nenhum lugar para voltar. Desde o começo, eu nunca tive um lugar para eu chamar de lar...!"

Porque eles iriam bater nela. Porque eles não iriam fazer nada a ela, somente causariam dor. Mimizuku queria muito não pensar em aquele lugar como casa.

Mimizuku queria pensar que seria melhor voltar para qualquer lugar, menos aquele.

"Ei! Não me chame de humana! Eu sou Mimizuku! Meu nome é Mimizuku!" Ela gritou até o ponto de ficar tonta. Ela estava acostumada com isso agora, mas sentiu-se insegura.

Seus joelhos não aguentaram, e ela se ajoelhou no chão.

"Ei, me coma."

Sua visão começa gradualmente a ficar cinza. Eu tenho que dormir? ela pensou. Ela queria continuar a tentar fazer o Rei lhe comer, mas seu corpo não fazia o que ela queria. Eu tenho que dormir.

Seu corpo sofreu demais, você deve dormir. Alguém falou com ela.

Ooooohh... Isso é estranho... Eu gostaria de tomar um pouco de água...

"Por favor... me coma... Rei da Noite..."

Mimizuku caiu na grama inerte, com os braços estendidos. As duas luas diurnas vinham em sua direção.

"Eu imploro... por favor me coma..."

As algemas em seus braços ficaram pesadas, e seus braços caíram no chão.

Oh, aquelas luas brancas, os olhos do Rei da Noite são tão bonitos, era tudo que Mimizuku pensou enquanto a sonolência fez ela sentir como se estivesse afundando em um pântano. Ela fechou suas pálpebras.

Não... eu quero abrir meus olhos de novo, pensou Mimizuku, sua consciência estava enfraquecendo. Era estranho. Toda vez que ela ia dormir, ela geralmente esperava que nunca mais acordasse.

Se eu puder ver essas duas luas mais uma vez, eu não me importo em nunca mais abrir meus olhos de novo.


Sentindo que alguém estava chamando seu nome, Mimizuku gentilmente abriu suas pálpebras.

O céu estava vermelho com o pôr-do-sol. No momento em que ela compreendeu o pensamento, algo veio agitando de cima para baixo.

"Gyah!"

Sem pensar ela resmungou como um sapo.

Sustentando sua parte superior do corpo para a frente, ela olhou para o que vinha do céu. Vendo sob aquilo, seus olhos quase estouraram literalmente.

Havia Akebia quinata[2] e Glórias-da-manhã[3] junto com outras frutas frescas que ela nunca tinha visto. Todos eles caíam como uma montanha caindo do céu na frente de Mimizuku.

Ela olhou em uma brecha e olhou para cima. Batendo asas contra a luz vermelha do céu estava Kuro. Ele estava em uma distância onde ele parecia grande o suficiente para Mimizuku abraçar.

"Kuro!" gritou Mimizuku. Então ela tentou mover os braços, mas foi dominada por uma sensação estranha.

"Eh, ah, o que é isso?" perguntou Mimizuku a Kuro, apontando para as frutas que estavam enterrando Mimizuku.

"Porque, é somente o que parece."

Kuro pegou um peixe vivo no ar com suas duas mãos, cortou sua cauda, então ficou do mesmo tamanho que ele, e o colocou em sua boca parecida com uma romã. Ele o engoliu inteiro, e então disse.

"Não está com fome? Mimizuku."

"Eh? eh? eh?"

Mimizuku estava incrivelmente confusa.

"Hm? Elas são... minhas?" Mimizuku apontou para as frutas.

"Sim. Eu imagino se os humanos se manteriam com peixe?" Kuro voou ao lado de Mimizuku, pegou um galho de árvore e o usou para lançar um peixe.

Ele desenhava vários círculos no ar em um esplêndido costume e o peixe foi engolido pelas chamas. Mimizuku estava surpresa e ficou para trás, mas o fogo logo se acalmou e um saboroso aroma ficou no ar. Estranhamente, o galho não parecia estar queimado. Olhando o resultado, Kuro acenou com a cabeça, satisfeito.

"Aqui." ele deu o peixe a Mimizuku.

"Hã-ã?"

Ele recebeu grata. No entanto, Mimizuku não entendeu o que estava acontecendo e ela ainda parecia estar no estado dentro do sonho. Apesar de não entender, ela colocou o peixe na boca. Seus instintos tomaram conta e ela o devorou avidamente. O interior era de algum jeito raro, mas o sabor não importava para Mimizuku. Tudo o que ela podia comer era bom o suficiente.

Eu já comi algo como isso antes? O pensamento parecia varrer sua nuca.

"Diga-me uma coisa Mimizuku. Um peixe morto não tenta fugir?" perguntou Kuro, sussurrando suas asas. Mimizuku ouviu enquanto comia todo o peixe, todo ele até os olhos, moendo a carne em sua boca.

"Ei, Kuro. Por que você está aqui?" Mimizuku olhou em volta das proximidades. Ela ainda estava na frente da mansão do Rei da Noite. O Rei, no entanto, já não estava mais, ela não conseguia vê-lo em nenhum lugar.

"Hmph." respondeu Kuro. Ele cruzou os braços. "É difícil para mim dizer também."

Ele voltou a voar no ar e bateu levemente na cabeça de Mimizuku.

"O destino deixou você viver. Foi a luminescência noturna que deixou você conseguir? De fato, é difícil de dizer. Por isso eu devo perguntar a você, Mimizuku."

Mimizuku piscou várias vezes.

"Sem descontar a morte, você quer continuar aqui? Mimizuku."

"Eh, está tudo bem em eu ficar?" disse Mimizuku em voz alta e alegre. "Ei, Kuro! Está mesmo bem se eu ficar?"

"Eu não prometo que nada bom virá disso. Você pode ser morta amanhã. Está bom para você?"

Mimizuku sorriu com as palavras de Kuro e caiu no chão de novo.

Tinha comido comida demais e muito rápido, seu estômago começou a doer.

"Você sabe, Kuro..." sorriu Mimizuku e estendeu seus braços. Suas algemas balançavam como se estivessem cantando.

"Minha única felicidade vai vir se eu for comida pelo Rei da Noite." disse Mimizuku, sorrindo feliz.

E então o Corujão(bubo) suspirou gentilmente.

"Ah, eu morreria feliz assim."

Mimizuku sorriu.

"Hmph." Kuro balançou levemente a cabeça. "Você é bem miserável." ele suspirou.

Mimizuku não entendeu suas palavras, então ela riu superficialmente.

"Ei, Kuro!"

"O quê? Mimizuku."

"O Rei da Noite é lindo, não é?" disse Mimizuku feliz.

Kuro não sabia como responder.

"Claro. Ele é o rei, afinal."

Mimizuku soltou uma risada com aquelas palavras.

A cortina da noite se espalhava na floresta dos monstros.

Oh, os olhos do Rei da Noite ficaram dourados. pensou Mimizuku distraída, esticando seus olhos para o céu.

Então isso é o que a felicidade é.


Notas de Tradução e Referências[edit]

  1. O autor provavelmente se referiu ao boneco quebra-nozes. Boneco quebra-nozes é uma forma artesanal de quebra-nozes, típica da região alemã de Erzgebirge (a leste, vizinho à República Tcheca), com o formato de um pequeno soldado, onde o lugar para abertura das nozes é a boca da personagem.
  2. Link aqui.Arbusto nativo da China, Coréia e Japão.
  3. Link aqui.