Bakemonogatari: Volume 1 - Macaca Suruga 003

From Baka-Tsuki
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003[edit]

“Eu tenho a sensação de que algo desagradável foi dito sobre mim”, disse Senjougahara Hitagi, subitamente.

Realmente tinha sido súbito e sem contexto, então meu lápis parou de se mover pelo caderno no qual eu estava escrevendo.

Contudo, parecia que ela tinha falado isso para si mesma, porque Senjougahara logo mudou de assunto.

“A qualquer custo, ensinar alguém a estudar é bastante difícil”, disse ela.

No final, Hachikuji tinha caminhado comigo até de volta para minha casa enquanto conversávamos sobre a Kanbaru e outras coisas. Foi aí que nós nos separamos. Hachikuji sempre estava vagando por aí em algum lugar, então eu tinha certeza de que me esbarraria com ela novamente mais cedo ou mais tarde. Deixei minha mochila, troquei de roupas, enchi uma bolsa de viagem com livros didáticos, cadernos e livros de referência, troquei para minha mountain bike e saí para a casa de Senjougahara. As minhas irmãs já tinham voltado para casa, então eu tinha esperado ser minuciosamente interrogado sobre para onde estava indo, mas eu tive sorte e consegui escapar despercebido.

Como eu tinha mencionado para Hachikuji, a casa de Senjougahara ficava a uma boa distância. Eu normalmente não iria de bicicleta por essa distância tão grande, mas pegar o ônibus acabaria aumentando a quantidade que teria de andar, então decidi que ir de bicicleta seria o meio mais rápido. Tive que tirar minhas próprias conclusões porque, mesmo que fosse minha segunda vez indo até a casa dela, era a primeira vez que eu estava indo direto para lá direto da minha casa.

Os Apartamentos Tamikura, um edifício de apartamentos de dois andares.

Apartamento 201.

Uma sala pequena e uma pia pequena.

Dois estudantes do ensino médio de tamanhos padrões sentaram-se de frente um ao outro com uma mesa de chá entre eles e ferramentas para estudo espalhadas à direita e à esquerda. Isso era tudo que se precisava para se preencher a sala. A família Senjougahara era somente um pai e uma filha, Senjougahara era uma filha única, e seu pai trabalhava até tarde da noite, então nós estávamos sozinhos, claro.

Araragi Koyomi estava sozinho com Senjougahara Hitagi.

Dois adolescentes saudáveis estavam sozinhos numa pequena sala.

Um garoto e uma garota.

E eles estavam namorando oficialmente.

Eles eram namorado e namorada.

E mesmo assim...

“... Por que eu tô estudando?”

“Hm? Por que você é um idiota, certo?”

“Você não tem que dizer isso assim!”

Ela estava certa, é claro.

Mas eu ainda desejava que algo acontecesse.

Nós tínhamos começado a namorar naquele dia de 14 de maio, no Dia das Mães em que eu tinha conhecido Hachikuji Mayoi, mas nada sequer levemente sexual tinha acontecido nas duas semanas desde então.

......

Espera, nós sequer fomos num encontro?

Pensando nisso, não fomos.

Nós nos encontramos de manhã na escola, nós conversamos entre as aulas, nós comemos lanches juntos, e nós caminhamos juntos após as aulas até que tivemos que nos separar para irmos para nossas respectivas casas. Aqueles com algum conhecimento mundano provavelmente pensariam que isso se parece mais com o que amigos fazem, não amantes.

Não era como se eu desejasse imensamente que algum tipo de situação sexual ocorresse, mas eu ainda sentia que poderíamos agir um pouco mais como amantes.

“Eu nunca, nenhuma vez, tive que me esforçar nas atividades conhecidas como ‘estudar’, então não tenho ideia do que lhe deixa tão perturbado ou com o que você está tendo dificuldades, Araragi-kun. Eu não entendo o que você não entende.”

“Entendo...”

Ela tinha um modo de dizer coisas que me deprimiam.

Tive que me perguntar simplesmente quão grande era a lacuna entre nossas habilidades acadêmicas. Certamente parecia um cânion de profundeza inconcebível.

“Uma teoria que tive foi a de que você está apenas fingindo não entender a fim de receber tratamento especial.”

“Isso seria sacrificar demais pra receber atenção... Mas, Senjougahara, você não era tão inteligente desde o momento em que nasceu, certo? Com certeza você deve ter se esforçado bastante pra manter suas notas tão altas na classe.”

“Você acha que as pessoas que se esforçam tanto assim estão cientes disso?”

“... É mesmo?”

“Oh, mas não se engane. Eu sinto muito por pessoas como você, que não só meramente não recebem nada em troca de seu esforço, mas que nem sabem como realizar esse esforço.”

“Não sinta muito por mim!”

“Eu sinto desespero por você.”

“Ghh! Tem alguma regra dizendo que você tem que mudar isso pra algo pior se eu fizer um comentário? Agora eu nem posso suplicar por piedade descuidadamente!”

Que tipo de jogo é esse?

“Enquanto não existe nenhuma planta específica conhecida como uma erva daninha, existe um animal específico conhecido como animal daninho.”

“Não, não existe!”

“Enquanto não existe nenhuma planta específica conhecida como uma erva daninha, existem pessoas específicas conhecidas como animais daninhos.”

“Se elas são conhecidas como isso, alguém tem que chamar elas disso!”

“Se eu obtiver sucesso em lhe passar nas provas, Araragi-kun, sinto que terei dado um passo adiante como um ser humano. Quando eu penso nisso dessa maneira, consigo arranjar alguma motivação.”

“Não pense nas minhas notas como um teste pra si mesma. Além disso, acho que a área em que você precisa dar um passo adiante como um ser humano tá em outro lugar.”

“Quieto. Eu estrangulei você até a morte.”

“No tempo passado?! Eu já tô morto?!”

Pode ter sido um erro pedi-la para me ajudar nos estudos.

Pode ter sido melhor apenas pedir a Hanekawa.

Contudo...

Como Hachikuji tinha apontado, algo de fato poderia acontecer se eu ficasse sozinho com Senjougahara, e eu não podia negar que minha decisão tinha envolvido um pouco de motivo ulterior vergonhoso a esse fim.

Eu levantei meu olhar do meu caderno para Senjougahara.

Sua expressão estava composta como sempre.

Ela raramente alguma vez mudava.

Mesmo agora que estávamos namorando, ela não me mostrou nenhum tipo de expressão especial que ela não deixava ninguém mais ver. Nesse sentido, ela realmente pode não ter sido uma tsundere.

Sua atitude não tinha mudado nem um pouco também.

Hmm...

É possível que eu meramente estivesse esperando demais, como sempre. Eu tinha uma vaga ideia de que se tornar namorado e namorada levaria a ter algum tipo de conversas especiais, mas acabou que essa mudança de relacionamento não lhe dá nada mais para conversar sobre do que antes. As conversas doces dos amantes pode não ter sido mais do que uma tola ilusão.

“......”

Com tudo que Senjougahara tinha passado e a situação na qual ela tinha estado, outro problema era seu senso de castidade e virtude. Não só isso, mas ela provavelmente estava satisfeita com o estado atual da relação.

Ela tinha dito que não queria uma relação assumida.

Já que ela tinha dito isso, deve ter sido verdade.

Mas...

Mesmo assim...

Eu duvidava que a própria Senjougahara não sentisse nada sobre a situação em que estávamos. Além disso, minha visita anterior aos Apartamentos Tamikura tinha terminado muito mais sexual do que essa. Certamente ela não era tão ignorante do mundo para não pensar em nada ao convidar seu namorado para vir enquanto seu pai estava fora de casa. Quando eu pensava nisso dessa maneira, as roupas que Senjougahara vestia enquanto se sentava do lado oposto ao meu à mesa de chá mostrava, de alguma forma, que ela tinha se esforçado em escolhê-las. Contudo, sua saia era estranhamente longa para isso. Ela não estava vestindo meia-calça, então as pernas dela estavam nuas, mas a saia longa escondia de vista a maior parte dessas pernas nuas. Parecia que ela estava cautelosa com a situação mais do que qualquer coisa.

Aff...

Como o homem, eu deveria ser mais assertivo nas minhas investidas? Mas eu nunca saí com uma garota antes, então não sei como fazer isso.

“Qual é o problema, Araragi-kun? Você parou de escrever.”

“Nada, eu só tava pensando sobre como o nível de dificuldade tá alto.”

“De um problema como esse? Podemos estar encrencados.”

Senjougahara meramente parecia estupefata e não demonstrou nenhum sinal de tentar entender o que eu estava sentindo. Seus olhos eram os de alguém acostumado a olhar os outros por cima.

“Acho que isso é o bastante”, disse ela, desanimada.

“Hm? Pera um pouco. Por que você tá deixando a sua lapiseira de lado e se sentando aí tão desleixadamente? Senjougahara, não me diga que desistir de mim é uma das opções que você vê pra si!”

“Ela existe”, disse ela, resolutamente. “Está em 6:4... não, talvez 7:3.”

“Não importando em que lado o 7 tá e em que lado o 3 tá, essa é uma proporção bem realística...”

Eu me sentiria melhor se ela tivesse dito 9:1.

Mas, sério. De que lado está o 7?

“Estou muito dividida. Sequer tentar preservaria meu orgulho mais do que se eu tentasse e falhasse.”

“Por favor, não me abandone.”

Parecia que ir até a Hanekawa para receber ajuda era a minha única opção.

Mas por algum motivo ou outro, eu não queria fazer isso.

Eu simplesmente não podia suportar ser ensinado por aquela representante de classe que destemidamente via assuntos acadêmicos como algo que qualquer um poderia aprender se tentasse.

“Se você insistir, suponho que não abandonarei você.”

“Isso seria de enorme ajuda.”

“Não pense nada disso. Não barro ninguém de vir até mim e não permito que ninguém escape.”

“Essa é uma maneira assustadora de pensar!”

“Não se preocupe. Se iremos fazer isso, terei certeza de te fazer trabalhar até a morte.”

“Você não precisa me fazer trabalhar até a morte! Só dar o meu máximo deve ser o bastante! Quanto você planeja me forçar a fazer?!”

“Mas, Araragi-kun, você consegue fazer matemática, não consegue?”

“Hm? Bem, sim.”

Como ela sabe disso?

Antes que eu pudesse falar minha pergunta, Senjougahara disse, “Eu ouvi isso da Hanekawa-san.”

Realmente, Hanekawa saberia das minhas notas melhor do que ninguém.

“Pera. A Hanekawa não parece ser do tipo que conta as pessoas sobre as notas dos outros.”

“Oh, minhas palavras passaram a impressão errada? Quis dizer que, noutro dia, enquanto secretamente escutava, ouvi você e Hanekawa-san discutindo isso.”

“... Você tá certa. Eu tive a impressão errada.”

Em vez de ouvir-se dizer, era uma bisbilhotada.

“É mesmo?” disse Senjougahara, como se ela realmente não ligasse.

Ela era uma garota bastante problemática.

“Posso fazer matemática porque ela não requer memorização. As fórmulas e equações também são ótimas. Elas são tipo os seus ataques especiais, sabe? Tipo o Raio Specium ou o Kamehameha ou algo assim. Queria que todas as outras matérias tivessem ataques especiais do tipo.”

“Se coisas assim existissem, ninguém teria nenhum problema. Contudo, se ignorarmos os métodos de estudo para matérias individuais e pensar somente em como estudar para a prova em si, existem certos métodos infalíveis mesmo que não haja nenhum ataque especial.” Senjougahara pegou a lapiseira que ela tinha deixado ao seu lado. “O que estou prestes a citar é um pouco como uma aposta, e é possível que o pagamento possa soar tentador, mas ele não deve se tornar um hábito. Por esse motivo, eu hesito em recomendá-lo, mas precisamos de um método improvisado, e isso parece ser a nossa única opção restante. Essencialmente, nós apenas temos que assegurar de que você não falhará, Araragi-kun, então vamos fazer a borda ser metade da média...”

Ela rapidamente escreveu dois números em seu caderno.

Um era a média esperada, e o outro era metade disso. Quando era colocado assim, certamente parecia-se com uma pontuação alcançável, mas você tinha que pensar nisso como uma pontuação perfeita.

“Nas matérias que dependem mais de memorização, os professores têm que ter alguns problemas que eles absolutamente devem colocar na prova. É importante se focar nesses. Em vez de ter um foco largo de tudo, você precisa focar seus esforços em uma área menor. Você não irá querer acabar se frustrando com problemas que não pode resolver a ponto de ignorar os problemas que você pode. Araragi-kun, você entende o que estou dizendo?”

“... Sim, eu acho.”

Gente inteligente definitivamente tem um modo diferente de pensar sobre as provas. Eu nunca tinha pensado sobre o que os professores pensariam ao fazer as provas. Bem, eu posso ter pensado nisso no ensino fundamental, quando eu ainda estava ganhando boas notas, mas isso faz tanto tempo que eu não tinha certeza.

Eu não sentia falta dos meus anos do ensino fundamental.

“Tudo bem, vamos começar com uma matéria fácil, como história mundial.”

“História mundial é fácil...?”

“É. Você só tem que memorizar todos os termos importantes.”

“......”

“Como eu disse, não espero tanto de você dessa vez, Araragi-kun. Se você me deixar lhe preparar, deve ser capaz de passar nessa prova, então o que você pensa sobre o seu futuro?”

“Meu futuro?”

“O que você fará depois do ensino médio?” disse Senjougahara, enquanto apontava sua lapiseira para mim.

“Não sei. Essa é uma pergunta meio súbita.”

“Você é um estudante do terceiro ano do ensino médio no final de maio. Com certeza deve ter pensado em algo. Antes, você disse que ficaria satisfeito contanto que se formasse. Isso significa que você pretende começar a trabalhar quando se formar? Você tem um plano específico? Você tem conexões com um lugar de trabalho?”

“Hmm...”

“Ou você pretende começar como um freeter?[1] Ou talvez um NEET?[2] Eu desgosto desses termos porque eles parecem simplificar demais o problema, mas claro que desejo dar prioridade a suas intenções e visões, Araragi-kun. Oh, suponho que também existe a opção de ir a uma escola técnica.”

“Você é a minha mãe...?”

Ela estava ficando obcecada por um bocado de coisas triviais.

Não havia como eu poder dar uma resposta enquanto ela me banhava com tantas perguntas. E ela tinha que saber que minhas mãos estavam mais do que cheias com a prova iminente.

“Sua mãe? Não seja ridículo. Eu sou sua namorada.”

“......”

Essa maneira brusca de falar.

De certo modo, era mais um ataque especial do que abuso verbal.

Pelo menos era quando ela usava isso em mim.

“Acho que você tá certa. Eu preciso decidir os meus planos antes de tudo. A propósito, o que você vai fazer, Senjougahara?”

“Eu provavelmente posso ganhar uma recomendação.”

“... É mesmo?”

“O termo ‘provavelmente’ foi modesto demais?”

“Pra você, sim.”

“De qualquer forma, eu irei para a faculdade.”

“Faculdade, hein?”

Ela disse isso como se fosse óbvio.

Mas, novamente, provavelmente era para ela.

Eu provavelmente nunca saberia, mas eu tinha que me perguntar como era ser inteligente.

“Por conta de problemas de despesas, os caminhos abertos para mim são limitados. Seria um pouco auto-insultante dizer ‘felizmente’, mas o fato é que não há nada em específico que eu deseje fazer, então posso combinar com para onde eu vou para trabalhar.”

“Tenho certeza de que você não vai mudar não importa aonde vá.”

“Verdade”, disse Senjougahara. “Mas, se possível, eu gostaria de seguir pelo mesmo caminho que você, Araragi-kun.”

“Sim, mas isso...”

Eu estava contente por ouvir isso, claro, mas era mais ou menos fisicamente impossível.

“Sim”, concordou Senjougahara. “Ignorância pode ser um crime, mas ser estúpido não é. Em vez disso, ser estúpido é uma punição. Se você tivesse sido tão virtuoso quanto eu na sua vida passada, isso não estaria acontecendo com você, Araragi-kun. Eu sinto pena de você. Eu estou vividamente me sentindo assim como a formiga deve ter se sentido enquanto assistia o gafanhoto congelar no frio do inverno. Você é alguma coisa para me fazer se sentir como um inseto.”

“......”

Tenha paciência.

Protestar agora só abrirá o ferimento ainda mais.

“As coisas seriam tão mais fáceis se você simplesmente morresse. O cadáver do gafanhoto proveria à formiga tanta nutrição valiosa.”

“Da próxima vez, vou te ver no tribunal!”

Minha paciência não suportou.

Eu não era uma pessoa muito paciente.

“Mas, Senjougahara, mesmo que a gente faça coisas diferentes depois da graduação, a gente não vai necessariamente caminhar por caminhos separados, certo?”

“Sim, isso é verdade. Mas e se eu mudar de ideia enquanto vivo meus dias de faculdade de encontros em grupo?”

“Que, você realmente tá planejando fazer jus à vida no campus?!”

“O que faremos? Nós moraremos juntos após nos graduarmos?” disse ela, subitamente. “Se fizéssemos isso, nosso tempo juntos na verdade iria aumentar mesmo que estivéssemos fazendo coisas separadas.”

“Isso... não é tão ruim, eu acho.”

“Não é tão ruim? O que quer dizer com isso?”

“... Eu quero fazer isso. Por favor, me deixe.”

“Oh, entendo”, disse ela, e naturalmente baixou seus olhos para o livro didático.

Ela tinha dito isso como se não fosse nada e com tamanho timing que poderia ter sido levado como uma piada, mas mesmo alguém não perceptivo como eu tinha percebido que ela não era do tipo que fazia piadas numa hora dessas.

Era isso que Senjougahara Hitagi era.

Ela realmente tinha planejado tudo.

Ou talvez fosse melhor levar isso como ela tendo seriamente pensado em mim. Normalmente, um casal do ensino médio não pensaria tanto sobre o futuro de sua relação.

O que realmente significa sair juntos?

É apenas uma promessa verbal. Não existe nenhuma garantia.

Eu suspirei.

Eu nunca tinha saído com uma garota antes. Não só eu não sabia como tomar a iniciativa, mas eu não tinha ideia de como eu deveria reagir a essa situação.

Na verdade, eu sequer podia tentar adivinhar.

Se eu pelo menos tivesse jogado alguns galges.

Isso pelo menos me daria algo para se referir.

Mas, diferente de um jogo, as rotas não tinham fim na vida real.

“Com certeza você está suspirando bastante, Araragi-kun. Você sabia que cada vez que suspira, deixa um pedaço de felicidade escapar?”

“Então eu já devo ter deixado mil pedaços de felicidade escapar...”

“Não tenho nenhum interesse no quanto de felicidade você deixou escapar, mas eu preferiria que você não suspirasse na minha frente. Isso me deixa doente.”

“Você diz umas coisas horríveis.”

“E com doente, quero dizer doente de amor.”

“... Hm, agora essa é uma difícil de responder.”

Ela parecia um pouco feliz.

Ela deve ter armado isso como uma armadilha.

“A propósito, Araragi-kun”, disse Senjougahara. “Sabia que eu nunca terminei com um homem?”

“......”

Esse sim era um exemplo de como suavizar o que você está dizendo.

À primeira vista, fazia soar que ela era uma garota muito popular, mas, na verdade, o que ela estava anunciando era que tinha zero de experiência com homens.

“Então”, continuou ela. “Não tenho nenhuma intenção de terminar com você.”

Sua expressão composta não mudou. Nem uma única sobrancelha se moveu. Isso fazia você pensar que ela não tinha nenhum sentimento ou algo parecido. Contudo, ela tinha que ter sentido algo quanto a isso.

Durou dois anos.

Desde aquele tempo entre o ensino fundamental e o médio que não era bem férias de primavera em que ela não tinha sido nem uma estudante do fundamental, nem do médio, Senjougahara Hitagi tinha sido incapaz de fazer qualquer contato com outras pessoas. Não era surpreendente se ela tivesse se esquecido de como fazer contato com outros nesse tempo. Se ela tivesse se tornado mais negativa que a maioria e mais reservada que o necessário, isso seria o esperado. Era como lidar com um gato abandonado extremamente cauteloso. Bem, se alguém fosse um gato, seria a Hanekawa.

Nenhum de nós dois sabia como tomar a iniciativa.

“... Ei, Senjougahara.”

“O quê?”

“Você ainda carrega aquele grampeador e coisas assim com você?”

“Vindo a pensar nisso, ultimamente, não.”

“Entendo.”

“Que descuidado de mim.”

“Descuidado, hein?”

Mas isso ainda era um passo na direção certa.

Você não podia chamá-la de tsundere exatamente por uma mudança tão pequena, mas se era essa a personalidade dela...

Hm?

Falando na Senjougahara de dois anos atrás...

“Você era a estrela do atletismo no ensino fundamental, certo?”

“Sim.”

“Você vai voltar a fazer isso?”

“Não. Não tenho motivo para isso”. Ela respondeu rápido o bastante para ser chamado de instantâneo. “Eu não tenho nenhuma intenção de retornar ao que eu era antes.”

“Hmm...”

Pelo que eu tinha ouvido, no ensino fundamental, Senjougahara tinha sido a estrela do atletismo, assim como sociável, gentil com todos, esforçada e nem um pouco pretensiosa. Ela tinha sido uma estudante ativa que havia dado tudo de si. Nada disso era algo além de rumores, mas no que se refere a rumores, eles eram razoavelmente confiáveis.

Logo antes do ensino médio, isso mudara.

Essa mudança tinha durado por dois anos.

E então, o que tinha mudado retornou ao normal.

Mesmo que ela mesma não tivesse nenhuma intenção de retornar a como as coisas eram, a mudança havia sido corrigida.

“Eu não vejo nenhuma necessidade para retornar e, mais importantemente, retornar agora não faria nenhum bem. Eu ganhei muito mais que devo suportar. Sem mencionar que nós já estamos em nosso terceiro ano. Por que você pergunta, Araragi-kun?”

“Ah, eu só tava curioso com como você era antes, quando jogava esportes... Bem, com tanto tempo não jogando, realmente é provável que não valha a pena voltar.”

Assim como o termo “gato” me fez pensar em Hanekawa Tsubasa, o termo “esportes” me fez pensar em Kanbaru Suruga, então aquela caloura aparecera no olho da minha mente enquanto perguntava.

Ela realmente estava tentando se manter positiva, mas ela realmente poderia ser chamada de positiva se ela se recusava a encarar seu passado?

Senjougahara, na verdade...

“Não se preocupe. Mesmo que eu não jogue esportes, eu pretendo manter esta figura.” “... Não foi por isso que eu perguntei.”

“Mas, Araragi-kun, você foi atraído por mim por esse corpo altamente elástico e egoísta que nunca terminou com um homem, não foi?”

“Não faça parecer que eu só esteja atrás do seu corpo!”

Além disso... corpo egoísta?

Com certeza você pode vir com um jeito melhor de dizer isso.

“Entendo. Então você não está atrás do meu corpo”, disse Senjougahara, como se ela estivesse se fazendo de boba.

“Então você pode esperar um pouco para essa parte, não pode?”

Era isso que ela queria dizer?

Se sim, ela tinha tomado um jeito horrivelmente desviado e indireto de dizer isso. Isso era muito de seu feitio.

Um senso de castidade.

Eu duvidava que isso fosse tudo que houvesse nisso, mas... “Oh, certo. Araragi-kun, você não é do tipo de pessoa descarada que diz coisas ignorantes como ‘eu comi pelo valor do meu dinheiro’ ou ‘seria um desperdício se eu não comesse mais’ durante um bufê apesar do fato de você pagar a mesma quantidade não importa o quanto peça, é?”

“......”

Eu não tinha ideia de que tipo de insinuação ela estava tentando fazer ser entendida, mas eu sabia que sua intenção tinha de ser de colocar alguma restrição em mim.

Ela era reservada em suas relações.

Contudo, ela levava sua relação comigo com muita seriedade. Nesse caso, eu estava disposto a seguir com isso.

Eu ainda não fazia ideia do que significava sair juntos, mas uma vez que você estivesse, tinha que se firmar com o outro em tudo.

“... Oh, certo.”

Eu subitamente tive um pensamento. Eu decidi perguntar a Senjougahara sobre Kanbaru Suruga. O motivo pelo qual eu ainda não tinha mencionado esse problema para ela não era por que eu queria preocupá-la. Em vez disso, tinha sido porque eu não considerei isso digno de nota e não queria irritá-la. Contudo, na chance pequena de que a força motriz de Kanbaru Suruga fosse exatamente a que aquela garota estudante do primário tinha interpretado, senti que seria injusto não contar à minha (suposta) namorada.

Kanbaru tinha apenas aparecido no olho de minha mente e havia uma outra coisa que me incomodava nisso.

“Ei, Senjougahara.”

“O quê?”

“Você conhece Kanbaru Suruga?”

“......”

Em resposta, eu apenas recebi silêncio.

Ou melhor, eu não recebi nada.

Falando de injusto, a maneira que eu tinha perguntado isso tinha sido bastante injusta. Afinal de contas, Kanbaru Suruga era uma estrela conhecida pela escola, então todos saberiam quem era ela. Eu não tinha certeza se ainda tinha acontecido, mas os rumores de que Kanbaru estava me perseguindo estariam circulando pela escola pelo início da próxima semana, no mínimo. Isso não era realmente um problema, porque eu podia simplesmente tratá-los como falsos. A qualquer custo, era por isso que a minha pergunta naturalmente continha um significado diferente. Em vez de esclarecer isso, eu suportei o silêncio.

“Hmm”, disse Senjougahara. “Kanbaru Suruga. Esse é um nome que me traz lembranças.”

“... Entendo.”

Como eu tinha pensado, elas eram velhas amigas.

Era por isso que Kanbaru tinha pensado primeiro na Senjougahara em vez da melhor do ano, Hanekawa, quando eu mencionei o grupo de estudo. Sem falar das leves nuances de significado que eu podia ocasionalmente vislumbrar nas palavras de Kanbaru. O motivo pelo qual eu nunca tinha pensado na possibilidade que Hachikuji tinha mencionado era que as dicas de uma possibilidade diferente tinham sido bem evidentes. Ou seja, a possibilidade de que Kanbaru estivesse atrás de alguém além de mim.

“É por isso que você perguntou sobre quando eu estava no ensino fundamental? Ela era a minha caloura naquela época.”

“Ela ainda é. Vocês vão à mesma escola. Ah, espera. Você quer dizer que a Kanbaru estava no time de atletismo no ensino fundamental?”

“Não, ela esteve no time de basquete desde o ensino fundamental... Kanbaru? Essa certamente é uma maneira familiar de se referir a ela.”

Em um instante, o olhar nos olhos de Senjougahara se transformou em algo ameaçador. Aqueles olhos que normalmente não tinham nenhuma emoção subitamente emitiram uma perigosa luz. Antes que eu pudesse dar quaisquer palavras de explicação, o topo da lapiseira em sua mão direita moveu-se precisamente em direção ao meu olho esquerdo com uma tremenda velocidade. Imediatamente, eu reflexivamente tentei me esquivar, mas, ao mesmo tempo, enquanto ela tinha movido sua mão direita, ela tinha levado um joelho para cima da mesa de chá, espalhando os cadernos dispostos acima dela no processo, e agarrou a parte de trás de minha cabeça com sua mão esquerda para evitar que eu me movesse.

O fim da lapiseira parou não somente um pouco longe do meu globo ocular, mas tão ridiculamente perto que eu nem podia piscar. Ela fez isso tão bem que a mão atrás na minha cabeça parecia tanto garantir a estabilidade de sua própria mão quanto garantir que eu não fizesse nenhum movimento desnecessário.

... S-Senjougahara Hitagi.

Mesmo sem o grampeador, você não mudou nem um pouco!

“O que tem aquela garota, Araragi-kun?”

Espera, espera!

Desde quando ela ficou tão ciumenta?!

Esse nível de ciúmes apenas parece uma piada! Além disso, eu não me referi a ela com tanta familiaridade, me referi? O que tem de errado em se referir a uma caloura sem nenhum honorífico? Se simplesmente conhecer outra garota sem o conhecimento dela recebe este tipo de tratamento, o que ela faria se eu realmente a traísse?

Enquanto o que eu estava atualmente passando era ruim, pelo menos era um alívio descobrir isso tão cedo assim. Eu estava realmente grato por ter descoberto esse aspecto de Senjougahara enquanto eu realmente tinha uma desculpa legítima.

“Araragi-kun, seus ferimentos se curam muito rápido, não é? Então o que acontece se um globo ocular inteiro for destruído?”

“Pare, pare! Um globo ocular seria muito ruim! Eu não fiz nada de errado, eu não me sinto familiar com ela nem um pouco, e não há ninguém para mim além de você!”

“É mesmo? Isso é um alívio.”

Ela gentilmente retraiu a lapiseira. Após girá-la duas vezes em sua mão, ela a dispôs na mesa de chá e colocou os cadernos e livros didáticos de volta em ordem. Eu a observava enquanto tentava controlar meu coração acelerado.

“Eu posso ter me deixado levar um pouco. Eu te assustei, Araragi-kun?”

“... Um dia, você definitivamente vai matar alguém.”

“Quando isso acontecer, me certificarei de que seja você. Eu quero que o meu primeiro seja você. Eu não escolherei ninguém além de você. Eu prometo.”

“Não diga alto tão assustador como se fosse uma coisa boa! Eu posso te amar, mas não tô disposto a deixar você me matar!”

“Ser morto por aquele que te ama o bastante para lhe matar parece a melhor morte possível para mim.”

“Eu não quero esse tipo de amor distorcido!”

“Você não quer? Que pena. Estou chocada. E eu pensei em você, de todas as pessoas...”

“Pra você ficaria tudo bem em me matar?”

“... Hm? Hm, sim, eu acho.”

“Que tipo de resposta vaga é essa?!”

“Ah... sim... acho que isso é uma coisa ruim.”

“Você ainda tá sendo vaga?!”

“O que há de errado nisso? Se eu lhe matar, significa que serei a pessoa mais próxima de você quando você der seu último suspiro. Isso não é romântico?"

“Não. Eu preferiria ser morto por qualquer outra pessoa. Tenho a sensação de que, não importa como alguém mais me mataria, ainda seria melhor do que ser morto por você.”

“Não posso concordar com isso. Se alguém mais lhe matar, Araragi-kun, eu matarei esse assassino. Eu mantenho minhas promessas.”

“......”

O amor dela já era bastante distorcido.

Isso me deu um bom senso do quanto ela me amava, no entanto...

“De qualquer modo, sobre a Kanbaru.”

Com o tópico muito mais perigoso terminado, Senjougahara naturalmente retornou ao assunto anterior.

“Nós podemos ter ficado em times diferentes, mas como estrelas de nossos respectivos times, nós ainda passamos bastante tempo juntas, apesar de estarmos em anos diferentes. Além disso...”

“Além disso?”

“Bem, após todo esse tempo, dificilmente isto é digno de nota, mas mesmo fora dos esportes, eu dei a ela bastante trabalho. Ou melhor, eu a fiz me ajudar bastante. Mas, Araragi-kun”, disse ela, voltando sua atenção de volta para mim. “Primeiro de tudo, gostaria de saber por que você a mencionou aqui. Se você não fez nada de errado, então certamente pode dar uma explicação apropriada.”

“C-claro.”

“Claro, mesmo que você tenha feita algo de errado, requisitarei uma explicação apropriada.”

“......”

Já que ela poderia realmente me matar se eu tentasse esconder algo, eu contei a Senjougahara tudo sobre como Kanbaru Suruga tinha estado me perseguindo pelos últimos três dias. Eu contei a ela que ouvia aqueles passos ritmados por detrás, tinha uma conversa tremendamente sem sentido e que então Kanbaru me deixaria sem demonstrar nenhum tipo de propósito em se aproximar de mim. Eu contei a ela que Kanbaru certamente tinha algum tipo de objetivo, mas que eu não tinha ideia do qual ele poderia ser.

Enquanto eu dava minha explicação, tive um pensamento. Kanbaru deve ter propositalmente me abordado enquanto Senjougahara não estivesse por perto. Quando eu tinha estado com a Hachikuji tinha sido uma exceção. Normalmente, ela apenas me abordava quando eu estava sozinho. Noutras palavras, não era nenhuma coincidência que Senjougahara não estivesse ciente da perseguição de Kanbaru.

E eu tive outro pensamento.

Senjougahara tinha dito que eu me referi a Kanbaru familiarmente, mas a maneira que ela tinha falado sobre sua época no ensino fundamental tinha parecido muito mais familiar. Mas isso pode não ter sido nada. Assim como ela não mostrava nenhuma emoção em seu rosto, Senjougahara não mostrava nenhuma emoção em sua voz. Não importa o que ela falasse, ela dizia numa voz estável e equilibrada. Quando eu pensei no quanto de pura vontade isso levava, um calafrio percorreu minha espinha.

“Entendo”, disse Senjougahara, após ouvir minha explicação geral. Como de costume, sua expressão não mudou, e sua voz era monótona. “Araragi-kun.”

“O quê?”

“O que é inundado em cima e queima em baixo?”

“...?”

Por que a charada assim do nada?

Eu não fazia ideia do por que Senjougahara tinha subitamente se tornado uma personagem que conta charadas, mas eu respondi, de qualquer maneira. Felizmente, eu sabia a resposta para aquela charada.

“Um aquecedor de banheira, certo?”

“Não, incorreto”, disse Senjougahara, na mesma voz monótona.

“A resposta é a casa de Kanbaru Suruga.”

“O que você tá planejando fazer com a casa da estrela da escola?!”

Você me assusta!

Eu posso ver a raiva nos seus olhos!

“Bem, chega de piadas.”

“Você não deveria fazer piadas com esse tipo de coisa. Eu realmente pude ver você fazendo algo assim.”

“Você pôde? Bem, farei como diz e me certificarei de falar apenas as minhas piadas.”

“Esse seria o jeito normal de fazer isso...”

“Kanbaru descobriu o meu segredo um ano antes de você, Araragi-kun”, disse Senjougahara. Ela disse isso normalmente como se não importasse de verdade, mas ao mesmo tempo soava sombria, de alguma forma. “Quando eu entrei no segundo ano foi quando Kanbaru entrou no Colegial Naoetsu pela primeira vez. Dada a locação da escola, eu esperara que alguns dos novos calouros me conhecessem, e eu tinha reunido meus próprios meios para lidar com isso. Contudo, eu baixei minha guarda um pouco com a Kanbaru.”

“Hmm.”

Senjougahara Hitagi.

Seu segredo.

Eu tinha descoberto esse segredo quando ela tinha escorregado nas escadas e eu tinha a pego. Tinha sido uma completa coincidência. Mas isso também significava que aquele era um segredo que poderia ser revelado por conta de uma pequena coincidência como essa. Senjougahara tinha previamente me contado que eu não era o primeiro a descobrir seu segredo. Kanbaru deve ter sido um desses.

Dada a personalidade da Kanbaru...

“Ela... Kanbaru tentou te ajudar, não foi?”

“Sim, ela tentou. Eu recusei, claro”, disse Senjougahara, friamente. Era como se ela pensasse que isso fosse a sintaxe óbvia, como se ela pensasse que essa fosse a maneira apropriada de se falar japonês. “Eu usei um método similar ao de quando eu lidei com você, Araragi-kun. Você se grudou a mim, independente disso, mas ela nunca retornou. Imagino que isso mostre os limites da relação que possuíamos.”

“... Ela não retornou.”

Aquilo tinha acontecido um ano antes.

Senjougahara tinha provavelmente a recusado completamente. Como Kanbaru conhecia a pessoa que Senjougahara costumava ser, do seu tempo no ensino fundamental como a estrela do atletismo, Senjougahara tinha certamente a rejeitado com uma severidade que era similar e, ainda assim, diferente do meu caso. Do contrário, alguém como Kanbaru nunca teria recuado tão facilmente. No dia oito de maio, quando eu tinha descoberto seu segredo, Senjougahara dissera que a única pessoa na escola que atualmente sabia de seu segredo era Harukami-sensei, da enfermaria da escola.

Que atualmente sabia.

Noutras palavras, Kanbaru Suruga tinha no passado descoberto o segredo da Senjougahara e se tornado uma de suas pobres vítimas... não, sacrifícios que foram forçadamente feitos para serem esquecidos por Senjougahara. Mas a Kanbaru realmente se esquecera da Senjougahara?

“... Ela era a sua amiga, não era?”

“No ensino fundamental, sim. Não mais, no entanto. Nós somos completas estranhas.”

“Mas você não tá na mesma situação em que esteve um ano atrás. O seu segredo foi...”

“Não falei a você, Araragi-kun?” disse ela, me cortando. “Eu não tenho nenhuma intenção de retornar ao que era naquela época.”

“......”

“Esse é o modo de vida que eu escolhi.”

“Entendo...”

Se era esse o modo de vida que ela tinha escolhido para si mesma, não era meu direito intervir... Essa era a minha opinião, em teoria. Além disso, eu sabia que Senjougahara não era egoísta o suficiente para dizer que queria consertar as coisas com a pessoa que ela tinha tão rudemente rejeitado agora que o problema tinha sido resolvido.

“Tudo bem, eu entendo a sua relação com a Kanbaru agora, mas isso não explica de verdade por que ela tá me seguindo por aí.”

“Ela provavelmente descobriu que você e eu estamos namorando, Araragi-kun. Nós começamos a namorar duas semanas atrás, e ela começou a te perseguir três dias atrás, então o timing se encaixa perfeitamente.”

“O quê? Então ela quer saber que tipo de cara seu namorado é e tá me investigando?”

“Mais ou menos. Que garota problemática. Eu não tenho nenhuma explicação de verdade, mas parece que é minha responsabilidade por não consertar as coisas com ela de uma vez por todas.”

“Consertar as coisas...?”

Eu não gostei da maneira que ela disse isso.

Era decididamente desconcertante.

“Não se preocupe. Eu tomarei a responsabilidade e...”

“Você não tem que fazer isso! Você não tem que fazer isso! Não faço ideia do que você vai fazer! Eu posso cuidar de algo assim sozinho!”

“Não precisa se segurar. Não seja tão insosso.”

“Eu preferiria ser insosso a ter que lavar sangue das minhas roupas...”

Hmm...

Uma coisa ainda não se encaixa.

“Você bruscamente rejeitou a Kanbaru no primeiro ano, certo? E ela nunca retornou, certo? Por que ela ficaria tão interessada no seu namorado depois de todo esse tempo?”

“Se esse fosse um caso padrão de ouvir que sua velha amiga tem um namorado, você estaria certo. Contudo, este caso é diferente, Araragi-kun. Você fez o que Kanbaru não conseguiu, então isso não é tão surpreendente. Kanbaru vê o que você fez como o que ela foi incapaz de fazer.”

“Ah... Então é isso.”

Quando ela descobrira o segredo de Senjougahara Hitagi, ela fora rejeitado. Ela fora brutalmente e impiedosamente rejeitada. Como seu namorado, era apenas natural que Kanbaru assumisse que eu também soubesse do segredo da Senjougahara. Já que ela me via como aquele que era capaz de ficar com a Senjougahara enquanto conhecia seu segredo, Kanbaru definitivamente ficaria interessada.

Contudo, eu duvidava de que Kanbaru tivesse notado que o segredo em si fora resolvido. Se ela tivesse, ela provavelmente teria entrado em contato com Senjougahara diretamente, em vez de vir até mim.

“Pode não ser certo eu dizer isto, mas Kanbaru me admirava”, disse Senjougahara enquanto ela olhava para o lado. “Eu percebi que estava nessa posição, e eu fiz esse papel para ela porque queria, então realmente não se podia evitar. É assim que eu vejo isso, de qualquer maneira. É por isso que me certifiquei de alertá-la sobre causar quaisquer problemas no futuro quando a rejeitei, mas parece que ela não me esqueceu, afinal.”

“Não faça ela parecer um incômodo. Ela não tá fazendo nada disso de má vontade. Sem mencionar que ser esquecido por alguém é bem depre...”

“Ela é um incômodo”, disse Senjougahara, decisivamente. Ela não hesitara nem um pouco. “Não tem nada a ver se está sendo feito de má vontade ou não.”

“Não fale disso assim. Se a Kanbaru te admirava e se ela ainda se preocupa com você... bem, pode ser um pouco estranho resolver as coisas depois daquilo, mas ainda é uma possibilidade, certo?”

“Não, não é. Tudo isso aconteceu um ano atrás, nós éramos amigas apenas no ensino fundamental, e de fato seria estranho voltarmos. Eu não te contei que não tenho nenhuma intenção de retornar ao que eu era naquela época? Ou você está sugerindo que eu vá até ela e me desculpe por fazê-la esperar por tanto tempo? Nada poderia ser mais estúpido.”

Para mostrar que ela estava acabada com o assunto, Senjougahara então mudou de assunto como se ele tivesse subitamente entrado em sua cabeça. Sua habilidade nessa área estava brilhante como sempre.

“Oh, certo. A propósito, Araragi-kun, você planeja ver o Oshino-san alguma hora em breve?”

“Oshino? Hm, acho que sim...”

Enquanto eu não tinha nenhum motivo para ver o Oshino, eu tinha que parar naquele cursinho antes de tudo para Shinobu sugar o meu sangue. Era sexta-feira, então decidi reservar algum tempo durante o fim de semana.

“Entendo. Então...”

Senjougahara silenciosamente se levantou, pegou um envelope da cômoda e retornou. Ela segurava o envelope para mim. Tinha uma marca postal nele.

“Você poderia dar isto ao Oshino-san?”

“O que é... Ohh.”

Eu descobri a resposta antes de terminar minha pergunta.

Oshino Meme.

Era a taxa pelo trabalho que aquele homem de camisa havaiana tinha feito.

Era requisitada uma compensação pela remoção da calamidade que recaíra sobre Senjougahara e permanecera como seu segredo por tanto tempo.

Se me recordo, eram cem mil ienes.

Eu chequei o conteúdo e de fato ele continha dez notas de dez mil ienes. As dez notas frescas provavelmente tinham sido recentemente retiradas do banco.

“Hehh... Você conseguiu isso mais rápido do que eu esperava. Especialmente porque você disse que iria levar algum tempo, dada a sua situação. Eu pensei que você não tivesse trabalhando?”

“Eu trabalhei”, disse Senjougahara, indiferentemente. “Eu ajudei com o trabalho do meu pai somente um pouco. Mais precisamente, eu o fiz me ajudar, mas esse é o dinheiro que eu fiz lá.”

“Hmm.”

O pai de Senjougahara trabalhava como uma companhia de investimento estrangeiro, mas essa ainda provavelmente era a opção mais simples. Com sua personalidade, Senjougahara não podia trabalhar num trabalho de meio-período facilmente. Sem mencionar que nossa escola os proibia.

“Pessoalmente, eu senti que era trapaça fazer meu pai me ajudar, então não gostei de fazer isso, mas eu queria pagá-lo de volta o mais breve possível. Eu fui criada em uma família cheia de dívidas, se você se recorda. Houve um pouco extra, então você pode usar isso para comprar almoço para você na escola, Araragi-kun. A comida da nossa escola é de alta qualidade e tem um preço razoável, então você pode pedir qualquer coisa que quiser.”

“... Obrigado.”

Almoço escolar, hm?

Um almoço de dia da semana na escola.

Ela realmente não tem nenhuma intenção de sair num encontro comigo alguma hora, tem?

“Mas não seria melhor se você mesma fosse e entregasse isso ao Oshino?”

“Não. Eu não gosto do Oshino-san.”

“Entendo...”

Isso é realmente algo a se dizer sobre o homem que te salvou?

Não era que ela não sentisse nenhuma gratidão quanto ao oshino, e isso realmente mostrava seu verdadeiro valor.

Não era que eu fosse tão afeiçoado ao Oshino também.

“Se possível, eu preferiria nunca mais vê-lo novamente. Eu nunca mais quero lidar com alguém que pode ver através das pessoas como ele.”

“É, vocês dois não são tão compatíveis. A atitude frívola e zombeteira dele simplesmente não se encaixa com a sua personalidade.”

Enquanto eu falava, coloquei o envelope ao lado da almofada na qual eu estava sentado. Eu bati levemente no topo do envelope e balancei minha cabeça para Senjougahara.

“Saquei, saquei. Não vou dizer mais nada. Vou só levar isso por você. Vou tomar a responsabilidade e levar isso ao Oshino da próxima vez que eu ver ele.”

“Muito obrigada.”

“Sem problemas.”

E então eu tive um pensamento.

Compatibilidade.

Atitude.

Personalidade.

Kanbaru Suruga, aquela caloura com sua nova, revolucionária e difícil de explicar personalidade, talvez fosse algo como o oposto da personagem de Senjougahara. Se você levasse em conta sua compatibilidade, atitude, personalidade e todo o resto...

No ensino fundamental, Senjougahara tinha sido a estrela do time de atletismo.

Não somente isso, as pessoas a admiravam. Certamente, Kanbaru não tinha sido a única a admirá-la com respeito em seus olhos. Ela tinha feito o papel de alguém nessa posição. Ela tinha feito o papel que era o completo oposto de sua atual eu cuspidora de abuso verbal.

Abuso verbal e palavras doces.

Insultos e elogios.

Opostos.

Dois lados da mesma moeda.

Noutras palavras...

“Tudo bem, Araragi-kun”, disse Senjougahara, com aqueles olhos sem emoção. “Vamos continuar a estudar. Você conhece as palavras famosas de Thomas Edison? Gênio é um por cento inspiração e noventa e nove por cento perspiração. Um excelente adágio adequado a um gênio. Mas eu tenho certeza de que Edison sentia que aquele um por cento era a parte mais importante. Afinal de contas, dizem que a diferença entre o DNA dos humanos e o dos macacos é dessa quantidade.”

Notas do Tradutor[edit]

  1. "Freeter" é uma expressão japonesa usada para denominar pessoas que só trabalham fazendo bicos ou trabalhos de meio-período.
  2. "NEET" é acrônimo de "Not currently in Education, Employment or Training", que significa "Atualmente sem Educação, Emprego ou Treinamento" e é usado para denominar pessoas que não trabalham, nem estudam.


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