Suzumiya Haruhi:Volume2 BR Full

From Baka-Tsuki
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Ilustrações[edit]

Aguardando tradução

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Prólogo

A única preocupação de Haruhi - que não parecia ter preocupação alguma no mundo - poderia ser sintetizada nas palavras "o mundo é normal demais."

Então, o que ela consideraria "anormal"? Isso pode ser somado com a palavra sobrenatural. Basicamente, sua mente está pensando "Por que nenhum fantasma apareceu na minha frente ainda?"

Incidentalmente, você pode trocar a palavra "fantasma" por "alien", "viajante do tempo", ou "esper". Mas como você já deve saber, essas coisas só existem no mundo da ficção, não no mundo real. O que significa que a fonte de preocupação de Haruhi não vai secar enquanto ela permanecer vivendo neste mundo. Mas atualmente estou perturbado pelo fato de não poder ter mais tanta certeza disso.

Pois tive contato com um alien, uma viajante do tempo e um esper.


"Tenho algo importante para lhe dizer. Me escute."

"O que?"

"Você quer encontrar aliens, viajantes do tempo e pessoas que podem usar poderes psíquicos, certo?"

"Certo. E que tem isso?"

"Então, basicamente é a meta da Brigada SOS os encontrar, certo?"

"Apenas encontrar não é o suficiente. Temos que nos divertir com eles. Só o ato de achar carece do toque final. Quero ser uma participante, não uma mera observadora."

"Prefiro ser um observador pelo resto da minha vida... Então, continuando. Um alien, um viajante do tempo e um esper estão mais próximos do que você pode imaginar."

"Heh. Quem seriam eles? Espero que você não diga Yuki, Mikuru-chan, e Koizumi-kun, certo? Se for assim não vai ser 'mais próximos do que você pode imaginar', afinal."

"Uh... bem... na verdade era exatamente isso que eu ia dizer."

"Você é estúpido? Como se as coisas fossem acontecer de maneira tão fácil."

"Bem, sob circunstancias normais, isso é verdade."

"Então, quem é o alien?"

"Você vai gostar de ouvir isso. Nagato Yuki é um alien. Ou tecnicamente, ela é uma, bem como poderia explicar? A Integração de alguma coisa da Entidade... ou seria os Dados de alguma coisa Integrada na Entidade? Bem, é um tipo de consciência alienígena que a mandou. Sim, ela é uma interface humanóide. É isso."

"Hmmm. E então? E a Mikuru-chan?"

"Asahina-san é bem fácil de explicar. Ela é uma viajante do tempo. Ela viajou pelo tempo vinda do futuro, portanto é uma viajante do tempo."

"De quantos anos do futuro ela veio?"

"Eu não sei isso. Ela não me contou."

"Aha. Entendi."

"Você entendeu?"

"Isso significa que Koizumi-kun é um esper? Era isso que você ia dizer?"

"De fato, era isso que eu ia dizer"

"Entendo."

E então as sobrancelhas de Haruhi começaram a tremer. Ela lentamente respirou fundo antes de gritar.

"NÃO BRINQUE COMIGO!"


Como você pode ver, Haruhi não acreditou quando me incomodei em revelar a verdade. Acho que não se pode fazer nada a respeito. De fato, ainda acho difícil de acreditar que há um pseudo-alien, um viajante do tempo e uma aberração esper, mesmo depois de testemunhar uma prova concreta disso. Pedir para que Haruhi acredite quando ela não viu nada é, de certo modo, um tanto impossível.

Mas o que mais eu poderia dizer? Cada palavra que falei era a mais pura verdade. Podia ser difícil de acreditar, mas tenho o hábito de dizer a verdade quando sei que mentir não vai me beneficiar.

Tenho certeza de que se alguma pessoa simpática viesse a mim e dissesse, "Essas pessoas que você falou são mesmo...", eu responderia "Não brinque comigo!". E se essa pessoa realmente estivesse falando sério, teria que pensar se ela fora infectada por uma doença mental, ou que estranhas ondas mentais penetraram em seu cérebro. No final, acabaria sentindo pena desse cara.

Hmm? Porque esse cara não pode ser eu agora?

"Kyon, ouça com muita atenção."

Haruhi me encarou com seus olhos em chamas.

"Aliens, viajantes do tempo, e espers não vão simplesmente se achados sentados por ai! Eles são tão raros que temos que procurar por eles, os encontrar, os capturar, segurar pelo pescoço, e prender eles tão bem que não tenham chances de escapar! Não há possibilidade que todos os membros da Brigada, que foram escolhidos aleatoriamente, sejam tão especiais!"

Seus sentimentos estão absolutamente corretos. Mas me exclua disso. Os outros três são de fato resultantes de fenômenos sobrenaturais, eu sou o único membro comum da brigada. Espere um pouco, ela acabou de admitir que os escolheu randomicamente?

Mas porque essa garota subitamente teve um lampejo de bom senso? Se ela acreditasse em mim as coisas seriam bem mais simples agora. Pelo menos a estranha organização conhecida com a Brigada SOS poderia se desfazer. Pois ela nada mais é que uma associação que existe para que Haruhi encontre aliens (e etc.), e outras coisas misteriosas. Uma vez que ela já os encontrou, a brigada não é mais necessária. Haruhi pode se divertir com eles sozinha. Eu poderia ficar com eles de vez em quando. Estaria satisfeito com o papel do assistente de um show de perguntas que fica ao lado do apresentador e dá umas risadas sem qualquer razão aparente. Pois bem agora, me sinto como um cachorro amestrado em uma exposição de animais.

É claro que não tenho idéia do que aconteceria ao mundo quando Haruhi ficasse ciente de todos esses fenômenos.


Falando nisso, éramos as únicas duas pessoas envolvidas nessa conversa que ocorreu no dia do segundo capitulo da "Brigada SOS vaga pela cidade (nome provisório)" no café em frente à estação. Após - sem nenhum constrangimento - verificar se Haruhi estava pagando, bebi o meu café forte enquanto explicava isso a ela. Haruhi agia como se não tivesse acreditado em uma só palavra do que eu havia dito. Bem, acho que isso já era esperado. Qualquer um que acredite nesse tipo de coisa tem sérios problemas.

Eu não fui muito específico. Apenas dei um resumo geral, revelar detalhes demais poderia causar suspeitas sobre mim. Isso vem de alguém que foi arrastado para dentro do apartamento de Nagato e foi submetido a um longo e incompreensível discurso amontoado de bobagens em proporção galáctica. Eu tenho consciência do que falo.

"Já basta dessas suas piadas estúpidas."

Após Haruhi terminar de sugar o seu suco esverdeado de vegetais pelo canudo, ela falou:

"Vamos indo então. Não podemos nos separar hoje, então nos dois teremos que procurar em cada canto dessa cidade. Ah, esqueci a minha carteira, aqui está a conta."

Olhei para o pedaço de papel lendo 830 yen [1] e tentei formular uma objeção para esta atrocidade, Haruhi engoliu o resto do meu café, me olhou como se não fosse aceitar nenhuma objeção, saiu pela porta automática do café e esperou lá fora com seus braços cruzados.

1-[Nota do tradutor: cerca de R$13,00]


Isso foi há quase meio ano atrás. Quando penso um pouco sobre isso, vejo que os últimos seis meses foram lotados de acontecimentos estranhos. A Brigada SOS continua oficialmente nomeada como " Brigada para Salvar o mundo enquanto O enche de diversão de Suzumiya Haruhi" o que me dá calafrios, e alem disso eu ainda não tenho idéia de quando e onde essa brigada encheu o mundo de diversão. Alêm do mais, a única pessoa que se irrita com tudo é Haruhi. O propósito e atividades da brigada permanecem, como sempre, um mistério. Aparentemente a meta dela é se divertir com aliens, seqüestrar viajantes do tempo, e lutar ao lado de espers. Olhando da perspectiva de Haruhi, esses objetivos ainda não foram concretizados.

O motivo disso é que Haruhi acredita que ainda não encontrou aliens, espers, e viajantes do tempo. Se que ela não acreditou em mim quando fiz a gentileza de lhe revelar a verdade sobre as identidades dos outros membros da Brigada SOS, isso não é problema meu.

E então, mesmo que a brigada tenha falhado em atingir sua meta primaria, ela ainda não se separou. Ela continua existindo incógnita e não reconhecida pela escola em um canto do bloco antigo.

Naturalmente os cinco membros, incluindo eu, continuam parasitando a sala do Clube de Literatura. O conselho estudantil aparentemente resolveu ignorar a Brigada SOS de todas as maneiras possíveis. Enquanto preenchia o formulário de requisição, não citei nada sobre invasão ilegal da sala. Talvez porque Nagato Yuki, que era o único membro original do Clube de Literatura, não disse uma palavra sobre o caso. Deduzo que eles acham que fingir ignorância é muito mais saudável do que falar com ela.

Ninguém queria pisar na mina que tinha “isso vai explodir se você pisar”, escrito em todas as línguas e com luzes de néon ao redor. Eu sei que não devia dizer isso, mas se eu soubesse, nunca teria falado com a garota com um olhar amargo que sentava atrás de mim.

Um estudante secundário comum que acidentalmente ativou essa bomba e agora está correndo em círculos como um idiota enquanto segura o gatilho. Sim, essa é a minha posição atual. Essa bomba era conhecida como “Suzumiya Haruhi” e não tinha um marcador de tempo mostrando quando ia explodir. Não sabíamos se ao menos ela explodiria, não sabíamos quanto dano ela ia causar se explodisse, não sabíamos o que havia dentro dela, ou se ela ao menos era uma bomba. Talvez fosse só um pedaço de entulho que alguém disse que era uma bomba. Mas não posso ter certeza disso.

Eu não encontro uma lixeira escrito “Apenas para materiais perigosos, não importa o quanto eu procure, o que significa que essa coisa excepcionalmente perigosa está praticamente presa as minhas mãos com cimento.

Sério, como eu posso me livrar disso?




Capítulo 1[edit]

Capítulo 1


Eventos são uma parte indispensável da vida escolar, mesmo acontecendo esporadicamente. O que me lembra que nossa escola teve o festival esportivo mês passado. Estava bastante cético quando Haruhi mencionou que a Brigada SOS iria participar da corrida de revezamento durante o encontro dos clubes da escola, mas o que você não sabe, é que a Brigada SOS realmente acabou participando da corrida, derrotando o clube de corrida e pisando sobre o clube de rugby [1]. Não esperava que Haruhi, a grande “ás” da corrida, iria cruzar a linha de chegada com uma vantagem de trinta cavalos [2] de distância sobre o corredor mais próximo. Como resultado disso, nossa (excluindo a minha) peculiaridade não era mais cochichada entre os alunos, mas sim gritada pela escola como se alguém tivesse ativado o alarme de incêndio no meio da aula, o que me deu uma grande dor de cabeça. Muitos culpam Haruhi por ter dado a idéia, mas a segunda corredora, Nagato, também tem a sua parcela de responsabilidade. Certamente não esperava ver Nagato correndo tão rápido, era como se ela estivesse se teletransportando. Nagato, se for fazer esse tipo de coisa, por favor, me avise antes.

1-[Nota do tradutor: esporte que é uma variação do futebol tradicional, que foi desenvolvido na escola de Rugby, Inglaterra].

2-[Nota do tradutor: aproximadamente 72 metros].

Quando eu perguntei a ela que tipo de mágica usara, a forma de vida orgânica criada pelos aliens sem nenhum pingo de senso de humor, me deu uma explicação envolvendo coisas como "nível de energia" e "saltos quânticos”, o que eu apreciei, mas como já havia desistido da carreira cientifica há tempos para seguir o caminho das artes liberais, não tinha idéia do que ela estava falando. E pra falar a verdade, nem queria ter.

Depois que o insano festival esportivo acabou, sentei e esperei pelo mês seguinte, onde descobri que teríamos o festival cultural. Agora mesmo, essa pacata escola pública está se preparando para tal evento. Exceto que os únicos que estão realmente preparando algo são os professores, o comitê executivo, e os clubes artísticos, pois essa é a única oportunidade deles de mostrar um pouco de trabalho.

É claro que um clube tem de ser reconhecido antes de poder manter suas atividades, sendo que, como a Brigada SOS ainda esperava pelo reconhecimento, não tivemos que se empenhar em nenhuma preparação criativa. Acho que, se tivéssemos que preparar alguma coisa, não nos importaríamos de colocar um gato malhado da vizinhança dentro de uma jaula com uma placa de "Besta Extraterrestre" como exibição. Mas as pessoas que não entenderam a piada iriam se sentir terrivelmente ofendidas, enquanto as que entenderam iriam rir com desdém. Alem do mais não era necessário que eu forçasse a minha cabeça para pensar em alguma coisa para o festival. Não tenho motivação para fazer isso. Um festival cultural de uma escola pragmática pode ser apenas pragmático. Se você não acredita em mim vá a qualquer festival escolar. Você vai ter de encarar a realidade que aquele é apenas outro evento da escola.

Falando nisso, se você está se perguntando; o que Haruhi e eu, e o resto sala 1-5, estamos preparando? A verdade é que estamos fazendo um questionário idiota, é apenas uma forma de enganar a organização pelo fato que não temos nada a apresentar. Depois que Asakura sumiu na primavera, ninguém foi louco o suficiente para assumir a posição de líder. O plano acima só veio após uma seção do conselho de classe, em que Okabe nos forçou a ter alguma idéia, foi um longo e desconfortável conselho de classe. Ninguém foi a favor ou contra, então ficou assim decidido, pois o prazo já estava acabando. Ninguém sabia sobre o que a pesquisa seria, ou como se divertir fazendo isso. Não tenho duvida que ninguém irá gostar, mas era isso. Trabalho duro, pessoal.

E assim, me sentindo tão lânguido quanto uma vítima de uma síndrome apática, realizei meu ritual diário de rumar ao clube. Por quê? Porque a garota que sentava atrás de mim disse que eu deveria fazer isso.

"Uma pesquisa é algo tão estúpido."

Ela fez uma cara furiosa, como alguém que derrama molho no seu natto [3].

3-[Nota do tradutor: alimento de soja fermentada, muito comum nos cafés da manhã japoneses].

"Cadê a diversão nisso? Eu realmente não entendo!"

Você deveria ter falado algo. Não viu que Okabe, o educador, estava procurando por uma idéia durante a nossa reunião?

"Não importa. Não tenho a intenção de participar de nada que nossa sala faça. Não há diversão em fazer nada com essa gente."

Exceto que me lembro vagamente de você contribuindo com a vitória da sala no campeonato esportivo. Não foi você que foi a corredora âncora, e venceu as corridas de curta, média, e longa distância? Ou foi outra pessoa?

"Isso é diferente."

No que é diferente?

"Esse é um festival cultural. Ou poderia chamar de festival do campus. Acho que a palavra campus não pode ser usada quando falamos de uma escola pública. Oh, bem. O festival cultural é o evento mais importante do ano, certo?"

"Sério?"

"Sério!" - ela disse enquanto balançava a cabeça com fervor. Então ela anunciou para mim a seguinte proclamação - "Nós, a Brigada SOS, faremos algo bem mais divertido!".

Então enquanto Suzumiya Haruhi falava, seu rosto brilhava de determinação, como Aníbal que decidiu cruzar os Alpes durante a Segunda Guerra Punica [4].

4-[Nota do tradutor: a Segunda Guerra Púnica é talvez o acontecimento mais importante da Antigüidade ocidental, pois é através da vitória neste conflito que Roma começa sua grande expansão. Aníbal Barca era um dos comandantes].


Apenas na superfície, eu acho.

Em todas as vezes nos últimos seis meses, as "coisas divertidas" de Haruhi nunca me levaram a um final feliz. Para falar a verdade, na maioria das vezes elas levaram a exaustão. Pelo menos para Asahina-san e eu, que eram os únicos seres humanos comuns aqui. Pelo que posso dizer, é de conhecimento comum nesse planeta que Haruhi não é uma pessoa normal. E eu duvido seriamente que a disposição de Koizumi pode ser considerada humana. E Nagato nem é humana para começar.

Agora que estou com esse bando, como deveria cruzar essa vida escolar que é o cúmulo do anormal? Eu não queria repetir as experiências dos últimos seis meses. Não queria fazer nunca mais aquele tipo de coisa. Apenas pensando nisso - se alguém me desse uma arma - eu atiraria na minha cabeça. Gostaria de arrancar e queimar as células contendo a memória daquele incidente. Eu ainda não sei o que Haruhi pensou daquilo afinal.

Enquanto estava preocupado em desenvolver um método para erradicar aquelas memórias, não ouvi o que a empolgada garota que sentava atrás de mim disse.

"Ei, Kyon. Você está me ouvindo?"

"Na verdade não. O que foi?"

"O festival cultural, o festival cultural! Você deveria estar um pouco mais animado. Você só poderá presenciar o festival cultural como um estudante de primeiro ano uma vez na vida."

"Bem, é. Mas não existe motivo de fazer tanto alarde sobre isso."

"Sim, tem um motivo. Festivais não acontecem com freqüência. Não seria um festival se as pessoas não fossem a loucura. Todas as escolas que conheço são assim."

"Sua escola anterior era meio exagerada, não?"

"Completamente errado. Não era nem um pouco divertida. E esse é o motivo dos festivais do ensino médio terem de ser mais divertidos."

"O que você considera divertido afinal?"

"Fantasmas de verdade na casa assombrada, escadas aonde o número de degraus aumenta subitamente, as sete maravilhas da escola se transformando nas trinta maravilhas, o cabelo do diretor triplicando de tamanho e virando um afro, o prédio da escola se transformando em um robô e lutando contra um monstro que veio do oceano, ou ameixa virando uma palavra sazonal para outono [5]. Esse tipo de coisa."

5-[Nota do tradutor: na poesia japonesa a uma serie de palavras relacionada a cada estação do ano. Ameixa se relaciona com a primavera].

Bem, eu parei de escutar na metade, então não entendi nada depois da parte das escadas. Talvez alguém que tenha tempo de sobra possa me explicar melhor.

"... tudo bem. Darei uma explicação passo a passo assim que chegarmos ao clube."

Haruhi aparentemente perdera o seu bom humor, e caiu em um silêncio súbito. Marchamos adiante, alcançando a porta do clube rapidamente. Sobre a placa escrita "Clube de Literatura" havia um pedaço de papel com as palavras "com a Brigada SOS" rabiscado nele. "Ele estava ali faz mais de meio ano. Ninguém pode dizer que essa sala não é nossa." E assim, ela começou a exercer arbitrariamente seu direito de ocupação e estava retirando a placa antiga, quando eu a impedi. Humanos têm de saber quando ser discretos.

Haruhi abriu a porta sem bater, eu podia ver a fada no meio da sala do clube. Seus olhos encontraram os meus, e um sorriso iluminou o seu rosto, como a personificação de uma flor de lírio.

"Ah... olá."

Vestida na sua roupa de maid enquanto varria o chão, estava a coadora de chá que era o orgulho e alegria da Brigada SOS, Asahina Mikuru. Como sempre, ela deu suas boas vindas a mim com um sorriso caloroso, era como se uma fada vivesse em nosso clube. Talvez ela seja realmente uma fada. Parece ser mais apropriado dizer isso do que falar que ela é uma viajante do tempo.

Voltando ao tempo em que a brigada se estabeleceu, Haruhi nos deu a incompreensível razão de que "Eu acho que precisamos de uma mascote.", e assim arrastou Asahina-san para cá. Então Haruhi a enfiou em um uniforme de empregada, e desde então, depois da aula ela se torna a maid da Brigada SOS. Não é porque ela tem alguns parafusos soltos, mas sim porque ela é uma garota doce que trás lagrimas aos meus olhos.

Asahina-san já passou por bunny-gal, enfermeira, e líder de torcida, mas tenho que dizer que ela fica melhor como maid. Simplesmente porque essa roupa não tem nenhum significado ou intenções ocultas, e prefiro que continue assim. Talvez devesse enfatizar que a maioria das ações de Haruhi não tem significado algum.

Mas elas geralmente acabam acarretando em outras coisas, e essas outras coisas geralmente acabam trazendo problemas para mim. Isso me faz desejar que tudo que ela faz não tenha sentido.

Uma das poucas coisas boas que Haruhi fez - na verdade a única coisa boa - foi criar essa versão maid de Asahina-san. Ela fica tão bem assim que faz até minha cabeça parecer mais leve. Essa foi a única vez que não pude culpar uma das idéias de Haruhi. Não sei como ela conseguiu a fantasia, ou quanto ela custou, mas posso dizer que Haruhi tem um ótimo senso de moda. É claro que Asahina-san iria parecer com uma modelo não importando que roupas ela usasse. Mas a roupa de maid seria minha favorita apenas pela razão de que agrada aos meus olhos.

"O chá estará pronto em um segundo."

Asahina-san respirou com sua linda voz enquanto guardava a vassoura no armário. Ela correu em direção as prateleiras para pegar nossas xícaras de chá.

Meu abdômen subitamente sofreu uma dor intensa. Aparentemente Haruhi me golpeou com o cotovelo.

"Não fique olhando de viés para os outros."

Talvez estivesse tão tocado pelos movimentos suaves de Asahina, que naturalmente acabei afilando os meus olhos. Acredito que qualquer um teria a mesma reação ao ver esta adorável e tímida garota.

Haruhi pegou a faixa com "Comandante" escrito de cima da mesa, aonde a pirâmide com o mesmo "Comandante" jazia, e a colocou no braço. Ela se jogou sobre uma cadeira de metal e se inclinou para trás, observando a sala com atenção.

A outra membro da brigada estava na sala, sentada em um canto da mesa lendo um livro grosso.

" ... "

Ela apenas encarava as paginas, sem ao menos levantar a cabeça uma só vez. No que dizia respeito a Haruhi ela era "o bônus que veio junto com a sala.". A caloura membro do Clube de Literatura, Nagato Yuki.

Uma colega de classe cuja presença era mais indetectável do que o nitrogênio na atmosfera, e que de longe tinha a biografia mais estranha entre todos nós. Podemos dizer que seu passado de excentricidades supera até mesmo Haruhi. Haruhi nunca fez o menor sentido, mas o "fazer sentido" de Nagato só serve para me confundir ainda mais. Se acreditar em tudo que ela falou, essa silenciosa / sem emoções / inexpressiva / e sem sentimentos, garota de cabelo curto, não é humana, mas um meio de comunicação mecânico feito por aliens. Não me pergunte o que é isso, pois eu também não sei. Ela disse isso por si mesma, então não tenho comentário algum a oferecer. Aparentemente é verdade, mas esse é só mais outro segredo que devemos guardar de Haruhi, pois ela acha que Nagato é apenas uma "rata de biblioteca um pouco estranha", e nada mais.

De um ponto de vista objetivo, eu penso que "um pouco" seja de certa forma, um argumento módico demais para ela.

"Cadê o Koizumi-kun?"

Haruhi deu um olhar afiado para Asahina-san, inconscientemente a fazendo recuar.

"E-eu não sei. Ele ainda não apareceu. Certamente ele está atrasado..."

Suas mãos cuidadosamente tiraram as folhas de chá do pote e as colocaram na chaleira. Olhei para o suporte de roupas no canto da sala. Ele apresentava muitos tipos de fantasias, acho que devia ter sido parte do clube de teatro. Da esquerda para a direita; fantasia de enfermeira, bunny-gal, uniforme de verão para a maid, líder de torcida, um yukata [6], um jaleco de médico, pele de leopardo, fantasia de sapo, uma coisa transparente que sinceramente não reconheço, etcetera etcetera [7].

6-[Nota do tradutor: Yukata é uma vestimenta japonesa de verão. Geralmente pessoas usando yukatas são vistas nos festivais japoneses e nos festivais de fogos de artifícios (hanabi) e outros eventos tradicionais de verão]. 7-[Nota do tradutor: mantemos o original, aos que preferirem, leiam “etc etc...”].

E cada um deles já havia sido agraciado pelo calor da pele de Asahina-san nesses últimos seis meses. Não havia porque Asahina-san os vestir, isso era apenas para satisfazer Haruhi. Talvez seja algum trauma de infância, como se seus pais nunca houvessem lhe comprado uma boneca. E esse é o motivo dela descontar tudo na pobre Asahina-san. Conseqüentemente as cicatrizes emocionais da mesma aumentavam dia após dia, enquanto meus olhos eram constantemente bombardeados por essa visão do paraíso. Bem, se me perguntassem eu poderia dizer que tem mais gente feliz com isso do que infeliz, então vou manter a minha boca fechada.

"Mikuru-chan, me sirva chá."

"S-sim, já estou indo."


Mikuru apressadamente serviu chá verde no copo com "Haruhi" escrito em marcador permanente, e depois o colocou em uma bandeja e o carregou até ela.

Haruhi assoprou o chá quente antes de falar como uma mestre de ikebana [8] criticando a inaptidão de uma aprendiz.

8-[Nota do tradutor: Ikebana é a arte japonesa do arranjo floral, tendo como base certos princípios de arte reconhecido mundialmente].

"Mikuru-chan, estou certa de ter lhe dito isso uma vez. Você se lembra?"

"O que?"

Asahina-san agarrou-se a bandeja com nervosismo.

"O que foi isso agora pouco?"

Ela mexia a cabeça se questionando, era como um papagaio da ilha de Java que tentava se lembrar do gosto das sementes que comera no dia anterior.

Haruhi colocou o copo sobre a mesa.

"Quando você carrega o chá, você tem de tropeçar e espirrar o chá pelo menos uma vez a cada três vezes! Você não está agindo nem um pouco como uma empregada desastrada!"

Haruhi: "Quando você carrega o chá, você tem de tropeçar e espirrar o chá pelo menos uma vez a cada três vezes! Você não está agindo nem um pouco como uma empregada desastrada!"

"O qu... ah... me desculpe."

Asahina-san tremeu. Essa era a primeira vez que tinha ouvido uma ordem desse tipo. Então, ela acha que todas as maids são desastradas?

"Tudo bem, Mikuru-chan. Você pode praticar com o Kyon. Você tem de derrubar um copo de chá bem em cima da cabeça dele."

"O quê!?"

Asahina-san olhou para mim. Naquele momento queria encontrar uma broca para abrir um buraco na cabeça de Haruhi, e substituir o que quer que esteja dentro dela. Infelizmente, não consegui achar uma, então, suspirei.

"Asahina-san, apenas pessoas com sérios problemas mentais acham as piadas de Haruhi engraçadas."

Você já deveria saber disso. Mas reprimi de soltar essas últimas palavras.

Os olhos de Haruhi se estreitaram.

"Seu idiota. Não estou brincando! Estou falando sério!"

Então seu caso deve ser pior do que eu esperava. Acho que você deve fazer uma tomografia da sua cabeça. E se você realmente fica irritada cada vez que me chama de idiota, isso não significa que você não tem um pingo de senso de humor?

"Tudo bem. Vou mostrar como fazer. Você é a próxima, Mikuru-chan."

Haruhi se levantou da cadeira de metal, e arrancou a bandeja das mãos de Asahina, que naquele ponto balbuciava confusa, Haruhi pegou a chaleira e colocou chá no copo marcado com o meu nome.

Eu assistia aquilo atônito, Haruhi colocou o copo sobre a bandeja, respingando uma quantidade considerável. Ela checou minha localização abanando a cabeça e rumou em minha direção, quando eu agarrei seu copo pelos lados.

"Ei! Não interfira!"

Interferir? Se alguém vai ficar olhando enquanto derrubam chá quente na sua cabeça, ela é ou uma pessoa realmente bondosa e submissa, ou um ator especializado em fraudes de seguros.

Permaneci em pé, enquanto bebia o chá que Haruhi fizera. Me perguntava como ele podia ter um gosto tão diferente do chá de Asahina-san, mesmo elas tendo usado as mesmas folhas. Na verdade eu não precisava pensar muito, a diferença estava no tempero chamado amor. Se Asahina-san fosse uma rosa branca selvagem, Haruhi era algum tipo bizarro de rosa que só tinha espinhos e nunca florescia. E não carregava nenhuma fruta, naturalmente.

Haruhi me olhou como se estivesse prestes a me punir, enquanto bebia meu chá em silêncio.

"Hmph."

Ela arrumou seu cabelo e voltou a sua mesa. Haruhi fizera uma cara de quem acabou te tomar um remédio quente e amargo.

Asahina-san, aliviada, voltou ao trabalho, colocando chá na xícara de Nagato, e o colocando em frente a aquela leitora ávida.

Nagato nem se moveu. Ela permaneceu lendo o seu livro - sabe, acho que você deveria demonstrar o mínimo de gratidão. Na sua situação Taniguchi levaria três dias para terminar esse chá.

" ... "

Nagato continuou folheando as paginas sem olhar para cima. Como isso era uma situação comum, Asahina-san não se importou realmente, e colocou o chá na estante.

Então o quinto membro entrou, tirado o fato que ninguém se importaria se ele nunca tivesse chego.

"Mil perdões por estar atrasado. A discussão do conselho de classe durou mais do que o de costume."

A pessoa que abriu a porta com um sorriso inofensivo no rosto, era de acordo com Haruhi, o misterioso estudante transferido, Koizumi Itsuki. Ele continuou com aquele sorriso no rosto, o tipo de sorriso que nunca me faria o apresentar como amigo para minha namorada - isso é, se eu tivesse uma.

"Parece que fui o último. Desculpe se atrasei a reunião. Ou eu deveria pagar algo para todo mundo?"

Reunião? Quando? Eu não ouvi nada sobre isso.

"Eu esqueci de te contar."

Haruhi disse enquanto apoiava o rosto com as mãos.

"Eu falei com todos na hora do almoço. Então percebi que eu podia avisar você a qualquer hora."

Você teve tempo de ir a todas as outras salas, e não encontrou um segundo sequer para avisar a pessoa que senta na sua frente?

"Quem se importa? No final o resultado foi o mesmo. A questão não é quando e onde você ouviu, mas sim se você está aqui agora."

Ela pode parecer uma garota impressionante por fora, mas já foi provado que tudo que ela faz é piorar o meu humor.

"É claro, precisamos decidir o que iremos fazer agora!"

Seria mais fácil falar se essa frase está no sentido presente ou futuro. E se esse "vamos" é um vamos no sentido plural ou singular?

"É claro que eu quero dizer, todos nós. Essa é uma atividade da Brigada SOS."

Atividade?

"Eu não disse? Quando você diz atividade nessa época do ano, significa o festival cultural!"

Então não seria uma atividade da Brigada SOS, e sim uma atividade da escola. Se você queria tanto assim promover o festival cultural, você deveria ter se candidatado para as eleições do comitê executivo. Você seria inundada de tarefas burocráticas sem sentido para fazer.

"Isso não é completamente sem sentido. Eu quero realizar uma atividade no estilo da Brigada SOS. Coloquei muito esforço para fundar essa brigada! Ninguém na escola pode dizer que não conhece esse grupo que tem o superpoder de atrair a atenção de todos, certo? Você está me entendendo?"

O que seria uma atividade no estilo da Brigada SOS? Me lembrei de todas as atividades da Brigada SOS nos últimos seis meses e fiquei um pouco depressivo.

Para você deve ser fácil, sendo que a única coisa que você faz é jogar a primeira idéia que vem a sua cabeça, mas em que a sofredora Asahina-san pode ajudar? Koizumi apenas fica sorrindo, enquanto Nagato não tem absolutamente nada a acrescentar a essa Brainstorming [9]. Ah, Asahina-san não é exatamente normal, mas ela é bonitinha, o que acerta tudo. Ela só precisa ficar parada ai e ser um colírio para os meus olhos, e um balsamo para a minha alma cansada.

9-[Nota do tradutor: O brainstorming (ou "tempestade de idéias") mais que uma técnica de dinâmica de grupo é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade criativa do indivíduo, colocando-a a serviço de seus objectivo].

"Temos que atingir as expectativas deles."

Haruhi disse aquilo com um olhar contemplativo. Quem estava esperando algo da Brigada SOS? Esse era um bom tópico para a nossa pesquisa. Eu não vejo o quanto você ajudou a melhorar essa brigada, quando ainda valemos menos que uma associação estudantil, e nossos membros não aumentaram. Sendo que mais membros só deixariam a situação mais complicada, eu posso viver sem eles. Mas como as coisas estão agora, esse trem desgovernado chamado Haruhi irá continuar avançando e os únicos passageiros somos nós cinco. Gostaria de deixar um bode expiatório no meu lugar. Mesmo que tivesse que pagar o salário por hora. Estou tentado a pagar cem yen pelo período.

Haruhi esvaziou o primeiro copo em trinta segundos, e pediu um segundo para Asahina-san.

"E então, Mikuru-chan? O que vocês estão fazendo?"

"Uhm... você diz a minha sala? Uma barraca de yakissoba..."

"Você provavelmente será uma garçonete, certo?"

Os olhos de Asahina se arregalaram.

"Como você sabia? Eu queria cozinhar, mas todos me disseram para fazer isso..."

Haruhi deu um segundo olhar contemplativo. Baseado na experiência, posso dizer que esse olhar significava que ela não poderia estar pensando em nada de bom. E esse olhar estava voltado para o suporte de roupas. A expressão em seu rosto sugeria que ela havia percebido que ainda não colocara Asahina-san em um uniforme de garçonete.

Uma torrente de pensamentos cobriu o rosto de Haruhi.

"E a sua sala, Koizumi-kun?"

Koizumi se encolheu levemente.

"Tínhamos decidido encenar uma peça, mas não conseguimos nos decidir entre um trabalho original ou uma obra clássica. O festival cultural está se aproximando rápido e ainda estamos contestando o caso. È um debate acalorado, talvez demande algum tempo antes de uma conclusão definitiva ser alcançada."

Sorte sua de estar em uma classe tão vívida. Parece algo complicado de se pensar.

"Hmm."

O olhar flutuante de Haruhi pousou no único membro que ainda não falara uma palavra.

"Yuiki?"

A pseudo-alien amante dos livros olhou para cima, como um chacal que pressente a chegada da chuva.

"Previsão do futuro."

Ela respondeu em sua usual voz discreta.

"Previsão do futuro?"

Foi um eco inconsciente.

"Sim."

Nagato concordou com seu rosto destituído de expressão, como se sua pele não estivesse nem respirando.

"Vocês vão prever a sorte das pessoas ou coisa assim?"

"Sim."

Nagato prevendo o futuro? Você não quer dizer que ela estará realmente dizendo o futuro? Naquele momento eu imaginei Nagato usando um chapéu pontudo e uma capa, segurando uma bola de cristal na frente de um casal de namorados, e dizendo algo como "Vocês vão terminar em cinqüenta e oito dias, três horas, e cinco minutos.", com uma cara extremamente séria.

Você pode mentir, sabe. Mas novamente, não sei se Nagato pode realmente ver o futuro.

Então Asahina-san estará em uma barraca de comida, Koizumi-kun estará encenando uma peça, e Nagato estará em uma convenção de previsões do futuro. Isso soa infinitamente mais divertido do que a pesquisa patética que nossa sala estará fazendo. Ah é, e que tal isso? Vamos juntar tudo em um café de previsão do futuro teatral.

"Pare de falar coisas idiotas. Vamos começar logo essa reunião."

Haruhi instantaneamente rejeitou minhas preciosas opiniões e rumou me direção ao quadro branco. Ela apontou para ele com uma coisa grande que parece uma antena de radio.

Não tem nada escrito ai. Para onde eu deveria olhar?

"Vão ter coisas ai em breve. Mikuru-chan, você é a secretaria, então anote cada palavra que eu disser."

Não tenho a menor idéia de quando Asahina-san virou a secretaria. E duvido que alguém tenha. Aparentemente Haruhi decidiu isso a poucos segundos atrás.

Asahina-san, a fazedora de chá, e agora secretaria, segurava um pincel atômico enquanto olhava para o rosto de Haruhi ao seu lado.

E então Haruhi subitamente falou em uma voz triunfante.

"Nós, a Brigada SOS, iremos fazer um filme!"


Eu realmente não sei que tipo de mutação estava acontecendo na cabeça de Haruhi. Eu não queria pensar sobre isso. Não é nada de novo. E pior, isso não é uma reunião, é só você fazendo um discurso sobre qualquer coisa, não é?

"É sempre assim."

Koizumi sussurrou para mim. Seu sorriso elegante me dava vontade de o acertar com toda a minha força. Seus lábios graciosos continuavam curvados.

"Suzumiya-san já havia decidido o que faríamos desde o começo. Isso não deixa nenhum espaço para discussão. Agora eu me pergunto, você disse algo que não devia a ela recentemente?"

Tenho quase certeza que não falei nada relacionado a filmes com ela hoje. Talvez ela tenha visto um filme C de baixo orçamento, cuja tenebrosidade a tenha deixado nesse humor miserável?

De qualquer forma, Haruhi continuou a falar animadamente, convencida de que seu discurso havia tocado cada membro da platéia.

"Tem algo que eu sempre me perguntei."

Eu sempre me perguntei o que você tinha na cabeça afinal.

"Você geralmente vê pessoas morrendo no último episódio das séries de TV e coisas assim. Isso não parece terrivelmente não-natural? Porque eles tem que morrer justo naquela hora? É estranho. Esse é o motivo que odeio qualquer coisa aonde alguém morre no final. Eu nunca faria um filme assim!"

Estamos falando de séries de TV ou de filmes aqui?

"Eu disse que faria um filme, não disse? Mesmo essas estatuas antigas em mausoléus ouvem melhor que você. Grave todas as palavras que eu disser na sua memória sem cometer erros."

Se eu vou memorizar esse seu falatório insano, seria muito mais produtivo memorizar todas as estações da linha de trem, do começo ao fim.

Asahina-san escreveu uma nota de "atuação de filme" em letras garrafais, que não pareciam em nada a escrita de um antigo membro do Clube de Caligrafia. Haruhi deu uma olhada, antes de concordar satisfeita.

"É o que temos aqui. Você me entende?"

Ela soava tão animada quando uma meteorologista anunciando o fim da estação chuvosa.

"O que você quer dizer com isso?"

Eu perguntei. Essa era a reação natural. Tudo que sabia é que faríamos um filme. Quem iria bancar com ele? Será que teríamos o patrocínio de um grande estúdio ou algo assim?

Mas Haruhi continuou com os olhos brilhando, enquanto sorria.

"Kyon, você não é muito brilhante. Nós iremos fazer um filme. E então o apresentaremos no festival cultural. Com o logotipo 'apresentado pela Brigada SOS' nos créditos."

"Quando viramos a sociedade de filmes?"

"Do que você esta falando? Nós seremos eternamente a Brigada SOS. Eu não me lembro de termos nos tornado um estúpido clube de filmes."

"Se as pessoas da sociedade de filmes ouvissem isso, elas provavelmente ficariam furiosas."

"Já foi tudo decidido. Sem mais discussão. Tentar barganhar está fora da cogitação!"

Se a líder da banca de julgamento da Brigada SOS diz, então esse veredito é definitivo. Quem diabos colocou Haruhi nessa posição de liderança? ... pensando bem, ela se colocou lá sozinha, parece-me que as pessoas barulhentas e precipitadas se tornam importantes não importa o que você faça. Conseqüentemente, bons samaritanos como Asahina-san e eu acabamos sendo abusados. Essa é apenas uma das contradições deste mundo cruel e sem coração.

Ponderei sobre o assunto profundo do que seria considerada uma sociedade ideal.

"Entendo."

Koizumi interrompeu, como se acabasse de perceber alguma coisa. Ele sorriu igualmente para Haruhi e para mim.

"Eu entendo perfeitamente."

Ei, Koizumi. Não aceite a bomba que Haruhi jogou sobre nós. Você não tem sua própria opinião sobre o caso?

Koizumi gentilmente ajeitou as pontas dos seus cabelos.

"Em outras palavras, nós iremos fazer um filme independente, juntar o publico, e o exibir. Estou certo?"

"Você está absolutamente correto!"

Haruhi continuou batendo no quadro com sua antena, com isso os ombros de Asahina-san se encolheram. Acho que ela deve ter perdido a coragem de fazer qualquer pergunta.

"Mas... Porque você decidiu fazer um filme?"

"Noite passada, eu tive problemas para dormir."

Haruhi segurou a antena em frente ao rosto, como um limpador de pára-brisa.

"Então liguei a TV, e estava passando esse filme esquisito. Eu realmente não queria assistir, mas não tinha muito que fazer, então continuei vendo da mesma maneira."

Como eu pensei.

"E era um filme horrível. Tão ruim que quis passar um trote internacional para a casa do diretor. Então eu pensei."

Ela apontou a ponta da antena para o pequeno rosto de Asahina.

"Se esse é o melhor que eles podem fazer, eu posso fazer um filme muito melhor!"

Haruhi bateu no peito, cheia de confiança.

"Então percebi que esse era o tipo de coisa que valia uma tentativa. Algum problema com isso?"

Asahina-san furiosamente balançou a cabeça, terrificada. Mesmo que ela tivesse uma reclamação, Asahina-san nunca a falaria. Koizumi é o tipo de cara que só diz sim. Nagato nunca diz nada para começo de conversa, o que significa que era inevitável que eu falasse alguma coisa.

"Eu não ligo se você quer ser a diretora ou produtora de um filme. Você pode fazer o que quiser da vida. E o resto de nós pode fazer o que desejar, certo?"

"Do que você ta falando?"

Haruhi selou os lábios como um bico de pato, eu expliquei pacientemente para ela.

"Você diz que quer fazer um filme. Nós ainda não dissemos nada sobre o fato. Se dissermos que não queremos, o que você vai fazer? Uma diretora não é o suficiente para fazer um filme."

"Não se preocupe. Eu também já fiz a maior parte do roteiro."

"Não, o que eu estou querendo dizer é que..."

"Você não tem nada do que reclamar. Apenas me siga como sempre. Não precisa se preocupar."

Eu estou preocupado.

"Deixe o planejamento comigo. Eu vou cuidar de tudo."

Agora eu estou mais preocupado ainda.

"Você realmente gosta de reclamar. Eu disse que vamos fazer, então nós vamos fazer. Nossa meta é ser o primeiro lugar na enquete sobre a melhor atração do festival! O conselho estudantil vai reconhecer a Brigada SOS como um clube - NÃO! Eu farei que eles nos reconheçam. O que significa que precisamos da opinião publica do nosso lado."

A opinião publica e o resultado de enquetes não são necessariamente co-relatados.

Eu comecei a resistir.

"E sobre os custos de produção."

"Nós temos um orçamento."

De onde? Eu não vejo o conselho estudantil dando dinheiro para essa brigada, que claramente é uma organização subversiva, e que atua na surdina.

"Temos a cota do Clube de Literatura."

"O que como o nome já diz, é a cota do Clube de Literatura. Não é para o nosso uso."

"Mas Yuki disse que estava tudo bem."

Olhei para o rosto de Nagato. Ela deliberadamente olhou para mim sem dizer uma palavra, e então voltou a ler o seu livro.

Você tem certeza que não quer que ninguém entre no Clube de Literatura? Eu não vou perguntar, mas não ficaria surpreso se Nagato tivesse impedido esse clube de ser cortado. Aparentemente, ela sabia de antemão que Haruhi apareceria. Sinto pena de alguém que quisesse, com todo o seu coração, se juntar ao Clube de Literatura. Trabalhem duro para recuperar esse clube das garras de Haruhi.

Haruhi, indiferente ao meu dialogo interior, abanava a antena com furor.

"Todo mundo entendeu? Essa é a nossa prioridade, deixem de lado qualquer coisa que suas salas estão fazendo! Se vocês têm alguma objeção, me digam antes do festival, Entenderam? As ordens da diretora são absolutas!"

Haruhi gritava, absolutamente indiferente a o que acontecia ao seu redor, como um urso polar no zoológico que recebera um cubo de gelo no meio do verão.

De líder da brigada para diretora? O que ela planeja ser no final... por favor, não me diga Deus.

"Isso é tudo por hoje! Temos que pensar no elenco e nos patrocinadores. O produtor tem muito trabalho a fazer!"

"Não tenho muita certeza do que o produtor faz, mas em todo o caso o que ela está pensando em fazer? Patrocinadores?"

Batida.

Um som fraco cruzou o ar. Virei-me para descobrir que Nagato havia fechado o seu livro. Esse som se tornara o sinal de que a Brigada SOS deveria pegar as suas coisas e ir embora por hoje.

Depois de poupar os detalhes para o dia seguinte, Haruhi disparou para fora como um gato que ouviu uma lata de ração sendo aberta. Não que eu quisesse saber algum detalhe.

"Isso não é ótimo?"

Obviamente a frase acima veio de Koizumi.

"Fico aliviado que não teremos de capturar uma besta alienígena para um show de horrores, ou derrubar um OVNI para exibir o seu interior."

Sinto como se já tivesse ouvido isso antes.

O esper sorridente, abafava o riso com a sua boca fechada.

"Alem do mais, estou interessado em descobrir que tipo de filme Suzumiya-san pretende fazer. Se bem que tenho suposições do que ela tem em mente."

Koizumi de um olhar de viés para Asahina-san, que estava guardando os copos.

"Parece que este será um festival cultural bastante divertido. E um tanto fascinante."

Eu também me virei para Asahina-san. Enquanto observava a sua tiara subindo e descendo.

"Ah. O… o que é isso?"

Asahina-san percebeu que havia dois bastardos a observando e parou o que estava fazendo, com suas bochechas enrubescidas.

Murmurei para o meu coração.

Não, não é nada. Só estou pensando em que fantasia Haruhi vai trazer da próxima vez.

Uma vez que ela estava pronta para voltar para casa - bem, isso só significava por o livro na mala - Nagato silenciosamente se levantou e andou para fora da porta. Talvez ela estivesse lendo algum livro sobre previsão do futuro. Mas como estava em alguma língua estrangeira eu não pude saber.

"Mas talvez..." - resmunguei.

Um filme... um filme, huh.

Para ser honesto estava até que interessado. Não tão interessado quanto Koizumi. Meu interesse estava ao nível do mar, não em profundezas abissais.

Suponho que ao menos posso ver o que vai acontecer.

Pois ninguém estava esperando muita coisa mesmo.


E eu já estou tendo que engolir as minhas palavras. Não deveria me incomodar em esperar por isso.

Depois da aula, no dia seguinte, eu tinha um olhar infeliz estampado no rosto.


- Apresentado pela: Brigada SOS

- Supervisora Executiva / Diretora Executiva / Direção / Cenário: Suzumiya Haruhi

- Atriz principal: Asahina Mikuru

- Ator principal: Koizumi Itsuki

- Atriz coadjuvante: Nagato Yuki

- Diretor Assistente / Cameraman / Editor / Carregador de Coisas / Empregado / Entregador / Outras Tarefas Braçais: Kyon


Uma única coisa passava pela minha mente depois de ver o que estava escrito naquele pedaço de papel.

"Então? Qual é o meu papel?"

"É exatamente o que diz ai."

Haruhi abanou sua antena como um maestro conduzindo uma orquestra.

"Você é da produção. O elenco é o que está escrito. E para falar a verdade, é um elenco perfeito, você não acha?"

"Eu sou a personagem principal?"

Asahina-san perguntou em uma voz fraca. Ela estava de uniforme, e não com a fantasia de sempre. Haruhi disse a ela que não precisava a vestir hoje. Aparentemente Haruhi planejava nos levar a algum lugar.

"Uhm, eu preferia estar em um papel menor."

Asahina apelava para Haruhi com um olhar triste em seu rosto.

"Não."

Haruhi respondeu.

"Você precisa ter mais presença, Mikuru-chan. Você é a marca registrada dessa brigada. Você deve praticar a assinatura de autógrafos. Provavelmente o publico fará muitos pedidos durante a estréia."

Estréia? Onde você pretende fazer isso?

Asahina-san falava com nervosismo.

"... mas eu não sei atuar."

"Não se preocupe com isso. Eu vou ensinar a você perfeitamente."

Nós somos as únicas três pessoas aqui. Nagato e Koizumi estão atrasados devido às reuniões de suas respectivas turmas. Eu não sei no que isso implica em ficar depois da aula. Eles poderiam escolher uma coisa ao acaso. Acho que as turmas deles são muito mais sérias em relação a isso do que eu pensei.

"Alem do mais, Yuki e Koizumi não são muito confiáveis."

Haruhi disse, antes de virar a sua indignação em minha direção.

"Eu disse a eles para priorizar isso, e mesmo assim eles se atrasam por causa das atividades da sala. Eu preciso dar um aviso mais forte para eles."

Eu acho que Nagato e Koizumi sentem-se como parte da turma. Nos três somos os estranhos por estarmos nesse lugar nessa época do ano.

Eu subitamente pensei em uma coisa.

"Asahina-san, você não deveria participar da reunião da sua turma?"

"Mmm, eu sou uso uma garçonete, eles só precisam de mim para testar as roupas. Imagino o que eles nos farão vestir. Estou esperando para saber."

Asahina-san sorriu com um vermelho pálido nas bochechas. Parece que ela se acostumou a usar fantasias. Imagino que vestir uma fantasia apropriada para a situação vença com folga fazer isso para os propósitos sem sentido da Brigada SOS. Nada estranho em ver uma garçonete em uma barraca de yakissoba. Faz mais sentido do que uma maid no Clube de Literatura.

Não sei como Haruhi conseguiu desvirtuar tanto o tópico.

"Então é isso, Mikuru-chan? Você quer ser uma garçonete? Devia ter me dito isso antes. Isso é fácil de arranjar. Vou conseguir uma roupa para você."

Acho que não tem nada a ver comigo, mas os membros de um clube que não estão vestindo uniformes, estão meio deslocados do ambiente. A fantasia de enfermeira está ai para provar. Mas tenho que admitir que a roupa de maid é a melhor delas... ou talvez isso seja apenas uma preferência pessoal?

"Bem, tudo certo então."

Haruhi se virou para mim.

"Kyon, você sabe a qual é coisa mais importante para se fazer um filme?"

Bem, então pensei em todos os filmes que foram marcantes para mim. Depois de alguma reflexão, respondi com confiança.

"Conceitos inovadores, e paixão ilimitada em sua produção, certo?"

"Não é nada tão abstrato assim."

Haruhi rejeitou o meu pensamento.

"É a câmera, obviamente. Como você pretende fazer um filme sem equipamento apropiado?"

Suponho que não estava tentando ser utilitarista... de qualquer maneira, eu não sou um poço febril de conceitos inovadores e paixão ilimitada e nem sei tanto sobre teoria cinematográfica, portanto não tenho um argumento final sobre isso tudo.

"Então está decidido."

Haruhi retraiu a antena e a jogou sobre a mesa.

"Vamos conseguir uma câmera de vídeo agora."

Ouvi o baque de uma cadeira atrás de mim. Vi que o rosto de Asahina-san havia se tornado pálido. Suponho que isso era de se esperar. O computador que estava no nosso clube fora roubado do Clube de Informática devido à coação que Haruhi exerceu sobre eles. E durante aquele incidente, Asahina-san fora o sacrifício.

As pontas dos cabelos castanhos de Asahina tremularam, seus lábios nervosos, como uma concha rosa se abriram devagar.

"U-u-u-umh, Su-Suzumiya-san. Certo. Me lembrei que tinha uma coisa para fazer na minha sala agora."

"Cale a boca."

O olhar terrível de Haruhi pousou sobre Asahina, que naquele momento já estava abandonando a cadeira, ela deu um gemido baixo antes de voltar a se sentar.

"Não se preocupe."

Não há um único precedente de você dizendo para não nos preocupar, com motivos reais para que não precisemos nos preocupar.

"Dessa vez não oferecerei o corpo de Mikuru-chan como oferenda, só preciso da ajuda dela dessa vez."

Asahina me olhou com os olhos tristes, como um bezerro sendo mandado para o matadouro. Sem gritar, eu disse para Haruhi.

"Pelo menos nos diga no que você quer ajuda! Ou eu e Asahina-san não sairemos daqui."

No rosto de Haruhi poderia ser lido algo como "O que há com esses dois hoje?".

"Se vamos achar patrocinadores, é mais fácil deixar uma boa impressão se levarmos a atriz principal junto, certo? Você também vem! Você vai ter que carregar o equipamento."




Capítulo 2[edit]

Capítulo 2


Já é outono, ainda que, por alguma razão, o tempo não esteja nem um pouco frio. É como se o planeta estivesse com suas estações todas erradas, e houvesse esquecido de trazer o outono para o Japão. O calor do verão agora está indefinidamente estendido, e, a menos que alguém venha e lhe acerte um home run, é improvável que isso acabe logo. Mesmo se acabar, há a sensação de que o outono já terá sido jogado pro lado pelo inverno quando isso acontecer.

"Talvez já estejamos atrasados", Haruhi disse, então arrumamos as mochilas e deixamos a escola. Haruhi descendo apressadamente a longa ladeira. Para onde ela está indo? Eu compreenderia se estivéssemos indo para o Clube de Ciências da Computação já que, no fim das contas, somos um clube misterioso que existe há seis meses sem ninguém mesmo saber qual é o preceito básico. Sermos expulsos seria o fim lógico para nós.

Descemos a ladeira e tomamos a linha de trem local. Três paradas depois, chegamos ao lugar com o caminho de flores de cerejeira pelo qual eu e Asahina-san andamos uma vez. Esse local tem um supermercado e uma rua cheia de lojas, e, por causa do número delas, é um ponto lotado e cheio de movimento.

"Aqui."

Haruhi finalmente parou e apontou para uma loja de equipamentos eletrônicos.

"Entendo", respondi.

Ela provavelmente vai chantagear a loja para conseguir o equipamento do filme.

Me pergunto como ela vai fazer isso.

"Vocês dois esperem aqui, enquanto vou lá dentro e negocio."

Haruhi jogou sua maleta em mim e entrou na loja coberta de espelhos, sem hesitação.

Asahina-se se escondeu atrás de mim, constamente dando umas olhadas na loja, que estava iluminada por todos aparelhos de iluminação. Ela era como uma tímida garota do primário visitando a casa de uma amiga pela primeira vez. Enquanto eu olho para as costas de Haruhi, gesticulando com as mãos e falando com o que parece ser o gerente da loja, meu desejo de proteger Asahina-san fica forte. Se Haruhi tentar fazer qualquer coisa estranha, vou levar Asahina-san debaixo dos braços e fugir imediatamente.

Do outro lado da vitrine, Haruhi falava e apontava seu dedo primeiro para o equipamento, depois para ela mesma, e então para o gerente. Entretanto, o gerente concordava com a cabeça sem parar. Me pergunto se devia alertá-lo para não acreditar nela tão facilmente.

Depois de um tempo, Haruhi se virou e apontou o dedo para nós, que já estávamos preparados para escapar se algo desse errado. Ela então deu um sorriso caloroso, agitou seus braços e continuou sua explicação.

"O que ela está fazendo...?", Asahina-san perguntou, enquanto ficava atrás de mim, colocando sua cabeça para fora para espiar, e voltando para trás. Se até Asahina-san, a viajante do tempo que veio do futuro, não sabe a resposta, então não há chances de eu saber.

"Quem sabe? Provavelmente exigindo que eles deem a ela a melhor câmera digital de graça."

Ela é o tipo de pessoa que pode fazer isso sem nem mesmo hesitar. Já que ela realmente acredita ser o centro do universo, com tudo girando ao seu redor.

"Que chateação."

Lembro de discutir algo similar com Nagato.

Haruhi acredita que seus valores e julgamento são absolutos. Ela não entende o que os outros pensam, ou se dá conta de que que talvez eles pensem de modo diferente, ou, mais provável, nunca lhe ocorreu que sua maneira de pensar que pode ser completamente diferente da dos outros desde o começo.

Se as pessoas querem realizar uma viagem do tempo, simplesmente coloquem Haruhi numa nave espacial. Visto que ela provavelmente não dá a mínima para a teoria da relatividade, de qualquer forma.

Quando eu disse isso a Nagato, tudo que a silenciosa alienígena respondeu foi, "Sua opinião pode estar correta."

Para Nagato, isso é muito significativo. Para os outros, Haruhi Suzumiya é uma piada.

"Ah, parece que acabou."

O sussuro de Asahina-san me trouxe de meus devaneios para a realidade.

Haruhi saiu da loja de eletrônicos com um olhar satisfeito, segurando uma pequena caixa em seus braços. Havia uma imagem do produto de um lado da caixa, com o nome da marca. Se não estou enganado, era uma câmera.


Que tipo de ameaças ela fez?

Será que ela ameaçou queimar o lugar? Ou talvez iniciar uma campanha de boicote? Ou, quem sabe, mandar vários fax de pegadinha a noite toda? Fazer um escândalo no meio da loja? Explodir o lugar com uma bomba presa ao corpo?

"Não seja ridículo! Eu não sou o tipo de pessoa que recorre à chantagem!"

Haruhi andava alegremente sob o teto de livro do distrito comercial.

"Concluímos o primeiro passo! Isso é muito fácil!"

Eu era forçado a carregar a caixa com a câmera de vídeo, enquanto seguia Haruhi. Observava seu cabelo balançando pelas costas e perguntei, "Como você conseguiu uma coisa cara dessas de graça? É porque você descobriu alguns podres do gerente?"

Realmente, a primeira coisa que ela disse depois de sair da loja foi "Conseguimos!". Se o gerente estava tão ansioso para dar coisas, estou igualmente ansioso para entrar na fila. Então, por favor, me conte as palavras mágicas que você usou!

Haruhi se virou e sorriu, "Não foi nada, sério! Eu disse que queria fazer um filme e que precisava de uma câmera, e ele disse 'Certo'. Nenhum problema."

"Pare de se preocupar com coisas insignificantes. Você só precisa alegremente ser meu servo, e tudo ficará bem!"

Infelizmente, sinto como se tivesse embarcado em um barco com a palavra 'Titanic' escrita em sua carcaça. Eu queria mandar um SOS para qualquer lugar, mas me arrependo em dizer que não sei código Morse. Primeiramente, eu não tenho o temperamento desprendido para ser servo de ninguém.

Eu andava atrás dela, forçado a carregar a caixa com a câmera de vídeo.

"Venham, vamos logo para a próxima loja!"

Haruhi caminhou energicamente, com seus braços balançando contra a multidão de pedestres. Troquei um olhar com Asahina-san antes de correr atrás de Haruhi, que desaparecia ao longe, em uma velocidade que você só esperaria do participante de uma maratona.


O lugar que Haruhi visitou em seguida era uma loja de modelos.

Asahina-san e eu novamente ficamos para fora enquanto ela engajava-se nas negociações. Comecei a entender, quando Haruhi apontava para nos pelo vidro, ela na verdade apontava para Asahina-san. Parece-me que ela queria que Asahina fizesse algo como pagamento pelos serviços. A própria Asahina-san, sem ciência deste fato, olhava curiosa para um diorama na vitrine. Eu deveria dizer isso a ela?

Após alguns minutos de espera, Haruhi emergiu novamente da loja, carregando uma caixa compacta. O que seria dessa vez?

"Uma arma."

Haruhi respondera enquanto empurrava a caixa para mim. Sob uma observação mais detalhada, vi que a caixa continha um modelo feito de plástico, que parecia ser algum tipo de pistola. O que ela iria fazer com isso?

"Se vamos usar nas cenas de ação, precisamos de algumas cenas com tiros. Um tiroteio vistoso é o básico do entretenimento. Gostaria de explodir algumas coisas também. Você sabe aonde se vende dinamite? Imagino se as lojas de departamento vendem."

Como eu iria saber? Eu posso dizer ao menos que você não vai achar em lojas de conveniência ou comprando online. Você pode achar alguma no chão se você for a alguma pedreira - essa era a última coisa que eu iria dizer, mas me vi forçado a engolir essas palavras. Pensando como seria, não duvido que ela sairia no meio da noite roubar TNT, pólvora e pavios.

Coloquei as caixas com a câmera e a arma de brinquedo no chão, e me virei para Haruhi.

"Então, o que faremos com essas coisas?"

"Leve para sua casa por hoje. Então traga para o clube amanhã. Seria um saco voltar para a escola agora."

"Eu?"

"Você"

Haruhi cruzou os braços com um olhar de contentamento no rosto. Uma visão rara na sala de aula. Era o seu sorriso apenas para a Brigada SOS. Toda vez que ela sorria assim, eu acabava tendo que correr por ai para limpar a área após cada desastre. O que eu era para ela?

"Uhm..."

Asahina-san levantou a mão timidamente.

"O que eu deveria fazer...?"

"Tudo certo com você, Mikuru-chan. Pode ir embora agora, já terminamos por hoje."

Asahina-san piscou os olhos rapidamente, como um guaxinim possuído pelo espírito de uma raposa. Pois a única coisa que ela fizera hoje foi seguir Haruhi nervosamente se escondendo atrás de mim. Ela não tinha idéia de porque Haruhi a forçara a vir. Entretanto, eu já havia entendido o motivo.

Haruhi aparentava ter energia sobrando, o suficiente para fazer mais uma rodada de exercícios pesados, ela nos levou até a estação mais próxima. Parece que isso resume as atividades diárias de Haruhi. Suas habilidades de negociação e seus meios não ortodoxos nos deram uma câmera e uma arma de brinquedo, sem nenhum pagamento envolvido. Ou seja, elas foram de graça.

As pessoas dizem que não existe nada mais assustador do que ganhar algo de graça. O problema é que Haruhi não parecia nem remotamente assustada. Na verdade, se alguém descobrir alguma maneira de assustá-la, me avisem.


No dia seguinte, alem da mala, tive que carregar algum peso extra enquanto subia a ladeira.

"Yo, Kyon. O que você ta carregando ai? Um presente para alguma criança que foi boazinha esse ano?"

Esse foi Taniguchi, que corria ao meu lado. Um idiota de mente simples que era quase um organismo unicelular. Sem dúvida um estudante comum que você poderia encontrar em qualquer lugar. Comum. Que mundo maravilhoso era aquele. Ser normal nessa situação é uma comodidade rara, pois essa palavra nos ata novamente ao mundo real.

Hesitei um momento antes de jogar os dois pacotes plásticos nos braços de Taniguchi.

"O que é isso? Um modelo de arma? Não sabia que você tinha um hobby oculto desses."

"Não é minha, é da Haruhi."

Suponho que deveria dizer que você não deve se apressar tanto em rotular uma coisa dessas como um "hobby oculto".

"Eu não consigo imaginar Suzumiya desmontando e limpando uma Glock [1] sozinha."

1-[Nota do tradutor: Glock é uma empresa austríaca fabricante de armas e materiais de cutelaria. É preferida por policiais e terroristas em grande parte pelo marketing e grande aceitação entre forças paramilitares e policiais no mundo].

Nem eu. Isso significa que no final alguém vai ter de montar e desmontar essa coisa. Devo mencionar que quando eu era criança, tentei montar certo mobile suit e no final acabei desistindo pois não consegui juntar o ombro direito.

"Deve ter sido difícil para você."

Pelo seu tom de voz, Taniguchi não parecia achar nem um pouco que era difícil para mim.

"Se procurarmos em todas as eras e lugares, a única pessoa capaz de cuidar da Suzumiya será você, eu posso garantir. Então me faça um favor e saia com ela."

Que diabos ele estava falando? Eu não tenho a intenção de me comprometer com Haruhi de maneira nenhuma. Se houvesse alguém com quem eu queria sair seria Asahina-san. Será que todos concordam?

Taniguchi gargalhou como um demônio.

"É, mas acho que não vai dar. Ela é o anjo da escola, o descanso para os corações cansados dos estudantes. A não ser que você queira que metade da escola queira enfiar você dentro de um saco, não faça nada de errado. Você não vai querer que eu perca a cabeça e o apunhale pelas costas, certo?"

Então vamos para próxima escolha: Nagato.

"Também está fora de cogitação. Ela tem mais admiradores do que você pode imaginar. Porque ela parou de usar óculos? Ela trocou para lentes de contato?"

"Hmm... porque você não pergunta para ela?"

"Pelo que eu ouvi, ela ignora todos que tentam falar com ela. Aparentemente, a sala de Nagato acredita que se ela falar alguma coisa, algo de bom ou ruim acontecerá naquele dia."

Não trate Nagato como uma flor de bambu. Esse tipo de previsão morreu há muito tempo atrás. É verdade que ela não é completamente normal, mas ela ainda tem suas qualidades comuns - pelo menos é o que eu acho.

"Em outras palavras, você é Suzumiya foram feitos um para o outro. Você é o único capaz de falar com ela, e essa é a melhor maneira de manter suas vitimas em um nível mínimo. Então cuide bem dela. O que me lembra; o festival cultural está chegando. O que vocês vão fazer dessa vez?"

"Não me pergunte."

Eu não sou o secretário de relações publicas da Brigada SOS. Mas Taniguchi continuou calmamente.

"Se eu for perguntar isso para Suzumiya, ela só vai falar coisas estranhas e sem sentido. E tenho medo dela bater em mim se eu falar no momento errado. Se perguntar para Nagato Yuki, aposto que ela não vai me dar resposta alguma. E é muito difícil de se aproximar de Asahina Mikuru. Falar com outros caras me irrita por algum motivo. Então eu estou perguntando para você."

Esse bastardo usa uma lógica completamente distorcida. Isso me faz parecer algum tipo de cara bonzinho?

"E você não é? Pelo que eu sei você é o tipo de cara bonzinho que é capaz de continuar andando ao lado dela, mesmo sabendo que há um penhasco bem a sua frente."

O portão de entrada já poderia ser visto. Eu peguei o saco plástico das mãos de Taniguchi, com um olhar desencorajado no rosto.

Eu não sei aonde os trilhos de Haruhi vão nos levar, mas penso que definitivamente não devo esperar algo de bom. Haruhi e eu somos os únicos nesse caminho. Os outros três não tem motivos para estar nessa viagem. Dois deles podem se cuidar sozinhos, mas Asahina-san não tem essa capacidade. Ela é tão ruim em prever o que vai acontecer, que qualquer um duvidaria que ela é uma pessoa vinda do futuro. Bem, acho que não há nada de errado com isso.

"É por isso que eu disse; alguém tem que protegê-la."

É, falando assim eu até pareço o personagem principal. A única coisa que posso fazer por ela é impedir o constante assédio sexual de Haruhi.

Continuei calmamente.

"Como tenho essa chance, eu vou continuar a protegendo. Não importa o que os outros homens da escola pensem. Eles podem formar sua própria aliança de cavalheiros se quiserem."

Taniguchi riu novamente como um demônio velho e matreiro.

"Não os subestime. Há pelo menos uma lua nova a cada mês."

Após falar algo que parecia uma notícia de um exorcista, ele se arrastou para dentro do portão principal.


Eu estava andando pelo corredor, em frente à sala com a minha bagagem, quando cruzei com Haruhi, que colocava as coisas em seu armário.

Eu também coloquei as caixas com coisas eletrônicas e modelos plásticos no armário com o meu número de chamada.

"Kyon, nós estaremos ocupados hoje."

Sem nem dizer bom dia, Haruhi bateu a porta do armário, e se virou para mim, com um sorriso como o verão indiano.

"O mesmo vale para Mikuru-chan, Yuki, e Koizumi-kun. Eu não aceitarei nenhuma reclamação. O roteiro do filme está borbulhando em minha mente, prestes a explodir. Tudo que temos a fazer é coloca-lo em pratica."

"Entendo."

Respondi indolentemente e entrei na sala. Minha mesa era a segunda da última fila. Mudamos de lugar diversas vezes durante o semestre, mas ainda não consegui um lugar no fim da fila. Isso é porque Haruhi sempre acabava sentando atrás de mim. Chegou ao ponto em que todos percebiam a falta de naturalidade do fato, era estranho demais para ser uma coincidência, mas ainda acreditava que era tudo um grande acaso.

Se eu não tivesse fé na coincidência, a coincidência perderia a fé em si mesma. Eu sou uma pessoa com uma boa dose de consideração. Acredito que todos que tenham paciência para andar por ai com Haruhi sejam também. Como um centroavante defensivo que tem que correr atrás das bolas que jogam por ai. No caso Haruhi seria um atacante super ofensivo, que quer derrubar qualquer um que toque na bola. Ela deve estar até mesmo atrás do goleiro adversário. Passar a bola para ela só vai resultar nos zagueiros levantando a bandeira, pois Haruhi acaba de cometer um impedimento.

De fato, ela iria dizer seriamente que a regra não faz sentido. Ela até mesmo argumentaria que um gol é um gol, não importando o jeito que foi feito. A sugestão de que ela abandonasse o esporte seria completamente ignorada.

A melhor maneira de se lidar com uma pessoa impulsiva em fúria, é casualmente abandonar o local como se você não tivesse visto ou ouvido o nada do que ela disse. As outras pessoas da escola já começaram a fazer isso.

Talvez seja esse o motivo que, depois do desaparecimento repentino de Haruhi no final do sexto período, nem o professor Okabe e nem ninguém ousou dizer nada sobre o fato da cadeira atrás da minha estar vazia. Ou eles nem perceberam? Ou será que só fingiram não perceber? Não que eu pudesse fazer algo sobre isso. Bem, todo mundo sabe que é melhor deixá-la sozinha.

Rumei para o clube com uma sensação desagradável em meu estomago, então parei próximo a sala junto com as sacolas contendo as infames caixas.

Eu podia ouvir algo. Era a voz da indefesa Asahina-san em prantos. E a implacável voz de Haruhi gritando. Sim, ela estava fazendo aquilo de novo.

Se abrisse a porta agora, seria presenteado com a visão do paraíso, mas sendo um homem possuidor de bom senso, estoicamente resisti as minhas fantasias e esperei com paciência.

Depois de cinco minutos, o caos lá dentro chegara ao fim. Tenho certeza que encontraria Haruhi com as mãos na cintura e um olhar triunfante no rosto. Baseado no fato que um coelho nunca pode vencer uma anaconda, suponho também que nunca verei Asahina-san vencendo.

Minhas batidas na porta foram respondidas com um...

"Pode entrar!"

... essa foi a resposta de Haruhi, gritada em alto e bom som. Enquanto eu imaginava o conteúdo das sacolas que vira hoje pela manhã, eu abri a porta e entrei. A primeira coisa que vi, de fato, foi o rosto triunfante de Haruhi. De qualquer forma, já estou cansando de ver isso. Virei a minha atenção na pessoa sentada na cadeira de metal, em frente a Haruhi e seu fervente ardor.

Uma garçonete sentada ali, me olhava com os olhos em lágrimas.

" ... "

A garçonete, com seu cabelo desnivelado, estava silênciosa como Nagato. Sua cabeça estava baixa. Haruhi amarrou seus cabelos em dois rabos, que balançavam sobre suas costas. Estranhamente, Nagato não estava lá.

"E então?"

Haruhi me perguntou com um sorriso malicioso de satisfação. Por que você dá a impressão que tem responsabilidade sobre isso? A amabilidade de Asahina-san vem dela mesma, mas…

Eu acho que ela ficou ótima nesta fantasia. Mas o que será que Asahina pensa sobre isso? Não que eu tenha nenhuma objeção, mas a saia não é um pouco curta demais?

Asahina-san era uma tão perfeita como maid quanto um suco de frutas 100% puro. Seus punhos fechados repousavam sobre os joelhos.

Você está peculiarmente perfeita! É como essa roupa tivesse sido feita apenas para você. E esse é o motivo de eu ter gastado uns bons trinta segundos olhando para Asahina-san em silêncio, antes de levar um tapinha no ombro.

"Bem, olá. Estou terrivelmente arrependido por ontem. Nós deveríamos fazer um ensaio do roteiro hoje, mas eu preciso fazer as minhas coisas antes. E então me encontrei correndo infinitamente em círculos."

O rosto rosado e bonito de Koizumi, me observava sobre os ombros.

"Oh?"

Ele sorriu alegremente.

"O que temos aqui?"

Koizumi passou ao meu lado e deixou sua mala na mesa, antes de sentar em uma das cadeiras.

"Fica esplêndido em você."

Ele falou por si só. Todos nós já sabíamos disso. Só não sabíamos o motivo de termos uma garçonete nessa sala suja que não é nem um café e nem um restaurante de família.

"Kyon," - Haruhi disse - "é porque Mikuru-chan vai usar essa roupa no filme."

A roupa de maid não serve?

"O trabalho de uma maid é ir na casa de alguém rico e fornecer serviço pessoal. Uma garçonete é diferente. O seu objetivo é provir trabalhos diversos para um número não específico de clientes por 730 yen [2] a hora."

2-[Nota do tradutor: aproximadamente R$ 11.40].

Não tenho certeza se esse é um bom pagamento ou não, mas não é como se Asahina-san se vestisse para ir a casa de uma pessoa rica, ou a um trabalho de meio período. Talvez Haruhi tenha a pago de verdade.

"Não se importe com essas coisas pequenas! É tudo sobre os sentimentos. E eu gosto do sentimento que isso passa."

Quem se importa com você? Como Asahina-san se sente sobre isso?

"Su-su-suzumiya-san... parece um pouco pequeno para mim..."

Asahina-san estava bastante preocupada. Ela estava incessantemente abaixando a minissaia. Mas seus movimentos rápidos eram bastante reveladores. Você percebe que meus olhos não conseguem desviar dali, certo?

"Fica perfeito em você."

Forcei a minha visão a se afastar, e se focar no sorriso de Haruhi, que era como uma flor colorida brotando na selva. Haruhi olhou virou os seus olhos, olhando diretamente para mim.

"O conceito para o nosso fime..."

Ela apontou para Asahina-san, curvada em uma posição fetal.

"... é esse!"

Esse? Vamos fazer um documentário sobre a vida diária de uma garota trabalhando em um café?

"Não, não há nada de divertido em se filmar vídeos secretos da vida cotidiana de Mikuru-chan. A única maneira de conseguir uma história interessante filmando a vida diária de uma pessoa é quando esse alguém tem uma vida extremamente excêntrica. Filmar o dia-a-dia de uma estudante comum só vai satisfazer o seu próprio ego."

Falhei em ver como Asahina-san iria ficar satisfeita em fazer esses vídeos. Para falar a verdade, acho que esse filme é uma maneira de satisfazer o ego de outra pessoa. Alêm do mais, a vida cotidiana de Asahina-san poderia ser considerada bastante excêntrica, mas prefiro manter a boca fechada sobre isso.

"Como a diretora encarregada de representar a Brigada SOS, decidi criar um entretenimento de qualidade, espere e verá. Cada membro da audiência irá se levantar e aplaudir!"

Com um olhar atento, percebi que a faixa de Haruhi foi mudada de "chefe" para "diretora" em algum momento. Ela certamente estava preparada.

Olhei para a diretora ficando excitada consigo mesma, a atriz principal ficando deprimida e o ator principal parado sorrindo enigmaticamente como um mero transeunte. Estava imaginando o que estava acontecendo quando a porta de abriu sem nenhum ruído.

" ... "

Pensei em quem apareceria agora. Achei que a figura que ali aparecera veio para me extirpar da minha curta vida. Até me fez imaginar se não tinha entrado na sala de música aonde encenavam a cena em que Salieri destruía Mozart lentamente, enquanto ele compunha o seu réquiem.

" ... "

Assim ela nos mostrou sua citação habitual, Yuki Nagato entrou na sala com um rosto ainda mais pálido do que de costume. Apenas seu rosto era visível. Todo o resto estava coberto de preto.

Não era o único sem palavras. Haruhi e Asahina-san estavam no mesmo estado, até o sorriso de Koizumi apresentava um ar de surpresa. Nagato estava coberta com uma roupa estranha, que poderia até mesmo ser incomoda para Asahina-san.

Seu corpo estava envolto em um manto negro como a noite. E sua cabeça estava cobera por um chapéu pontudo da mesma cor. Ela praticamente estava igual a uma caçadora de vampiros.

Então observamos Nagato, que estava parecendo com o ceifador, silênciosamente ir em direção a sua cadeira, pegar um livro de capa dura de baixo de seu manto e o colocar sobre a mesa.

Ignorando completamente o nosso choque ela começou a ler o livro com indiferença.


Aparentemente, era a fantasia de sua sala para a barraca de previsão da sorte.

Isso é o que eu consegui tirar das respostas curtas de Nagato para Haruhi, que foi a primeira a se recuperar do choque. Para Nagato andar por ai com uma roupa tão macabra, sua classe deveria ter um estilista realmente talentoso.

Em todo o caso, andando pela sala com essa túnica monástica, seria a maneira de Nagato de competir com Asahina-san? Isso fazia a lógica de Haruhi parecer simples.

Um silêncio incomodo pairou sobre a sala. Apenas Haruhi pareceu feliz com aquilo.

"Yuki, você entendeu! É isso!"

Nagato lentamente olhou para Haruhi antes de voltar a olhar para o seu livro.

"Essa fantasia é perfeita para o papel que eu estava na minha cabeça! Deixe que as pessoas que colocaram isso em você saibam disso. Eu quero escrever uma mensagem de agradecimento para elas."

Sério. Se alguém receber uma mensagem de parabéns de Haruhi, essa pessoa vai começar a suspeitar de alguma coisa terrível contra ela, e acabaria tendo medo da própria sombra. Você precisa ter uma visão objetiva sobre como as pessoas vêem você.

Haruhi parecia estar nas alturas enquanto cantarolava a marcha turca [3] e abria a mala para pegar um maço de fotocópias. Ela rapidamente os repassou, como Kintarou [4] derrubando um urso negro.

3-[Nota do tradutor: do original turkey march... uma obra clássica de Mozart].

4-[Nota do tradutor: um herói do folclore japonês, conhecido no ocidente como Golden Boy].

Não tendo outra escolha, tornei para ver o pedaço de papel.

A seguinte passagem estava rabiscada pela folha.



  "Garçonete de Combate: A Aventura de Asahina Mikuru-chan (tentativa)"

  (estrelas) Dramatis Personae
  • Asahina Mikuru... Garçonete de Combate do Futuro.
  • Koizumi Itsuki... Garoto esper.
  • Nagato Yuki... Alienígena do mal.
  • Extras... transeuntes.

... espera, o que? É, bem...

Seu nível de intuição superou a incredulidade. Ou ela acertou no alvo sem nem ao menos tentar? Imagino se ela estava fingindo ignorância o tempo todo. Ou os seus sentidos aguçados só funcionam em intervalos estranhos?

Eu parei pasmo, sendo trazido de volta a realidade pelo som de risos ao meu lado. A única pessoa que daria esse tipo de risada seria Koizumi.

"Bem, isso é um tanto..."

Tenho inveja de como você consegue aproveitar a situação.

"Como posso dizer? Bem, não é como todos poderíamos esperar? De qualquer forma, o elenco parece bastante apropriado para Suzumiya-san. É maravilhoso."

Não sorria para mim. Isso me dá arrepios.

Asahina-san lia a folha de A4, que segurava com seus punhos fechados, tremendo violentamente.

"O que..."

Um gemido suave escapou por sua boca. Ela se virou para meus olhos buscando a salvação. Exceto sob um olhar atento, seus olhos pareciam muito tristes, até mesmo reprovadores. Como uma gentil irmã mais velha brigando com uma criança cujas brincadeiras foram longe demais... oh, agora eu me lembrei. Isso me lembra do incidente de seis meses atrás, quando eu revelei as identidades verdadeiras deles a Haruhi.

Gah. Droga será que isso tudo foi culpa minha?

Me virei freneticamente para Nagato, a interface humanóide com propósito de contato humano, fechada em seu manto e chapéu negro.

" ... "

Ela estava lendo seu livro em silêncio.


"Não vejo nenhum problema nessa conseqüência."

Koizumi dissertou de maneira otimista. Falhei em enxergar o humor nesta situação.

"Enquanto as circunstâncias permitirem o bom humor, não há motivo para o pessimismo."

"Como você sabe?"

"Pela simples razão que estamos meramente encenando um filme. Suzumiya-san não acredita realmente que eu seja um esper. Eu só interpreto o papel de um garoto esper chamado Koizumi Itsuki, dentro do contexto ficcional do filme."

Koizumi parecia estar falando como um professor se dirigindo a um pupilo com uma memória extremamente ruim.

"Você pode dizer que Koizumi Itsuki existe na realidade, sendo assim eu mesmo, e esse Itsuki-kun em particular é uma pessoa inteiramente diferente. Ninguém irá confundir um personagem com o ator em um filme, certo? E mesmo que alguém não faça distinção entre os dois, essa pessoa não será necessariamente Suzumiya-san."

"Isso não é muito animador. Não existe nenhuma garantia de que o que você está dizendo seja verdade."

"Se ela não soubesse diferenciar a ficção e a realidade, esse mundo teria se tornado algo fantasioso há muito tempo. Como mencionei anteriormente, Suzumiya-san anda é uma pessoa com pensamentos racionais."

Eu sei disso. Mas como a racionalidade de Haruhi opera sempre de maneira meio fantasiosa, eu tenho sido arrastado para muitos incidentes bizarros. E Haruhi, a chave para todos esses fatos, ainda não percebeu o que está acontecendo ao seu redor.

"Não devemos deixar que ela descubra nenhuma evidência do que está acontecendo."

Koizumi disse calmamente.

"Em algum momento, haverá a necessidade que revelemos a verdade. Mas por hora, felizmente a facção de Nagato e de Asahina-san compartilham a mesma opinião, portanto preferimos que a situação atual se mantenha inalterada."

Que assim seja. Eu não quero que o mundo se torne uma imensa bagunça. Não antes de eu zerar aquele jogo que sai semana que vem, se não eu me arrependerei amargamente.

Koizumi continuava sorrindo.

"Você deveria se preocupar menos com o mundo, e mais com a sua própria segurança. Nagato e eu podemos ser substituídos facilmente, mas você não pode gozar deste mesmo beneficio."

Eu não podia deixar esses sentimentos de frustração me afetarem, e me concentrei em carregar a arma de brinquedo em minhas mãos.


Haruhi nos dispensou após entregar Asahina-san a sua fantasia e anunciar o elenco. Aparentemente ela queria que Asahina-san colocasse a roupa de garçonete para que ela pudesse fazer uma coletiva de imprensa para o filme vindouro, mas como Asahina já estava a beira das lágrimas, fiz Haruhi desistir da idéia. Não era como se a nossa escola possuísse um clube de jornalismo, notícias ou de propaganda. Uma vez que coloquei isso em pauta, os lábios de Haruhi, se fecharam como o bico de um pássaro.

"Acho que você está certo."

Surpreendentemente, ela concordou.

"É melhor que deixemos os detalhes embaixo dos panos até o último segundo. Kyon, isso é muito astuto vindo de você. Seria bem ruim se as coisas vazassem antes da hora."

Essa idéia não está no nível de um filme de Hollywood, ou até mesmo de um filme de Hong Kong. Quem iria querer roubar uma história vinda de você?

"Então Kyon, deixe a arma pronta para usarmos durante o dia. As filmagens começam amanhã. Você também precisa aprender a mexer na câmera. Ah, certo. Você precisa também saber como passar o vídeo para o computador e assim que ele estiver lá, como editar, então pirateie os programas necessários. E também…"

Uma vez que Haruhi já despejara centenas de tarefas em mim, ela deixou a sala, cantarolando o tema de "The Great Escape [5]".

5-[Nota do tradutor: escrito por James Clavell, é um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, baseada em uma história verídica sobre aliados de guerra em fuga de um campo de prisioneiros alemão].

Não importa se ela está de bom ou mau humor, ela sempre está causando problemas para as outras pessoas. Francamente...

Então, esse é o motivo para que eu esteja face a face com outro cara, o Koizumi, lutando para fazer a arma de brinquedo disparar a munição, como diz o manual.

Uma vez que Asahina-san terminou de se vestir, ela foi embora com seus ombros caídos. Nagato ainda estava vestida como uma convidada para um Sabá, e foi embora para algum lugar sem levar a sua mala. Suponho que Nagato só tenha vindo até a brigada para mostrar a sua fantasia. Baseado nos registros anteriores, esse ato tem muito significado. Ou talvez ela só quisesse dar as caras por aqui. Agora ela devia estar fazendo algo na sala, como treinar previsão do futuro com bolas de cristal ou algo assim.


Tenho a impressão que o nível de comoção na escola aumentou significativamente durante esses dias. A cada vez que eu ouvia a camerata marcial praticando depois da aula, seus trompetes baratos cometiam menos erros. Havia pessoas cortando tabuas pelos cantos da escola. E um número crescente de pessoas fantasiadas com roupas estranhas começou a aparecer.

Mas, ainda assim era apenas um festival comum em uma escola municipal. Eu esperava um festival cultural sem nada de extremo ou fora do comum. Pelo que eu vi, talvez metade de corpo estudantil ainda não havia desistido de fazer alguma coisa divertida. Incidentalmente, nossa sala, a 1-5, já havia desistido de se divertir há tempos. Aqueles que não faziam parte de nenhum clube cultural provavelmente ficariam realmente entediados durante aquele dia. E aqui temos duas pessoas que poderiam facilmente representar o clube "direto para casa depois da aula", Taniguchi e Kunikida.

"Falando em festivais culturais."

Taniguchi disse.

É hora do almoço. Esses dois personagens coadjuvantes insignificantes e eu estamos cercados pelos nossos lanches.

"Falando em festivais culturais?"

Kunikida replicou. Taniguchi exibia um sorriso cínico perturbador no rosto, que não tinha nenhuma chance contra o sorriso refinado de Koizumi.

"Um super evento."

Não fale como Haruhi. O sorriso de Taniguchi foi subitamente arrancado de seu rosto.

"Mas não tenho nada com isso. Na verdade isso me irrita."

"Por que?" - Kunikida perguntou.

"A visão de pessoas se divertido realmente me irrita. Especialmente se for um casal, o que me trás desejos homicidas. O que? Algum problema com isso?"

Acho que isso é o que podemos chamar de fúria cega.

"E o que tem com a nossa sala? Uma pesquisa? Há! Cha-to. Provavelmente envolve coisas como perguntar para as pessoas qual é a sua cor favorita, certo? Qual é a diversão em adquirir informações desse tipo?"

Porque você não mencionou a sua brilhante idéia? Talvez prevenisse Haruhi de mencionar toda aquela coisa sobre filmes.

Taniguichi engoliu uma salsicha com uma só mordida.

"Nunca digo nada que vai de dar mais trabalho. Bem, eu podia dizer alguma coisa, mas não queria ser responsável por toda a bagunça."

Kunikida concordou, enquanto cortava um pedaço do seu omelete enrrolado.

"As únicas pessoas que levantam as mãos e abrem a boca nesse tipo de situação são as que são facilmente influenciadas, ou que guardam algum senso de responsabilidade. Se ao menos Asakura ainda estivesse aqui."

Ele citou o nome da antiga colega que se mudara para o Canadá. Meu coração aumentava a pulsação e eu suava frio cada vez que ouvia o seu nome. Nagato podia ter apagado Asakura, mas eu fui a razão para que isso acontecesse. É claro que se Nagato não tivesse feito nada, seria eu que teria sido apagado, então não há motivos para me sentir mal com isso.

"É, isso foi uma grande perda." - Taniguchi disse - " Minha AA+ foi transferida… não tenho sorte mesmo. Ela era a única coisa boa nessa sala. Droga, imagino se eles vão me deixar trocar de sala nessa época."

"E em que sala você queria ficar?" - Kunikida perguntou - "A sala da Nagato-san? Falando nisso, e u vi ela andando por ai ontem com uma roupa de mago. O que era aquilo?"

Não me pergunte. Tenha certeza de que eu não sei.

"Nagato, huh..."

"Eu pergunto novamente, o que foi aquilo? Você e ela abraçados na sala… foi algo arquitetado provavelmente pela Suzumiya. Certamente foi alguma farsa feita para me surpreender, certo? Mas acredite, você não pode me enganar."

Fiquei aliviado ao saber que ele arbitrariamente não entendeu a situação... espere, você não foi para a sala pegar algo que tinha esquecido? Como poderíamos saber que você apareceria – mas naturalmente, não vou manifestar essa opinião. Taniguchi é um idiota, e dizer a um idiota que ele é um idiota não tem nenhum propósito. È uma coisa boa ele ser um idiota, eu deveria estar agradecido.

"De qualquer forma, isso é chato."

Taniguchi se lamentou enquanto Kunikida se concentrou em sua comida. Eu olhei para trás. Haruhi não estava em sua mesa. Bem, imagino o que ela está tramando neste momento.


"Estava procurando um bom lugar para filmar ao redor da escola."

Haruhi me disse.

"Mas não consegui encontrar nenhum. Suponho que não conseguiremos filmar com todo esse marasmo. Vamos embora daqui."

Talvez ela não gostasse da atmosfera escolar. Mas o fato é que essa falta de energia não era razão para se esforçar em achar um lugar melhor. Aparentemente, o objetivo dela era tornar isso algo grande.

"Huh... e-eu vou também?"

Asahina-san perguntou em um tom temeroso.

"É claro. Não podemos fazer nada sem a estrela."

"N-n-nessas roupas!?"

Asahina-san tremia, forçada a vestir novamente a fantasia que Haruhi comprara ontem.

"É claro que sim."

Haruhi assentiu imediatamente. Asahina-san se segurou com um tom relutante.

"Não é um saco ficar se trocando toda hora? Alem do mais, talvez não tenha um lugar para se vestir por lá. Então é melhor estar usando a roupa o tempo todo, não? Certo? Vamos lá! Todo mundo!"

"Pelo menos me deixe vestir alguma coisa por cima."

O apelo de Asahina-san foi rebatido com um...

"Não."

"Mas é muito constrangedor."

"Você só está se envergonhando pois acha que é constrangedor! Você nunca vai ganhar um Globo de Ouro [6] assim!"

6-[Nota do tradutor: os prêmios Globo de Ouro (inglês: "Golden Globe Awards") são entregues cada ano para homenagearem o cinema e a televisão norte-americanos.].

Não estávamos tentando ganhar o primeiro lugar da melhor atração do festival cultural?

Todos os membros da brigada estavam reunidos no clube hoje. Koizumi aparentemente resolveu os problemas com o roteiro da peça de sua sala, e atualmente está acompanhando a discução unidirecional entre Haruhi e Asahina-san. Nagato está aqui também. E aqui está um pequeno problema envolvendo Nagato.

" ... "

Ela estava sempre tão silênciosa que eu não quis dizer nada a respeito, mas ela continuava vestida estranhamente. Por alguma razão ela estava vestindo a roupa que nos mostrou ontem. Se você precisa vestir isso somente no dia do festival, então por que está com essa fantasia agora?

Haruhi aparentemente estava satisfeita em ver Nagato com o manto negro e chapéu pontudo.

"Vou mudar a sua personagem para 'maga alienígena malvada'!"

Eu sabia, ela já está mudando o roteiro. Haruhi parecia bastante contente em ver Nagato segurando aquela antena com uma coisa que parecia uma estrela de natal presa na ponta. Enquanto observava Nagato segurando a varinha, achava mais difícil de acreditar que a calada amante dos livros era uma maligna maga extraterrestre. Bem, na verdade ela parecia se enquadrar mais neste papel do que no de um terminal de dados para formas de vida. Ela definitivamente tinha poderes mágicos. Eu vi com os meus próprios olhos. Não tenho nenhuma duvida quanto a isso.

Nagato surpreendentemente levantou a aba do chapéu e me olhou com seus olhos sem vida.

" ... "

Me perguntava se estava certo Haruhi usar arbitrariamente alguma fantasia de outra sala para o seu filme, mas os olhos dela estavam livres de questionamento.

"Kyon! Prepare a câmera! Koizumi-kun, você carrega as coisas para fora. Mikuru-chan, porque você está se agarrando na mesa? Vamos logo, se mexa!"

A resistência pífia de Asahina-san durou mais alguns segundos. Haruhi então agarrou a fraca garçonete pela gola e a arrastou até a porta. Nagato as seguiu com seu manto se arrastando no chão. Koizuimi foi o último a desaparecer pelo corredor depois de piscar para mim.

Imagino se deveria ir com eles...

"Ei! Não podemos fazer um filme sem o cameraman!"

O torso de Haruhi passou pela porta aberta. Sua boca aberta tomou metade do rosto enquanto ela gritava. Percebi que na faixa no braço de Haruhi poderia ser lido "Super Diretora" o que só servia para me deprimir.

Parece que ela estava realmente séria quanto aquilo.


A auto-proclamada super diretora - que apesar do nome ainda não havia filmado nada - liderou a caminhada, enquanto a bela garçonete a seguiu com os olhos fixos no chão. A bruxa de negro as seguia como uma sombra. Koizumi carregava um saco com um sorriso no rosto... e eu estava no fim da fila, tentando ficar o mais afastado possível daquele bando de malucos.

Nós já éramos o centro das atenções enquanto caminhávamos pela escola, mas essa procissão, que mais parecia uma festa de dia das bruxas, também fazia um bom trabalho em atrair atenção fora dos limites da escola. Asahina-san, que já era o centro das atenções na escola, olhava para o chão em vinte porcento do tempo, corava em trinta porcento do tempo, e arrastava os pés como um robô nos outros cinqüenta porcento do tempo que sobravam na conta.

Haruhi animadamente cantarolava a melodia de "Heaven and Hell [7]" como um desastre eminente se aproximando no horizonte. Não tinha idéia de onde ela tirou aquilo, mas Haruhi estava energicamente carregando um megafone amarelo na mão direita, e uma cadeira de diretor sob o braço esquerdo, como a cavalaria mongol rumando ao oeste pelas planícies. Enquanto eu imaginava o que iríamos pilhar, chegamos a estação de trem. Haruhi comprou passagens para todos e entramos. Então ela avançou em direção a cabine de bilhetes com um olhar prosaico no rosto.

7-[Nota do tradutor: uma música composta por John Entwistle para o The Who].

"Espere."

Eu fiz uma objeção em nome de Asahina-san, visto que ela tinha perdido sua habilidade de falar. Eu apontei para a garçonete de minissaia olhando inquisitivamente em todas as direções, e para a garota verticalmente desfavorecida vestida de preto ao lado dela.

Eu fiz uma objeção em nome de Asahina-san, visto que ela tinha perdido sua habilidade de falar. Eu apontei para a garçonete de minissaia olhando inquisitivamente em todas as direções, e para a garota verticalmente desfavorecida vestida de preto ao lado dela.

"Você vai fazer elas entrarem no trem vestidas assim?"


"Alguma coisa de errado nisso?" - Haruhi respondeu fingindo inocência - "Você pode ser preso se ficar correndo pelado por ai, mas elas estão vestidas. Por que não? Você prefere a roupa de bunny-gal? Me dissesse antes. Não me importaria em mudar para 'Coelinha de Combate (tentativa)' caso você quisesse."

Não sei se você deveria dizer isso depois de arrastá-la por todo esse caminho com a roupa de garçonete... de qualquer forma, você não disse que esse era o conceito do filme? Eu não posso afirmar, mas você pode mudar o conceito principal assim?

Forcei meu cérebro a tentar entender pelo menos um lampejo dos pensamentos do criador.

"O mais importante é se adaptar a situação. Foi isso que permitiu que a vida na terra evoluísse. É o principio adaptativo. Se você se descuidar, acaba sendo eliminado pela seleção natural. Você tem que se adaptar apropriamente!"

Adaptar a quê? Se o ambiente tivesse uma mente própria, veria Haruhi sendo ejetada da atmosfera.

Koizumi só sorria enquanto carregava as coisas. Nagato mantinha o silêncio como mencionado anteriormente. Aparentemente faltava a força necessária para Asahina-san falar. O que significa que todos estão mantendo suas bocas fechadas.

Queria que alguém fizesse algo a respeito disso.

Haruhi provavelmente interpretou o silêncio de todos como um sinal de que todos estavam impressionados por suas palavras.

"Venham, o trem está aqui. Ande rápido, Mikuru-chan. O verdadeiro trabalho ainda está por vir."

Como uma detetive policial levando embora uma criminosa que cometeu um assassinato, ela colocou o braço sobre os ombros de Asahina-san e andou através do guichê de passagens.


E ali estávamos nós. Saímos da mesma estação de ontem, e rumamos para o mesmo distrito comercial. Estava começando a ter minhas suspeitas quando passamos pela mesma loja do dia anterior. A loja de eletrônica aonde Haruhi obtera a câmera.

"Viemos, como eu prometi!"

Haruhi gritou animadamente enquanto entrava na loja. O homem de meia idade apareceu do interior da loja e pousou os olhos sobre Asahina-san.

"Ho-ho."

O sujeito olhou para a atriz principal como um sorriso no rosto, que só poderia ser considerado assédio sexual. Asahina-san estava completamente sem movimento como um personagem de um jogo de luta após usar um golpe especial. E o homem continuou a falar.

"Ela é aquela menina de ontem? Eu não a reconheci. Ho-ho. Estou contando com você."

Contando com o quê? Eu estava no processo de avançar para defender a temerosa Asahina-san quando Haruhi me empurrou para trás.

"Ok. Vamos ter uma reunião agora, então me escutem."

E Haruhi fez o seu anúncio com o mesmo sorriso que deu depois de vencer a corrida entre os clubes escolares.

"Vamos começar a filmagem do comercial!"


"Es-essa loja... uhm... tem um dono bem amigável. Ele é um cara legal. A loja tem estado por aqui desde a época do avô de Eijirou-san. Eles vendem de tudo, desde baterias até geladeiras, uhm... e também, um..."

A garçonete Asahina-san lia forçadamente com uma voz mortificada e um sorriso forçado no rosto. Nagato estava ao seu lado segurando uma placa com "Oomori Eletrônica" escrito. Eu observei as duas pelo visor da câmera.

Asahina-san estava com um sorriso impressionantemente desastrado no rosto. E segurava um microfone que não estava ligado em coisa alguma.

Koizumi estava segurando as placas com as falas com o seu sorriso usual no rosto. As placas eram apenas folhas de papel que Haruhi escrevera momentos atrás, sem pensar muito. Koizumi virava as páginas enquanto Asahina-san as lia.

Estávamos em frente à loja, no distrito comercial.

Haruhi se inclinou para trás na cadeira de diretor com suas pernas cruzadas, enquanto observava a atuação de Asahina-san com um olhar de concentração intensa no rosto.

"Ok, corta!"

Ela bateu com o megafone contra a palma da mão.

"Não há nenhuma emoção nisso. Porque você não entende? Não tem aquela sensação de 'é isso!' na sua interpretação."

Ela mordia as unhas enquanto falava.

Pasmo, parei de filmar. Asahina-san, que se agarrava ao microfone também parou o que estava fazendo. Nagato continuava imóvel. E para variar, Koizumi apenas sorria.

Atrás de nós, as pessoas do distrito comercial cochichavam com curiosidade.

"Mikuru-chan, sua expressão ainda está muito travada. Seu sorriso precisa ser mais natural. Pense em coisas felizes, sim, você não está se sentindo alegre agora? Sabia que você foi escolhida a dedo para ser a estrela desse filme? Você nunca vai experimentar algo mais feliz em sua vida!"

Eu realmente queria dizer a ela; pare de ser imbecil!

Se tivesse que resumir a conversa de Haruhi com o gerente ontem, provavelmente seria algo assim.

"Vou fazer um comercial para essa loja no meu filme, então me dê uma filmadora."

"Claro."

Tenho certeza que tem algo errado com o gerente que se deixa levar pelas palavras dela, mas definitivamente tem algo ainda mais errado com Haruhi se ela planeja fazer um filme caseiro com comerciais. Eu nunca ouvi falar de uma atriz principal que atuou em um comercial no meio de um filme. Eu não me importaria em colocar um logotipo no cenário durante algumas cenas do filme, mas nesse exato momento estamos filmando um comercial, e não um filme.

"Entendi!"

Haruhi gritava sozinha. Por favor, você pode parar de ter essas revelações súbitas?

"É um pouco estranho para uma garçonete estar um uma loja de eletrônicos."

Não foi você que comprou a fantasia?

"Koizumi-kun, me passe aquela sacola, a pequena."

Haruhi tomou o saco de papel das mãos de Koizumi e agarrou a mão de Asahina, que parecia estar distraída. Então ela invadiu a loja.

"Gerente! Você tem um lugar aonde ela possa se trocar? Sim, qualquer lugar serve, até o banheiro. Sério? Então vamos usar o seu depósito."

Ela disse aquilo, e então desapareceu dentro da loja com Asahina-san. Parecia que a pobre garota não tinha mais forças para resistir, pois ela obedientemente se deixou levar pela força descomunal de Haruhi. Acho que ela poderia fazer qualquer coisa, se isso significasse se livrar daquela fantasia.

O resto de nós; Koizumi, Nagato e eu, ficamos lá parados sem nada para fazer. Nagato, em suas vestes negras, não se moveu um milímetro da sua posição de seguradora da placa. Ela apenas olhava fixamente para a filmadora. Estou surpreso por ela não ter se cansado disso ainda.

Koizumi sorriu para mim.

"Parece-me que eu não vou aparecer muito nesse filme. Você sabe, eu estou atuando também na peça da nossa sala. Tudo foi decidido democraticamente. Isso significa que ainda estou lutando para memorizar as minhas falas. Eu preferiria um papel nesse filme com o menor número de falas possível... o que você acha? Que tal você fazer o papel principal?"

Em todo caso, Haruhi é quem tem autoridade sobre o elenco. Dirija seus pedidos a ela.

"Você acredita que sou capaz desta incrível tarefa? Eu, um mero ator, não poderia ir fazer exigências a produtora, que por acaso, também é a diretora. Afinal, as ordens de Suzumiya-san são absolutas. Eu não imagino o tipo de punição que receberia se eu a desobedecesse."

E nem eu. Não é por isso que eu sou o cameraman? E para piorar, nem estamos filmando um filme, apenas um comercial local para uma loja particular. O conceito de ser um bom vizinho já chegou longe demais.

A cena caótica de sempre provavelmente acontecia nos fundos da loja agora. Haruhi arrancava as roupas de Asahina-san, enquanto ela implorava por clemência. Não sei que tipo de fantasia ela estaria colocando, mas aposto que Haruhi podia vestir a roupa no lugar dela. Na verdade, será que ela nunca considerou a possibilidade de ser a estrela do filme?

"Desculpem a demora!"

Do par que voltava dos fundos, Haruhi naturalmente permanecia em seu uniforme.

A aparição da outra pessoa desencadeou uma exibição de imagens na minha mente. É, já foram seis meses. Como o tempo voa. Certamente muitas coisas aconteceram nesse meio tempo. Baseball, uma ilha remota, e todos os tipos de coisas. Elas são apenas memórias tenras agora... como é possível?

A nostálgica primeira fantasia de Asahina Mikuru, que Haruhi também vestira no portão da escola. A roupa que não cobria muita coisa, e que se tornou assunto da escola toda, e por conseqüência deixou Asahina-san emocionalmente abalada.

A perfeita bunny-gal, com bochechas coradas e olhos úmidos, estava parada envergonhadamente ao lado de Haruhi, com sua orelhas abanando.

"Absolutamente perfeita. Acho que uma bunny-gal é perfeita para promover um produto."

Haruhi disse incompreensivelmente enquanto olhava Asahina-san com um olhar satisfeito. Asahina-san parecia completamente miserável, era como seu espírito estivesse escapando pela boca entreaberta.

"Venha, Mikuru-chan. Vamos começar novamente. Acredito que você já tenha decorado as suas falas. Kyon, rebobine para o começo."

Nesse ponto, acredito que ninguém vai estar mais ouvindo nada. Estou certo de que todos terão seus olhos colados em Asahina-san. Espero que os olhares vidrados dos espectadores não façam um buraco na tela.

"Tomada dois!"

Haruhi gritou, e deu uma batida em seu megafone.


O comercial da loja de eletrônicos foi estrelado por uma Asahina que estava entre o sorriso e o choro, a qual foi manipulada por Haruhi até o final. Era como ver um lutador estrangeiro sendo manipulado por um empresário maléfico.

Mas agora, algo me lembrou que tínhamos visitado outro patrocinador mais cedo. Acho que ninguém precisava ter lembrado disso. Para começar, Haruhi planejava fazer outro comercial para aquele patrocinador.

Haruhi caminhava pelo centro comercial arrastando a coelhinha Asahina-san, que volta e meia deixava escapar alguns "Ah~!" and "Kyaa~!" bonitinhos. A seguindo de perto como um fantasma estava Nagato, que andava sem expressão em suas vestes negras. Koizumi e eu as seguiam a paisana.

Meu blazer estava sobre os ombros de Asahina-san, em uma tentativa vã de conforta-la, mas talvez isso só aumentasse a atenção sobre ela. Afinal, esse mundo é cheio de pessoas com gostos estranhos. E que fique claro que estes não são os meus gostos.

Chegamos na segunda parada, a loja de modelos, e então houve uma repetição dos últimos procedimentos. Com toda a atenção sobre ela, Asahina-san virou seus olhos cheios de lágrimas para mim – em outras palavras, para a camera – e falou.

"Es-essa loja de modelos foi aberta ano passado por Yamatsuchi Keiji, 28 anos, depois dele deixar a vida de trabalhador burocrata... para perseguir os seus sonhos... as vendas não estão indo tão bem quanto ele gostaria. A taxa de crescimento desse primeiro semestre é de apenas oitenta porcento do primeiro semestre do ano passado. A linha desse gráfico está indo para baixo.. então, é por isso... que vocês por favor, devem vir dar uma olhada aqui!"

A voz tremula de Asahina-san dava a entender que ela não tinha a menor idéia do que estava falando. Nesse ponto, será que o gerente Yamatsuchi estava de acordo com esse discurso? Acho que isso só serviu para deprimi-lo. Quem gostaria de ser julgado assim por uma estudante de ensino médio?

A bunny-gal estava apontando o rifle que haviam jogado em suas mãos para cima.

"Você não deve atirar em pessoas com isso! Use para atirar em latas vazias ou algo assim!"

Nagato estava ao seu lado com uma placa que dizia "Loja de modelos Yamatsuchi", com uma expressão fixa em seu rosto. Era uma visão surreal. Como Asakura Ryouko parecia ser uma pessoa normal com sentimentos, assumo que nem todos os humanos artificiais feitos pelos aliens agem como robôs. Será que a falta de emoções de Nagato foi só uma escolha de design?

Asahina-san apontou o rifle para latas vazias no chão e abriu fogo.

"Ah! Acho que isso vai machucar bastante se acertar você! Ahhh~~!!!"

Ela até mesmo demonstrou uma patética performance de tiro, transformando latinhas de alumínio em peneiras. A demonstração de tiros causou uma comoção entre os pedestres. Mesmo assim sua precisão não passava de dez porcento.

De certa forma eu me sinto culpado em gravar uma coisa dessas. Acho que devo me desculpar com Asahina-san e com a pessoa que inventou essa tecnologia. Estou certo de que ele não inventou as câmeras de vídeo para filmar uma porcaria dessas.

Então, terminamos por hoje assim que os comerciais estúpidos acabaram.

Retornamos momentaneamente para a escola e esperamos no clube, enquanto Haruhi nos informava a programação para o estágio seguinte da filmagem.

"Amanhã é sábado e temos o dia livre, então nos encontraremos de manhã. Estejam em frente à estação de Kitaguchi as nove. Entenderam!?"

Incidentalmente, cabe dizer que os comerciais já haviam consumido quinze minutos do tempo. Qual seria a duração atual do filme então? Se você apresentar um épico de três horas em um festival cultural, ninguém vai ficar lá até o final. E duvido que tenhamos orçamento para isso.

Eu pensava nisso enquanto observava uma desencorajada Asahina-san. Ela fora forçada a vestir a roupa de garçonete na ida, e agora tinha de usar a fantasia de bunny-gal durante a viagem de volta, e só na escola havia sido autorizada a colocar seu uniforme de volta. Ela caiu sem vida no chão. Nesse ritmo, acabaremos vendo a atriz principal desmaiar durante as filmagens.

Eu acabei de beber o chá que Koizumi fez no lugar de Asahina-san, que por sinal estava exausta, com sua cabeça estirada sobre a mesa.

"Ei, Haruhi, não podemos fazer nada sobre a roupa de Asahina? Tem que ser algo que pareça mais algo que se pode usar em uma luta. Como um uniforme de combate, ou roupas camufladas."

Haruhi apontou para mim com a antena com uma estrela na ponta, em tom reprovatório.

"Isso vai matar a surpresa quando a luta começar. Uma garçonete lutando tem todo um fator surpresa. Agarrar a atenção do público é a chave. É tudo uma questão de conceito. Entendeu, conceito!"

Ela realmente sabe o que conceito significa? Infelizmente eu posso apenas suspirar por uma coisa dessas.

"Tá... acho que funciona, mas qual é o sentido dela vir do futuro? Realmente importaria se ela não fosse uma viajante do tempo?"

Os ombros de Asahina-san tremeram violentamente enquanto ela estava estendida sobre a mesa. Haruhi não percebeu, e obviamente não abriria mão da idéia.

"Podemos trabalhar nisso depois. Quando alguém reclamar poderemos começar a nos preocupar."

E eu não reclamei? Me dê logo uma resposta.

"Se você não pode responder, apenas os ignore! Não é como se isso importasse. É só para ser divertido."

Claro que para você é, mas quais são as chances do filme em si ser divertido para as outras pessoas? Não há sentido em filmar algo que só agrade ao diretor. Você está querendo ganhar a Framboesa de Ouro [8] na categoria amadora?

8-[Nota do tradutor: é um prêmio cinematográfico, paródia do Oscar, que premia só os piores filmes produzidos ao longo de um ano].

"O que é isso? Eu só estou atrás de uma coisa, o primeiro lugar na enquete de melhor atração do festival! E se possível um Globo de Ouro. É por isso que precisamos vestir Mikuru-chan corretamente, ou as pessoas irão reclamar!"

Duvido que alguém irá reclamar. De qualquer forma, parece-me que ver aquele filme deixou Haruhi furiosa com qualquer um que tenha ganhado um Globo de Ouro.

Suspirei novamente e olhei para o lado. Envolta em preto, Nagato estava parada no canto da sala, engajada em sua leitura usual. É, será que ela vai morrer se não ler nada enquanto está nessa sala?

"Espere."

Percebi algo enquanto observava a alien amante dos livros.

"Nós ainda não temos o roteiro."

Na verdade, nem sabemos sobre o que a história é. Tudo que sabemos é que Asahina-san é uma garçonete do futuro, Koizumi é um esper, e Nagato é uma maga alien do mal.

"Não se preocupe."

Não tinha idéia do que Haruhi queria dizer, mas subitamente ela apontou para a própria cabeça com a antena com a estrela na ponta.

"Está tudo aqui. O roteiro, o storyboard, estão todos prontos. Você não precisa pensar em nada. Só vai precisar cuidar da câmera."

Palavras fortes. A verdade é que você é que deveria evitar pensar e apenas olhar para fora da janela sem nada na cabeça. Se você tivesse uma expressão mais razoável no rosto, poderia trocar de lugar com Asahina-san sem nenhum problema.

"É amanhã. Amanhã! Todo mundo se prepare. O primeiro passo para a glória é resistência espiritual. Essa é a maneira mais rápida de alcançar a vitória sem gastar dinheiro. Uma vez que suas almas quebram os elos mundanos, habilidades latentes desconhecidas acordarão, e liberarão um poder incrível. É isso mesmo!"

Bem, eu posso ver que o rumo de uma batalha é alterado por um acontecimento inesperado em uma dessas revistas em quadrinhos, mas tenho certeza que não importa o quanto você fale sobre resistência do espírito e nacionalismo, ainda estaremos longe de testemunhar a seleção japonesa de futebol vencer uma Copa do Mundo.

"Isso é tudo por hoje! Esperem por amanhã! Kyon, não esqueça de trazer a câmera, acessórios, fantasias, e outras coisas. Tenha certeza que vai chegar na hora!"

E após ter dito isso, Haruhi deixou a sala, balançando a mala heroicamente. Eu podia ouvir a música tema de "Rocky" desaparecendo no corredor. Olhei amargamente para aquela pilha de imbecilidades. Imagino para que sindicato eu deveria reclamar sobre a opressão da nossa diretora.


O fato era o seguinte: a nossa vida escolar até esse dia consistia de acontecimentos comuns do dia a dia, com exceção da paixão anormal de Haruhi por fazer esse maldito filme. Mas se você fosse a cada escola do país, provavelmente encontraria pessoas fazendo exatamente a mesma coisa. Para simplificar, isso era 'normal'.

Nenhum ataque pela espécie de Nagato. Nenhuma viagem do tempo com Asahina-san. Nenhum gigante azul brilhante aparecendo. E nenhum assassinato levando a revelações posteriores.

Apenas uma vida escolar completamente normal.

A contagem regressiva para o festival cultural prosseguia, e Haruhi estava empolgada como sempre, direcionando uma dose cavalar de adrenalina para a cabeça e correndo como um hamster alcançando a velocidade do som dentro de uma daquelas rodinhas.

Em outras palavras, os negócios de sempre.


… até esse dia, é claro.


Em retrospecto, eu tenho que dizer que Haruhi estava se segurando. Sob um olhar atento, percebi que ainda não tínhamos filmado nem uma cena do filme. O único material que tínhamos na câmera era o vídeo de Asahina promovendo a loja de eletrônica e de modelos vestida de bunny-gal, que servira apenas para conseguir patrocínio. Nenhum raio de luz atravessara o filme que seria produzido, dirigido e supervisionado por Haruhi. Nós nem sabíamos sobre a história ainda.

E eu acho que era melhor que tivéssemos ficado sem saber.

Poderíamos ter ficado com o vídeo de Asahina-san apresentando o distrito comercial. Na verdade, será que isso não traria mais audiência? E, ainda por cima, promoveria a área local. Mataríamos dois coelhos com uma cajadada só. É, porque não transformamos isso em um video promocional da Mikuru Asahina? Isso me faria bem mais feliz. Considerando que essa era minha verdadeira motivação como cameraman.

Porém, eu sei que Haruhi nunca ficaria satisfeita com isso. Ela sempre cumpre a sua palavra. Se ela diz que vai fazer, com certeza fará. Ela nunca desiste na metade do caminho. Essa é uma situação aonde manter a palavra é sinônimo de algo problemático.

Então, no inicio daquele dia, nos encontramos novamente no meio de algumas situações bastante bizarras. É, é sério. Estou sem palavras. O que foi que Haruhi disse mesmo?

Uma vez que suas almas quebram os elos mundanos, habilidades latentes desconhecidas acordarão, e liberarão um poder incrível – ou algo parecido com isso.

Entendo.

Mas sabe, Haruhi…

Por que você tem que ser a pessoa a vivenciar esse despertar?

E você nem mesmo percebeu isso...





Capítulo 3[edit]

Capítulo 3


E então, sábado chegou.

Deveríamos nos encontrar em frente à estação. Quando eu cheguei carregando todo o equipamento, usando a maior mala que eu pude encontrar em casa, descobri que os outros já estavam esperando por mim.

A visão de Haruhi com suas roupas casuais, e de Asahina-san - com a sua beleza de sempre - era cativante. Elas pareciam um par de irmãs que não combinavam. Asahina-san, que apesar de ser mais velha, parecia a irmã mais nova que vestia uma roupa de estilo maduro.

Cercada por três pessoas estranhas, Asahina-san deu um suspiro de alivio ao me ver, e acenou para mim enquanto balançava a cabeça. Ah, isso é ótimo.

"Você está atrasado!"

Haruhi podia estar gritando comigo, mas obviamente ela estava bastante feliz. A razão para suas mãos estarem vazias era que o alto falante e a cadeira de diretor se encontravam em minha bagagem também.

"Não é nem nove horas ainda."

Eu a encarei enquanto respondia. Olhando para os lados, vi a expressão de “boneca de porcelana” de Nagato, e o sorriso relaxado de Koizumi. Falando nisso, hoje é um feriado. Mesmo sendo normal para Nagato usar seu uniforme em todas as ocasiões, mas porque Koizumi está de uniforme também?

"Aparentemente, essa é minha fantasia para o filme."

Koizumi respondeu.

"Ela me disse isso ontem. Eu estarei interpretando um esper disfarçado como um estudante de ensino médio."

E não é isso que você é!?

Coloquei as malas em que havia jogado todo o equipamento de filmagem no chão, e limpei o suor da minha testa. Haruhi, que tinha uma cara de excitação parecida com a de uma criança indo para uma viagem escolar estampada no rosto, disse:

"Kyon, você vai ter que ser punido por ser o último a chegar, mas não agora. Agora precisamos pegar o ônibus. Deixa que eu pago a passagem, isso é parte das despesas mesmo, mas você vai ter que pagar o almoço de todo mundo."

Após tomar essa decisão unilateralmente, ela acenou para todos.

"Gente! O ponto de ônibus é por aqui! Sigam-me!"

Percebi que a faixa de Haruhi estava agora marcada como "Ultra Diretora." Aparentemente ela acha que está acima até mesmo de um grande diretor. Ela realmente pretende fazer um filme excelente?

Deixe-me esclarecer novamente: ainda acredito que fazer um vídeo especial sobre Asahina-san seria mais divertido que isso.

Após uma viagem de meia hora dentro do ônibus chegamos ao pé da colina. Então perdemos mais meia hora subindo arduamente pela trilha da montanha.

Chegamos a um parque florestal como os que podiam ser achados em qualquer lugar do interior. Era um lugar bem familiar, pois desde que estava no primário, todo ano que íamos a um passeio escolar acabávamos subindo alguma trilha na montanha mais próxima.

Era um parque só no nome, pois as autoridades apenas abriram um espaço aberto no meio da colina e construíram uma fonte no meio. Estava tão vazio que eu não podia deixar de pensar sobre por que diabos eu subi tanto só para chegar a um lugar desses. Apenas as crianças pequenas, que não tinham conceito do que é entretenimento, se sentiriam felizes em vir até aqui. E possivelmente carregando essas crianças pequenas eu era como os seus pais, que não tiravam proveito algum da situação.

Usando o centro da praça como ponto de partida, decidimos fazer dessa a nossa base para a filmagem de hoje. Haruhi, que estava de mãos vazias, tinha uma quantidade ilimitada de energia para gastar, enquanto eu trabalhava como um cão. Eu não tinha entregado nem metade da bagagem para Koizumi, que com certeza deveria estar deitado em algum canto da trilha. Então, assim que chegamos ao parque, me apoiei na mala de viagem, tentando recuperar o meu fôlego.

"Aceita uma bebida?"

Uma garrafa de plástico apareceu bem em frente aos meus olhos. E era Asahina-san que estava a segurando.

"Eu já bebi metade, se você não se importa..."

Esse era o chá oolong [1] dos deuses, era doce como todos os elixires do céu combinados. E eu não tinha nada contra ela o beber ou não, pois provavelmente estaria condenado se não aceitasse. Mas antes que eu pudesse aceitar esse presente com gratidão, a mão de um demônio cruel arrancou a garrafa das mãos de um anjo, Haruhi pegou a garrafa de chá de Asahina-san, e disse:

1-[Nota do tradutor: chá cuja oxidação é parada algures entre o chá verde e o chá preto].

"Deixe isso para depois! Mikuru-chan, essa não é a hora de dar água para esses servos encarregados das tarefas braçais. Se não começarmos logo, estaremos desperdiçando oum bom tempo. Então vamos começar logo a filmagem."

Asahina-san arregalou os olhos.

"Eh... ? Aqui mesmo?"

"Claro. Pra que você acha que nós viemos aqui?"

"Como eu vou me trocar? Não tem nenhum lugar em que eu possa trocar de roupa..."

"Isso não vai ser um problema. Olhe, aqui está cheio dessas."

Haruhi apontava para a floresta verdejante que cercava o parque.

"Ninguém vai aparecer se você se trocar na floresta, é como um provador natural. Vem, vamos lá!"

"Eh?... KYAA~~!!! S... SOCORROOO~~!!!"

Antes que qualquer ajuda aparecesse, Asahina-san foi arrastada por Haruhi, e então as duas desapareceram na floresta.


Asahina-san reapareceu com sua fantasia de empregada, com dois rabos de cavalos atados atrás de sua cabeça. Seus olhos estavam tímidos como as flores selvagens nascendo à beira da estrada.

A cor de um olho dela também estava estranho, sério, isso é verdade. Apenas o olho esquerdo era azul, o que será era aquilo no seu olho?

"São lentes de contato coloridas."

Haruhi explicou.

"Ter cores diferentes para cada olho também é um fator importante. Olhe só para ela, não tem uma aura de mistério agora? Tudo leva a um pequeno truque. Essa é a minha pista!"

Ela agarrou o queixo de Asahina-san por trás e virou o seu rosto levemente para o lado. Asahina-san estava perplexa por ser tratada como um brinquedo para Haruhi.

"Tem um segredo escondido nesse olho azul." - Haruhi disse.

"Porque se não oferecermos nenhuma explicação para esse fato, não tem sentido em colocarmos um olho de cada cor."

Asahina-san parecia exausta, essa aparência de cansaço era bastante comum nessas situações.

"Então, qual o segredo das lentes coloridas?"

"No momento, isso ainda é um segredo."

Haruhi sorriu e respondeu.

"Ei, Mikuru-chan! Por quanto tempo você vai ficar ai sonhando? Você é a estrela do show! Sua grandeza só está atrás do diretor executivo e do diretor! Agora arrume a postura!"

"KYAA~~!!"

Asahina-san soltou um grito macabro, enquanto era forçada por Haruhi a fazer uma pose. Em seguida, Haruhi mandou Asahina-san segurar uma arma (de brinquedo, só para informar).

"Mostre a essência de uma assassina! Faça as pessoas sentirem que você é do futuro!"

Haruhi começou a fazer todo tipo de exigências sem sentido, enquanto Asahina tentava freneticamente fazer varias poses em minha direção – quer dizer, em direção à câmera. Ela não precisava se esforçar tanto. Falo sério.


Nesse meio tempo Haruhi nos mostrou uma quantidade imensa de entusiasmo. E também vi filmes que me entediaram profundamente. Mas nunca pensei "Eu posso fazer melhor que isso." Eu cheguei a tentar fazer um filme sozinho, mas para ser franco, eu nem sei como um filme é feito. Mesmo que eu começasse a filmar, não acredito que iria conseguir fazer coisa melhor. Por outro lado, Haruhi realmente acha que tem talento para ser uma diretora. Pelo menos ela se acha capaz de fazer algo melhor que os filmes B que passam tarde da noite. De onde veio toda essa confiança?

Haruhi abanou seu megafone amarelo e gritou.

"Mikuru-chan! Não precisa ser tímida, fique a vontade! Mergulhe no personagem e vai ficar tudo bem! Agora você é a protagonista feminina Asahina Mikuru!."

.. é obvio que eu sei que a confiança de Haruhi não tem base alguma. Ela nasceu com essa confiança imensa, o que faz que o mundo caia no caos constantemente. De outra forma ela não usaria uma faixa ridícula dessas no braço, e não estaria sorrindo tão alegremente assim.

Sob as instruções de Haruhi, a diretora, começamos a filmar a memorável "Cena de Ação 1”.

Era assim que a cena era chamada, mas ela envolvia inteiramente eu carregando uma câmera e filmando Asahina-san correndo pela praça. Foi dita que essa seria a cena de abertura. Eu achei que ao menos precisaríamos de um roteiro, mas Haruhi disse que esse tipo de coisa não era necessário.

"Seria bem problemático se o que eu escrevi vazasse para o publico."

Essa era a razão dela. Parecia que ela iria fazer um tipo de filme de ação como os de Hong Kong (criando a historia conforme filmávamos). Para ser honesto, eu já estava exausto, mas comparado com Asahina-san, que teve que correr até ficar sem fôlego carregando das armas na mão, minha situação não estava assim tão ruim.

Sob nossos olhares atentos, Asahina-san continuava a correr, indo para direita e para a esquerda no meio do percurso. Isso não acabou até a "Cena de Ação 5" ,quando a diretora dez um sinal de OK, e Asahina caiu exausta no chão.

"Huff... hufff..."

Ignorando a garçonete estirada no chão tomando fôlego, Haruhi se virou e começou a dar ordens para Nagato, que esteve esperando ao lado o tempo todo.

"Vamos começar a cena de combate entre Yuki e Mikuru-chan."

Vestindo sua fantasia preta favorita, Nagato caminhou para frente da câmera. Tudo que ela fez foi colocar um manto preto por cima do uniforme, e usar um chapéu preto pontudo na cabeça, então ela não precisou ser arrastada para a floresta para trocar de roupa, e eu consideraria isso como sorte dela. Mas Nagato parecia o tipo de garota que não se incomodaria com qualquer coisa que colocassem nela. Como seria então se os papeis fossem invertidos? Nagato como a garçonete, e Asahina-san como a maga alien. Seria uma cena surreal, mas com certeza valeria a pena assistir.

Haruhi fez Asahina-san e Nagato ficarem três metros de distância uma da outra, se encarando.

"Mikuru-chan. Quero que você atire sem piedade na Yuki."

"Eh?" - Asahina-san parecia chocada. Ela balançou o cabelo, que já estava bagunçado depois de correr tanto, e disse - "Mas eu não posso usar isso para atirar em pessoas...”

"Não se preocupe! Você ia errar mesmo com essas suas habilidades. E mesmo que você atirasse certo, a Yuki poderia desviar facilmente."

Nagato continuava parada, silenciosamente carregando a varinha com a estrela na ponta.

Pensando um pouco, mesmo que você conseguisse atirar nela bem no alvo um tiro a queima roupa, Nagato ainda conseguiria desviar mais rápido que a velocidade de um raio.

"Bem..."

Asahina-san olhou timidamente para Nagato, como uma garçonete novata que quebrou um prato e está contando isso para o chefe mal encarado.

"Tudo bem..." - Nagato respondeu, e girou a varinha na mão - "... vá em frente e atire."

"Mikuru-chan, até mesmo a Yuki está de acordo com isso, então atire o quanto quiser. Mas só esclarecendo, não atire as duas armas juntas, e sim alternadamente! Essa é uma habilidade básica para um pistoleiro com duas armas."

Koizumi levantou a placa refletora sobre a cabeça. Não tenho idéia de onde Haruhi arranjou essa coisa. O clube de cinema provavelmente está reportando um roubo a policia nesse exato momento. Falando nisso, Koizumi, você não devia ser o ator principal?

"Eu não estou confiante em me adaptar as mudanças que vão acontecer durante a filmagem, então no lugar de ser filmado, eu prefiro fazer isso. Pensei que podia simplesmente permanecer como um contra-regra..."

"Huh?"

Asahina-san carregava um modelo pesado de metralhadora e atirava descontroladamente de olhos fechados. Ao lado dela, eu filmava essa cena. Não fui capaz de ver aonde as balas foram parar, mas pela visão de Nagato parada ali em recuar um milímetro, suponho que ela não foi atingida. Acho que deveriam ser seus poderes mágicos... quando eu comecei a suspeitar um pouco daquilo. Nagato levantou a varinha lentamente, e a girou com velocidade, em seguida as balas caíram no chão com um barulho seco. Mesmo sem seus óculos, a sua visão era impressionante...

Nagato não tirava os olhos da arma. Mas ela é estranha assim mesmo, acho que ela não pensa em coisas como "não vai ser natural se eu não piscar." Mesmo que no final isso faça ela se destacar ainda mais. Não ficaria surpreso se ela andasse sem piscar, ou destruísse o teto e se movesse instantaneamente. Então pra falar a verdade, eu não estava nem um pouco espantado com aquilo.

Ela era como um limpador de pára-brisas quebrado, acenando a sua varinha ocasionalmente. Cada vez que ela se mexia, as balas de plástico caiam no chão com um som seco.

Mas, essa era uma cena de combate bem monótona. Nagato estava ocupada girando a varinha, e Asahina-san atirava com as armas que tinha em mão, sem atingir o seu alvo nem ao menos uma vez, Haruhi só disse a ela "atire quantas quiser" sem ao menos entregar um roteiro. As únicas linhas de dialogo que eu podia ouvir eram de Asahina-san gritando "Ah~~! Kyaa~~!! Isso é assustador!"

Quando Asahina-san já havia usado todas as balas da armas, Haruhi bateu em seu ombro com o auto falante. Eu abaixei a minha câmera e andei em direção a Haruhi, que estava sentada na cadeira de diretor.

"Ei Haruhi, que tipo de filme é esse? Eu não vejo nenhuma historia por aqui."

A ultra diretora olhou para mim e disse.

"Não importa, afinal, de qualquer forma eu pretendo editar as cenas depois da produção."

E quem iria fazer isso? Com certeza seria o editor. E é claro que lembrei que parte da minha função envolvia edição.

"Pelo menos tenham algum tipo de dialogo!"

"Se há algum problema, é só tirarmos o som de fundo e dublar por cima durante a edição. Então adicionaremos os sons de fundo e a trilha sonora junto. Você não tem que se preocupar com isso agora!"

Agora, o que eu penso sobre isso é que a historia só existe na sua cabeça, e não há espaço para nenhum de nós opinar afinal. Só continuo aqui pois preciso ter certeza de que o abuso sexual de Haruhi para com Asahina-san seja reduzido ao mínimo, é estritamente proibido para qualquer outro homem tocar o corpo dela. Esse é o meu ponto crítico, certamente ninguém tem problema algum com isso, não?

"Agora, para a próxima cena! O contra ataque de Yuki. Yuki, use sua mágica e ataque Mikuru-chan com todo o seu poder!"

Nagato não se moveu, exceto pelos seus olhos escuros me encarando por baixo da aba de seu chapéu preto, ela girou a cabeça em um ângulo que apenas eu podia perceber.

Acho que Nagato tentava me perguntar algo como "Posso realmente fazer isso?".

A resposta, logicamente, era um "não". Não tinha como eu deixar alguém ferir Asahina-san de alguma forma, portanto deixe a magia de lado. Apenas olhe para Asahina-san, não vê seu que seu rosto já está pálido e tremulo?

É claro que Haruhi não tinha a menor idéia de que Nagato poderia usar magias tão incríveis, eu acho que ela queria que Nagato encenasse algo que parecesse mágica.

Nagato pareceu entender o que acontecia, então ela levantou a varinha e a abanou como um daqueles tubos fluorescente em shows de musica pop.

"Esqueça," - Haruhi disse - "Adicionaremos os efeitos visuais depois. Kyon, se lembre de criar efeitos especiais de raios saindo da varinha da Yuki durante a pós-produção."

Como eu deveria saber como criar esses efeitos especiais? A historia seria diferente se eu pudesse emprestar alguma ajuda da "Industrial Light and Magic" [2].

2-[Nota do tradutor: empresa especializada em efeitos áudio-visuais. Ela foi responsável pelos efeitos do Piratas do Caribe: O Baú da Morte, por exemplo].

"Mikuru-chan, grite de agonia e caia no chão em tormento."

Asahina-san hesitou por um momento, e então gemeu "... AH" e caiu em direção ao chão com as mãos levantadas. Parada ao seu lado estava Nagato, como o deus da morte que acabara de clamar a alma de Asahina-san. Eu havia filmado essa cena enquanto Koizumi ficava atrás de mim com a placa refletora em mãos.

Os olhares inquisitivos dos transeuntes que estavam ao nosso redor eram como agulhas nas minhas costas.


Haruhi finalmente decidiu ter piedade de nós, e nos permitiu fazer uma pausa. Todos sentamos juntos no chão, exaustos.

Haruhi rebobinou o vídeo que eu acabara de gravar, e o fez tocar de novo, murmurando algo para si mesma com um olhar preocupado.

Algumas crianças curiosas correram em direção a Asahina-san e Nagato, perguntando "Que programa de TV é esse?". Asahina-san conseguia sorrir fracamente e acenar com a cabeça, enquanto Nagato ignorava completamente a presença delas se misturando com o cenário.

Do começo ao fim. Haruhi não explicou nenhuma vez quais cenas usaríamos dali. Então eu estava completamente no escuro quando a Ultra Diretora anunciou que nossa próxima locação seria um templo ali perto. Espera ai, o nosso intervalo já acabou?

"Tem pombos lá."

Haruhi disse.

"Precisamos de uma cena de Mikuru-chan correndo com os pombos voando ao fundo! Se for possível, preferia que todos os pombos fossem brancos, mas acho que não posso ser muito exigente agora."

Acho que teremos que achar alguns pombos domésticos. Haruhi colocou seu braço em volta do pulso de uma Asahina-san exausta (provavelmente para impedi-la de escapar), e andou pelo parque em direção a trilha principal. Carreguei o equipamento com Koizumi e as segui, como os nativos locais pagos para carregar a bagagem de uma equipe que filma um documentário no meio da selva. E logo chegamos a um grande templo no meio da montanha. Já fazia muito tempo que eu havia vindo aqui pela última vez, em um passeio no primário.

Haruhi parou em frente a uma placa de "Não alimente os pombos.", então começou a abertamente jogar migalhas de pão pelo chão, como um jardineiro determinado a fazer as flores brotarem novamente. Tudo que podia dizer sobre o caso era que ela provavelmente era analfabeta.

Próxima de cobrir todo o chão, a revoada de pombos agora se encontrava reunida, e ainda mais pousavam por ali. Um templo coberto de penas não é tão confortável afinal. Asahina-san seguiu as instruções e ficou no meio daquele mar de pombos. Parada em frente à garçonete, eu estava filmando suas pernas sendo bicadas pelos pássaros, e seus lábios tremendo sem parar. O que diabos eu estou fazendo?

Haruhi, parada fora da tela, carregava a arma que estava com Asahina-san, e logo tratou de soltar o pino de segurança. Antes mesmo de entender o que estava acontecendo, ela começou a atirar enlouquecidamente em direção as pernas de Asahina-san.

"KYAAA~~!!!"

O olhar de espanto de Asahina era tão real, eu nunca havia visto uma expressão assim antes. Devido à ação insana de Haruhi, a qual facilmente levaria a sociedade de proteção aos animais a um acesso de fúria, os símbolos da paz estavam agora se debatendo e fugindo de medo.

"É isso! Essa é a cena que eu queria! Kyon, tenha certeza de que filmou tudo!"

A câmera estava gravando, então eu deveria estar trabalhando, certo? Parada em meio à torrente de pombos assustados, Asahina-san se abaixou e cobriu a cabeça com as mãos.

"Mikuru-chan! Porque você está se abaixando? Você precisa usar o vôo dos pombos como cenário e correr em direção a aquele ponto! Se levante e se apresse!"

Parece que não era a hora nem o lugar para fazer uma filmagem, pois ao invés da sociedade protetora dos animais, um velhote que parecia ser o monge do templo saiu de dentro do prédio. Ele vestia uma hakama [3], o que sugeria no mínimo, alguma relação com o monge. Eu já havia me preparado para levar uma bronca dele quando Haruhi, sem hesitação, usou a sua arma secreta.

3-[Nota do tradutor: é um tipo de vestimenta tradicional japonesa. Cobre a parte inferior do corpo e se assemelha a uma saia larga].

Ela disparou a sua pistola de brinquedo CZ (ou seria uma SIG) em direção ao velhote. Quando eu vi a imagem do monge (ou pelo menos é o que eu acho que ele é) dançando sem parar como se estivesse no chão quente. Tive certeza que a sociedade de respeito aos idosos iria protestar veementemente.

"Recuar!"

Haruhi gritou e fugiu dali imediatamente. O mesmo para Nagato, eu já não sabia mais onde elas estavam, mas no final Haruhi estava esperando no torii [4] na entrada. Vendo que Asahina-san não conseguiria escapara rapidamente, eu e Koizumi levantamos um braço cada um e a arrastamos para fora junto com o equipamento.

4-[Nota do tradutor: portão de madeira encontrado na entrada dos templos].

Com a diretora teve de fugir, não podíamos simplesmente deixar a atriz principal para trás como bode expiatório.


Dez minutos depois, estávamos almoçando em um restaurante de fast food, por algum motivo desconhecido, eu tive de pagar pela comida.

"Acho que deixei escapar alguma coisa. Talvez devesse escalar aquele velho monge como vilão."

Foi tudo que Haruhi disse sobre seus crimes.

Após comer três tigelas de macarrão, Asahina-san caiu imóvel sobre a mesa.

"Mikuru-chan, você comeu muito pouco. Como você acha que vai crescer assim? Você só vai atrair um tipo especifico de fã se tudo que tem para oferecer são seus peitos. Você tem que melhorar sua postura."

Haruhi disse isso enquanto roubava o macarrão de Asahina-san, e começava a o mastigar.

Eu sei. Eu posso até não saber o quanto vai demorar, mais sei que a figura de Asahina-san vai eventualmente chegar aos padrões de uma Miss Universo. Mesmo que ela mesma não saiba disso.

Koizumi apenas sorriu com ironia, enquanto Nagato silenciosamente trouxe o seu sanduíche a boca e começou a mastigar. Eu deixei meu prato de lado, e falei com Haruhi, que havia acabado de comer seu segundo prato de almoço.

"O que você vai fazer se o monge decidir reclamar com a escola? Seu disfarce foi arruinado pelo uniforme de Koizumi."

"Isso não vai ser um problema"

Haruhi certamente é otimista.

"Estávamos bem longe dele e, alem do mais, você vê esse tipo de blusa escolar em qualquer lugar. Nós apenas iremos fingir ignorância, e ele não vai fazer nada com a gente. As balas de plástico não serão evidência o suficiente contra nós."

Olhei para a filmadora que continha todas as evidências do ocorrido, pois bem, isso não será mostrado a todos quando o filme for exibido? Não acredito que existam duas empregadas que estavam na mesma hora cercadas por pombos no meio de um templo.

"E o que faremos agora?"

"Voltaremos para a praça. Pensando bem, é o tipo de localização que sozinha não é o suficiente para criar uma cena de batalha intensa. Com o propósito de cativar a audiência, precisamos de algo mais drástico. Bem, eu tenho um monte de idéias, como Mikuru-chan correndo enlouquecida pela floresta, enquanto é perseguida por Yuki. E então Mikuru-chan vai cair de um penhasco, mas é salva por Koizumi-kun, que estava passando por ali. O que vocês acham desse desenvolvimento para a história?"

Que desenvolvimento retardado. Onde você encontraria um estudante de ensino médio que estava caminhando no meio de uma floresta de uniforme? Não seria muito pouco natural? Sendo tão louca quanto parece, Haruhi vai acabar realmente jogando Asahina-san do penhasco. Nesse caso, porque você mesma não se joga de lá? Seja a duble de corpo de Asahina-san e vista aquela fantasia também. Hmm, se bem que acho que o tamanho dos seios seria diferente...

Bem quando eu estava pensando sobre isso, Haruhi levantou a sobrancelha e me encarou.

"O que você estava pensando? Não me diga que estava tendo ilusões de como eu ficaria na fantasia de garçonete."

Na verdade, você deu um palpite correto.

"Eu sou a diretora, afinal. Não posso aparecer alegremente em frente à câmera. Se eu escolher seguir dois coelhos de uma só vez, posso tropeçar nas raízes e acabar quebrando o nariz."

Você não é a produtora executiva também?

"A equipe pode ter quantos títulos quiser, mas não é tão ruim assim encenar um personagem que só aparece de vez em quando, como uma jóia valiosa. Precisamos adicionar fatores que podem excitar esses fanáticos."

Que tipo de fanáticos você está tentando atrair para esse filme? Fanáticos por Asahina? Porque até agora todo o filme não foi nada alem de um especial de Asahina Mikuru de uniforme... mas novamente digo, isso já é bom o suficiente.

Koizumi colocou elegantemente um copo de leite na mesa e disse;

"Nós três seremos os únicos personagens do filme?"

Seu idiota! Pare de fazer perguntas desnecessárias!

"Bem..."

Haruhi franziu os lábios, como sempre fazia quando estava pensando profundamente. Você não deveria pensar nesse tipo de coisa de antemão?

"Três pessoas não parece grande coisa. Na verdade, é muito pouco. Precisamos de uns figurantes para refletir melhor o espírito energético da protagonista. Obrigada por me lembrar disso, Koizumi. Como símbolo da minha gratidão, aumentarei seu tempo de aparição no filme."

"Ah... bem, muito obrigado."

O sorriso no rosto de Koizumi dizia algo como "Ah, merda." Bastante merecido! Eu sabia que nada de bom viria disso, então nem me dei ao trabalho de dizer alguma coisa.

Por outro lado, onde ela espera encontrar novos personagens? Há uma chance de 75% de que as pessoas que ela encontre randomicamente sejam anormais. De acordo com a ordem, a próxima pessoa deve ser um slider dimensional, mas eu tenho um pressentimento que esse tipo de pessoa não gostaria de vir a esse mundo em primeiro lugar.

"Antes do chefe ser derrotado, temos de derrotar primeiro os capangas. Capangas, capangas..."

Haruhi colocou o dedo embaixo dos lábios e olhou para mim.

"Aqueles caras vão servir, certo?"

Eu também sabia do que Haruhi estava falando. Taniguchi e Kunikida. Eles eram os únicos que podiam ser usados sem criar muitos problemas. Eram a escolha mais segura, os capangas perfeitos, que são ainda mais insignificantes que simples coadjuvantes. Mais inofensivos que uma solitária alma penada.

"Eu acho que sim."

Tirei meus olhos da diretora, que estava pensando em quem mais usar, e dei uma espiada em Asahina-san debruçada na mesa de olhos fechados. Ela parecia tão bonita quando dormia, na verdade ela me cativava mesmo quando estava fingindo dormir.

Agora olhei para Nagato, que estava bebendo sua soda profundamente com o canudo. Enquanto admirava a sua expressão petrificada, eu perguntei;

"Então, o que vamos filmar agora?"

Haruhi engoliu o resto da tigela de macarrão direto para o estomago, demorou um pouco para ela terminar.

"De qualquer forma, eu quero que Mikuru-chan sofra mais um pouco. Pois esse filme é sobre uma garota que encara todos os tipos de adversidades, e contra todas as chances consegue virar a mesa e viver feliz para sempre. Quanto mais Mikuru-chan sofrer, maior será a catarse [5] que teremos. Não se preocupe, Mikuru-chan, esse será um 'final feliz'."

5-[Nota do tradutor: Catarse é a purificação das almas por meio da descarga emocional provocada por um drama].

Então só a parte final será "feliz"? Antes disso, Asahina-san terá de aceitar todo o abuso tirânico de Haruhi. Que tipo de roteiro é esse que Haruhi preparou? Acho que eu sou o único que pode frear esse comportamento desgovernado, então tenho que ser mais cuidadoso e observar ela constantemente. E que coisa é essa de catarse?

Asahina-san estava com os olhos entreabertos, aqueles olhos únicos, sendo o da esquerda azul, como se pedissem a minha ajuda. Mas então ela suspirou levemente e lentamente fechou os olhos. O que isso significava? Eu não sou confiável o bastante?

Agora mesmo, quando Koizumi e Nagato não poderiam criar uma barreira para o tsunami que estava por vir, apenas eu poderia estar ao seu lado.

Mesmo que nos últimos seis meses, não importa o que eu fizesse, não consegui dar um fim à insanidade de Haruhi. Eu sei muito bem que o que eu tenho feito está sendo bastante fútil, mesmo assim gostaria que ela apreciasse a minha paixão cavalheiresca.


Falando francamente, eu não acho que em algum momento tentei parar a Haruhi. Há meio ano atrás, eu achava que mesmo se cortasse fora os braços dela, Haruhi não desistiria de criar a Brigada SOS. Julgando dos resultados posteriores, mesmo quando eu ainda estava confuso, Haruhi já havia preparado a sala do clube, e arranjado os membros, no final, eu mesmo cai em sua armadilha e me tornei um membro... no fim foram esses os resultados.

Porém, se eu tivesse acertado a cabeça daquela garota com um taco de baseball, ou talvez a impedido com um ataque surpresa, provavelmente nunca teria conhecido Asahina-san, Nagato, ou Koizumi. É possível que eu os conhecesse por outros meios. Em outras palavras, eu nunca saberia sobre suas ridículas verdadeiras identidades como aliens ou viajantes do tempo. Apenas acharia que eles eram colegiais normais enquanto nos esbarrávamos no corredor.

Não me pergunte sobre que caminho eu preferiria. Já ouvi todos os outros três membros declararem suas identidades, e também já vi os poderes aterradores de Nagato, uma Asahina-san que crescera e se transformara em outra pessoa, e os olhos de Koizumi se tornando vermelhos.

Se eu visitar um universo paralelo, talvez encontre uma outra versão de mim que nunca falou com Haruhi ou com os outros três. Então se você tem alguma questão sobre isso, vá perguntar para o outro "eu", porque eu não sei de nada.


Agora mesmo, estou em uma situação em que posso dizer com confiança que não sei de nada. Hmm, fazer um filme amador para o festival da escola não tem nada de estranho. O que é estranho é a cabeça de Haruhi, mas isso já é um fato amplamente conhecido, e não tem nada de surpreendente. Haruhi falando bobagens e subitamente querendo fazer um filme não é algo novo. Para mim, era só outro trabalho de rotina, tudo que eu precisava era fazer o que ela mandava e rezar para que ficasse tudo bem...

Tinha esse pensamento em mente, e esse foi o motivo que não me fez tentar impedi-la de rodar esse filme. Eu não ligo se você é a diretora ou qualquer coisa assim, faça o que você quiser! Manipule as pessoas ao seu redor à vontade! Faça o que a faz se sentir melhor, pois estou disposto a suprimir os suspiros infinitos do meu coração, e ir com você até o final. Porque a última coisa que eu quero é ficar preso em uma dimensão desconhecida.

Enquanto pensava nisso tudo, olhava para a orgulhosa Haruhi, para a exausta Asahina-san, para o sorridente Koizumi, e para a expressão imutável de Nagato.


Não tinha idéia de que o momento de arrependimento de não ter impedido Haruhi chegaria tão rápido.


Voltamos à praça no parque florestal. Não podíamos fazer algo em relação a essa falta de planejamento? Se soubéssemos disso, poderíamos ter filmado tudo antes de ir até o templo! O maior problema era o roteiro existir somente na cabeça de Haruhi. No final das contas, era importante transformar intenções em palavras, preservar informações no papel deve ter sido a melhor idéia de todos os tempos.

"Acho que devemos desistir das armas. Acho que as balas são impressionantes, mas não há nenhum barulho ou explosão, isso tira toda a intensidade da coisa. Eu não acho que elas sejam realmente úteis, são só modelos de brinquedo afinal."

No final, para Haruhi a loja de modelos Yamauchi era apenas um mero patrocinador. Ela continuou fazendo duas cruzes no chão com a ponta de seus sapatos. Provavelmente estava marcando aonde Asahina-san e Nagato deveriam ficar.

"Mikuru-chan fica aqui, e Nagato fica bem ali."

"Um..."

Sendo arrastada em círculos, Asahina-san estava tão cansada quanto alguém que queima um dia inteiro de calorias. Ela estava mentalmente exausta demais para resistir, e andou para o palco com sua roupa sexy de garçonete. Ela estava agora acima da vergonha, tendo regressado para o estado mental de uma garotinha, se movimentando como uma boneca.

Nagato - que sempre fora como uma boneca - andou quieta para o seu lugar designado e esperou em silêncio. A sua capa preta ondulou em meio à brisa que descia da montanha.

Haruhi apontou para elas com a arma que havia furtado de Asahina-san, e disse;

"Não saiam dessa posição, eu quero filmar vocês duas se encarando. Koizumi-kun, prepare a placa refletora."

Ela então voltou a sua cadeira de diretora, apontou a arma para o ar, e puxou o gatilho.

"AÇÃO!"

Haruhi gritou a plenos pulmões.

Rapidamente levantei a câmera, mas Asahina-san provavelmente estava mais confusa do que eu. Ação? Haruhi disse para elas apenas ficarem paradas, não especificou nenhuma outra ação a ser feita.

" ... "

Nagato e Asahina-san olhavam para a expressão uma da outra em completo silêncio.

"Um..."

Asahina-san foi a primeira a desviar o olhar.

" ... "

Nagato continuava a encarar Asahina-san.

" ... "

E Asahina-san voltou a ficar em silêncio.

E então, a cena delas se encarando sob a brisa da montanha, se perpetuou eternamente.

"Isso já é o suficiente!"

Por alguma razão, Haruhi parecia furiosa.

"Como vocês podem ter um combate assim?"

Era porque as duas só estavam esperando ali paradas.

Trocando a pistola pelo megafone, Haruhi andou em direção a Asahina-san e a acertou na cabeça, que tinha dois rabos de cavalo castanhos e macios, feitos pela própria Haruhi.

"Mikuru-chan, me escute. Não importa o quão bonitinha você seja, você não deve abaixar a sua guarda. Garotas bonitas existem por toda à parte! Se você viver pacificamente, vai ser ultrapassada por garotas mais novas em um piscar de olhos!"

O que você está tentando dizer?

Asahina-san acariciava a sua cabeça inocentemente, então Haruhi disse de uma maneira sábia;

"Então, Mikuru-chan, é por isso que você precisa atirar raios laser dos seus olhos!"

"Eh?"

Asahina-san arregalou os olhos em espanto.

"Mas isso é impossível!"

"Esse é o motivo do olho esquerdo ser de uma cor diferente! Eu não mudei a cor do olho para azul simplesmente porque queria! Escondido nesse olho está um poder incrível, a habilidade de disparar raios laser. Então atire o seu Raio Mikuru!"

"E... eu não consigo!"

"Faça um esforço!"

Haruhi cobriu a cabeça de Asahina-san com os seus braços, e a acertou com o alto-falante amarelo.

A cena de Asahina-san gritando de dor era trágica demais para mim. Eu entreguei a câmera a Koizumi, que deixara de lado a placa refletora e olhava entretido para a cena, e segurei a gola de Haruhi.

"Pare com isso, sua idiota!"

Empurrei a pequena garçonete para longe da tirânica ultra diretora.

"Humanos normais não podem soltar lasers dos olhos. Você é retardada?"

Apenas olhe como Asahina-san está esfregando a cabeça com as mãos! Olhe o quão desencorajada ela ficou, lágrimas peroladas estão escorrendo no seu rosto agora.

"Hmph."

Com sua gola ainda sendo segurada por mim, ela virou sua cabeça evasivamente e resmungou.

"É claro que eu sei disso."

Eu a deixei escapar, e então Haruhi bateu suavemente com o alto falante na própria nuca.

"Eu só queria dar a ela a incrível impressão de estar soltando raios laser, afinal Mikuru-chan não tem a aura que uma protagonista deve ter. Com certeza você não tem senso de humor."

É porque o seu humor não é muito engraçado, e isso é um grande problema. O que você faria se Asahina-san realmente conseguisse soltar raios laser?


... isso é impossível, não é?

Me virei desconfortavelmente para Asahina-san e tentei gesticular para ela. Asahina-san me olhou com aqueles olhos úmidos, e piscou inclinando o seu pescoço levemente para o lado. Aparentemente, eu não consigo me comunicar com Asahina-san apenas com os olhos. Enquanto pensava naquilo, Koizumi veio a mim, e deu o seu conselho sem pudores.

"Tenho certeza de que você pode cuidar disso colocando efeitos especiais durante a edição?"

Koizumi sorriu gentilmente como um golpista, e entregou uma caixa de lenços para Asahina-san.

"Será que Suzumiya-san não tinha planejado isso desde o inicio?"

"Claro que eu planejei." - disse Haruhi.

Como se você planejasse alguma coisa; pensei comigo mesmo.

Asahina-san esfregou os olhos molhados com o lenço e assou o nariz, então olhou com suspeitas para Haruhi, e para mim.

Nagato era como um fantoche, parada silenciosamente no vento. Porque o sol ainda não sumiu? Afinal não posso mais esperar para que as filmagens tenham que parar devido à falta de luz.

"Vamos refazer a última cena."

Haruhi disse aquilo e começou a discutir como fazer a pose tão importante.

"Raio Mikuru! Você tem que gritar e fazer essa pose."

"A... assim?"

"Não, desse jeito! Então, feche o olho esquerdo."

O conceito de Haruhi envolvia colocar a mão esquerda sobre o olho direito, com os dedos formando um V, então disparar um raio com o piscar do olho.

"Mikuru-chan, tente dizer isso também."

"Raio... Mi, Mi, Mi, Mikuru!"

"Mais alto!"

"Raio Mikuru!"

"Não seja tímida, mais alto!"

"Um... Ra~~io Mikuru!"

"Amplifique a voz com o seu abdômen!"

Que inferno era aquilo?

Asahina-san, que agora corava furiosamente enquanto gritava alto, estava sendo forçada por Haruhi a gritar com o seu abdômen. Os olhares tortos das crianças e dos seus pais que passavam pela praça, estavam se tornando um fardo pesado demais, eu realmente queria dizer a eles que não havia nada para se ver ali. Mas como estávamos fazendo um filme, basicamente éramos como uma trupe de circo atraindo a atenção das pessoas por onde quer que passássemos. Na verdade não era tão ruim filmar essas cenas tão bem planejadas. Eu não tinha idéia de quão insana a historia de Haruhi poderia se tornar, mas mesmo com o propósito de promover Asahina-san, isso já era demais.


Momentos depois, Asahina-san e Nagato voltaram as suas posições de combate; Koizumi ficou ao lado segurando o refletor com suas mãos levantadas como se estivesse prestes a gritar "Banzai!" a qualquer momento, Haruhi estava sentada orgulhosamente em sua cadeira como sempre. Eu por outro lado fiquei uns dois metros atrás da silhueta negra de Nagato, filmando sobre o ombro de Asahina-san – esse era o ângulo exigido por Haruhi.

A mudança que se seguiu veio muito subitamente.

"OK, agora dispare o raio!"

Asahina-san, que agora corava furiosamente enquanto gritava alto, estava sendo forçada por Haruhi a gritar com o seu abdômen.

Haruhi gritou, então Asahina-san fez sua pose sem muita confiança.

"Raio Mi... Mikuru!"


A câmera gravou sua voz pouco natural enquanto ela gritava e fazia sua pose.

Naquele momento a lente da câmera ficou negra de repente.

"Huh?"

Eu não sabia o que estava acontecendo, até pensei que a câmera havia quebrado. Tirei os meus olhos da filmadora, e vi aquela fantasia negra e agourenta, com seu chapéu pontudo parada em minha frente.

" ... "

Nagato cerrou os punhos em frente aos meus olhos. Então ela era a culpada pelas lentes terem escurecido, as cobrindo com sua mão direita.

"Huh?" - Haruhi abriu a boca espantada.

A grande cruz que Haruhi desenhara no chão, estava agora a dois metros de mim, e durante todo o tempo Nagato estava em cima dela. Quando Haruhi gritou "Ação", e Asahina-san disse sua fala, a câmera de fato já mostrava as costas de Nagato. Então como ela conseguiu aparecer bem diante dos meus olhos, em menos de um segundo, e ainda por cima segurar algo com seus punhos? Só posso explicar uma coisa dessas com algum tipo de fenômeno de distorção espacial.

"Huh?" - Haruhi também parecia confusa, e disse - "Yuki, quando você correu para aquele lado?"

Nagato não respondeu nada, apenas direcionou seus olhos de obsidiana para Asahina-san. Asahina-san arregalou os olhos e soltou uma expressão de pavor, então piscou lentamente...

Novamente as mãos de Nagato se moveram na velocidade da luz, e agarraram algo em pleno ar como se pegasse um mosquito desavisado. Aonde foi parar a varinha mágica que ela estava carregando?

Huh? Acho que ouvi alguma coisa estranha, como um fósforo que é aceso e jogado no meio da água.

"Eh...?"

E soltando uma exclamação de surpresa estava Asahina-san, ela provavelmente não tinha idéia do que estava acontecendo. E para dizer a verdade nem eu sabia. O que Nagato estava fazendo?

Como se estivesse implorando por ajuda, Asahina-san virou seus olhos para o lado... E repentinamente um barulho estranho veio da direção de Koizumi. Se eu não me engano, soava como um carro quebrado em que se faltava combustível...

A placa refletora que Koizumi estava segurando – basicamente um pedaço barato de poliestireno branco – estava agora fatiada ao meio. Era raro ver alguém calmo como Koizumi olhando assustado para o pedaço do refletor que fora cortado. Mas infelizmente não tive tempo para aproveitar essa cena. Nagato fez o seu movimento, e apenas ela.

A figura negra levemente pousou em frente a Asahina-san. Nagato então tirou a mão direita de baixo da capa e agarrou o rosto de Asahina-san, seus pequenos dedos pressionavam a testa de Asahina-san, cobrindo os seus olhos.

"Kyaa... Na... Nagato-san...!"

Nagato agarrou a perna de Asahina e jogou a garçonete ao chão. A deusa da morte agora sentava sobre aqueles seios fartos como se estivesse montando em um cavalo. Asahina-san gritava desesperançosa, agarrando os braços finos de Nagato, que faziam o ataque.

"Ah!"

Finalmente voltei aos meus sentidos, mas o que diabos estava acontecendo? Em primeiro momento achei que Nagato estivesse apenas bloqueando a gravação, porem logo em seguida o refletor foi cortado ao meio, e então sem que eu pudesse entender, a alien atacou a viajante do tempo. Quando Haruhi mandou ela fazer isso? Na verdade, não parece algo assim, afinal, a diretora estava tão espantada quanto eu e Koizumi. Sinceramente, não acho que isso tenha a ver com a sua direção soberba.

"... corta!"

Haruhi se levantou e bateu com o alto falante na cadeira.

"Espera, Yuki, o que você está fazendo? Isso não estava no roteiro!"

Nagato estava sentada silenciosamente sobre Asahina-san, cujas pernas brancas se debatiam tentando se levantar, enquanto Nagato segurava o seu rosto.

Eu ouvi alguém resmungando atrás de mim, me virei e encontrei Koizumi encarando o pedaço de plástico cortado e contorcendo a boca em dúvida. Percebendo que estava olhando para ele, Koizumi me olhou estranhamente. O que isso deveria significar?

Esquece, eu não ligo para o olhar enigmático de Koizumi. O mais importante agora era parar Nagato, que subitamente e sem motivo atacou Asahina-san. Segurei a minha câmera e corri em direção a garçonete e a maga de manto negro, que estavam entulhadas em uma só figura.

"Ei, Nagato, o que você está fazendo?"

Então o chapéu pontudo se virou lentamente para mim. Nagato olhou me olhou com aqueles olhos de buraco negro, seus lábios pequenos estavam se abrindo.

" ... "

Esperei que ela dissesse algo, mas no final, nada foi dito. Nagato aparentava não ter palavras para usar, e então fechara os lábios, e se levantara lentamente. A capa negra tremulou levemente enquanto ela recolocava o braço para dentro.

"Sob..."

Estirada no chão, Asahina-san parecia estar traumatizada. É claro que estaria, se Nagato corresse em minha direção sem mostrar nenhuma emoção, e me derrubasse, é obvio que estaria assustado até os ossos. Pois agora mesmo Nagato parecia uma daquelas bruxas negras que as pessoas não gostariam de ver a noite. Uma estudante de pré-escola provavelmente molharia as calças ao vê-la.

" ... "

Nagato inclinou a ponta do chapéu em direção à testa, e se levantou, olhando para mim.

Eu levantei Asahina-san, que estava tremendo, pelos seus braços e a ajudei. Asahina-san soluçou enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto. Seus olhos, cobertos por longos cílios, estavam ensopados em com as lágrimas, o que só aumentava o seu charme... huh?

"Isso é ridículo, o que vocês duas estão fazendo? Parem de fazer coisas que não estão no roteiro."

A diretora, para começar, nem ao menos fez um roteiro, então como iríamos segui-lo?

"Huh?" nós dois exclamamos simultaneamente.

"Mikuru-chan, o que aconteceu com suas lentes de contato?"

"Ah..."

Asahina-san, que agarrava meu braço com força, colocou seu dedo sobre o olho esquerdo.

"Eh?"

Era natural que nós três ficássemos confusos, deveríamos perguntar para a pessoa que sabia dos detalhes completos.

"Nagato, você viu as lentes de contato de Asahina-san?"

"Não vi."

Nagato respondeu se hesitar. Eu tinha um pressentimento de que ela estava mentindo.

"Será que não caiu durante a luta?"

Haruhi deu o seu palpite e começou a procurar no chão.

"Kyon, venha me ajudar a procurar. Essas lentes não são baratas, você sabe, são as melhores do gênero."

Eu me ajoelhei no chão e ajudei Haruhi a procurar. Eu sabia que era uma perda de tempo, pois havia visto que Nagato havia pegado algo com sua mão direita quando derrubara Asahina-san no chão, e provavelmente tinha escondido as lentes.

"Eu não consigo achar nada."

Haruhi torceu a boca. Senti pena dela, afinal, eu não estava procurando seriamente. Eu me virei para trás e encontrei Koizumi brincando com as duas peças cortadas do refletor, as juntando e logo em seguida a separando novamente. Você devia ao menos vir aqui ajudar!

Koizumi sorriu e falou calmamente;

"Talvez ela tenha sido levada pelo vento, afinal é uma coisa bastante leve."

Koizumi disse aquelas bobagens, e então me mostrou a placa refletora. Haruhi se levantou prontamente e a levou embora.

"O que aconteceu? Quebrou? Hmph, como esperado de um produto barato. Cara, o clube de filmes da escola só sabe comprar porcaria. Koizumi-kun, tente grudar de volta com fita adesiva."

Haruhi falou de uma maneira despreocupada, então virou aqueles olhos de crocodilo para cima da pasma Asahina-san, cujas lágrimas já haviam cessado.

"Não podemos continuar a cena sem as lentes de contato coloridas, o que faremos agora?"

Ela parecia estar pensando seriamente, então estalou os dedos como se a lâmpada sobre a sua cabeça tivesse acendido.

"É isso! Vamos mudar isso para que a cor dos olhos só mude durante a transformação!"

"T... transformação?" - Asahina-san perguntou.

"Exatamente. Vai ser bem pouco apropriado usar uma roupa de garçonete o tempo todo. Vamos designar essa como a fantasia que vem após a transformação, você vai vestir algo mais natural o resto do tempo."

Eu achei algo extremamente ridículo tentar procurar por realismo em um mundo ficcional que já era bastante ridículo. Haruhi soava como se finalmente tivesse admitido para si mesma que uma fantasia daquelas seria algo inapropriado. Asahina-san abanou a cabeça rapidamente.

"C... claro! Eu gostaria de vestir algo normal também."

"Então durante os períodos de normalidade, Mikuru-chan vai vestir a fantasia de bunny-gal."

"EH!? P, p, por que!?"

"Porque essa é a única fantasia que temos. Se você vestir uma roupa normal, não será atraente o bastante. Espere um pouco! Para falar a verdade, eu já pensei um pouco sobre isso. Normalmente, Mikuru-chan, seria uma bunny-gal que faz propaganda para um conjunto comercial, mas em tempos de perigo, ela se transforma em uma garçonete de combate! O que você acha? Perfeito, não é mesmo?"

Você não acabou de dizer que era muito inapropriado?

"OK, vamos lá!"

Haruhi revelou o seu olhar sinistro, e seu sorriso em forma de lua crescente. Ela agarrou Asahina-san pelos braços e a carregou nas costas.

"Eh? E... espera! Owww!!!"

A garçonete gritava amedrontada enquanto era levada para a floresta.

Hmmm.

... por mim tudo bem. Só posso juntar as minhas mãos e pedir perdão para Asahina-san, pois todo esse tempo estava esperando para Haruhi ir embora. Estarei ajudando com a sua fantasia, não deixarei seu sacrifício ser em vão.

... certo, preciso perguntar para Nagato sobre toda aquela confusão.

"Bem, o que foi toda aquela performance repentina lá atrás?"

Nagato segurou a aba do chapéu com sua mão esquerda. Seu rosto estava encoberto parcialmente pelas sombras, então lentamente colocou a mão direita para fora. Mesmo tendo pensado inicialmente que ela estava inteiramente coberta pela capa, ainda dava para ver a manga clara do uniforme. Nagato estendeu o dedo indicador, e ali estavam as lentes de contato azuis.

Então quer dizer que ela realmente as pegou.

"Isso."

Nagato disse lentamente.

"Laser."

Então novamente parou de falar.

...

Ei, eu estava esperando por isso há algum tempo, e você não alcançou os requerimentos mínimos para transmitir mensagens claramente! Fale por pelo menos dez segundos!

Nagato olhou para o dedo e disse.

"Um raio de pulso transparente de alta intensidade."

Ela disse em uma velocidade bastante lenta. Entendo, é um pulso transparente de alta intensidade...

Desculpe, eu fiquei ainda mais confuso agora.

"Um laser?" - perguntei.

"Sim" - respondeu Nagato.

"Isso é incrível" - Koizumi replicou.

Koizumi pegou as lentes dos dedos de Nagato, e as examinou sob a luz do sol.

"Parece uma lente comum para mim."

Ele disse algo como "Realmente impressionante!", mas não vi como ele poderia ficar surpreso com isso, se fosse o caso eu também estava "impressionado."

"O que isso deveria significar!?"

Koizumi sorriu e disse;

"Posso dar uma olhada na sua mão direita? Não a sua, digo, a mão de Nagato-san."

A garota encapuzada olhou para mim, pedindo a minha permissão, então eu acenei minha cabeça com aprovação. Após obter a minha permissão, Nagato abriu os outros quatro dedos, que estavam fechados fortemente já havia algum tempo. Eu fiquei sem ar ao olhar aquilo.

" ... "

Uma brisa silenciosa passou por nós. Subitamente senti um arrepio, finalmente entendi. Isso explicava tudo.

A superfície da palma da mão de Nagato estava repleta de manchas negras, que pareciam ter sido queimadas por pinças em chamas ou algo assim. Havia umas cinco dessas.

"Não consegui as conter."

Não fale assim tão relaxadamente, esse negocio dói só de olhar.

"Era muito poderoso, e aconteceu em um instante."

"Os lasers vieram do olho esquerdo de Asahina-san?" - Koizumi perguntou.

"Sim."

O que você quer dizer com "sim?" Koizumi enlouqueceu também? Será que eles já perceberam o que estava acontecendo?

"Começando a recuperação."

Depois de Nagato ter falado, os buracos escuros começaram a desaparecer e encolher na velocidade da luz, e logo em seguida sua mão voltou a sua maciez normal.

"O que diabos aconteceu?"

Eu só podia ficar surpreso.

"Asahina-san realmente atirou raios laser dos olhos?"

"Não eram partículas aceleradas, mas sim raios intensificados."

E que diferença isso faz? Não me importo se são lasers, masers ou raios atômicos de calor usados para destruir o casulo da Mothra [6], é tudo a mesma coisa para um leigo como eu. Qual a diferença entre um canhão de íons ou um canhão de antiprotons, se ambos podem ser usados para destruir o monstro?

6-[Nota do tradutor: um dos vilões de X-Men].

O problema real era, como Asahina-san atirou raios de calor atômico se não tinham monstros por perto?

"São raios intensificados, não raios atômicos de calor."

Eu já não disse que isso não faz a menor diferença? Não preciso dessas explicações científicas.

Nagato quietamente retraiu sua mão direita de volta para dentro da capa. Eu esfreguei a minha mão atrás da cabeça, enquanto Koizumi friccionava a lente com os dedos.

"Asahina-san já tinha essa habilidade originalmente?"

"Não." - Nagato rapidamente rebateu a hipótese - "Atualmente, Asahina Mikuru é um ser humano normal, seu corpo não é diferente de qualquer outra pessoa."

"Então as lentes coloridas têm alguma habilidade especial?" - Koizumi continuou a discussão.

"Não, elas não são mais que um mero adorno."

Tinha que ser, afinal, foi Haruhi que comprou as lentes. Mesmo não sabendo onde exatamente o problema estava, o fato de que foi ela que as comprou tornou tudo mais significante.

Isso era algo que precisava se investigado. Se Nagato não ficasse na minha frente, provavelmente o laser do olho de Asahina-san teria passado pela lente da filmadora, ido direto para meu olho, e saído por trás da minha cabeça, depois de queimar tudo lá dentro, especialmente o meu cérebro, ele provavelmente cheiraria bastante mal depois de ter sido incinerado. Aposto que essa não seria uma coisa bonita de se ver.

Falando nisso, me sinto bastante envergonhado de ter minha vida salva novamente por Nagato.

"Nesse caso."

Koizumi esfregou o queixo e sorriu.

"Isso foi obra de Suzumiya-san, certo? Se ela queria um Raio Mikuru, a realidade tratou de se ajustar de acordo com sua vontade."

"Correto."

A expressão de Nagato permaneceu vazia, mesmo com essa resposta tão firme. Eu nunca conseguiria agir tão calmamente quanto ela.

"Espere um pouco! Não tem nenhuma magia dentro dessa lente, certo? Então um laser assassino apareceu apenas porque Haruhi desejou isso?"

"Suzumiya-san não precisa apelar para magia ou ciência. Se ela acreditar que algo 'existe', então isso poderá realmente existir."

Eu não vou aceitar essa maneira distorcida de se pensar.

"Haruhi realmente não queria que Asahina-san soltasse raios pelos olhos. Era só para o filme, não é o que ela disse? Era só uma piada."

"É verdade"

Koizumi abaixou a cabeça em acordo. Não aceite o meu desafio tão facilmente, como eu poderia continuar desse jeito?

"Todos sabemos que Suzumiya-san possui alguma forma de senso comum, mas também é conhecido que o senso comum desse mundo não se aplica a ela. Talvez devido a alguma forma extraordinária de acontecimento ela... ah, elas voltaram. Discutiremos isso depois."

Koizumi casualmente colocou a lente no bolso de sua camisa.


Cara, isso é realmente um incômodo.

Usar a inteligência humana para lutar contra uma força misteriosa que ameaça destruir a Terra; derrotando os caras maus; tendo batalhas sobrenaturais como uma rotina diária; intercalado com um pouco de drama no meio...

Para ser honesto, eu gosto muito mais esse tipo de história. Se não tivesse que encarar essas circunstâncias agora, preferiria estar em um mundo completamente ficcional, quanto mais ridículo melhor.

Mas olhem para mim agora. Só porque falei com certa colega de classe, acabei ativando a fonte todos esses desastres, me encontrando com todo o tipo de gente esquisita, e fazendo todo o tipo de coisa estranha. Atirar raios pelo olho? Que inferno é esse? Isso tem algum significado afinal?

Pensando bem, ninguém do trio estranho, sendo Asahina-san, Nagato, ou Koizumi, poderia realmente provar a sua identidade. Todos os três se apresentaram casualmente, e eu fui louco o suficiente para acreditar neles. Porém, depois de presenciar o que eu presenciei, não tive escolhas senão acreditar no que aconteceu, há um limite para tudo, e eu tenho o meu próprio conjunto de parâmetros para isso. Infelizmente acho que esses parâmetros estão ficando cada dia mais estranhos.

De acordo com seus testemunhos: Asahina-san é uma viajante do futuro, ela nunca disse de que ano era, apenas conheço a razão que a lavou para essa época – observar Suzumiya Haruhi.

Nagato é uma Interface humanóide viva, criada por uma entidade alienígena. "O que diabos é isso?" - você poderia perguntar, mas não entenderia nem se eu explicasse. Estou certo que mais da metade de nos nós - comigo incluso - não conseguem entender. O que essas pessoas estão fazendo em nosso planeta então? Nagato disse que seus chefes, a tal de Entidade de Dados Integrados, estava muito interessada em Suzumiya Haruhi.

E chegamos a Koizumi, ele é um esper enviado por um grupo autodenominado "A Organização". Uma das suas missões envolvia ser transferido para nossa escola e observar sabe quem? Correto, Suzumiya Haruhi.

E para Haruhi, que tem um papel central nisso tudo, conhece esse trio de personagens extraordinários há algum tempo, mesmo que não faça idéia das suas verdadeiras identidades. Asahina-san a descreveu como "distorção temporal". Nagato citou a "possibilidade de auto-evolução". Enquanto Koizumi chegou ao cumulo do ridículo, a chamando simplesmente de "Deus."

Obrigado pelo trabalho duro pessoal.

Eu sei que isso é pedir muito, mas, por favor, façam algo sobre Haruhi. De outra forma essa líder de brigada irá permanecer um enigma e terá nos preso com seu enorme campo gravitacional, como uma estrela de nêutrons. As coisas podem estar bem agora, mas imagine o que vai acontecer daqui a dez anos! O que vai acontecer se Haruhi continuar acreditando no que acredita hoje? Isso vai ser tremendamente problemático. Ocupando ilegalmente a sala do clube, andando por ai de mau humor, e arranjando confusão por onde passa. As pessoas podem tolerar isso durante a sua juventude, mas quando ela crescer as coisas vão ficar bem mais difíceis. Ela não conseguirá se ajustar à sociedade assim. Será que Nagato, Asahina-san e Koizumi continuarão fazendo a mesma coisa?

Então me deixem sair primeiro. Desculpe, mas não tenho intenção alguma de permanecer assim, afinal o tempo não espera ninguém. Você não pode "resetar" uma vida facilmente, e não existem "save points" jogados pelos becos nos permitindo salvar o nosso progresso.

Não posso fazer nada sobre Haruhi distorcendo o tempo, criando explosões de dados, ou destruindo e criando mundos. Nós somos pessoas diferentes. Não posso ficar brincando de gato e rato como uma criança para sempre. Mesmo que eu quisesse, no final eu tenho que seguir o meu caminho. Não importa se isso vai acontecer daqui a alguns anos ou daqui a algumas décadas, no final a hora vai chegar, não importa como.

"Vai reclamar por mais quanto tempo? Você já está acostumada com isso!"

Virei-me e vi Haruhi arrastando Asahina-san para fora da floresta.


"Mostre alguma dignidade como uma atriz profissional! Se trocar sem hesitação é a maneira mais rápida de ser a atriz revelação do ano! E não é como se eu estivesse pedindo para você ficar pelada. Afinal, uma pessoa deve manter sua preciosa dignidade intacta."

Haruhi soava como uma raposa que havia capturado um coelho. Haruhi agarrou Asahina-san, a bunny-gal, e a puxou para fora, aqueles sapatos de salto não pareciam se muito apropriados para andar no bosque, então ela revelou um sorriso tão brilhante que poderia cegar uma pessoa.

"Se esse filme for um sucesso, vou levar todo mundo para as termas com o dinheiro da receita. Acho que isso é uma recompensa para todos pelo trabalho duro! Você que ir também, não quer, Mikuru-chan?"

Mas... esqueça. Antes de isso acabar, é mais provável que entremos novamente no trem da loucura de Haruhi. A razão pela qual eu ando com você é que acabei sendo envolvido com o roteiro de filme que você criou. Se eu for tomar as coisas pela perspectiva de Koizumi, então não tenho nada a perder. O triste é que não tenho nenhum poder desconhecido.

Então me permita ser um membro da produção por enquanto.

Talvez daqui alguns anos eu olhe para trás e solte umas boas gargalhadas, dizendo; "Nossa, isso realmente aconteceu?"


Eu acho.


Vestida na fantasia de bunny-gal, Asahina-san agora parecia ainda mais envergonhada do que antes. Haruhi, por outro lado, estava brilhando em empolgação. Você está tão animada com o que?

Fingindo ajustar o foco da câmera eu dei um zoom no decote de Asahina-san. Tinha que confirmar uma coisa antes.

Do lado esquerdo do peito alvo de Asahina-san, havia uma pequena marca de nascença, olhando com cuidado, ela parecia ter a forma de uma estrela. Confirmação completa, essa é mesmo a minha Asahina-san, não é uma impostora.

"O que você está fazendo?"

O rosto de Haruhi apareceu subitamente em frente às lentes.

"Não filme cenas indesejadas. Essa câmera não é sua filmadora particular, sabe..."

Claro que sei disso! Eu nem apertei o botão para gravar ainda, só estava olhando.

"Certo gente! Me escutem! Agora vamos filmar o dia-a-dia de Mikuru. Mikuru-chan, você vai ter de andar naturalmente por ai enquanto a câmera te segue por trás."

Que tipo de cotidiano envolve caminhar por ai vestida de bunny-gal, em um tipo de parque?

"Não importa. Nesse filme é absolutamente normal. Não faz o menor sentido pedir por realismo em um mundo ficcional."

Essa deveria ser a minha fala! É porque você trouxe elementos ficcionais a essa realidade que as coisas ficaram a bagunça que estão hoje!

Depois disso, incauta ao fato de que podia soltar raios incendiários assassinos, Asahina-san fez algumas aulas de interpretação sob a tutela de Haruhi, enquanto colhia flores, assoprava folhas secas da palma da mão, e corria pela grama. Ela lenta, mas certamente estava perdendo a batalha contra a fadiga.

Foi quando Haruhi deu seu golpe de misericórdia.

"Hmm, uma bunny-gal andando pelas montanhas não é uma coisa que parece se encaixar bem na trama. Esse cenário realmente não combina. Vamos voltar às ruas!"

Sem hesitação alguma, Haruhi ignorara completamente as palavras antes proferidas por ela. Como resultado, pegamos o ônibus de volta para a cidade.


Sem precisar fazer o trabalho de iluminação por enquanto, Koizumi carregava a placa refletora, consertada toscamente com fita adesiva, embaixo do braço, assim como metade do equipamento que eu o entregara, enquanto segurava o corrimão com a outra mão.

Em pé ao seu lado, como uma sombra estava Nagato. Apenas Haruhi e Asahina-san estavam sentadas nos bancos vazios. Haruhi pegou a filmadora das minhas mãos e sentou nos bancos duplos, filmando Asahina-san pelo lado.

Asahina-san abaixou a cabeça e respondeu docilmente aos questionamentos de Haruhi. Suponho que a protagonista esteja sendo entrevistada pela diretora nesse momento.

O ônibus descia as ladeiras e rumava em direção a área residencial. Secretamente rezava para que o motorista se concentrasse em dirigir com segurança, ao invés de ficar nos olhando pelo espelho retrovisor o tempo todo.

Talvez as minhas preces tenham sido ouvidas, pois chegamos com segurança ao terminal. Durante toda a viagem os passageiros mantiveram distância de nós, quase todos encarando Haruhi, Asahina-san e Nagato. As orelhas de coelho e os ombros macios descobertos eram mortais demais para serem ignorados. Nesse momento, rumores sobre a bunny-gal Asahina-san devem ter se espalhado por toda a cidade, não só pelo colégio.

Talvez fosse essa mesma a intenção de Haruhi. "Você ouviu falar da coelhinha andando de ônibus ontem?" "Oh, eu a vi" "Do que vocês estão falando?" "Ouvi falar que há um clube na escola do norte chamado Brigada SOS" "A Brigada SOS?" "Certo, a Brigada SOS!" "Brigada SOS, huh? Eu me lembro de algo assim". Será que ela estava querendo fazer algo assim? Asahina-san não é a garota propaganda da brigada! De certa forma ela deveria ser a empregada que serve chá e meu antidepressivo. Estou certo de que ela pensa da mesma forma que eu, definitivamente.

É claro, Haruhi não tem a capacidade de ouvir as opiniões dos outros. Pois ela foi construída com um incrível mecanismo que ejeta toda o opinião desfavorável a ela no exato momento que entra pelos seus ouvidos. Se conseguisse descobrir como esse mecanismo funciona, estou certo de que a banca julgadora do premio Nobel de psicologia ficaria feliz em me adicionar à lista de indicados. Alguém aqui quer tentar? (O segredo é tentar inventar alguma bobagem para preencher as lacunas).


Até o por do sol, Asahina-san havia gastado o resto do dia vestida de bunny-gal. O que ela fez naquela fantasia, você me pergunta? Bem, não muita coisa, nada alem de correr por ai fantasiada. Não foi muito diferente daquelas atividades de "Caça aos eventos misteriosos", só que dessa vez estava mais exausta do que nunca, e tinha que encarar os olhares indiscretos das outras pessoas, se preocupando se eles iriam chamar a polícia. Haruhi não tinha conceitos de que uma permissão de filmagem era. Era da liberdade de Haruhi filmar aonde quer que fosse. Sua liberdade de ações era mais irrestrita do que a do Papa Inocêncio III no século três - penso que de fato, ela tem uma interpretação completamente errada de liberdade.

"Isso é tudo por hoje."

Finalmente Haruhi estava com sua expressão de um dia de trabalho bem feito. Exceto Nagato, todos nós deixamos escapar um suspiro de alivio. Que dia longo, acho que vou tirar uma folga domingo.

"Vejo vocês amanha. No mesmo lugar e horário de hoje."

Certamente ela não sabe como parar. Não sabia que você tinha o poder de pedir à escola que abonasse os nossos dias de folga.

"Do que você está falando? Já estamos com nosso cronograma de filmagem atrasado! Agora não é a hora de ficar descansando! Vocês podem descansar o quando quiserem depois do festival cultural! Antes disso, finjam que os finais de semana não existem no calendário!"

Esse é só o segundo dia de filmagem. Você poderia fazer algo em relação ao péssimo planejamento de tempo? E o que você quer dizer com atraso? Está dizendo que todas as horas de filme que fizemos hoje não vão ser usadas para nada? Haruhi estava querendo fazer uma grande franquia? Esse é só um filme para o festival cultural, não uma grande produção cinematográfica.

Mesmo assim, Haruhi não parecia se preocupar. Ela jogou todos os equipamentos para cima de mim, e usando apenas a faixa em seu braço, deu seu sorriso impecável.

"Nos encontraremos amanhã! Farei que esse filme seja um sucesso. Não, afinal, eu sou a diretora, sendo assim o sucesso já está garantido. O resto fica por conta de vocês. Sejam pontuais! Faltantes serão executados pessoalmente por mim!"

Depois de fazer esse anuncio, ela saiu cantarolando "Rock is dead" do Marilyn Manson.

"Vou informar Asahina-san sobre isso."

Koizumi sussurrou em meu ouvido antes de sair, Asahina-san estava coberta pela jaqueta de Koizumi. Se fosse inverno, teria trazido a minha própria blusa. Infelizmente, o tempo ainda estava travado no final do verão. Olhei para a pilha de equipamento aos meus pés, com um sentimento de frustração crescente no peito.

"Informar o que a ela?"

"Sobre o laser. Enquanto não houver alterações nas cores dos olhos, então nenhum raio estranho será disparado. Eu acho que a regra de Suzumiya-san funciona assim. Então não teremos problemas se ela não usar nenhuma lente de contato."

O assistente de iluminação, cujo trabalho era apenas segurar o refletor, me dera um sorriso profissional, como aqueles de vendedores de seguros.

"Só por segurança, acho que devemos tomar algumas medidas de precaução. Estou certo de que ela irá cooperar. Afinal, esses raios são coisas perigosas."

Koizumi andou em direção a encapuzada e negra Nagato, que estava parada ali como um pedaço de vidro antropomórfico.


Assim que voltei para casa carregando varias malas de equipamento, minha irmãzinha me olhou surpresa como se estivesse vendo uma criatura estranha. Essa estudante de primário, a culpada e responsável por espalhar o estúpido apelido de "Kyon" por aí, pulava e gritava "Isso é uma câmera? Wow! Posso brincar com ela também?"; Eu bradei "Vá embora, idiota!", e prontamente retornei ao meu quarto.

Estava tão exausto. As idéias de ser um cameraman voyeur evaporaram da minha mente. É claro que seria uma história diferente se envolvesse Asahina-san, mas eu não era doente a ponto de preservar imagens da minha própria irmã! Quer dizer, qual é a graça nisso?

Depois de colocar todas as malas no chão, me deitei na cama de uma vez. Tive um breve momento de paz, que foi arruinado por minha irmã, sob as ordens da minha mãe me chamando para jantar, me acertando com sua mortal cotovelada.





Capítulo 4[edit]

Capítulo 4


No dia seguinte, relutantemente esperamos novamente em frente à estação. Dessa vez, porém, ao invés dos três membros de sempre da Brigada SOS, me encontrei esperando junto de alguns rostos novos. Os chamados "capangas" que Haruhi havia chamado.

"Ei Kyon, isso é diferente do que você havia nos dito." - Taniguchi protestou.

"Onde está Asahina-san. Só viemos porque você disse que ela vira aqui nos buscar! Mas eu não a vejo em lugar nenhum."

Certamente a hora marcada já havia se passado, e Asahina-san não havia chego. Provavelmente ela estaria se escondendo em casa matando aula, depois de se sobrecarregar durante os últimos dois dias.

"Só vim aqui para satisfazer meu apetite visual, mas o que é isso? A única coisa que consegui ver até agora foi Suzumiya Haruhi ficando irritada. Mais que perda do tempo!"

Pare de reclamar! Por que você não vai observar Nagato então?

"Agora que você mencionou isso, a fantasia de Nagato-san realmente combina com ela."

Esse foi o Kunikida falando casualmente. Ele fora escolhido como capanga número dois, depois de Taniguchi. Haruhi me ligou ontem à noite enquanto tomava banho. Pegando o telefone que minha irmã me trouxera, lavei o meu cabelo enquanto ouvia ela falar.

"Aquele idiota do Taniguchi e aquele outro cara... não lembro o nome dele... de qualquer forma, eles são seus amigos. Traga aqueles dois amanhã. Quero usar eles como capangas."

Depois de dizer isso, ela prontamente desligou. Você poderia pelo menos dizer um "Oi!". Quando você faz pedidos para alguém, faça de uma maneira educada, e não ordene simplesmente! Faça pedidos como Asahina-san faria.

Não sei que planos Taniguchi e Kunikida teriam para seus dias de folga, então os chamei pelo celular depois do banho. Esses dois coadjuvantes tinham muito tempo livre e concordaram prontamente em ir. O que eles fazem nos feriados afinal?

Talvez esses dois caras não fossem o suficiente, pois Haruhi trouxe mais outra pessoa. Essa coadjuvante se inclinou para frente como se fosse cumprimentar e examinou Nagato, cujos olhos estavam cobertos pelo chapéu de abas largas. Ela abanou o seu cabelo, realmente comprido, diga-se de passagem, e sorriu para mim.

"Kyon-kun, cadê a Mikuru?"

O nome dessa garota realmente energética era Tsuruya, que por sinal era uma colega de classe de Asahina-san. De acordo com a própria, ela era... "uma amiga que conheci nessa era", então suponho que não exista nada de errado com ela. Voltando para junho, quando Haruhi nos forçou a participar do campeonato de Baseball, Asahina-san trouxe essa garota do segundo ano só para fazer volume no time. Claro que Taniguchi e Kunikida vieram também... para falar a verdade, até a minha irmã veio.

Tsuruya-san generosamente mostrou seus dentes brilhantes e disse:

"O que faremos hoje? Ela me disse para vir se estivesse com tempo, então eu vim. O que é essa faixa no braço de Haruhi? Para que é essa câmera de vídeo? E para que Yuki está fantasiada?”

Ela começou a me bombardear com uma pergunta atrás de pergunta. E quando estava prestes a responder, Tsuruya-san já havia ido falar com Koizumi.

"Wow, Itsuki-kun Você está maravilhoso como sempre!"

Ela é realmente uma pessoa muito ocupada.

Haruhi fora igualmente energética durante essa manhã, enquanto gritava e esbravejava pelo celular.

"O que!? Você é a protagonista! 30% do sucesso do filme depende de você! É claro que eu sou responsável pelos outros 70%, mas isso não importa! O que você disse? Dor de estomago? Pare de brincadeiras! Só uma estudante de primário usaria uma desculpa dessas! Você tem trinta segundos para chegar até aqui!"

Parece que Asahina-san começou a se trancar em casa como uma hikkikomori [1]. Quando percebeu que teria que passar hoje por tudo aquilo novamente, era natural para ela sofrer uma dor de estomago mentalmente induzida. Ela é uma pessoa de coração frágil afinal.

1-[Nota do tradutor: consiste de jovens que se ostracizam em suas próprias residências por receio de contato com outras pessoas].

"Sério!"

Ela começou a me bombardear com uma pergunta atrás de pergunta. E quando estava prestes a responder, Tsuruya-san já havia ido falar com Koizumi.

Haruhi furiosamente desligou o telefone, então revelou um olhar ameaçador como de um mordomo prestes a repreender uma criança sem modos a mesa.

"Ela merece uma punição!"


Você não deveria dizer isso. Asahina-san é diferente de você. Ela só quer viver pacificamente, ou pelo menos descansar um pouco no domingo quando não há aulas. Até eu penso assim.

É claro que Haruhi não gostaria que sua atriz principal desertasse. A diretora que exigia tanto da protagonista, mesmo sem pagar nenhum tostão pelo trabalho, disse:

"Eu vou atrás dela. Empreste-me essa mala um pouco."

Haruhi pegou a mala com as roupas e correu em direção a parada de táxis. Ela bateu no vidro de um táxi parado ali em frente, então o motorista abriu a porta, e ela então rapidamente no carro, que partiu imediatamente.

Agora que penso um pouco nisso, não sei aonde Asahina-san mora, mesmo assim fui ao apartamento de Nagato várias vezes...

"Consigo compreender o que Asahina-san sente."

Sem eu perceber, Koizumi já estava ao meu lado conversando comigo.

Tsuruya-san agora cumprimentava os dois palhaços da minha sala e dizia; "Yo, há quanto tempo não nos vemos!". Koizumi sorriu ao ver aquilo, e falou:

"Tenho a sensação que ela vai realmente se transformar em uma garota mágica se as coisas continuarem assim. Afinal, ela até soltou raios laser pelos olhos. Isso já está ficando ridículo."

"Como isso pode ficar ainda mais ridículo?"

"Você está certo. Se ela pedisse para cuspir fogo pela boca, não seria tão difícil assim de se treinar..."

Asahina-san não é um monstro. E nem uma artista de circo, ou uma lutadora cruel. O que aconteceria se ela queimasse aqueles belos lábios? Quem seria o responsável por isso Não me diga que você quer assumir essa responsabilidade?

"Não, se tem algo pelo que sou responsável, é de esperar pacientemente até que os 'celestiais' comecem a provocar o caos. Felizmente, as coisas não chegaram a este nível... Aquilo aconteceu uma só vez, acredito. Fico grato por vocês terem voltado. Graças a você o desastre foi contido e tudo voltou à normalidade."

Há meio ano atrás o mundo quase foi destruído graças a Haruhi. Graças ao meu trabalho duro e fadiga mental, a humanidade conseguiu sobreviver. Sinto que não seria demais se todos os chefes de estado ao redor do mundo enviassem-me cartas de agradecimento. Talvez devesse ter sido visitado por algum diplomata estrangeiro. Sigh, pelo outro lado, mesmo que isso acontecesse, esse tipo de visita só aumentaria os meus problemas, então nem esperei que eles aparecessem. A única recompensa que recebi foi ser abraçado por uma chorosa Asahina-san. E pensando bem, isso é mais que o suficiente. Então não sinto felicidade alguma em ser agradecido por Koizumi.

"O mesmo vale para o tal Raio Mikuru..."

Pare de chamá-la pelo primeiro nome; isso me irrita.

"Desculpe-me. Agora mesmo deveríamos ser capazes de prevenir que Asahina-san soltasse mais raios estranhos."

Como você tem certeza? Você está tão otimista só porque Haruhi não trouxe nenhuma lente colorida dessa vez?

"Não, já eliminamos esse fator de risco. Pedi um pouco de ajuda a Nagato-san."

Virei meu olhar para a garota que estava parada ali observando as lojas em frente à estação, e então olhei novamente para Koizumi.

"O que vocês fizeram com Asahina-san?"

"Não fique nervoso, nós meramente removemos a capacidade dela de soltar raios. Não estou certo de como foi, mas ao contrario de outras interfaces TFEI, Nagato-san não questionou nada. Eu só pedi para que reduzisse a ameaça provocada por Asahina-san a zero.”

"Que diabos é uma TFEI?"

"É uma abreviação que usamos entre nós, você não precisa saber o que significa. Sinto que Nagato-san é a mais incrível entre 'elas'. Eu estive pensando, pelo que mais ela é responsável alem de ser uma simples interface de comunicação?”

O que ele quis dizer era – o que mais aquela silênciosa garota que ama ler faz, alem de observar Haruhi? - Algumas pessoas sentem uma ponta de pena pelo sumiço de Asakura Ryouko, pessoalmente, não me sinto nem um pouco triste.


Após uns trinta minutos, o táxi que carregava Haruhi voltou, dentro dele estava também Asahina-san vestindo a roupa de garçonete. Assim como ontem, ela parecia bastante deprimida. Haruhi pediu o recibo para o taxista, provavelmente ela queria uma reposição para as suas despesas.

Taniguchi e Kunikida olharam para ela e resmungaram.

"Uma vez eu estava voltando da loja de conveniências no meio da noite, e um táxi passou por mim."

"E daí?"

"E no lugar da placa de 'livre' a lâmpada de cima dizia 'Carro do Amor'."

"Você deveria ficar surpreso com isso?"

"Antes que eu conseguisse confirmar, o táxi foi embora. Então foi que eu percebi, não é amor que falta na minha vida agora?"

"Aquele táxi realmente tinha uma lâmpada de 'Carro do Amor' em cima?' Talvez fosse um táxi customizado."

Fiquei surpreso com o nível da conversa desses dois idiotas, tenho a sensação de que a falta de talento estava ficando séria. Se Taniguchi e Kunikida eram ligas de níquel, então Tsuruya-san era platina. A diferença entre eles era como entre fogos de artifício e a nave Apollo 11.

"Ah, Mikuru veio de táxi! Eh? Quem é você?"

A tom de voz de Tsuruya-san era muito agudo, se deixasse o tom um pouco mais baixo ainda seria maior que o tom anormalmente alto de Haruhi. Acho que Tsuruya-san está nos limites do mundo normal.

"Wow! Você está tão sexy! Onde a Mikuru-chan trabalha? Você não tinha que ter pelo menos dezoito para fazer isso? Huh? Só tem dezessete? Oh, não se preocupe, afinal, não somos clientes."

Os olhos úmidos de Asahina-san estavam da cor natural, aparentemente havia uma escassez de lentes de contato.

O que você quer dizer com doente? Não vou deixar você usar uma desculpa dessas! Vamos continuar a filmagem! Agora vamos fazer as excitantes cenas de Mikuru-chan! Isso vale para todos os membros da Brigada SOS! Não importa a idade que tenham, a platéia sempre fica comovida com atos de sacrifício próprio!

Então se sacrifique você!

"Neste mundo, há apenas uma protagonista feminina. Para ser honesta, eu gosto de ser essa pessoa, mas dessa vez eu generosamente cederei esse papel, pelo menos até o final do festival escolar!"

Neste mundo, ninguém a considera a protagonista!

Tsuruya-san bateu no ombro de Asahina-san, a fazendo tossir freneticamente.

"Que fantasia é essa? Uma garota corredora? Que papel você está fazendo? É isso! Você pode vestir essa roupa na loja de yakisoba durante o festival cultural! Tenho certeza de que atrairemos muitos clientes assim!"

Realmente entendo o sentimento de Asahina-san em querer se tornar uma eremita. Encarando continuamente esses ataques ferozes, ninguém conseguiria manter-se em pé sobre a base do rebatedor.

Asahina-san levantou lentamente a cabeça, olhando para alguém que morreria por ela a qualquer momento, implorando por minha ajuda, depois desviou o olhar. Ela suspirou suavemente, mas mesmo assim foi capaz de esboçar um sorriso fraco para mim.

"Desculpe-me pelo atraso."

Olhei para a fronte de Asahina-san, que estava abaixada, e disse.

"Tudo bem, não é importante."

"Vou pagar o almoço de vocês."

"Não precisa, nem se preocupe com isso."

"Por favor, me perdoe por ontem, parece que disparei inesperadamente algum tipo de arma ótica...”

Dei uma olhada nas redondezas. Nagato estava olhando para o vazio, segurando sua varinha com estrela na ponta. Asahina-san olhou para mim, diminuiu o volume de sua voz, e falou.

"Eu fui mordida."

Ela esfregou o braço esquerdo.

"Mordida pelo que?"

"Por Nagato-san. Ela injetou nanomaquinas... então meus olhos não serão capazes de atirar mais nada, estou aliviada por isso."

Graças e isso, não tenho que me preocupar em ser fatiado em pedaços... certo? Falando nisso, acho que a cena de Nagato mordendo Asahina-san é bem difícil de se imaginar. O que ela injetou?

"Na noite de ontem, ela veio com Koizumi-kun à minha casa."

Koizumi que estava a cargo do equipamento, agora falava com Haruhi. Eu deveria ter ido com ele noite passada! Ele deveria ter me convidado para ir com ele! Fazer uma visita a Asahina-san definitivamente seria mais divertido do que ser forçado a ir até um Espaço Restrito.

"Do que vocês dois estão falando?"

Tsuruya-san enredou os seus braços curtos sobre o pescoço de Asahina-san.

"Mikuru, você é tão bonitinha! Como eu queria ter você como minha mascote! Kyon-kun, vocês estão se dando bem?"

Agora realmente...

Os dois palhaços, Taniguchi e Kunikida, estavam olhando para Asahina-san com suas bocas escancaradas. Ei, parem de olhar! O que vocês farão se ela perder um pedaço da fantasia? Enquanto eu divagava, Haruhi gritou.

"Já decidimos o lugar!"

Que lugar?

"O lugar para a gravação externa!"

Era isso? Eu havia esquecido que estávamos fazendo um filme, Não sei porque, mas só queria esquecer sobre isso. Por algum motivo, eu não posso deixar de sentir que era uma locação usada para algum filme de ídolos barato.

"Tem um grande lago perto da casa de Koizumi-kun, vamos começar a filmagem lá hoje!"

Em um piscar de olhos, Haruhi pegou uma bandeira plástica onde se lia "Elenco de filmagem e pessoal" e seguiu em frente.

Eu chamei Kunikida e Taniguchi, que ainda estavam com seu olhar sujo sobre Asahina-san, e generosamente dividi os equipamentos e malas com eles.


Andamos por trinta minutos até chegar ao lago. A localização era em algum lugar no meio de uma colina, que basicamente ficava no centro do distrito residencial. Se é que aquilo podia ser chamado de lago, era só uma grande poça de água, do tipo que os pássaros migratórios passariam batido durante o inverno. De acordo com Koizumi, os gansos e andorinhas estariam voando por ai qualquer momento.

O lago era cercado por uma cerca de metal, o que dizia as pessoas para não ultrapassar. Esse era o conhecimento comum, não era? Nem mesmo as crianças de primário brincavam mais por ali, exceto talvez, por aquelas mentalmente insanas.

"O que você está esperando? Venham e escalem isso logo!"

Me esqueci que de fato Haruhi era uma pessoa seriamente insana; assim que ela colocou o pé sobre a cerca e acenou para nós, Asahina-san colocou as mãos sobre a saia extremamente curta e olhou desesperadamente para nós. Tsuruya-san ficou ao lado e gargalhou.

"Huh? Para que viemos aqui? Ei! A Mikuru vai nadar?"

Asahina-san moveu a cabeça muito rapidamente, suspirou e olhou para a superfície esverdeada do lago, como se ela só conseguisse ver sangue.

"Você não acha que essa cerca é um pouco alta demais para escalarmos?"

Koizumi não estava falando comigo, mas com Nagato. Você está perdendo tempo, se que começar uma conversa séria com ela. Ela vai te dar uma resposta simples de "sim" ou "não", ou começar a usar algum tipo de jargão incompreensível.

" ... "

Mesmo com Nagato permanecendo em silêncio, ela teve uma reação peculiar. Nagato colocou o dedo sobre a cerca e a empurrou para frente. Por alguma razão, a cerca metálica que deveria estar presa a terra com firmeza, agora estava mole como um caramelo sob o sol forte, e lentamente coagulou-se em sua forma inclinada.

Ela era elegante como sempre. Freneticamente olhei para a reação dos outros, talvez eu estivesse me preocupando demais.

"Huh? Essa cerca parece bastante velha."

Kunikida disse como se soubesse de tudo.

"O que eu vou interpretar? Espero que não me dêem o papel de kappa [2]..."

2-[Nota do tradutor: segundo a lenda, um kappa é um demônio que vive nas águas].

Taniguchi resmungou enquanto caminhava pela abertura causada pela cerca torta, em direção ao lago.

Tsuruya-san o seguiu, segurando a mão de Asahina-san, que relutantemente ia até o lago aonde Haruhi esperava.

Estou aliviado pelo trio de extras não ter muita inteligência.

Koizumi sorriu para mim e para Nagato, seu corpo esguio passou facilmente pelo buraco, enquanto Nagato, a maga negra, passou por mim como um fantasma.

Bem, vamos logo com isso! Temos que terminar antes que alguém descubra que a propriedade pública foi vandalizada.


Asahina-san e Nagato continuaram se encarando, bem, vejo que esta é outra cena de combate. Eu realmente me pergunto se Haruhi escreveu o roteiro com seriedade. Quando Koizumi vai aparecer? Ele continua usando o uniforme, mas continuava atrás de mim realizando com primazia o seu trabalho de segurador da placa refletora.

Haruhi colocou a cadeira no chão e rabiscou o que parecia ser o dialogo em seu livro de anotações.

"Essa cena vai mostrar Mikuru encarando uma situação desesperadora, com seus raios sendo nulificados."

Haruhi parou de escrever e sorriu com satisfação.

"Sim, isso vai servir. Você ai, segure isso e fique bem aqui."

Então, Taniguchi ficou a cargo de segurar as placas com as falas. As duas atrizes começaram a ler as placas seguradas por um Taniguchi obviamente insatisfeito.

"I-isso não é o suficiente para me fazer desistir! A... alien maligno, Yuki-san! A... abandone a Terra de uma vez...! Umm... me desculpe..."

Asahina-san não podia evitar se desculpar depois de dizer suas falas. Nagato Yuki, a maga alien cruel, disse então:

"... então é isso?"

Ela abanou a cabeça impassível, e começou a ler as falas, orientada por Haruhi.

"Você é que vai desaparecer deste período de tempo. Ele irá cair em nossas mãos. Ele é valioso para nós. Mesmo que ele não tenha descoberto a totalidade de seus poderes ainda, são poderes muito preciosos. Uma parte vital para o plano de invadir a Terra."

Se movimentando em acordo com Haruhi, que agitava o alto falante, Nagato abanou a varinha estrelada em direção ao rosto de Asahina-san.

"E... e... eu não vou deixar que você faça isso! Mesmo que arrisque a minha vida para isso."

"Se é assim, prepare-se para morrer."

"Corta!" - Haruhi gritou e se levantou, ela se posicionou entre as duas e começou a falar.

"Vocês precisam criar uma atmosfera! Sim, alguma atmosfera como essa agora, mas não muito longe do roteiro. Mikuru-chan, venha aqui."

A diretora e a protagonista nos abandonaram e nos deram as costas. Abaixei a câmera e cocei o pescoço. O que será que elas estão discutindo?

Tsuruya-san não conseguiu mais se agüentar e começou a gargalhar alto.

"Que tipo de filme é esse? Isso pode ser realmente chamado de filme? Nyahahahaha! Isso é muito engraçado!"

Alem de você, acho que só Haruhi acha isso engraçado.

Taniguchi e Kunikida estavam ali com um olhar de "Que diabos viemos fazer aqui?" no rosto. Nagato estava ali ao lado, mesmo achando que ela não tinha nada a ver com a história toda. Enquanto Koizumi naturalmente olhava para a beira do lago. Tirei a fita, que estava quase cheia, colocando uma nova em seu lugar. Tinha o sentimento de estar produzindo apenas lixo inútil.

Tsuruya-san olhou o equipamento que eu carregava com interesse.

"Hmm, é isso que usam para fazer filmes hoje em dia? Está cheio de imagens engraçadas da Mikuru, certo? Posso dar uma olhada nela depois? Acho que será hilário."

Não é nem um pouco engraçado, sério. Entregar panfletos vestida de bunny-gal só dura um dia, penso que esse filme ridiculamente hilário vai durar até o festival cultural. Poderíamos parar de matar aula para não ir a escola logo de uma vez. Isso seria problemático para mim, pois não conseguiria tomar mais um bom chá. O chá de Nagato é sem gosto, enquanto o de Haruhi deve ser ridiculamente amargo. Deixando o chá do Koizumi de lado, acabaria tendo que fazer o meu próprio chá, se fosse assim, acabaria bebendo apenas água.

"Desculpe por fazer vocês esperarem."

Para falar a verdade, realmente demorou um bom tempo. Mas vamos fazer isso depressa, não quero acabar mais com o belo cenário natural do lago do que já fizemos.

"O clímax real está para começar, cuidado gente!"

Haruhi empurrou Asahina-san para frente. Mesmo que você não tenha perguntado, eu poderia passar o dia todo com os meus olhos arregalados! Entende? Como sempre, Asahina-san estava linda e...

"Huh?"

A cor de um olho havia mudado, dessa vez era o olho direito. O olho prateado se virou para mim penosamente, e virou para o chão logo depois.

"Agora, Mikuru-chan, dispare seu incrível Raio Mikuru R e atire alguma coisa incrível ou algo assim, sei lá, apenas ataque!"

Não havia maneira de impedir aquilo dessa vez, e mesmo se pudesse, teria sido fatiado em pedacinhos. Falando nisso, tudo aconteceu subitamente demais; Haruhi dando o terrível comando, Asahina-san piscando seus olhos horrorizada, e...

Nagato derrubando Asahina-san dentro do lago; a aparição de sua silhueta negra havia sido muito repentina.

Os acontecimentos de ontem estavam se repetindo, era como assistir uma fita novamente. Nagato mostrou suas incríveis habilidades de movimentação instantânea.

Em uma fração de segundo, apenas o chapéu permanecera onde ela estava, e lentamente caiu no chão. O corpo que antes usava o chapéu movimentou-se além dos limites em um piscar de olhos (aproximadamente 0.2 segundos), e escalou o corpo de Asahina-san, agarrando a sua testa...

"Na... na... nagato-sa... KYAA!!"

Com uma expressão vazia, Nagato ignorou os gritos comoventes de Asahina-san, seus cabelos curtos ondularam para frente e para trás enquanto sentava sobre os ombros de Asahina-san.

"Espere um minuto!" - Haruhi voltou rapidamente aos seus sentidos.

"Yuki! Você é uma maga! Você não dever ser boa em combates corpo a corpo segundo o meu roteiro! Sem luta na lama nesse lugar..."

Haruhi disse aquilo e então fechou a boca. Ela pensou por alguns segundos e disse:

"Bem, acho que isso pode valer. É outro ponto de apelo, certo? Kyon! Grave tudo isso! Esse é o raro momento de gloria da Yuki!"

Eu não acho que esse seja um momento de gloria. Ela só está reagindo por instinto para anular a ameaça causada por aquelas lentes de contato. Asahina-san provavelmente entende isso, mas não pode fazer nada se não gritar e chacoalhar as pernas como resultado do choque. Eu sou uma pessoa doente também. Agora não é a hora de ficar observando isso.

Nesse momento, um barulho pesado foi ouvido. Alem das duas atrizes, todos os outros se viraram e olharam para trás.

O som veio da cerca que rodeava o lado, a qual Haruhi havia pulado, e a qual nos passamos pelo buraco criado por Nagato. A abertura agora revelava um imenso buraco, a cerca havia sido cortada em forma de V e caira para trás, em direção à rua, como ser tivesse sido cortada por um laser invisível.

Virei meus olhos para fora da cena do crime, e vi Nagato mordendo o pulso de Asahina-san como um vampiro anêmico.


"Fui muito descuidada."

Nagato falou surpresa, com o tom de quem comete um erro.

"Eu originalmente permiti que o laser se dispersasse sem causar mal aos humanos, mas dessa vez o raio era composto de partículas de hiper vibração..."

Ela dissera aquilo sem parar para tomar fôlego. Koizumi a entregou o chapéu que caira no chão, e disse:

"Algo como a fibra ótica? Mas esse tipo de partícula não é invisível e não tem peso?"

Nagato prontamente recolocou o chapéu na cabeça, e prosseguiu.

"Senti a presença de uma pequena quantidade de massa, algo entre dez vezes a força de quarenta e uma gramas negativa."

"Até mesmo menor que os nêutrons?"

Nagato não falou nada e olhou para o olho de Asahina-san, que ainda estava prateado.

"Umm..."

Asahina-san esfregou o pulso que fora mordido e falou com uma voz assustada:

"O que você injetou no meu corpo...?"

A ponta do chapéu se movimentou uns cinco centímetros para frente. Para mim, esse era um sinal de que Nagato estava preocupada. Talvez ela estivesse pensando em como converter isso em palavras adequadas. Como esperado, Nagato começou a falar.

"Alternando os períodos de vibração dimensional, um campo gravitacional pode ser formado sobre a superfície de um objeto."

Parece-me que ela estava se esforçando para explicar esse fato difícil. Enquanto eu entendia que ela havia provavelmente anulado os raios assassinos, mesmo não entendo como os outros haviam entendido o que Nagato havia dito. Koizumi disse então, "Entendo, então os tremores são causados pela gravidade?" e outras coisas irrelevantes. Nagato provavelmente concordava com aquilo, então permaneceu em silêncio.

Koizumi levantou os ombros, como se aquilo fosse sua marca registrada.

"Mas eu também fui descuidado, acho que devo tomar parte da responsabilidade para mim. Achei que ela apenas pudesse soltar raios laser. Como eu iria imaginar que ela soltaria algo como Suzumiya-san descreveu? Acho que é impossível acompanhar a linha de raciocínio de Suzumiya-san, estou realmente surpreso."

Não há como acompanhar, ela já está à frente da humanidade por três rodadas inteiras. Eu até posso sentir ela se aproximando agora, mesmo olhando com cuidado, aparentemente ela está andando em círculos, nos dando a ilusão de que não de movimentou para frente, mas é exatamente isso que ela quer que nós pensemos. E isso não é tudo, apenas nós que temos que correr nessa mesma pista circular junto dela entendemos esses sentimentos.

A razão para que Haruhi correr tão rápido é que ela não se importa se a pista tem a forma de 'S' ou é um cruzamento interdimensional, ela só avança sem pensar. Não mencionando o fato de que ela possuiu um motor de movimento perpetuo, então pode continuar correndo para sempre. Ela rapidamente pode criar regras que são impossíveis de se seguir, não importa quanto alguém queira, e ela não percebe que isso é uma corrida. Simplesmente Haruhi está acima de qualquer controle.

"Isso não é tão ruim" - Koizumi prosseguiu - "Devemos culpar as autoridades locais por negligenciar a má qualidade da cerca, estou certo de que as pessoas acreditarão nessa história. E o importante é que ninguém se feriu."

Dei uma olhada na face falida sob o chapéu pontudo. Apenas a alguns momentos eu vi uma chaga imensa na mão de Nagato, como se ela tivesse segurado uma foice com as mãos nuas. Como eu queria mostrar isso para aquela criadora de problemas, mesmo achando que aquela ferida já tenha desaparecido sem deixar rastros.

Olhei para o segundo grupo que estava parado não tão distante de nós. Os três extras de Haruhi estavam olhando para o vídeo na câmera, e então, eles gritaram... na verdade, só Tsuruya-san gritou.

"O que faremos? Sinto que algo terrível acontecerá se continuarmos filmando."

"Não podemos parar aqui. Se nos recusamos a cooperar, o que você acha que Suzumiya-san iria fazer?"

"Ela iria enlouquecer."

"Eu acho isso também. Se ela não enlouquecer, tenho certeza de que os 'Celestiais' no espaço restrito, irão."

Pare de me lembrar daquele lugar horrível. Eu não quero ir para lá de novo, e eu não quero fazer "aquilo" nunca mais.

"Talvez Suzumiya-san esteja feliz com as coisas do jeito que estão agora. Ela está fazendo esse filme usando sua própria imaginação, e todas as suas ações são como as de um deus. Você deveria saber melhor que ninguém, que ela está frustrada com a realidade, que não se adequa a sua forma de pensar. Mesmo achando que ela não mostra isso para os outros, enquanto ela não estiver ciente disso, os resultados serão os mesmos. De qualquer forma, no filme, a história prossegue de acordo com seus desejos, e tudo é possível. Suzumiya-san está tentando criar outro mundo, usando o filme como meio para tal."

Como esperado de uma pessoa tão egocêntrica, se ela não tiver uma certa quantidade de poder e dinheiro, será quase impossível ter tudo que quer. Acho que Haruhi deveria entrar na política.

Enquanto eu trocava entre varias faces confusas, Koizumi continuava sorrindo e falando.

"É claro que Suzumiya-san não tem consciência disso tudo. Desde o começo ela esteve criando esse mundo ficcional, o que mostra sua paixão por esse filme. Eu acho que ela é um pouco apaixonada demais, e como conseqüência isso está começando a afetar o mundo real."

Enquanto esse dado permanecer tendo apenas resultados negativos, não importa o quanto você jogue, no final sempre vai sair perdendo. Enquanto esse filme continuar sendo filmado, mais Haruhi corre o risco de sair de controle. Mas é uma idéia pior fazê-la desistir desse projeto então, no final, eu escolho o menor dos males.

"Se não temos escolha senão jogar o dado, então os deixe rolar."

E o que é isso?

"Já cansei de destruir os 'Celestiais'... só brincando... desculpe. De qualquer forma, comparado com permitir que o mundo seja reconstruído desde o zero, nossas chances de sobrevivência serão maiores se permitirmos que algumas mudanças menores ocorram nesse mundo."

Você diz um mundo aonde Asahina-san se torne algo como a Mulher-Maravilha?

"Nesse momento, as mudanças são em uma escala minúscula se comparada ao surgimento dos 'Celestiais'. Nagato-san tomou algumas medidas preventivas para nós, então isso não é um grande problema, certo? Não acha que resolver esses eventos paranormais agora é uma alternativa mais viável do que tentar salvar o mundo de ser recriado do começo?"

Parece complicado, não importa como você olhe. Que tal emboscar Haruhi por trás, bater na cabeça dela, e a deixar inconsciente até o final do festival escolar?

"Isso é inimaginável. Se você pensa em tomar essa responsabilidade, então eu terei que o parar."

"O destino do mundo é um fardo grande demais para os meus ombros."

Respondi e olhei para Asahina-san, que tirava a poeira da roupa de garçonete com seus dedos. Parece que ela estava à beira da desistência, mas quando percebeu que eu estava olhando para ela, disse urgentemente.

"Por favor, não se preocupem comigo, tudo bem. Eu vou arranjar um jeito de resistir a isso..."

Ela é tão adorável, mesmo não parecendo estar assim tão bem. Ela provavelmente tem de encarar o prospecto de ser mordida por Nagato cada vez que uma coisa dessas acontece. Mesmo com as marcas de dentes sumindo depois de um tempo, é desconfortável ser mordida por alguém que se carregasse uma foice no lugar de uma varinha mágica, pareceria a décima terceira carta de tarô - A Morte. Se não isso, ela seria uma cruel vampira do espaço. Ser mordido por alguém com aquela roupa já seria o suficiente para mandar a alma de alguém para o outro mundo.

Pensando bem, Asahina-san foi tragada para isso contra a sua vontade, para alguém que veio do futuro, certamente ela tem um senso de perigo bastante deficiente. Talvez ela faça isso por algum motivo, entretanto ela nunca me contou o que pensa sobre isso, afinal tudo sobre ela é "informação confidencial".

Esquece. Tenho certeza de que algum dia ela vai me contar, espero que estejamos em algum lugar estreito quando isso acontecer.


Finalmente é hora de Taniguchi, Kunikida e também Tsuruya-san fazerem suas primeiras aparições.

Haruhi anunciou os papeis que eles estariam encenando no filme; já estava decidido há bastante tempo que eles seriam apenas personagens coadjuvantes. Eles encenariam "humanos que foram transformados em zumbis sem mente, pela feiticeira alienígena".

"Em outras palavras," - Haruhi disse com um sorriso perturbador - "Mikuru representa o lado da justiça, assim ela não permitirá que inocentes sejam agredidos, e Yuki tomou vantagem dessa fraqueza. Ela controlou esses humanos com hipnose, e Mikuru está sendo derrotada, pois é incapaz de revidar contra esses humanos que a atacam."

Pensei com os meus botões; o quanto mais você vai querer torturar Asahina-san? Então Haruhi disse.

"Vocês vão começar jogando a Mikuru no lago."

"EH!?"

Apenas Asahina-san gritou aterrorizada, enquanto Tsuruya-san riu descontroladamente. Taniguchi e Kunikida trocaram olhares e encararam Asahina-san com uma expressão preocupada no rosto.

"Ei."

Taniguchi perguntou com uma cara sorridente.

"Jogar ela no lago? O tempo pode estar quente, mas já é outono! E alem do mais tem a qualidade da água, não importa como você veja, ela não parece estar muito limpa."

"Su... Su... Suzumiya-san, deveríamos achar uma piscina aquecida ou algo assim..."

Asahina-san protestou com toda a sua força, seus olhos estavam prestes a derramar lágrimas. Mesmo Kunikida concordou com Asahina-san.

"Ela está certa! O que aconteceria se esse fosse um poço sem fundo? Ela não conseguiria voltar se caísse ali. E olha, tem um monte de peixes pretos nadando por ali."

Pare de dizer essas coisas, Asahina-san vai desmaiar! Mas pelas minhas experiências do passado, quanto mais alguém resiste, mais obstinada seria Haruhi. Como esperado, ela deu uma resposta bem típica.

"Silêncio! Escutem, sacrifícios precisam ser feitos em nome do realismo. Eu originalmente queria rodar essa cena com o monstro do lago Ness, mas falta tempo e dinheiro para isso. É nossa missão como humanos criar o melhor possível com orçamento limitado e com prazos apertados, então não temos escolha senão usar esse lago no lugar."

Que tipo de lógica era aquela!? Você quer que Asahina-san se afogue? Você não pode substituir esse cenário?

Enquanto considerava me juntar na argumentação, alguém encostou no meu ombro por trás. Virei-me e vi Koizumi sorrindo e balançando a cabeça em silêncio. Eu sabia que se Haruhi continuasse a seguir o seu caminho algo estranho ia acontecer. Se Asahina-san começasse a cuspir plasma, a força de defesa da Terra iria a considerar um elemento hostil.

"E... e... eu vou fazer isso!"

Asahina-san anunciou com uma expressão de desconforto no rosto, ela estava alem do desespero agora. A pobre garota decidiu se sacrificar pela paz mundial. As coisas chegaram em um ponto onde não há volta. Esse é o clímax do filme, certo? É melhor começar a gravar.

Haruhi se deleitava com aquilo.

"Muito bem Mikuru-chan! Você foi incrível agora! Essa foi a integrante da Brigada SOS que eu escolhi! Como você cresceu!"

Não acho que isso tem muito a ver com crescimento, mas sim o resultado do aprendizado com experiências passadas.

"Agora, vocês seguram os braços da Mikuru-chan, Tsuruya-san, você segura as pernas. Se preparem, e quando eu mandar, joguem ela na água com toda a força."

A cena seguinte aconteceu sob a direção atenta de Haruhi.

Os três capangas ficaram em fila em frente a Nagato, e quando a feiticeira negra abanou sua varinha, eles abaixaram a cabeça como se estivessem rezando em um santuário Xintoísta. Nagato novamente abanou sua varinha como se estivesse afastando os maus espíritos, sempre com um rosto vazio, de certa forma ela parecia uma daquelas sacerdotisas dos templos.

Então, ao receber as ondas psíquicas de Nagato, os três capangas começaram a andar em direção a Asahina-san, como zumbis procurando carne fresca.

"Me desculpe Mikuru, eu não quero fazer isso. Mas não consigo me controlar, me desculpe."

Tsuruya-san parecia bastante feliz enquanto andava em direção a garçonete. Taniguchi, que seria o primeiro a se amedrontar diante de uma emergência, não tinha idéia do que dizer, enquanto Kunikida coçou a cabeça enquanto caminhava em direção a Asahina-san, que estava cada vez mais pálida.

"Os dois idiotas aí! Sejam mais sérios!"

Você é a única idiota por aqui! Eu refreei meus impulsos para dizer aquilo e continuei a gravar. Asahina-san caminhou lentamente até a borda do lago, com um olhar horrorizado no rosto.

"Prepare-se para morrer~~"

Tsuruya-san alegremente derrubou Asahina-san no chão, e agarrou os lados daquelas longas pernas carnudas. Como posso dizer isso? Essa visão parece um pouco perigosa demais.

"Kyaa..."

Asahina-san estava realmente assustada, então Taniguchi e Kunikida seguraram os seus braços.

"E... espere um pouco, é que... i... isso é realmente necessário?"

Ignorando os apelos de Asahina-san, Haruhi acenou com a cabeça e disse.

"Para fazer a melhor cena possível, tudo pela arte!"

Soa bem, mas o que esse filme barato tem a vez com arte!?

Haruhi deu o comando.

"Preparados! AGORA!"

Spash! A água voou pela superfície do lago, provavelmente perturbando toda a fauna marinha que vivia por ali.

"Ah... socorro... ah..."

Esse afogamento está realista demais, Asahina-san. Espere ai... o que aconteceria se ela estivesse realmente se afogando?

"Minhas pernas... eu não consigo... kya...!"

Sorte nossa que aquele não era o Rio Amazonas, ou ela seria provavelmente o alvo ideal para as piranhas, se debatendo tão freneticamente pela água assim. Será que aquelas carpas pretas atacam pessoas? Pensava enquanto olhava pela lente da filmadora. Foi quando eu percebi que Asahina-san não estava só se debatendo.

Taniguchi também estava se afogando. Ele provavelmente jogou Asahina-san com tanta força que acabou caindo no lago também. Decidi ignorar aquele imbecil em prol de coisas mais importantes.

"O que aquele idiota está fazendo?"

Haruhi chegou à mesma conclusão que eu. Ignorem o idiota, ela apontou o alto falante para Koizumi.

"Koizumi-kun, é a hora de aparecer! Vai lá e salve a Mikuru!"

O ator principal, que estava responsável pela iluminação desde o inicio, deu um sorriso elegante e entregou o refletor para Nagato. Então andou até o lago e estendeu a sua mão.

"Segure a minha mão. Se acalme, só não me puxe para baixo."

Como a vitima de um naufrágio, Asahina-san segurou firmemente no braço de Koizumi, como se ele fosse um pedaço de madeira. Koizumi casualmente puxou a ensopada garçonete de combate para fora da água. Ele a segurou firmemente para manter seu equilíbrio. Ei! Você está segurando ela perto demais!

"Você está bem?"

"... uuuu... que frio..."

Como resultado de ter sido ensopada pela água do lago, o uniforme justo ficou ainda mais apertado sobre o corpo de Asahina-san. Se fosse um dos membros da Associação de Classificação Indicativa, não hesitaria em dar um "maiores de 15 anos para esse filme". Para ser honesto, tenho um sentimento que seriamos presos por isso.

"Sim, perfeito."

Haruhi bateu no alto falante e deixou escapar um suspiro de satisfação. Sem prestar atenção no Taniguchi, que ainda se debatia na água, desliguei a câmera.


Temos agora lixo o suficiente para abrir uma feira, mesmo assim não temos uma misera toalha. O que está acontecendo por aqui?

Asahina-san deixou Tsuruya-san secar o seu rosto com um lenço, enquanto ela mantinha os seus olhos fechados. Segurei meu fôlego enquanto estava ao lado de Haruhi, que estudava a fita com um olhar sério.

"Hmm, nada mal."

Depois de ver Asahina-san cair na água três vezes, Haruhi meneou a cabeça em aprovação e continuou seu discurso.

"Nada mal para uma cena onde os protagonistas se encontram pela primeira vez. Itsuki e Mikuru combinam perfeitamente com esse sentimento de timidez e desajeitamento. Excelente."

Sério? Na minha opinião Koizumi parecia bem comum naquela cena.

"Vamos para a próxima cena; depois de resgatar Mikuru, Itsuki decide a esconder em sua casa. A próxima cena vai ser lá."

Isso não ia quebrar a continuidade da história? Para onde Nagato foi depois de controlar Taniguchi e os outros? E os zumbis? Como eles foram derrotados? Mesmo com eles sendo apenas capangas, se as explicações não forem bem dadas, a audiência não vai engolir essa história.

"Você é realmente chato! As pessoas iriam se perguntar o que aconteceu mesmo se essa cena não fosse filmada! Nós podemos pular para as partes importantes!"

Maldição! Você quer dizer que no final das contas você só queria filmar Asahina-san sendo jogada na água?

No momento que pensava em dizer isso, Tsuruya-san levantou a mão e disse.

"Um, a Mikuru pode pegar uma gripe, então podemos levar ela lá em casa pra se trocar? Eu moro aqui perto."

"Isso é excelente!!" Haruhi falou para Tsuruya-san com seus olhos faiscando.

"Posso emprestar o seu quarto Tsuruya-san? Queria filmar uma cena onde a Mikuru e o Itsuki ficam mais íntimos. Isso está sendo muito fácil! Esse filme será um grande sucesso!"

Para alguém que prefere que as coisas sejam convenientes, as coisas tem sido bem fáceis para Haruhi. Mesmo que não possa fomentar uma duvida em minha mente - suspeito que Tsuruya-san sabia que Haruhi queria filmar essa cena antes mesmo dela fazer a sugestão. Como Haruhi escalou Tsuruya-san para ser uma capanga, acredito que ela seja uma pessoa normal como nós, entretanto...

"E a gente?"

Kunikida perguntou. Taniguchi ficou ao seu lado tremendo, enquanto se cobria com a jaqueta molhada.

"Podem ir para casa agora."

Haruhi anunciou friamente.

"Bom trabalho. Até mais, provavelmente não precisaremos mais de vocês."

Então, os nomes e existências desse dois colegas de classe desapareceram da consciência de Haruhi. Sem olhar para o surpreso Kunikida e para Taniguchi, que secava o seu cabelo como um cachorro molhado, Haruhi nomeou Tsuruya-san como sua guia, e andamos a passos largos. Vocês dois não sabem a sorte que tem, sem precisar aturar mais desastres. Para Haruhi, vocês são provavelmente tão úteis quanto um chumbinho usado. E acreditem, vocês não podem ter mais sorte do que isso.

Por alguma razão, Tsuruya-san bradou alegremente.

"Ceerto~~! Gente, é por aqui!"

Ela foi para frente da comitiva e acenou a bandeira.


O comportamento descontrolado de Haruhi não começou ontem. Acredito que ela tenha nascido assim. De fato, daqui a quinhentos anos, provavelmente haverá lendas sobre Haruhi se proclamando como a Honrada pelo Céu e pela Terra, desde o momento de seu nascimento, mas essa já é outra história.

Eu não sei quando isso começou, mas Tsuruya-san parece estar se dando muito bem com Haruhi, enquanto elas andavam juntas na frente do grupo, cantavam em coro "18 Til I Die", do Bryan Adams. Andando logo atrás estava eu, muito envergonhado por conhecê-las.

Nagato, a maga negra, as seguia silênciosamente, com Koizumi, o técnico de iluminação e protagonista, logo atrás. Ninguém parecia estar preocupado. Vocês dois deveriam aprender com Asahina-san, abaixando os ombros e as cabeças. Pelo menos me ajudem a carregar algumas coisas, estamos subindo essa ladeira e durante esse tempo estou começando a entender o sentimento daqueles cavalos treinados para correr montanha acima.

"Chegamos! Essa é a minha casa!"

Tsuruya-san gritou e entrou em uma residência. Sua voz era impressionante, e até a sua casa era impressionante. Desculpe, eu quis dizes extravagante. Eu não conseguia ver a casa inteira da entrada, então não tinha a menor idéia de quão grande a casa era, mas era o suficiente para eu chamá-la de uma casa grande. Dificilmente se via outras casas da entrada, o que significava que ela estar bastante longe de qualquer outra residência da vizinhança. Dei uma olhada em volta e percebi que o lugar era cercado por um muro imenso, como aquelas mansões de samurais. Com que tipos de atividades criminosas ela estaria envolvida para morar em uma casa tão imensa?

"Podem entrar!"

Haruhi e Nagato não pareciam ter nenhum conceito de etiqueta, entrando na casa como se ela lhes pertencesse. Asahina-san já viera aqui antes, então não parecia tão surpresa enquanto era puxada para dentro por Tsuruya-san.

"Que aparência nostálgica. Que estrutura bem feita. E isso que chamam de construções com senso arquitetônico? Uma casa atemporal, penso eu."

Koizumi recitou em um tom exclamatório, sem expressão alguma no rosto. Por acaso você é um corretor de imóveis?

Andamos por um espaço grande o suficiente para se jogar baseball em direção ao hall de entrada. Após levar Asahina-san no banheiro, Tsuruya-san nos levou ao seu quarto.

Meu quarto era como uma cama de gato se comparado a esse. Fomos levados até um amplo quarto no estilo japonês. O quarto era tão grande que não sabia aonde me sentar, mas aparentemente eu era o único preocupado com isso. Nagato, Koizumi, e até Haruhi não pareciam ter esse problema.

"Que quarto ótimo. Até poderíamos filmar uma externa aqui. Certo, esse será agora o quarto que Koizumi-kun. Faremos uma cena dos dois se tornando mais íntimos aqui."

Haruhi sentou na almofada e examinou a sala com seus dedos, cruzados em forma de retângulo. O layout do quarto de Tsuruya-san era simples, um quarto em estilo japonês com um tatami e uma lamparina.

Segui o exemplo de Nagato, e sentei com os joelhos no chão, mas não agüentei nem três minutos e já soltei as minhas pernas. Haruhi sentou com as pernas cruzadas desde o inicio. Ela cochichava no ouvido de Tsuruya-san.

"Hee hee! Ah, isso vai ser divertido! Espera ai!"

Tsuruya-san deixou a sala com uma risada alta e prazerosa.

Continuava pensando. Tsuruya-san era mesmo uma pessoa normal? Para se dar bem com Haruhi era necessário ser uma pessoa extremamente excêntrica, ou literalmente, de fora desse mundo. Mas era possível que as duas apenas simpatizassem uma com a outra.

Depois de alguns minutos Tsuruya-san voltou. Consigo ela trouxe Asahina-san, e não era a Asahina-san de sempre, e sim Asahina-san depois de um banho. Ela vestia o que possivelmente era uma camiseta folgada da Tsuruya-san. Como poderia dizer isso? Ela vestia "apenas" a camiseta.

"Ah... d-desculpe por fazer vocês esperarem..."

Asahina-san falava, seu cabelo ainda estava molhado e sua pele estava em um tom vermelho brilhante enquanto ela se escondia timidamente atrás de Tsuruya-san. A roupa era grande demais para Asahina-san, ao invés de chamá-la de camiseta, um vestido de peça única seria uma descrição melhor. Isso só aumentava o seu charme. A lente de contato no seu olho direito, que por sinal esqueceram de tirar, continuava a brilhar em um prateado opaco, me deixando terrivelmente alarmado por algum tempo. Aparentemente ela não era mais capaz de soltar raios e coisas do tipo, o que me aliviou bastante. Eu realmente queria colocar Nagato, que ainda estava com seu chapéu pontudo ajoelhada, em um templo xintoísta para posterior adoração.

"Fiquem a vontade."

Tsuruya-san colocou a bandeja sobre o tatami, ela continha copos com um liquido laranja dentro. Asahina-san bebeu metade do copo que Tsuruya-san entregou a ela. Provavelmente Asahina tinha perdido muito liquido naquele dia, afinal, ela foi a que mais se esforçou entre nós.

Apreciei meu suco com gratidão, enquanto Haruhi bebeu o dela com um só gole, e enquanto girava o gelo dentro do copo, disse:

"Como temos a oportunidade, vamos filmar nesse quarto!"

Sem descanso começamos a filmar a cena a seguir.

Koizumi carregou Asahina-san, que fingia estar dormindo, para o quarto. Por algum motivo, até o futon estava preparado. Koizumi gentilmente colocou Asahina-san no chão, e permaneceu olhando para o seu rosto cheio de intenções.

O rosto de Asahina-san estava em um rubro brilhante, e seus olhos tremiam incessantemente. Cuidadosamente e bem devagar, Koizumi colocou um cobertor sobre a indefesa Asahina-san, então sentou ao seu lado de braços cruzados.

"Um..." - Asahina-san murmurou durante seu sono, Koizumi logo começou a sorrir, enquanto olhava para ela o tempo inteiro.

Nagato, que não precisaria aparecer, estava sentada atrás de mim. Tsuruya-san ainda bebia seu suco com canudinho. Pelo visor da câmera, ampliei a imagem de Asahina-san dormindo. Como Haruhi não deu nenhuma orientação, fiquei livre para realizar minhas fantasias, pelo menos por enquanto. Mesmo assim, Haruhi constantemente dava comandos para os dois atores em cena.

"Mikuru-chan, levante-se e recite o que eu falei pra você."

"... hum."

Asahina-san gradualmente abriu seus olhos, e olhou para Koizumi com um olhar estranhamente desfocado.

"Você já acordou?" - disse Koizumi.

"Sim... onde eu estou...?"

"Essa é a minha casa."

Lutando para movimentar a parte de cima de seu corpo, Asahina-san tinha um rosto suspeitamente quente enquanto ela olhava ao seu redor. Ela estava notavelmente mais sedutora naquela hora; será que era parte da sua atuação?

"O... obrigada..."

Haruhi rapidamente ordenou.

"É isso! Coloquem seus rostos mais perto! Mikuru-chan, feche os olhos. Koizumi-kun, coloque suas mãos nos ombros de Mikuru-chan. Então derrube ela e a beije!"

Asahina-san tinha a boca entreaberta em perplexidade, enquanto Koizumi seguia a risca as instruções de Haruhi colocando as mãos nos ombros de Asahina-san. Minha paciência estava chegando ao seu limite.

"Espere! Esse argumento é muito simples. Porque precisaríamos ter essa cena? Que diabos é isso!"

"A cena aonde uma garota encontra um garoto! Uma cena romântica! Essa cena é necessária em um filme sobre viagem no tempo."

Por acaso você é uma idiota? Acha que essa é alguma novela de duas horas que passa toda a semana? Você também Koizumi, porque está se esforçando tanto para isso? Se a próxima cena for mostrada, seu armário vai se encher com milhares de cartas o amaldiçoando no dia seguinte, use seu cérebro um pouco.

"Hee hee, a Mikuru-chan está agindo... engraçado..."

Não é nem um pouco engraçado... eu queria dizer isso também, definitivamente tem algo errado com Asahina-san. Ela está tão distraída desde que a filmagem começou. Seus olhos estão úmidos e suas bochechas vermelhas, e ela nem resistiu quando Koizumi segurou os seus ombros. Acredite, isso não é nem um pouco engraçado.

"Umm... Koizumi-kun, minha cabeça está pesada..."

Asahina-san murmurou enquanto tremia. Comecei a suspeitar de que ela tenha sido drogada. Naturalmente meu olhar se desviou para o copo vazio, encontrei Tsuruya-san rindo.

"Desculpa por isso. Coloquei um pouco de tequila no suco da Mikuru. Me disseram que um pouco de álcool aumenta o realismo na atuação."

Então esse era o plano de Haruhi? Eu estava boquiaberto, quase enlouquecendo. Como você pode colocar uma coisa dessas no suco dela?

"Isso realmente importa? Mikuru-chan está realmente sexy agora. E isso faz as coisas ficarem ainda mais excitantes." - Haruhi falou.

Isso não tem nada a vez com a atuação de ninguém. Asahina-san já está tonta. A cara dela está vermelha sob seus olhos fechados. Claro que é uma coisa boa ela parecer sexy, mas eu não gosto da visão dela se apoiando assim no Koizumi.

"Koizumi-kun, não se preocupe, vá em frente e a beije. Na boca, é claro!"

Você não pode fazer isso! Como ousa fazer isso com alguém semiconsciente?

"KOIZUMI, PARE!"

Koizumi entrou em estado contemplativo profundo, pensando se ouviria a diretora ou o cameraman. Eu vou seriamente te arrebentar, seu bastardo! De qualquer forma, eu abaixei a câmera, afinal, eu me recusava a filmar aquela cena, e não seria forçado a fazer isso.

"Diretora, esse é um fardo muito grande para mim. E alem do mais, Asahina-san já chegou aos seus limites."

"... eu estou bem."

Asahina-san pode ter dito isso, mas ela não parecia nem um pouco bem.

"Sério, você não tem jeito."

Haruhi reclamou com a garota bêbada.

"Huh? Você ainda está usando as lentes de contato? Tire elas agora!"

Ela bateu com força na cabeça de Asahina-san.

"A... ai!" - Asahina-san mexeu a cabeça e gritou.

"Mikuru-chan, assim não dá! Quando batem na sua cabeça, as lentes de contato devem sair voando. Vamos treinar isso."

Pow!

"Isso dói!"

Pow!

"... KYAA!" - Asahina-san fechou os olhos com força.

"PARE COM ISSO, SUA IDIOTA!" - Eu segurei a mão de Haruhi e a parei - "Que tipo de treinamento é esse? Esse não é um circo! O que tem de tão engraçado nisso?"

"O que foi? Não tente me parar. Eu planejei isso há muito tempo!"

"Ninguém planejou isso com você! Não é engraçado! É ridículo! Asahina-san não é o seu brinquedo!"

"Como já havia decidido antes, Mikuru-chan é o meu brinquedo!"

Depois de ouvir isso, consegui sentir o sangue subindo para a minha cabeça, até mesmo a minha visão estava escurecendo. Estava furioso, e subitamente meus impulsos ultrapassaram a minha razão, e subconscientemente reagi por reflexo.

Alguém segurou o meu pulso. Percebi que Koizumi estava com os olhos fechados balançando a cabeça lentamente. Quando vi que Koizumi estava segurando o meu punho fechado, percebi que estava prestes a bater em Haruhi.

"O que...?"

Os olhos de Haruhi brilharam como uma constelação de estrelas enquanto ela me encarava friamente.

"Se você tem algum problema, então diga! Tudo que você precisa fazer é seguir as minhas ordens! Eu sou a comandante e diretora... em todo o caso, não vou permitir que você se oponha a mim!"

Meus olhos ficaram vermelhos novamente. Sua garota estúpida! Koizumi, me solte! Não ligo se é uma pessoa ou animal, mas todos que não aprendem merecem uma lição, nem que isso signifique ter de usar os meus pulsos. De outra forma ela irá continuar repelindo as pessoas como se tivesse espinhos nas costas, e vai ferir os outros pelo resto de sua vida.

ão ligo se é uma pessoa ou animal, mas todos que não aprendem merecem uma lição, nem que isso signifique ter de usar os meus pulsos.

"Não... parem!"


Asahina-san correu rapidamente, e disse quase incompreensivelmente.

"Vocês não podem! Vocês não devem brigar..."

Com se rosto todo vermelho, Asahina-san caiu no chão entre eu e Haruhi. Ela se segurou nos tornozelos de Haruhi e disse:

"Um... por favor, se dêem bem... ou... nós iremos..."

Asahina-san disse ambiguamente, então caiu pesadamente no chão de olhos fechados, caindo em um sono silêncioso.


Koizumi, passamos pelo lago aonde filmávamos há pouco tempo atrás.

Como a protagonista caiu inconsciente, tivemos que parar as filmagens. Koizumi, Nagato, e eu decidimos deixar Tsuruya-san cuidando da sonolenta Asahina-san enquanto escapávamos de lá. Por algum motivo, Haruhi quis ficar lá, roubou a câmera da minha mão, e voltou rapidamente. Permaneci em silêncio enquanto carregava com rapidez a titânica quantidade de equipamentos que Tsuruya-san deixara na porta.

"Me desculpe Kyon-kun."

Tsuruya-san disse em um tom desculposo, e então sorriu novamente.

"Eu me deixei levar demais! Mas não se preocupem com a Mikuru, deixo ela em casa depois, ou ela pode dormir por aqui."

Nagato andou para longe a partir do momento que pisou para fora da porta, como se não tivesse nada a declarar sobre o caso. Nagato era assim o tempo todo, ele nunca tinha nada a declarar.

Andávamos lado a lado de volta para casa. Depois de alguns minutos de silêncio, Koizumi finalmente falou.

"Sempre achei que você fosse uma pessoa calma."

Eu também pensava isso.

"Nosso mundo começou a agir de forma errática. Gostaria de pedir que você não fizesse mais isso, ou um novo espaço restrito pode surgir."

Eu não tenho nada a ver com isso! Não é para isso que a sua 'Organização' surgiu? Vocês deveriam estar fazendo alguma coisa a respeito!

"Em relação ao incidente de agora pouco, Suzumiya-san parece ter subconscientemente se controlado, e nenhum traço de espaço restrito foi criado. Esse é só o meu pedido, mas, por favor, faça as pazes com ela amanhã."

O que eu faço é problema meu. Isso não pode ser definido simplesmente comigo concordando com o que você diz.

"Agora devemos considerar como a realidade vai lidar com suas partes afetadas."

Koizumi obviamente estava tentando mudar de assunto, resolvi entrar nessa também.

"Não tem nada o que considerar. Eu não ligo para como as coisas ficaram."

"É muito simples. Cada vez que Suzumiya-san acredita em algo, a realidade muda para se adequar a isso. Não foi sempre assim?"

A imagem de um gigante azul causando destruição em um mundo cinzento me veio à cabeça.

"Quando Suzumiya-san nós dá alguma opinião ou algo do gênero, deveríamos considerar. Nossa missão seria achar a motivação oculta sob essas palavras."

Também lembrei das esferas vermelhas reluzentes. Koizumi caminhou devagar, enquanto falava com confiança.

"Nós somos, com o perdão da palavra, os sedativos para o estado mental de Suzumiya-san, somos os seus estabilizadores mentais."

"Isso... é problema seu, certo?"

"Acredite, é o seu também."

O misterioso ex-estudante transferido continuava me dando aquele sorriso eterno.

"Nossa responsabilidade acaba no espaço restrito, enquanto a sua recai sobre o mundo externo, porque você é o único que pode manter o estado mental de Suzumiya-san estável, e isso previne o aparecimento de espaços restritos. Graças a você, pude trabalhar um pouco menos nos últimos seis meses. Acho que deveria agradecer você corretamente."

"Não mencione isso."

"Sério? Isso me faz economizar um bocado de palavras."

Chegando ao fim da ladeira, e no começo da estrada principal, Koizumi novamente quebrou seu silêncio.

"Ah sim, quero que você vá a um lugar comigo."

"E se eu não quiser?"

"Não vai demorar muito. Além do mais, você não parece ter muito que fazer aqui. É claro que você não será convidado a entrar em outro espaço restrito."

Koizumi levantou a mão subitamente, e um familiar táxi negro parou em nossa frente.

"Vamos continuar."

Koizumi disse isso enquanto se sentava no banco de trás do táxi, eu olhava para a parte de trás da cabeça do motorista.

"Nesses últimos tempos, tem sido uma rotina regular nossa lidar com você e com Suzumiya-san. Ao lado dos outros membros da Brigada, nos acostumamos a arremessar Suzumiya-san para fora do descontrole mental a contra atacando fisicamente."

"Que incômodo."

"Talvez seja! Mas, não sabemos quanto essa rotina pode durar, afinal, repetir a mesma coisa em um ciclo infinito é uma das coisas que Suzumiya-san mais odeia."

Ela parece estar aproveitando muito a situação atual... Koizumi deu um sorriso que não demonstrava a menor urgência, e disse:

"Devemos achar um meio de conter o comportamento descontrolado de Suzumiya-san, mesmo depois do final do filme."

Para se tornar um jogador de baseball, alguém precisa treinar rebatendo com o taco e correndo; para se tornar um mestre no go ou no shougi [3], alguém tem que começar memorizando as regras desses jogos; para tirar o primeiro lugar nos exames finais, alguém só terá uma chance se passar a noite inteira decorando os livros de referência. Resumindo, pessoas diferentes usam métodos diferentes para o sucesso, mas todos eles dependem do esforço. Mas, quanto esforço seria necessário para tirar todos aqueles fatores destrutivos do cérebro de Haruhi?

3-[Nota do tradutor: são jogos comuns no Japão].

Se tentasse pará-la, com certeza ela ficaria muito brava, e um daqueles pavorosos mundos negros cobriria a terra; mas se deixasse ela livre por ai, no final suas fantasias poderiam acabar se realizando.

Ambos os métodos são muito extremos, não importa como você olhe para eles, ela não poderia ter uma atitude mais branda em relação ao mundo? Saco... ela não se chamaria Suzumiya Haruhi se fizesse as coisas com moderação.

Fora do carro, o cenário se tornava cada vez mais verde, enquanto o táxi se embrenhava em uma estrada secundaria. De repente eu percebi que essa era a mesma estrada que havíamos passado de ônibus ontem.

Tempo depois, o táxi parou em um estacionamento comumente utilizado pelas pessoas que visitavam o templo. Estávamos ali ontem, quando Haruhi cometera a atrocidade de atirar no monge e nos pombos com sua arma. Esse templo de novo. Que estranho. Hoje é sábado... mais pessoas deveriam estar por aqui.

Saindo do táxi antes de mim, Koizumi disse.

"Você ainda se lembra do que Suzumiya-san disse ontem?"

Como deveria lembrar de cada baboseira que ela disse quando estávamos aqui?

"Você se lembra de quando chegamos aqui, vindos de dentro do templo, é isso." - Koizumi adicionou então - "Tem estado assim desde manhã."

Subimos pelas escadas de pedra. Já havíamos subido aquelas escadas antes, ontem mesmo. No final das escadas haveria um torii [4], e um caminho pavimentado até o templo. Um caminho cheio de pombos.

4-[Nota do tradutor: torii é um tradicional portal encontrado em templos Shinto].

" ... "

Estava sem palavras.

Havia pombos por todo o caminho, pássaros que bicavam o chão enquanto se movimentavam como um carpete vivo, mas tenho certeza de que aqueles não eram os mesmos pombos de ontem.

Isso porque cada pena daqueles pombos se tornara de uma cor branca pura...

"... alguém tingiu as penas deles?"

... de madrugada.

"Essas penas genuinamente cresceram de seus corpos. Não foram pintadas, e nem foi nada causado pelas cores saindo."

Será que alguém trouxe um monte de pombos brancos e os usou para substituir os pombos de ontem?

"Como isso seria possível? Quem faria uma coisa dessas?"

Só estava tentando adivinhar, claro que já sabia a resposta, mas não queria admitir.

Ontem Haruhi disse: "Se possível, gostaria que todos os pombos fossem brancos, mas acho que não posso ser muito exigente agora."

Parece que ela realmente foi exigente!

"Exatamente. Isso foi criado pelo subconsciente de Suzumiya-san. Tivemos sorte de ter uma margem de erro de um dia antes dos efeitos se tornarem aparentes."

Será que eles acham que viemos alimentá-los? A multidão de pombos cercou nossos pés; alem de nós, não havia nenhum outro visitante.

"O comportamento descontrolado de Suzumiya-san está escapando durante as filmagens desse filme, escapando para a realidade."

Já não era o suficiente impedirmos que Asahina-san soltasse raios pelos olhos?

"Porque não podemos atirar um dardo tranqüilizante em Haruhi e a deixar dormindo até o fim do festival?"

Koizumi respondeu minha indagação com um sorriso irônico.

"Seria uma solução possível, mas você estaria disposto a encarar as conseqüências depois que ela acordasse?"

"Não, obrigado."

Isso certamente não estava incluído na descrição do meu trabalho. Koizumi deu de ombros e disse:

"Então, o que devemos fazer?"

"Ela não é Deus? Então vocês, seus devotos, deveriam fazer algo a respeito!"

Koizumi intencionalmente fez um olhar surpreso.

"Você diz que Suzumiya-san é Deus? Quem lhe disse isso?"

"Você, é claro!"

"Oh, eu disse isso?"

Que vontade de bater nesse sujeito.

Koizumi evadiu com sua resposta de sempre; "Estou apenas brincando," - e continuou:

"De fato, não vejo problemas em classificar Suzumiya-san como 'Deus'. Metade da 'Organização' a trata assim. È claro que existem pessoas que não acreditam nisso. Pessoalmente sou um dos céticos também. Pois acredito que se ela é Deus, não seria possível viver nesse mundo sem consciência disso. Generalizando um pouco, o criador deve ser alguém que nos olha de longe, fazendo milagres randomicamente, enquanto calmamente nos vê entrar em pânico com isso."

Me abaixei, peguei uma pena solta por um dos pombos, e a esfreguei com meus dedos enquanto ainda estava abaixado. Os pombos começaram a se agitar novamente. Desculpe gente, não trouxe nenhuma migalha comigo hoje.

"É isso que eu penso."

Koizumi continuou sua retórica.

"Alguém deu poderes ilimitados a Suzumiya-san, porem esse mesmo ser, não a permitiu ter consciência disso. Se há um Deus, então Suzumiya-san é a pessoa escolhida por ele. Entretanto, não importa como você olhe para a situação, ela continua sendo uma pessoa normal."

Não tenho que pensar muito quando se trata de classificá-la como uma pessoa normal ou não. Mas, porque Haruhi tem esses poderes onipotentes? E pior; poderes de que ela sequer tem consciência. Poder o suficiente para deixar as penas dos pombos brancas. Por que? Quem está por detrás disso?

"Bem, eu não sei, você sabe?"

Ele está pedindo seriamente por um soco bem aplicado.

"Desculpe me." - disse Koizumi, e então continuou.

"Suzumiya-san é o criador, assim como é o destruidor. A realidade atual pode ser um produto falho da criação, e talvez Suzumiya-san tenha recebido a missão de amenizar esse mundo imperfeito."

Então faça isso!

"Se esse é o caso, nós somos os errados. Suzumiya-san é a pessoa normal, enquanto nós somos os inimigos desse mundo se interpondo em seu caminho. E isso não é tudo. Alem de Suzumiya-san, toda a raça humana pode ser culpada."

Sim, e isso seria um problema colossal.

"O problema está com quem tem culpa. Quando o mundo for consertado, nós faremos parte dele? Ou seremos considerados meros defeitos, e, portanto eliminados dele? Isso é algo que ninguém pode prever."

Se você não pode prever, pare de falar besteiras como se soubesse de tudo.

"Tomando em conta certa perspectiva, até agora ela foi incapaz de criar um mundo perfeito, e isso é um fato. O motivo disso é a sua consciência se inclinando a criação. Suzumiya-san é uma pessoa incrivelmente positiva, mas o que aconteceria se ela subitamente se tornasse negativa?"

Essa não era a hora de ficar em silêncio, então, eu desisti.

"O que iria acontecer?"

"Não sei. Mas é um fato que destruir é mais fácil do que criar. 'Se não acreditarmos nisso, então vai desaparecer!' Se Suzumiya-san tiver essa atitude, tudo será reduzido a nada, e então deixará de existir. Por exemplo, se um inimigo formidável aparecesse em nossa frente, enquanto Suzumiya-san negasse a sua existência, isso já seria capaz de o destruir. Seja mágica, ou tecnologia altamente avançada, ela é capaz de sumir com isso facilmente."

Mas Haruhi não negou tudo, isso quer dizer que ela ainda tem esperança em algo?

"E é isso que nos preocupa agora."

Koizumi continuava não parecer nem um pouco preocupado.


"Acho que não tem como descobrir se Suzumiya-san é Deus ou outro ser onipotente, mas há uma coisa de que temos certeza; Se ela continuar usando seus poderes a vontade, a ponto de alterar esse mundo permanentemente, é possível que em algum momento ela perceba que esse mundo mudou. A coisa mais assustadora é que nem mesmo Suzumiya-san percebe as alterações nesse mundo."

"E por que isso?"

"É porque Suzumiya-san é parte desse universo, e isso é a prova de que ela não é o criador dele. Se ela é um deus que criou este mundo, ela só poderia ter vindo de um lugar externo a ele, e mesmo assim, continua vivendo conosco, neste planeta. Só podemos concluir que ela é capaz de alterar a realidade até certo ponto, e isso não é nem um pouco natural, e muito estranho."

"Para mim você parece ainda mais estranho."

Ignorando o comentário, Koizumi continuou.

"Contanto, prefiro continuar vivendo nesse mundo que eu vivo hoje. Pode ter todo tipo de conflito social, mas é só uma questão de tempo para que isso se resolva. O problema está nas teorias como o geocentrismo. Precisamos fazer que Suzumiya-san não acredite nessas idéias, ou as próprias leis físicas do nosso mundo estarão em xeque. Você não voltou do espaço restrito com essas preferências afinal?"

Como posso dizer isso? Eu esqueci daquilo, decidi selar aquelas memórias das quais eu não quero me lembrar.

Um sorriso auto depreciativo se formou no rosto de Koizumi.

"Me desculpe. Eu falo demais sobre essas coisas desconstrutivas, como se eu fosse um defensor da justiça desse mundo. Por favor, aceite as minhas desculpas."





Capítulo 5[edit]

Capítulo 5


Era uma manhã de segunda-feira... uma semana antes do começo do festival, e a escola ainda estava cercada por uma atmosfera de relaxamento. Será que a escola pensa mesmo em fazer um festival assim? A atmosfera no deveria ser um pouco mais viva? Como disse anteriormente, a atmosfera ainda era muito descompromissada, e eu estava me sentido bastante desmotivado. E ainda tinha de encarar coisas que me fariam ficar ainda mais desmotivado enquanto me aproximava da sala de aula.

Koizumi me esperava do lado de fora da minha sala. Você já falou demais ontem. Ainda tem mais?

"A sala 1-9 já começou os ensaios para a peça. É claro, eu só estava passando por aqui."

Seu rosto é a última coisa que eu gostaria de ver tão cedo.

"O que foi? Não me diga, aquela dimensão estúpida finalmente apareceu?"

"Não, ela não apareceu ontem. Parece que Suzumiya-san estava tão ocupada estando deprimida que não teve tempo de ficar frustrada."

Por que?

"Você sabe... ou pelo menos deveria saber. Bem, como você parece não estar entendendo, irei explicar. Suzumiya-san sempre acreditou que, não importa o que acontecesse, você seria seu único companheiro. Mesmo com reclamações, você continuaria a ajudá-la. Não importa o que ela fizesse, você era o único que a aceitaria."

Do que você está falando? Os únicos que poderiam aceitar seu comportamento são os santos que se sacrificaram em nome do Senhor. Que fique gravado, não sou nenhum santo, ou grande líder, só sou uma pessoa comum armada com bom senso.

"O que há entre você e Suzumiya-san?"

O que você quer dizer com 'o que há entre nós'?

"Você poderia a animar? Os pombos são bonitinhos agora, mas se ela continuar deprimida desse jeito, pode ser que aqueles pombos do templo se tornem algo bem diferente do que são hoje."

"Como o que?"

"Se eu soubesse, não estaria tão preocupado. Não seria uma bela coisa ver aquele templo infestado de criaturas pegajosas cheias de tentáculos, seria?"

"Tente jogar um pouco de sal."

"Isso não resolve todo o problema. Agora mesmo Suzumiya-san está em um limbo; ela tem tentado melhorar a situação ativamente fazendo esse filme. Mas tendo se desentendido com você ontem, sua energia está sendo canalizada em outra direção – do positivo ao negativo. As conseqüências poderiam se administradas se tudo acabasse aqui, mas se isso continuar, as coisas podem se tornar um pouco complicadas demais."

"Então, você está pedindo para que eu a console?"

"Não seria tão difícil, não é? Tudo que você tem de fazer é fazer as pazes com ela."

O que você quer dizer com fazer as pazes com ela? Eu não me lembro de ter me dado bem com ela para começar.

"Huh? Sempre pensei que você fosse uma pessoa calma e racional. Será que eu me enganei?"

Manti meu silêncio.

A razão para essa briga ter começado era porque eu não podia continuar vendo ela maltratando Asahina-san... eu acho... ou talvez eu estivesse com falta de cálcio. Então ontem a noite, bebi um litro inteiro de leite, surpreendentemente, meu temperamento melhorou muito desde então. De qualquer forma, leite é apenas uma forma de sedativo.

De qualquer forma, será que eu poderia engolir o meu orgulho e ir consolá-la? Não importa quantas vezes eu pense, no final é impossível negar que ela tenha ido longe demais.

Koizumi começou a ronronar como um gato de rua querendo comida, e me deu um tapinha no ombro.

"Estou contando com você, afinal, em termos de distância, você é a pessoa mais próxima dela."


Como não olhei para trás, não tive nenhum contato olho a olho com Haruhi, que sentava atrás de mim. Hoje, Haruhi estava prestando certa atenção especial para o céu, então gastou boa parte de seu tempo olhando para fora da janela, até mesmo na hora do almoço.

Por alguma razão, até mesmo Taniguchi estava enfezado hoje.

"Que tipo de filme é esse? Eu não sei porque perdi meu tempo indo!"

Durante o almoço, Taniguchi amaldiçoava enquanto mastigava a sua comida. Haruhi geralmente estava longe da sala, e hoje não era uma exceção; Ele só conseguia falar esse tipo de coisas quando ela não estava por perto. Taniguchi era o tipo de covarde que só falava esse tipo de coisa alto quando tinha certeza de sua segurança.

"É tudo culpa da Suzumiya. Essa vai ser uma porcaria de filme, podem anotar!"

Eu realmente não dou a mínima para a opinião dos outros. Não me considero um grande líder, e não pretendo deixar meu nome nos livros da história. Seu apenas um pequeno personagem resmungando sozinho em um canto. Sempre fui bom em achar as pequenas falhas da comida da minha mãe, mesmo que eu próprio não saiba cozinhar.

Mas havia algo ali que deveria esclarecer, então falei:

"A última coisa que eu quero ouvir são vocês reclamando."

Taniguchi, você já fez algo útil na vida? Pelo menos Haruhi tentou fazer parte do festival escolar, e fez o seu melhor para isso, mesmo nos trazendo montes de problemas no processo. Mas pelo menos ela é melhor que esses idiotas que ficam reclamando o dia todo. Seu imbecil! Você deve se desculpar com todos os Taniguchis do Japão por desgraçar este nome!

"Esqueçe isso, Kyon."

Kunikida tentou mediar a situação.

"Ele só está liberando a frustração. Na verdade queríamos passar mais tempo com Suzumiya-san. Realmente temos inveja de você, Kyon."

"O inferno que temos," - disse Taniguchi encarando Kunikida - "não vou me juntar a esse clube estúpido."

"Isso é estranho vindo de você, quem concordou em ir assim que foi chamado, heim? Você não estava animado ontem? Até cancelou seus planos para o dia."

"Pare de me provocar, seu imbecil!"

Era por isso que Taniguchi estava tão bravo. Ele cancelou seus planos para ontem, apenas para trabalhar entusiasmadamente como extra, mas no final das contas mal apareceu em uma cena, e acabou quase se afogando. Entendo, ele merece um pouco de pena, não são sinto nenhuma pena dele agora porque estou muito bravo para isso.

Eu sabia mais que ninguém que o filme de Haruhi seria idiota demais para que qualquer um assistisse, porque ela só sabia correr para cima das coisas sem pensar nas conseqüências. Como filmamos o que veio a sua cabeça, não tivemos nem roteiro para seguir. Apenas um gênio poderia fazer deste filme um sucesso. E na minha humilde opinião, Haruhi não tinha o mínimo talento na direção, mas se as pessoas começassem a criticá-la apenas por causa... espere, então porque eu estou tão bravo com isso?

"Kyon, Suzumiya-san parece estar com um humor pior do que o usual, aconteceu alguma coisa?"

Eu ouvi Kunikida perguntando, sem pensar.

Eu era a mesma coisa que Taniguchi. Tudo que fazia era seguir as suas ordens, e depois reclamar pelas suas costas. Sentia um pouco de mim nesse sujeito. As vezes eu amaldiçoava Haruhi, outras vezes simplesmente ficava sem reação... mas esse era o meu trabalho, só podia ser feito por mim, e por ninguém mais.

Estava tão frustrado que até a comida tinha um gosto amargo. Sinto pena da minha mãe que fez essa comida para mim. Droga, Taniguchi, seu idiota. Se você não tivesse dito essas coisas inúteis, eu não teria que fazer coisas de que me arrependeria depois.

O que eu fiz?

Fechei a minha lancheira e corri para fora da sala.


Haruhi estava na sala do clube, com a câmera de vídeo conectada no computador; ela parecia estar trabalhando com alguma coisa. Ela olhou em choque enquanto eu abria a porta subitamente. Era um pão de curry que ela estava segurando?

Ela freneticamente jogou o pão fora, e colocou a mão detrás do cabelo... eu acho. E então seu cabelo se soltou. Não sei por que ela fez isso, mas aparentemente ela estava soltando o cabelo que havia prendido atrás da cabeça. Eu não olhei com tanta atenção, então não consegui pensar nisso melhor depois. Era melhor dizer o que havia para dizer a ela.

"Ei, Haruhi."

"O que?"

Haruhi entrou em um modo defensivo, me olhando como um gato. Eu continuei falando com ela.

"Precisamos fazer desse filme um sucesso!"

Isso é o que chamam de impulso, certo? Uma pessoa como eu acaba ficando um pouco emocional demais durante meio ano, por causa disso, estava bravo ontem. O tempo foi perfeito. E hoje, esse impulso foi causado pelas palavras ambíguas de Koizumi e pela cara de idiota do Taniguchi. Sem mencionar o olhar melancólico de Haruhi. Tudo isso me fez sentir frustrado e desconfortável. Se deixasse esses sentimentos dentro de mim, provavelmente teria quebrado a vidraça da sala, então era melhor lidar com eles agora. Por que preciso justificar tudo que eu faço?

"Hmph."

Haruhi disse com desdém.

"É claro que vai ser. Afinal, eu sou a diretora. O sucesso já está garantido. Não é preciso que você constate o obvio."

Que pessoa simples. Agora que eu achava que ela estava desenvolvendo sentimentos gentis dignos de elogios. Mesmo as luzes enigmáticas dos olhos de Haruhi estavam readquirindo as chamas da confiança. Eu não tenho idéia de onde ela tira o seu combustível. Ela não poderia ser mais simples. Era como um chefe de RPG que continuava a usar magias regenerativas em si mesma, mas eu não podia ligar menos. Ela precisa ser melhor balanceada. Ela poderia derrotar os jogadores com um simples golpe, trazendo logo a tela de "Game Over"... o que eu estou falando? Ah sim, esses jogos que reduzem a pressão não existem. Eu não sei muito bem o que isso quer dizer, mas de todo modo. Não gosto de ver Haruhi deprimida, e não gostaria de vê-la assim novamente. Ela foi feita para correr sem rumo por essas maratonas infinitas e sem destino. É só que... se ela parar no meio do caminho, talvez subconscientemente faça algo completamente desnecessário, é só isso.

... e era nisso em que eu pensava logo em seguida.


No mesmo dia, depois da aula...

"Você não podia ter dito outra coisa?" - Falou Koizumi.

"Desculpe" Respondi.

"Apesar de você ter a animado, preferia que você tivesse expressado isso de forma... A não criar mais obstáculos posteriores."

"... desculpe."

"Ao invés de fazer as coisas voltarem ao normal, a situação se tornou ainda mais extrema."

" ... "

"Não há como escondermos esse fato."

Koizumi olhou para mim com aqueles olhos profundos e contemplativos. Ele não parecia estar me culpando, mas a sua voz denotava uma grande melancolia. Era assim? As coisas ficaram piores, e tudo graças a mim.

O que era agora? Algo que eu deveria saber?

As cerejeiras floriam por todo o canto. Era o caminho a beira do rio, no qual Asahina-san revelou sua verdadeira identidade para mim. Vamos confirmar a estação novamente: agora estamos no outono. Ainda há alguns restos do verão no ar, mas normalmente as cerejeiras ficam em flor no meio da primavera. É aceitável para uma arvore aflorar uma estação antes, mas florir meio ano antes era meio ridículo demais. Quando foi que as cerejeiras enlouqueceram?

Sob as pétalas que caiam, apenas Haruhi mantinha seus motores ligados. Vestindo a apertada fantasia de garçonete, Asahina-san andava pela rua sem rumo. Será porque ela estava surpresa com as flores saindo na estação errada?

"Nunca achei que as coisas seriam tão fáceis. Estava pensando em filmar uma cena com muitas flores de cerejeira! Esse evento meteorológico raro com certeza foi uma grande coincidência!"

Haruhi falava, enquanto obrigava Asahina-san a fazer diversas poses.

Era realmente impossível. Quando as pessoas fazem algo impulsivo, seu 'eu' no futuro com certeza irá sofrer. Parece que estou continuamente recebendo essa lição nos últimos seis meses.

Não estava pensando em "Eu devia ter feito isso!", mas em "Eu não devia ter feito isso." Um pensamento bastante negativo. Alguém me dê uma arma! Uma de verdade! Não uma de brinquedo!

As cerejeiras começaram a florir durante a manhã, e a tarde as pétalas começaram a cair. A rede local de televisão até mesmo fez uma reportagem sobre esse evento raro, como eu gostaria que eles pensassem que foi apenas um acontecimento aberrante único. Apenas culpem todos esses acontecimentos bizarros causados pelo aquecimento global, OK?

"É assim que Suzumiya-san parece pensar."

Koizumi falava enquanto andava ao lado de Asahina-san. A visão de Koizumi, que apenas era bonito superficialmente, e Asahina-san, que era genuinamente bela, andando juntos, era o suficiente para enfurecer todos os homens desse planeta. Eu estava realmente bravo com tudo aquilo.

Nagato não tinha nenhum comentário a fazer sobre as flores de cerejeira flutuando sobre nós, ela olhava para as pétalas, cujo relógio biológico estava completamente bagunçado, com a sua expressão vazia de sempre. As pétalas róseas pousaram sobre seu manto negro, causando um forte efeito de contraste. Será que ela sabe sobre os pombos?

"Certo! Vamos pegar um gato!"

Haruhi disse subitamente.

"Uma feiticeira tem de ter um familiar, e o que seria melhor que um gato? Onde poderíamos achar um gato preto? E precisamos de um bem bonito."

Espere um pouco, Nagato não deveria ser uma maligna maga alienígena?

"E qual é a diferença? Vamos logo! É isso que eu visualizei. Onde poderíamos achar um gato?"

"Em uma loja de animais, é claro!"

Surpreendentemente Haruhi pensou depois de ouvir a minha sugestão casual.

"Um gato de rua vai servir. Teríamos que emprestar um da loja de animais, e depois devolver, e isso seria um grande incômodo. Conhecem um lugar aonde podemos achar um gato de rua? Yuki, você sabe?"

"Sim."

Nagato balançou a cabeça levemente, e então começou a caminhar como se fosse um líder religioso nos levando a terra prometida. Existe alguma coisa que Nagato não saiba? Se perguntar onde está a carteira que perdi há cinco anos, provavelmente ela irá saber me responder, afinal, ela continha toda a minha fortuna na época, o que deveria ser em torno de quinhentos ienes.

Quinze minutos depois, chegamos atrás do condômino luxuoso onde Nagato morava. Lá havia um terreno baldio cercado de arvores, o que obscurecia a visão dela pela parte da frente. Alguns gatos estavam reunidos ali. Eles se pareciam com gatos de rua, mas não tinham medo das pessoas. Enquanto caminhávamos por entre eles, os gatos não tentaram fugir, talvez achassem que iríamos alimentá-los. E alguns até mesmo enrroscaram-se em nossas pernas. Haruhi pegou um dos gatos e disse.

"Não tem nenhum gato preto? Certo, vamos usar esse então!"

Era um gato malhado, não preciso nem mencionar que ele era um macho [1]. Haruhi não percebia quanto pedigree esse gato tinha, e não estava maravilhada com esse gato que pegara randomicamente.

1-[Nota do tradutor: O gato que Haruhi pegou é um gato malhado, conhecido também como gato tricolor, ou gato cálico. Os alelos que determinam a pelagem de um gato estão ligados a herança sexual. O alelo que determina um gato calico é XOXo, Xo – recessivo para com preta e XO - dominante para cor laranja, um gato malhado apresenta esses dois genes "X" , o que resultaria em uma fêmea. Um gato macho com os alelos para o fenótipo "malhado" é algo digamos... bastante incomum, para não dizer impossível, só existindo no caso de um macho XOXoY, portador da síndrome de Kleinefelter. Como Shamisen era realmente um gato macho normal só podemos constatar uma anomalia gênica, possivelmente causada pela influência de Haruhi].

"Aqui Yuki, esse é o seu parceiro. Espero que você se de bem com ele."

Nagato recebeu o gato com uma expressão vazia de quem recebe um panfleto distribuído por algum vendedor de rua, o gato também apresentava uma expressão vazia quando passou para as suas mãos.

A filmagem começou há pouco tempo, nos fundos de um condomínio, os cenários não parecem mais uma preocupação nesse filme. Minha câmera já está entupida de cenas que de tempos em tempos saíam diretamente da mente da diretora. Eu não vou ter que editar essas cenas sem sentido em uma história coerente, não é?

"Yuki, ataque a Mikuru-chan!"

Ao sinal de Haruhi, Nagato se ajoelhou de maneira estranha e se transformou em uma feiticeira maligna com um gato no ombro. Não importa como se olhasse, o gato parecia ser pesado demais. A única coisa boa é que o gato se permitiu ficar obedientemente pendurado no ombro de Nagato. O corpo dela se inclinava para os lados como resultado do peso excessivo, Nagato fazia o seu melhor para manter o equilíbrio e impedir que o gato caísse. Ela manteve esse estado sem naturalidade enquanto abanava a varinha em direção a Asahina-san.

"Tome isso."

Acredito que raios incríveis deveriam sair da varinha de Asahina-san nessa cena, certo?

"... kyaa!"

Asahina-san gritou como se estivesse sofrendo uma dor excruciante.

"E, corta!"

Haruhi disse com satisfação, e eu imediatamente parei de filmar, enquanto Koizumi abaixou o refletor que estava segurando.

"Eu quero falar com o gato. Ele é o gato de uma maga afinal de contas. Pelo menos ele precisa dizer algo maligno."

Isso é ridículo, sério.

"Seu nome é Shamisen. Ei Shamisen! Diga alguma coisa!"

Ele deveria falar? Não, na verdade eu imploro para que ele não fale.

Talvez as minhas preces tenham sido atendidas, porque o gato com o agourento nome de Shamisen não começou a falar, ao invés disso lambeu o rabo e ignorou completamente o comando de Haruhi. Isso foi natural, mas mesmo assim eu soltei um suspiro de alivio.

"Está tudo indo de acordo com o plano."

Haruhi revisou as cenas filmadas durante o dia e sorriu alegremente. Dando a impressão de que a sua depressão matutina jamais havia ocorrido. Era uma coisa boa ela ter se animado tão rapidamente. A sua velocidade de recuperação continuava a me impressionar.

"Kyon, você será o responsável por cuidar do gato."

Haruhi dobrou a cadeira de diretor e me deu essa ordem sem sentido.

"Cuide bem dele em casa, porque ainda vamos usá-lo para outras cenas. O treine direito! Ensine um truque para ele até amanhã, como pular um aro de fogo ou coisa parecida."

Se ele é o suficientemente esperto para se pendurar no ombro de Nagato, acho que ele é capaz de fazer uma coisa assim, certo?

"Isso é tudo por hoje, amanhã vai ser o ultimo dia da filmagem! Hoje as gravações ocorreram sem problemas, e a história está prestes a entrar no seu clímax, todos mantenham a animação! Descansem um pouco, porque precisaremos dessa energia amanhã também!"

Haruhi acenou com o alto-falante e nos liberou, indo para casa cantarolando o tema de encerramento de "Blade."

"Sigh..."

Asahina-san e eu suspiramos, Koizumi colocou o refletor debaixo do braço se preparando para ir embora, enquanto Nagato olhava vagamente para Shamisen como uma caneta sem tinta.

Eu me abaixei e afaguei a cabeça do gato.

"Obrigado pelo trabalho duro. Talvez eu compre comida de gato para você, ou será que você iria preferir um peixe seco?"

"Para mim, qualquer um dos dois iria servir."

Uma clara voz masculina de barítono disse a sentença acima, e ela não saiu de nenhum dos presentes. Vi Koizumi e Asahina-san com um olhar pasmo no rosto, e então o rosto imutável de Nagato. Todos eles estavam com o olhar fixo em um ponto - meus pés.

E ao lado deles, estava o gato, que olhava para mim com seus olhos negros arregalados.

"Ei!" - eu disse - "Você falou alguma coisa, Nagato? Eu não estava perguntado para você, estava perguntando para o gato."

"É isso que eu havia pensado, então eu o respondi. Eu disse alguma coisa errada?"

E assim falou o gato...


"Isso realmente me pegou de surpresa." - Koizumi disse.

"Isso é algo chocante demais, um gato falando..."

Foi a vez de Asahina-san indagar.

" ... "

Nagato permaneceu em silêncio enquanto pegava Shamisen, que então falou.

"Eu não entendo porque vocês estão tão surpresos."

Ele disse enquanto colocava as patas sobre o ombro de Nagato.

Um gato demônio... era isso que os gatos viravam depois de viver muitos anos?

"Eu não tenho certeza. O conceito de tempo não me preocupa. O que é o presente? O que é o passado? Eu não tenho o menor interesse nisso."

Já estávamos surpresos o bastante com o fato dele saber falar, e ele vem com esse tipo de pensamento abstrato. Não fique se achando, você é só uma bola de pelo. Imagino quanto ganharíamos se vendêssemos o Shamisen em um leilão na Internet.

"Para vocês, provavelmente eu faço sons similares a voz humana, mas os papagaios também não fazem? O que vocês levam em conta para deduzir que eu faço esses sons de acordo com o seu sentido literal?"

De que diabos você está falando?

"Por essa conversa, afinal você respondeu precisamente as minhas perguntas."

"Talvez os sons que eu faça por acaso combinem com a natureza das suas perguntas."

"Nesse caso, então não significaria que todas as conversas entre todos os seres humanos não fazem o menor sentido?"

Por que diabos eu estou conversando com um gato? Shamisen, aquele gato de rua, lambeu as patas e afagou as orelhas, e então continuou a falar.

"Exatamente. Você pode ter achado que conversou com aquela senhorita, mas ninguém tem certeza de que vocês captaram o que cada um tinha realmente dizer."

Shamisen disse com sua voz grave.

"Isso é porque, cada pessoa pode ou não dizer o que está no fundo do seu coração, dependendo da situação." - Koizumi respondeu.

É para você ficar calado!

"Agora que você disse isso... talvez faça sentido." - Asahina-san falou.

Por favor, vocês poderiam parar de concordar com esse gato?

Examinei todos os outros gatos do lugar, tirando Shamisen, todos os outros gatos faziam "miau" ou "purr". Nenhum outro gato parecia ter ganhado a habilidade de se expressar na linguagem humana. Como pode ser?

Isso é tudo culpa daquela garota estúpida.

Examinei todos os outros gatos do lugar, tirando Shamisen, todos os outros gatos faziam "miau" ou "purr". Nenhum outro gato parecia ter ganhado a habilidade de se expressar na linguagem humana.


"Parece-me que as coisas foram dessa para pior."

Koizumi elegantemente deu um gole seu café mocca e continuou.

"Nós subestimamos Suzumiya-san."


"O que você quer dizer?" - Asahina-san perguntou em voz baixa.

"O mundo do filme criado por Suzumiya-san começou a se mesclar com a realidade. O conteúdo do filme que ela visualizou, começou a se manifestar nesse planeta, se tornando parte dessa realidade. Como Asahina-san soltando raios pelos olhos ou com um gato podendo falar. Se ela subitamente dissesse 'Quero filmar uma cena com um meteorito gigante caindo na Terra' isso muito provavelmente iria acontecer."

Neste momento, todos os membros da Brigada SOS, com exceção de Haruhi, estavam juntos em um café em frente a estação. Koizumi propôs essa reunião de emergência para resolvermos o caso Haruhi, um plano que todos acabamos concordando. Aparentemente as coisas começaram a se tornar um pouco sérias demais. A primeira vista, parecíamos um bando de estudantes conversando alegremente (apesar de Koizumi ser o único ali que sorria), mas na verdade éramos como um grupo de vilões planejando a derrota do grande defensor da justiça através de um ataque final. Falando nisso, deixamos Shamisen esperando na grama lá fora, e o ordenamos a não falar com ninguém, ou responder qualquer pergunta. O gato não pareceu ficar bravo com isso, só respondeu "Tudo bem." Então sentou em silêncio na grama sob a sobra das arvores, e nos viu partir.

"O que vai acontecer de agora em diante...?"

Asahina-san perguntou em um tom preocupado. A pobre garota parecia muito confusa, afinal era sempre agredida mentalmente durante o filme de Haruhi. Nagato manteve a expressão vazia, e ainda estava vestida inteiramente de preto.

Koizumi lentamente bebia seu café com leite, e continuava a falar.

"Tudo que sabemos é que não podemos deixar Suzumiya-san livre dessa maneira."

Bebi a água gelada em um só gole, afinal já tinha bebido todo o meu copo de suco de maça, e aquilo era tudo que me restara.

"Então não deveríamos estar procurando um jeito de deter Haruhi?"

"Quem poderia impedi-la de fazer esse filme? Eu não tenho a confiança para tal."

E nem eu.

Uma vez que ela liga os motores, não há como parar Haruhi, ela vai continuar até o fim. Provavelmente ela morreria se parasse, como um daqueles peixes. Se traçássemos a linha genealógica ancestral dela, provavelmente acharíamos DNA de atum e bonito misturado ali no meio.

Nagato não parecia estar nem pensando enquanto bebia o seu chá de amêndoas. Talvez ela realmente não estivesse pensando, afinal ela possivelmente compreendia tudo, não tinha porque ficar pensando, havia a possibilidade de que ela não era boa em conversar, então ficava calada. Depois de passar seis meses perto dela, ainda encontro dificuldades em adivinhar no que ela está pensando.

"E você Nagato? O que me diz sobre isso?"

" ... "

Nagato colocou seu copo na bandeja sem fazer nenhum ruído, então virou a cabeça levemente para mim e disse:

"Diferentemente da ultima vez, Suzumiya Haruhi não irá desaparecer deste mundo."

Sua voz era fria e ríspida.

"A Entidade Senciente de Dados Integrados deduz que isso já é o bastante."

"Mas isso seria um problema para nós."

"Mas não para nós. Continuaríamos a catalogar as mudanças do alvo de observação."

"Então é assim?"

Koizumi rapidamente decidiu ignorar Nagato, e se virou para mim.

"Então, em que gênero poderíamos enquadrar o filme de Suzumiya-san?"

Sigh, novamente ele falou de uma forma ambígua.

"A estrutura da história poderia ser dividida em três formas. Primeiro, poderia ocorrer dentro de uma certa moldura. Segundo, poderia quebrar essa moldura e criar um novo paradigma. Ou terceiro, poderia retomar um molde já obsoleto ao seu estado passado."

Como esperado, ele começou a falar em grego, isso levaria as pessoas ao nosso redor a pensar "Do que ele está falando afinal?". Asahina-san, você não deveria levar essas baboseiras a sério!

"Como existimos dentro dessa moldura, se quisermos entender nosso mundo, teríamos de pensar racionalmente, ou deduzir perante certas observações."

Que diabos é essa "moldura"?

"Tente pensar na 'realidade' em que estamos agora. Esse mundo só pode existir nesse estado atual. Resumindo, o filme de Suzumiya-san para nós é uma ficção."

Isso não era meio obvio?

"O problema é que algumas coisas que existiriam apenas na ficção, agora afetam a nossa 'realidade'."

Os olhos da Mikuru-Maravilha, os pombos, as flores de cerejeira e o gato.

"Devemos impedir que o mundo ficcional interfira na nossa realidade."

Sempre acho que Koizumi se entusiasma demais falando nesse tipo de coisa, e dessa vez ele parecia bastante animado. Para revidar isso, decidi manter uma expressão de mau humor.

"Esse filme serviu como um filtro para Suzumiya-san manifestar seus poderes. Para prevenir nisso, deveríamos enfatizar para Suzumiya-san que isso é tudo ficção. Porque agora, ela está apagando as tênues linhas que separam a realidade dessa sua ficção."

Você realmente está animado com tudo isso!

"Precisamos encontrar uma forma racional de provar que as coisas do mundo ficcional não são reais. E devemos fazer que esse filme acabe de maneira razoável."

"E como vamos normalizar o fato do gato poder falar?"

"Normalizar não é o termo correto. Pois dessa maneira, um mundo onde gatos podem falar será criado. Na nossa realidade os gatos não podem falar. Se ninguém achar isso estranho, então as conseqüências serão atrozes, afinal, para nós é impossível um gato falar."

"E o que dizer sobre os aliens, viajantes do tempo, e espers? A existência deles não é uma mera possibilidade?"

"Bem, é claro, afinal estamos existindo nesse momento. No nosso mundo isso é uma coisa normal, o único porem é que não devemos deixar que Suzumiya-san saiba disso."

Sério?

"Vamos supor que nosso mundo seja um objeto observado de longe. Se ela acreditar que o 'mundo real' seja aquele em que você acreditava viver, um mundo sem nenhum fenômeno sobrenatural – onde aliens, espers, e viajantes do tempo não existam – estão essa 'realidade' em que vivemos hoje, seria um mundo completamente fictício."

Então esse é o verdadeiro Deus de que você estava falando?

"Mas isso se somos observados de longe. Você já descobriu que esses fenômenos sobrenaturais, de fato, existem – o que inclui a existência de seres como eu e Nagato-san. Como você está aqui, você só poderia aceitar esses fatos estando dentro dos limites desse mundo. Estou certo de que sua visão de mundo é diferente de um ano atrás."

Talvez eu fosse muito mais feliz se não soubesse nada disso.

"Como eu poderia dizer isso? Hmm, eu posso confirmar. Agora o estado de Suzumiya-san é igual ao seu estado no passado. Em outras palavras, sua visão da realidade não mudou. Talvez ela fale muito sobre isso, mas no fundo ela não acredita que esse tipo de fenômeno sobrenatural realmente exista. Vamos tomar o que ela vê como exemplo; ela tratou o aparecimento do Espaço Restrito e dos 'Celestiais' como um sonho. Como sonhos são fenômenos ficcionais, a 'realidade' desse mundo pôde ser mantida."

E esse é o motivo de nos esforçarmos tanto, e por tanto tempo, para manter as coisas como estão.

"Nesse momento, não há duvidas de que a ficção pode se manifestar em nossa realidade. Se Suzumiya-san trate essas ocorrências como 'fatos', então um gato falante pode se incorporar a nossa 'realidade'. Como seria estranho para o mundo que gatos falassem, o universo teria de ser reconstruído no intuito de manter os gatos falantes como parte da 'realidade'. Será que Suzumiya-san quer um mundo com gatos falantes? Eu não acho os domínios da ficção cientifica vão incorporar-se ao nosso mundo, julgando pela maneira dela pensar, não acredito que Suzumiya-san faria algo tão drástico. Mas também é possível que exista um mistura dos elementos fantásticos ao mundo, onde não seria necessária uma explicação lógica do porque gatos conseguirem falar. Enquanto os gatos falantes permanecessem existindo, isso já seria o suficiente para ela. Não haveria indagações de 'Por que os gatos conseguem falar?', afinal será algo natural os gatos falarem."

Koizumi colocou seu café na mesa e começou a se distrair girando os dedos sobre a borda do copo, e então disse.

"E isso seria bem problemático, seria como jogar fora todos os conceitos conhecidos pela humanidade. Da minha maneira, respeito como os humanos chegam as suas conclusões através da observação. Através desse método, seria impossível, sem influencias externas, achar nesse planeta um gato que pode falar."

Como então você explicaria a sua existência? Esperes não são tão incríveis quanto gatos falantes?

"De certa forma você está certo. Pois nesse mundo, ainda somos uma anomalia. Não confinados as regras impostas dessa realidade. Existimos apenas graças a Suzumiya-san. E esse gato é a mesma coisa, porque Suzumiya-san quis que ele aparecesse no filme, ele existiu. Pelo que eu estou entendendo, Suzumiya-san está tentando ligar esta realidade e os elementos ficcionais do seu filme."

Agora não é a hora para entender, agora é a hora de achar alguma solução!

"Por isso precisaríamos categorizar o gênero deste filme."

Como eu queria que isso não tivesse se estendido tanto. Olha, eu sei que pode ser legal para você mostrar a sua habilidade de argumentação e tudo mais, mas pelo menos pense um pouco nos sentimentos de quem está ouvindo! Seu discurso é tão incomodo quanto aqueles que o diretor faz nas reuniões da escola toda a semana. Olhe como Asahina-san está perplexa desde que começamos a conversar.

Mas Koizumi não pretendia parar por aqui.

"Se isso tudo está acontecendo no mundo ficcional não precisa haver explicação alguma sobre o fato do gato conversar, ou sobre Asahina-san soltando lasers. Pois nesse mundo, 'isso é um fato'."

Olhei para fora da janela para garantir que Shamisen ainda estivesse ali.

"Mas, na verdade há uma razão para os gatos falantes ou para o Raio Mikuru existam, mas no momento isso ainda não foi descoberto. Existe uma realidade em que gatos podem falar e Asahina-san solta raios pelos olhos, mas ninguém ainda percebeu as causas desses fenômenos - pelo menos por observação, mas de toda a forma uma hora ou outra esses motivos seriam provados. Então todo nosso mundo iria mudar. Precisamos reajustar a realidade desse mundo, para uma em que fenômenos paranormais existam, assim esse mundo passa a ser um mundo ficcional."

Suspirei pesadamente. Sério, esse cara não pode calar a boca?

Então o que você está tentando dizer é: uma razão razoável é necessária para explicar a existência dos gatos falantes. Mas nesse caso, como você explicaria a existência de Nagato, Asahina-san, e a sua? Vocês não são parte desses fenômenos sobrenaturais?

"Provavelmente, assim como você, e não é preciso explicar muito. Para você, o mundo mudou. O mundo que você conhecia ao entrar no colegial, não é um mundo diferente do qual você vive hoje? Seu conceito de realidade mudou, para o bem ou para o mal, e no final acabou encontrando novas realidades. No final, você não confirmou o fato de pessoas como nós existirem?"

"O que você está tentando dizer afinal?"

"Voltando a falar sobre o filme de Haruhi, este poderia facilmente se enquadrar no gênero de ficção cientifica. Nesse filme, não são necessários motivos para que um gato fale, ou para que Asahina-san ou Nagato-san possuam poderes. Isso já é o suficiente."

Então o que precisamos fazer é encontrar um motivo para a existência do gato demoníaco, da garçonete do futuro, e da perversa maga alien?

"Não exatamente, porque darmos uma razão de existência a esse fatos acabará acarretando problemas com o mundo externo. Se alguém perceber que 'o mundo mudou' depois de assistir o filme inteiro, do inicio ao fim, então isso revelaria a existência dessa nova 'realidade', o que acabaria transformando o mundo em um lugar aonde não é grande coisa um gato falar. Acredite, não quero que o mundo fique mais complicado do que ele já é."

E nem eu. Acho que as únicas pessoas que não iriam se importar eram Nagato e seus colegas.

"Como havia dito antes, precisamos definir o contexto desse filme, tudo que precisamos fazer é perguntá-la sobre a direção em que o filme está seguindo. Com a definição desse contexto provavelmente todas as questões sobre os mistérios ou eventos paranormais ocorridas durante o filme serão dissipadas, e com um desfecho satisfatório, conseguiremos colocar o mundo de volta aos seus devidos eixos. Pensei um contexto que conseguiria salvar o mundo, independente do seu estado, e ainda por cima, responder satisfatoriamente todas as perguntas sobre os acontecimentos bizarros."

E que contexto é esse?

"O contexto dedutivo, especificamente da dedução básica. Uma vez que ele sido realizado, todas as cenas surreais serão acompanhadas pelas pessoas dizendo 'eu não acredito nisso' e esses eventos paranormais poderão ser ignorados facilmente. Tudo que precisamos fazer é deixar o gato falante e os raios letais de Asahina-san o mais perto de uma farsa, assim nosso mundo permanecerá intacto, estou certo?"

A garçonete do café estava incomodada pelas roupas de Asahina-san, mas fingiu não ver nada enquanto pegava os copos vazios de cima de nossa mesa. Koizumi esperou ela sair, então prosseguiu.

"Obviamente um gato falante é algo fora dos limites do bom senso, mesmo assim esse gato existe. Em outras palavras, coisas que não deveriam existir, começaram a aparecer. E isso é um fato extremamente inconveniente."

Ele agitou as gotas de água em seu copo com os dedos e disse:

"Para resolver esse problema, precisamos de um final adequado. Um que teoricamente seja aceitável por todos - ou pelo menos para Suzumiya-san. Um final aonde gatos que falam, feiticeiras alienígenas e viajantes do tempo possam existir."

"E um final assim existe?"

"Claro! E é bem simples. Tudo que precisamos é uma explicação aceitável para os eventos inexplicáveis que ocorreram anteriormente."

E qual é a sua explicação?

"Foi tudo um sonho."

" ... "

Fomos engolidos por um silêncio mortal. Depois de alguns segundos, Koizumi voltou a falar.

"Eu não estava brincando..."

Olhei inquisitivamente para aquele cavalheiro que se distraia separando os cabelos com os dedos e disse.

"Você acha que Haruhi vai aceitar uma bobagem dessas? Ela está falando sério sobre o premio, e não se importa se o filme é real ou não. Agora você diz que foi tudo um sonho? Não importa quão estúpida ela seja, Haruhi não vai fazer um filme tão imbecil assim."

"Claro que levei em conta os seus sentimentos ao elaborar essa conclusão, e esse é o final mais conveniente para nós. Fazê-la declarar que foi tudo um sonho, ou uma farsa, ou que foi tudo inventado, com certeza seria a melhor opção."

Para você talvez... e para mim também não chega a ser uma opção ruim, mas o que Haruhi iria pensar disso? Ela provavelmente inventaria um final extremamente chocante que a agradasse.

Alem do mais, eu não quero mais ser importunado com coisas que deveriam ser sonhos... e também não quero ouvir seus monólogos intermináveis, com certeza não estou me divertindo mais com isso.


No caminho de casa, decidi passar na loja de animais local. Comprei uma tigela barata e comida de gato que estava com desconto, até pedi um recibo antes de sair da loja. Shamisen limpou a cara com as patas e olhou para mim. O gato me seguiu assim que comecei a andar.

"Agora escute. Quando formos para casa, não diga nada, e aja como um gato deveria agir."

"Eu não entendo o que você entende como atitudes de um gato, mas já que você pediu, eu acho que terei de obedecer."

"Olha, não fale comigo. Responda tudo com um miado."

"Miau"

Minha irmã e minha mãe estranharam o fato de eu ter trazido um gato para casa. Dei a desculpa que havia inventado antes, de que "O dono precisou viajar, e me pediu para ficar com ele por um tempo." O que foi facilmente digerido pela minha família, especialmente pela minha irmã, que começou a afagar o Shamisen, enquanto o gato demônio simplesmente ronronava. Isso não é muito não-felino para você?


Depois de uma noite relativamente pacifica, eu ainda tinha de retornar a escola. Eu não estava confortável deixando Shamisen em casa, então o trouxe junto. Pedi para ele ficar dentro da minha mala. Shamisen respondeu humildemente "Tudo bem então.". E prontamente entrou na bolsa. Eu não o deixaria sair até chegarmos à escola!

Restavam poucos dias até o festival, a atmosfera da escora se tornava cada dia mais vívida, em sincronia com o humor de Haruhi. O que aconteceu com o ambiente relaxado de ontem?

A manhã estava repleta de sons de instrumentos musicais e de pessoas cantando, e placas de avisos e panfletos eram espalhados por toda a escola. Havia pessoas vagando por ai com todo o tipo de fantasias estranhas, não tinha idéia de onde elas estavam indo, ou de que show participariam vestidas assim. Julgando pela situação, não seria estranho um ou dois sliders de universos paralelos estivessem infiltrados em meio da multidão. Só o pessoal da 1-5 não tinha o menor entusiasmo. Talvez porque Haruhi tenha pegado todo o entusiasmo para ela?

Quando eu entrei na sala, encontrei Haruhi sentada em seu lugar escrevendo algo vigorosamente.

"Finalmente decidiu escrever um roteiro?"

Rumei a minha mesa enquanto Haruhi resmungou alto, e levantou seu queixo para cima, respondendo impetuosamente.

"Claro que não! Estou fazendo o panfleto promocional para o filme!"

"Deixe-me ver isso!"

Ela pegou seu caderno e encostou no meu rosto.

A coleção de vídeos secretos da Asahina Mikuru-chan foi revelada! Você vai se arrepender se perder isso! A Brigada SOS orgulhosamente apresenta - O filme mais surpreendente do ano! Venha ver!

Com as palavras provocativas no topo, o panfleto estava cheio de coisas falando como o ano acabaria logo. Não que eu realmente me importe, mas isso pode levar as pessoas a interpretarem mal a situação, vai que elas achem que só ela aparece no filme? Se alguém realmente conseguir descobrir sobre o que é o filme só olhando para o panfleto, essa pessoa realmente irá ter o meu respeito. Francamente, nem eu que sou o cameraman sei sobre o que é o filme, e também não estou tendo muito espaço para opinar a respeito. Ela provavelmente também não tem certeza. Mas convenhamos, ela certamente sabe como elaborar um panfleto.

"Vou fazer copias disso e distribuir na entrada durante o festival. Hmm, a resposta das pessoas será ótima! Acho que o Okabe não vai se importar se eu vestir uma roupa bunny-gal durante esse tipo de evento, certo?"

Não, eu ainda acho que eles vão reclamar. Essa escola municipal tem regras de decência bastante cimentadas, afinal. Eu acho melhor você parar de adicionar criar ulceras no estômago dos membros do conselho estudantil!

"Alem do mais, Asahina-san tem de trabalhar na barraquinha de comida da sala dela. Sem mencionar que Koizumi e Nagato têm atividades para fazer também. Seremos os únicos livres no dia."

Haruhi me encarou com aquele olhar suspeito.

"Então, você está dizendo que quer se vestir de bunny-gal?"

E como isso é possível? Só você já basta. Se necessário, eu fico atrás segurando a placa de propaganda para você.

"Falando nisso, você sabe que só restam alguns dias antes do festival cultural, esse sábado e domingo, certo?"

"É claro que sei disso."

"Sério? Vendo você tão relaxada assim, achei que tinha confundido as datas."

"Como eu estaria relaxada? Você não vê que estou tentando pensar em algumas palavras mais provocativas?"

"Alem da propaganda, você não acha que deveria se focar em coisas mais importantes, como o próprio filme que deve ser terminado?"

"Eu farei isso logo. Só precisamos fazer mais algumas cenas, depois editaremos o filme, e adicionaremos alguns efeitos visuais e sonoros durante a pós-produção, então acabaremos."

Agora me surpreendi. Pessoalmente acho que o número de cenas que faltam supera as que já temos. Que tipo de filme essa diretora está tentando fazer afinal? Sem mencionar que perderemos ainda mais tempo na pós-produção. Sinceramente, espero estar errado.


Durante o intervalo, entre a terceira e quarta aula.

"Kyon-kun!"

Sua voz era tão alta que poderia arremessar todos da sala para o alto. Por puro reflexo, me virei na direção da voz, e vi Tsuruya-san com a cabeça para dentro da sala. Ao seu lado, mal se via o cabelo macio de Asahina-san.

"Venha aqui!"

Eu corri para lá, como se estivesse sendo puxado pelo sorriso de Tsuruya-san. Haruhi tinha o hábito de se ausentar durante o intervalo, então ela não estava aqui. Provavelmente estava vagando pela escola. Essa era uma grande chance.

Vim para o corredor quando Tsuruya-san puxou a minha manga e disse.

"A Mikuru quer dizer uma coisa para você!"

Asahina-san tremia quando me entregou um pequeno pedaço de papel.

"Esse... uhm, é um ingresso promocional."

"Essa é uma entrada para a barraca de yakissoba da nossa sala!" - explicou Tsuruya-san.

Recebi com gratidão. Devia ser um cupom de desconto ou algo assim. De acordo com as palavras impressas no verso do cupom barato, eu tinha trinta porcento de desconto ao pedir macarrão.

"Por favor, venha com os seus amigos."

Asahina-san abaixou sua cabeça profundamente enquanto Tsuruya-san tinha a boca escancarada como uma personagem de desenhos.

"Isso é tudo por hora! Até mais!"

Tsuruya-san disse aquilo e se preparou para sair, Asahina-san iria segui-la, mas decidiu ir em minha direção. Tsuruya-san riu e quando viu aquilo, parou para nos esperar.

Asahina-san colocou os dedos juntos e falou para mim.

"... Kyon-kun."

"Sim?"

"Sobre o que o Koizumi-kun disse no outro dia, eu acho melhor você não acreditar nalquilo... talvez você ache que eu tenho algum problema com ele se eu disser isso.... um, eu não gosto disso, mas..."

"Você diz o fato dele chamar Haruhi de Deus?"

Se você quer dizer isso, não se preocupe, eu nunca acreditei nele, desde o principio.

"Eu, hum... tenho uma visão diferente disso, digo, hum… uma explicação diferente da de Koizumi-kun."

Asahina-san suspirou e me olhou com seus olhos completamente abertos.

"Suzumiya-san possui sim o poder de mudar o 'presente', mas não acho que ela tem o poder para reconstruir o mundo. Esse mundo é assim desde o começo, não foi criado por Suzumiya-san."

Nesse caso... não significa que sua visão está em conflito com a de Koizumi?

"Acredito que Nagato tenha sua própria visão da situação também."

Asahina-san girava o tecido de seu uniforme com os dedos.

"Um... se disser isso, as pessoas não vão se sentir confortáveis, mas…"

Tsuruya-san sorria enquanto nos encarava a distância, carregando a expressão de uma mãe andorinha que vê o ultimo filho deixar o ninho. Imagino se ela não está interpretando mal a nossa relação.

Asahina-san parecia bastante desconfortável enquanto falava.

"A visão de Koizumi-kun é bem diferente da nossa. Se eu pedir para você... um … não acreditar nele tão facilmente, parece que eu estou o criticando, mas..."

Ela abanou as mãos freneticamente.

"Desculpe se não consigo explicar direito. Eu não sou boa falando isso… digo…"

Ela continuou com a cabeça baixa, e olhava repetidamente para cima.

"O pessoal do Koizumi-kun tem suas próprias teorias, assim como nós. Acho que Nagato-san está na mesma situação, então..."

Asahina-san olhou para mim, finalmente usando toda a sua coragem para decidir algo. Ela ficava tão bonita, mesmo quanto tentava parecer séria. Tremi de alegria ao observar seu belo rosto tão de perto. Então confiantemente respondi a ela.

"Eu sei, como Haruhi poderia ser Deus?"

Ao invés de dar credito a religião daquele panaca, preferia criar uma nova religião em torno de Asahina-san, e adorá-la como seu fundador. Ela provavelmente atrairia mais seguidores assim. Provavelmente faria um selo de aprovação apenas para aprovar isso.

"Para mim, a sua explicação foi bem mais simples de se entender do que a do Koizumi."

Asahina-san revelou um rosto animado. Acredito que era tão doce quanto seriam se os feijões doces se eles pudessem sorrir.

"Um, obrigada. Mas Koizumi-kun não está incluído no meu meio, por favor, entenda."

Ela disse palavras extremamente ambíguas, olhou para mim, e rapidamente se virou como se estivesse tentando fugir. E eu nem estava tentando abraçá-la.

Asahina-san acenou gentilmente para mim, e depois seguiu Tsuruya-san, como um cisne negro seguindo sua mãe, para finalmente deixar o meu campo de visão.


Deveríamos acelerar nosso progresso. Fui em direção a sala do clube enquanto imaginava o porque de estar pensando nisso tão seriamente. Eu quis usar o computador um pouco, mas não esperava que alguém já estivesse sentado lá dentro, vestindo seu chapéu pontudo e seu manto negro enquanto lia um livro.

Ates que pudesse dizer qualquer coisa:

"Eu acredito que isso seja o que Asahina Mikuru pensa."

Nagato falava como se pudesse ler a minha mente.

"Suzumiya Haruhi não é o criador, e não foi a responsável pela criação desse mundo. Esse planeta já existe há muito tempo. A presença sobrenatural de esperes, anomalias temporais e formas de vida alienígenas não foram criadas através dos desejos de Suzumiya Haruhi, e existiam há muito tempo antes dela aparecer. O papel de Suzumiya Haruhi foi descobrir inconscientemente a existência desses indivíduos. Ela começou a usar suas habilidades há três anos, mas suas descobertas não a levaram a autoconsciência destes fatos. Ela foi capaz de procurar o paranormal, mas ao mesmo tempo ela contradiz as próprias visões da paranormalidade. Por isso nossa facção está a prevenindo de ter essa autoconsciência."

Ela falou calmamente sem esboçar nenhuma reação. Nagato olhou para mim com aqueles olhos penetrantes e começou a repetir a frase acima, dizendo o seguinte antes mesmo que eu fechar sua boca.

"E estes seríamos nós."

"Asahina-san tem explicações diferentes das de Koizumi. Seria tão inconveniente assim deixar Haruhi presenciar algo extraordinário?"

"Sim."

Nagato voltou o olhar para o livro aberto, como se nossa conversa não fosse muita coisa.

"Ela veio para esse plano temporal visando proteger seu próprio futuro."

Tenho a vaga sensação de que ela está casualmente descrevendo algo que na verdade é muito importante.

"Para o plano temporal de Asahina Mikuru, Suzumiya Haruhi é uma variável. Na intenção de estabilizar o seu futuro, é necessário garantir que o valor correto para essa variável seja usado. E essa é a missão de Asahina Mikuru."

Nagato silênciosamente virava as paginas do livro sem fazer nenhum barulho. Seus olhos negros e sem emoções não piscaram nenhuma vez enquanto ela continuava.

"Koizumi Itsuki e Asahina Mikuru tem abordagens diferentes para suas missões envolvendo Suzumiya Haruhi. Eles não vão deixar transparecer suas interpretações para os outros, pois cada teoria coloca em risco a existência do outro individuo."

Espera… Koizumi não recebeu seus poderes apenas há três anos atrás?

Nagato respondeu rapidamente.

"Não existem garantias de que Koizumi Itsuki esteja falando a verdade."

A imagem do seu rosto sorridente surgiu em minha cabeça, era verdade, ninguém garante que ele era uma pessoa de confiança. Só porque Koizumi foi capaz de dar uma explicação decente para todas as coisas que encontramos até agora. E não se pode garantir se essas eram as explicações corretas. Até mesmo Asahina-san disse para não acreditar nele, mas pensando um pouco é a mesma coisa em relação a ela, ninguém pode me garantir se a explicação de Asahina-san está certa.

Olhei para Nagato e pensei; Talvez o que Koizumi disse possa não ser verdade, talvez Asahina-san nunca percebeu que a sua opinião poderia estar errada, e na verdade apenas essa calma alienígena não esteja mentindo.

"O que você acha? Qual é a explicação correta? Você mencionou a possibilidade de auto-evolução, que tipo de resultado isso traria a nós?"

"Não importa o quão precisamente eu explique, não há como achar uma prova sólida disso."

"E por que isso?"

Nesse momento, vi algo que raramente veria. Fiquei pasmo ao ver Nagato com um olhar confuso no rosto enquanto dizia.

"Porque ninguém pode garantir que as coisas que eu digo são verdade."

Nagato colocou o livro na mesma, e saiu da sala, deixando a seguinte fala no ar.

"Pelo menos para você."

O sinal tocou, sinalizando o reinicio das aulas.


Eu não entendi.

Afinal, como uma pessoa normal poderia entender?

Tanto Koizumi quanto Nagato, ambos me explicaram as coisas tal forma que uma pessoa comum não poderia entender! Suspeitei que eles estavam explicando assim de propósito, da maneira mais difícil possível de se compreender. Vocês dois deveriam gastar mais tempo organizando suas linhas de raciocínio, ou ninguém vai ouvir vocês, pois as palavras vão entrar por um ouvido e sair pelo outro.

Andei pelo corredor de braços cruzados, enquanto isso um bando de pessoas em fantasias medievais passava pelo corredor. Se Nagato estivesse misturada a essas pessoas com sua roupa negra, aposto que ninguém iria suspeitar nada. Talvez alguma sala tenha decidido filma seu próprio filme de ficção científica, não deixando Haruhi levar toda a glória. O que não seria tão ruim, pelo menos eles não ficariam tão frustrados quanto eu, e fariam seu filme alegremente, comandados por um diretor com bom senso e que dá ordens como mínimo de sensibilidade.

Suspirei pesadamente e voltei à sala da 1-5.


Haruhi era a única que achava que as filmagens estavam de acordo com o cronograma, enquanto isso as preocupações só aumentavam em minha cabeça, o mesmo valia para Koizumi e Asahina-san.

Enquanto as filmagens prosseguiam, muitas coisas aconteceram. Por algum tempo, arma de brinquedo virou uma arma de água, Asahina-san tremia cada vez que Haruhi trazia uma nova lente de contato colorida (a dourada atirava balas de rifle, e a verde criava micro-buracos negros), e no final ela acabava sendo mordida por Nagato; as cerejeiras se apodreceram no dia seguinte. E os pombos do templo se transformaram nos supostamente extintos pombos passageiros (Koizumi me contou isso em segredo) até mesmo a precessão da Terra se alterou levemente (de acordo com Nagato).

O mundo normal estava lentamente se desfazendo.

Arrastei meu corpo cansado para casa, e o animal de bigodes abriu novamente a sua boca.

"Então está tudo bem enquanto eu manter a minha boca fechada em frente a aquela garota enérgica?"

O gato se sentou em minha cama na postura de uma esfinge.

"Você é bem obediente." - gentilmente segurei a longa cauda de Shamisen, que eventualmente escorregou por entre os meus dedos.

"Afinal, se é isso que você deseja. Porém, eu também acho que não será uma boa coisa deixar aquela garota me ouvir falar."

"Bem, de acordo com Koizumi, isso é verdade."

Se esse gato fala, precisamos achar uma razão plausível para tal. Uma solução simples seria criar um mundo aonde ninguém acha estranho um gato falar. Mas que tipo de mundo seria esse? E que tipo de gatos teríamos nele?

Shamisen deixou escapar um bocejo infinito enquanto enrolava a sua cauda.

"Há vários tipos de gatos, não é assim com os humanos?"

Eu não sei o que você quer dizer com "vários tipos."

"O que você faria se soubesse? Não acho que você possa substituir os gatos, mesmo sabendo como os gatos pensam."

Isso é realmente frustrante, na verdade, tudo é muito frustrante.

Quando eu ia tomar banho, minha irmã entrou no quarto anunciando um visitante.

Desci as escadas imaginando quem seria. Não esperava que fosse o Koizumi. Decidi sair para conversar com ele sob o céu noturno. Eu não queria convidá-lo para entrar, ou tudo acabaria com um daqueles discursos infinitos. Alem do mais, não queria ouvir ele e Shamisen me explicando simultaneamente sobre filosofias abstratas difíceis de se entender.

Como eu pensei, no final Koizumi inundou a minha mente com um dos seus discursos, ele até mesmo disse isso.

"Para Suzumiya-san, os pequenos detalhes e as minúcias do enredo não são importantes. Na verdade eu acho isso interessante, e isso já me basta. A história não tem um enredo denso ou resoluções cabíveis, e nem ao menos ganchos para uma seqüência, afinal ela fez isso em um período muito curto de tempo. Ela nem mesmo elaborou o final, então quem sabe, o filme acabe sem um."

E quem se incomoda com isso? Se você diz que se o filme acabar de uma forma mal resolvida, essa realidade vai ser permanentemente distorcida e se transformará na nova realidade? Haruhi tem de ter um final em mente, e um final que corresponda a realidade. Esse é um problema que devemos considerar, afinal Haruhi nunca liga para esse tipo de coisa, e quando liga, geralmente acaba gerando um desastre. É melhor que nós façamos o trabalho mental. Mas porque nós devemos pensar nessa bobagem? Não há ninguém para carregar esse fardo para nós?

"Se ela existe, então sim."

Koizumi deu de ombros.

"Acredito que essa pessoa teria aparecido para nós há muito tempo se ela existisse. Como não apareceu, devemos nós mesmos achar uma solução, e rápido, principalmente você. Estou esperando para ver você trabalhar com ainda mais empenho."

Mais empenho no que? Por favor, seja mais específico.

"Pois se o mundo ficcional se tornar realidade, todas as nossas teorias não servirão para nada. Talvez Asahina-san não seja afetada, afinal, a sua facção tem seu próprio conjunto de teorias. Assim como Nagato-san, eu não sei muito sobre ela, mas acho que a facção dela iria aceitar qualquer resultado calmamente, mesmo se a terra desaparecesse; enquanto Suzumiya-san existir, eles estarão satisfeitos."

As lâmpadas da rua brilharam no rosto frio de Koizumi em meio aquela escuridão.

"Posso dizer honestamente, a 'Organização' e a facção de Asahina-san não são as únicas pessoas cuja filosofia gira em torno de Suzumiya-san. Existem muitos outros por ai, tantos que eu gostaria de lhe falar sobre os combates secretos que lutamos detrás das cortinas, aliados que nos traíram, e toda a conspiração e planos, assim como a destruição e mortes que acontece enquanto falamos. Cada um desses grupos usa todos seus recursos na luta contra os outros com o intuito de sobreviver."

Koizumi continuou, carregando um sorriso cínico e cansado.

"Eu não acho que nossa teoria está absolutamente correta; mas para a situação atual, não haveria lugar para mim se não aceitasse essa idéia por hora. Eu inicialmente fiz um acordo com um dos lados, e agora não posso mudar de idéia. Como uma peça branca de xadrez que não pode virar o peão do lado negro."

Você não poderia usar o shogi ou Othelo como exemplos?

"Mas isso não tem nada a ver com você, o mesmo vale para Suzumiya-san, o que é uma coisa boa, especialmente por ela. Espero que ela nunca descubra nada sobre isso. Não quero deixar uma cicatriz em seu coração; Em meus padrões, Suzumiya-san possui certos traços agradáveis. É claro, você também os possui."

"Por que você está me contando tudo isso?"

"São só coisas que escaparam, não há nenhum motivo em particular. Talvez eu esteja brincando, ou talvez tenha sido possuído por alguma vontade estranha, ou talvez só queria conseguir a sua pena. Não importa, isso não tem a mínima importância."

Verdade, isso não é nada engraçado.

"Talvez eu diga algo que não seja ao importante agora. Você já pensou o porque de Asahina Mikuru... me desculpe, Asahina-san ficar conosco? É verdade que Asahina-san é uma garota bonita, e eu posso entender o motivo das pessoas quererem ajudá-la. Você provavelmente tem uma certa empatia com ela, certo?"

Decidi sair para conversar com ele sob o céu noturno. Eu não queria convidá-lo para entrar, ou tudo acabaria com um daqueles discursos infinitos.

Proteger o fraco do forte deve ser a aspiração de todos.

"A missão dela é se aproximar de você, é por isso que Asahina-san tem a aparência e personalidade, coincidentemente iguais ao seu tipo favorito de garota - a indefesa e bonita. Como você é a única pessoa que Suzumiya-san ouve, de certo modo, é imperativo pensar que ela tem um pouco de sua atenção."


Me senti engolfado em um silêncio maior do que um daqueles peixes abissais sente, e lembrei-me do que Asahina-san me dissera há meio ano. Não essa Asahina-san, a do futuro, "Por favor, não se aproxime muito de mim.". Ela me disse isso após considerar sua posição? Ou aqueles eram seus pensamentos verdadeiros?

Vendo como eu permanecia em silêncio, Koizumi continuou em uma voz profunda que soava como um velho cedro de Jomon-sugi.

"Se Asahina-san está meramente fazendo o papel de uma garota inocente, mas de fato é outra coisa, o que você faria? Acho que é mais fácil conseguir a sua empatia dessa forma. A maneira qual ela parece inocente e indefesa perante os comandos sem sentido de Suzumiya-san são só parte de seu plano. Tudo que ela quer é chamar a sua atenção."

Eu acho que ele enlouqueceu. Aprendendo de Nagato, respondi sem demonstrar nenhuma centelha de emoção.

"Estou farto de ouvir suas piadas estúpidas."

Koizumi sorriu lentamente, e mexeu os braços de forma teatral.

"Oh, me desculpe, parece que ainda tenho um longo caminho pela frente na árdua estrada de um bom contador de piadas. Inventei todas essas coisas estúpidas para te enganar. Apenas para dizer algo que deixasse uma boa impressão em sua mente. Você levou isso a sério? Agora me deixou mais confiante em relação a minha atuação. Posso encenar a minha peça mais tranqüilamente."

Ele gargalhou amargamente e continuou.

"Nossa sala vai encenar Shakespeare, ‘Hamlet‘ para se exato. Vou interpretar Guildenstern."

Nunca ouvi falar, acho que é só um personagem secundário.

"Ele deveria ser, mas na metade do caminho resolvemos usar a versão de Tom Stoppard da peça, então tenho que aparecer em mais cenas de agora em diante."

Bem, continue o bom trabalho. Se bem que não tinha idéia de que havia outras versões da peça alem da de Shakespeare.

"Devido ao filme de Suzumiya-san, e a peça da minha sala, meu cronograma tem andado bem apertado, e já estou sentido a pressão. Se eu pareço cansado, provavelmente essa é a razão. Não sei se agüentaria o aparecimento de um Espaço Restrito agora. É por isso que vim pedir a sua ajuda. Eu tenho que arranjar uma maneira de prevenir que o filme de Suzumiya-san gere mais acontecimentos paranormais."

Você fala de um fim aceitável? Não disse que poderíamos declarar que era tudo um sonho?

"Para fazer que Haruhi pense que tudo está apenas dentro seu filme, devemos fazê-la acreditar nisso?... certo?"

"Ela deve realmente ter ciência de tudo. Ela é uma menina astuta, e sabe que um filme é inteiramente ficcional. Só que sinto que as coisas não podem acabar bem se continuarem assim, e temos que resolver isso antes do fim das filmagens."

Eu conto com você. Koizumi me cumprimentou, e então desapareceu na escuridão. Que diabos foi isso? Ele veio aqui só para jogar a responsabilidade em cima de mim? Só porque ele está ocupado eu devo cuidar de todo o resto, é isso que ele está falando? Se esse é o caso, ele procurou a pessoa errada. Isso não é um jogo de carteado, e eu não costumo fugir das minhas responsabilidades. Suzumiya-san não é a carta cinqüenta e três. Ela não é o Rei, nem o Ás, e nem mesmo o Coringa.

"Mas..."

Eu resmunguei sozinho.

Parece que não posso mais evitar. Deixando Nagato de lado, Asahina-san e Koizumi parecem ter chegado aos seus limites. O mundo provavelmente também chegou... só que eu ainda não percebi isso.

"Maldição..."

Isso é um saco! Droga! Estou tão frustrado!

Como cancelar a imaginação selvagem de Haruhi? O mundo do filme e nosso mundo são coisas distintas, e não deveriam interferir um no outro - como fazê-la entender isso? Como fazer que ela aceite que isso não era verdade? Um sonho...? O que mais alem disso?

E não havia muito tempo até o inicio do festival cultural.


No dia seguinte, dei uma sugestão a Haruhi. Depois de debater um pouco, ela finalmente concordou com aquilo.


"Acabamos!"

Haruhi bradou enquanto batia no autofalante.

"Bom trabalho gente! Toda a filmagem está completa! Gostaria de agradecer pelo esforço, principalmente a mim mesma! Hmm, as vezes até eu me surpreendo, bom trabalho!"

Ao ouvir seu anúncio, Asahina-san, a garçonete, caiu de joelhos no chão, como se fosse derramar lágrimas de alegria. De fato, ela estava realmente chorando, mas Haruhi deve ter interpretado isso como uma reação emocionada ao seu discurso.

"Mikuru-chan, é muito cedo para chorar, guarde suas lágrimas para o momento em que receberemos a Palma de Ouro, ou o Oscar de melhor filme! Juntos chegaremos ao sucesso!"

Havia só mais um dia até o festival. Estávamos no teto da escola, e a agenda de filmagens fora tão apertada que nem tivemos tempo de comer.

A batalha final entre Mikuru e Yuki chegou ao fim, com a devida interferência de Koizumi Itsuki, que subitamente, teve consciência de seus poderes, e os usou para jogar Yuki para o outro lado do universo.

"Isso foi perfeito! Um filme soberbo! Como eu esperava! Vamos atrair um monte de estúdios querendo comprar os direitos do filme para o exibir em Hollywood! Mas primeiro precisaríamos assinar um contrato com um agente esperto!"

A visão da globalização por Haruhi era de tirar o fôlego. Eu não sabia quem iria querer assistir esse filme, cujo único atributo de vendagem seria a protagonista, nem o resto do elenco ou equipe eram dignos de menção. Se possível, gostaria de ser o agente de Asahina-san. Tenho certeza de que conseguiria um pouco de comissão por isso. Talvez devesse inovar e lançar a rabugenta Haruhi como a mais nova ídolo da nação. Acho que deveria começar mandando suas fotos e um resumo sobre ela.

"Finalmente acabou?"

Koizumi sorriu com animação para mim e disse:

"Sério, isso já encheu o saco, esse sorriso perfeito combina demais com ele. Prefiro ele assim do que melancólico, daquela maneira ele me deixava desconfortável."

"Quando olharmos para trás, agora que acabamos, acharemos que isso aconteceu em um instante. Algumas pessoas dizem que o tempo voa enquanto estamos nos divertindo, imagino quem é a pessoa feliz com isso tudo."

Quem vai saber?

"Posso contar com você para cuidar do resto? Agora estou pensando na minha peça. Diferente de um filme, você não pode dar retoques em uma peça."

Koizumi, que carregava seu sorriso de sempre, me deu um tapinha no ombro e sussurrou.

"Tem mais uma coisa pela qual preciso lhe agradecer, tanto pelo grupo, quanto por mim mesmo."

Estávamos no telhado. Seguindo Koizumi, Nagato deixou o lugar em silêncio, sem demonstrar emoção alguma.

Haruhi tinha os braços cobrindo os ombros de Asahina-san, que olhava para o mar ao longe.

"Nosso alvo é Hollywood e a Brodway!" - ela foi forçada a dizer isso alto. É uma boa coisa ter alguma ambição, mas se você seguir a direção em que está olhando, vai acabar é chegando na Austrália.

"Sigh."

Suspirei e me sentei no chão, colocando a câmera de lado. Para Nagato, Koizumi e Asahina-san, as coisas poderiam ter acabado; mas para mim, os problemas haviam só começado. Ainda haviam coisas a serem feitas.

Alguém tinha que transformar essa pilha de dados inúteis em um "filme". E quem estava encarregado disso? Acho que não preciso nem perguntar.

Na tarde de sexta-feira, apenas Haruhi e eu permanecemos no clube, enquanto os outros três estavam nas atividades de suas respectivas salas.

Foi bom que as filmagens acabaram, mas ela demorou demais, e havia pouco tempo para lidar com o resto das coisas. Depois de passar as filmagens para o computador e ver as cenas repetidamente, cheguei a uma única conclusão - isso era basicamente uma reportagem barata sobre Asahina Mikuru.

Para ser franco, mesmo depois do fim, não tinha idéia de que tipo de filme Haruhi tinha feito. A garçonete, a garota da morte, e o jovem sorrindo o tempo todo, o que havia de errado com eles? E para piorar não havia muito tempo para trabalhar na pós-produção, como colocar os efeitos especiais, sem mencionar que não tinha as habilidades para tal tarefa. Parece que teremos que lançar isso cru, sem passar pela edição.

Haruhi começou a reclamar.

"Como você pode mostrar algo que nem está completo para as pessoas? Você tem alguma solução em mente?"

Você está falando comigo?

"Não vai adiantar me apressar, afinal o festival é amanhã, eu estou fazendo o que eu posso. Já é uma dor de cabeça juntar as cenas que você filmou sem pensar. Não me sinto assistindo um filme agora."

Mas Haruhi era boa em esmagar as opiniões dos outros em um instante.

"Você não ia conseguir fazer, mesmo se passasse a noite toda aqui?"

Quem ficaria aqui? Eu não perguntaria isso, afinal ali só estava eu e Haruhi, que me olhava com aqueles olhos negros de ébano.

"Poderíamos ficar aqui essa noite."

Então, Haruhi disse algo que me deixou muito surpreso.

"Eu vou te ajudar."


Julgando pelos resultados, Haruhi não ajudou muito. Por um bom tempo ela só ficou resmungando atrás de mim, mas depois de uma hora já estava dormindo em cima da mesa. Sério, eu queria filmá-la dormindo. Poderia colocar isso no fim do filme.

Para falar a verdade, parece que eu também acabei dormindo um pouco. Porque quando abri meus olhos, o sol já tinha nascido, e o teclado tinha deixado marcas em meu rosto.

Então, ficar a noite inteira aqui não teve nenhum sentido afinal, o filme continuava incompleto. Tentei editar aqui ou ali, tentando compilar tudo em meia hora, mas ele continuava parecendo um pedaço patético de lixo. Acho que esse filme parecerá ter sido feito por algum amador impulsivo. Seria bom se apenas mostrasse Asahina-san no distrito comercial andando por ai vestida de bunny-gal. Mas essas cenas foram majoritariamente cortadas e passaram quase sem serem notadas, dando lugar a uma história quase inexistente, convenhamos, esse filme não tinha solução. No final ele não fora editado, e os efeitos especiais não tinham sido adicionados, resumindo, era um filme tão ruim que chegava a ser hilário. Acho que nem o Taniguchi conseguiria assistir essa porcaria.

Quis jogar o computador pela janela, mas a brilhante luz do sol me ofuscou demais para isso. Depois de passar a noite inteira em poses não naturais, meu corpo doía inteiro.

Eram seis e meia quando fui acordado por Haruhi, que levantou antes de mim. Pensando bem, foi a primeira vez que passei a noite na escola.

"Ei, então como ficou?"

Haruhi olhou para tela sobre meus ombros, então eu mexi o mouse e cliquei na tela.

"... wow!"

Haruhi exclamou deleitada, enquanto meu queixo caia por causa do choque. Nosso titulo revelou um impressionante fundo em CG. "As Aventuras de Asahina Mikuru-chan Episodio 00", e então começou. Apesar de achar a história bastante inconsistente, que as falas mal podiam ser ouvidas, que a câmera tremia, e perceber os gritos da diretora podiam ser ouvidos nas cenas, o filme chegara em um nível aceitável para os padrões de estudantes de ensino médio. Não havia apenas lasers saindo dos olhos de Asahina-san, mas também raios coloridos saiam da varinha de Nagato.


"Heh heh."

Até Haruhi estava impressionada.

"Nada mal! Mas não está perfeito, mas mostra que você pode fazer uma boa coisa quando você coloca seu coração no meio."

Não fui eu. Provavelmente alguém fez isso enquanto dormíamos, não tinha como eu ter feito uma coisa dessas. A maior suspeita era Nagato, seguida por Koizumi. Asahina-san estava fora de questão. Ou será que havia sido uma pessoa misteriosa que ainda não havia aparecido? Podia ser.

Por algum tempo, assistimos o filme que de alguma forma havia se editado sozinho. Se não fosse por essa tela pequena... estou certo de que ficaríamos ainda mais impressionados ao ver em uma tela maior.

O filme agora mostrava sua cena final, Koizumi e Asahina-san andando de mãos dadas sob uma chuva de pétalas de cerejeira. A câmera deu uma panorâmica e se virou para o céu azul, então o tema de encerramento começou a tocar enquanto os créditos desciam.

Finalmente o pronunciamento da Haruhi.

Era um aviso que com muito custo foi inserido no filme, depois de muitas tentativas de convencer Haruhi. Disse a ela que esse era um elemento crucial no fim do filme, e isso tinha de ser feito pela própria diretora.

Um aviso mágico que eliminaria todos os problemas criados pela filmagem:

“Os eventos retratados nesse filme são fictícios. Não tem relação com nenhuma pessoa, organização, nomes ou fenômenos conhecidos. É tudo inventado. Se algo parecer familiar, é só a sua imaginação. Oh, os comerciais são uma exceção. Por favor comprem na eletrônica Ohmori e na loja de modelos Yamatsuchi! Huh? Você quer que eu repita? Os eventos retratados nesse filme são fictícios. Não tem relação com nenhuma pessoa, orga – Kyon, porque eu tenho que dizer isso? Isso tudo não é obvio? “




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Epílogo


Quando o festival cultural começou, já não estávamos mais tão ocupados.

Na verdade, acho que as coisas mais divertidas aconteceram durante a preparação do festival. Uma vez que os eventos já haviam começado, todos estavam tão ocupados, que nem viam o tempo passar. Logo seria hora de fechar o evento e limpar tudo. Antes disso acontecer, vamos aproveitar esse tempo livre! Pelo menos, eu estou livre hoje e amanhã; espero que ninguém venha ficar me estorvando durante meu tempo de relaxamento.

Haruhi, a única pessoa que poderia conspirar contra esse período pacífico, estava na sua roupa de coelhinha, entregando panfletos no portão principal. Quero ver o como ela vai entregar tudo antes dos professores chegarem.

Saiu do clube, em direção ao campus repleto de vida.

Meu coração, cansado dos últimos dias, parece ter se acalmado. Koizumi acreditava nisso, e Nagato havia prometido também, então não haveria mais problemas. Pois Shamisen não podia mais falar, e é isso que eu precisava para confirmar que tudo voltar ao normal. O Shamisen atual era tão silencioso quanto Nagato; senti que seria desumano jogá-lo por ai, então decidi mantê-lo como mascote. Alem do mais, a minha irmã estava muito animada com a possibilidade de ter um brinquedo peludo que se mexesse sozinho, então disse a minha família que "o antigo dono teve que se mudar".

Esse gato as vezes miava, mas não era isso que meus ouvidos ouviam sempre, talvez ele realmente estivesse falando... é, deixa pra lá...

Contabilizando os desaparecimentos, aqueles que estavam com roupas estranhas há alguns dias atrás não participaram realmente do festival.

Vi no panfleto do comitê executivo, que continha a programação, e não achei nada. Também chequei nos possíveis clubes (como o de teatro), mas falhei em achar qualquer pista. Então quem eram essas pessoas?

"Hmm."

Inconscientemente murmurei sozinho enquanto andava indolentemente pelo prédio da escola.

O que aconteceria se eles fossem seres sobrenaturais andando pela escola? Por que eles usavam roupas futuristas? Certo, da mesma maneira que Nagato.

Seria realmente assim se Nagato se vestisse para ocultar a sua verdadeira identidade para Haruhi, dando a ela a impressão de que esses tipos de roupas só apareciam durante os festivais.

Nagato sempre fora silenciosa, então não tinha idéia se isso era verdade. Mas era bem plausível que algum tipo de conflito estivesse acontecendo fora do meu conhecimento, talvez acontecendo de maneira bem relaxada. Mesmo estando a beira da destruição da Terra, acredito que ela se manteria em silêncio. Se perguntasse a ela, talvez recebesse uma resposta. Mas, acho que essa resposta seria algo incompreensível nos padrões de linguagem humana, e não acho que tenho inteligência o suficiente para decifrar o que Nagato iria dizer.

Então, escolhi eu mesmo ficar em silêncio. Especialmente para Haruhi, me manteria calado sobre isso.


Mudando de assunto. Nosso filme está passando na sala de exibição. Acredito que só filme da sociedade de cinema e o nosso estejam passando. Depois de Haruhi ter feito um grande escândalo para eles, finalmente aceitaram passar nosso filme junto a sua produção própria. Ei, não se pode fazer nada sobre isso, afinal só há uma sala com um projetor. E admito que eles estavam confusos até o final, assim como todo o resto desse mundo, eles não tinham a habilidade de rejeitar uma decisão de Haruhi. No fim eles praticamente foram forçados a exibir nosso filme barato com comerciais no meio.

Como estamos falando disso, saibam que de acordo com o comitê estudantil a Brigada SOS não é um clube oficial. Então, "As Aventuras de Asahina Mikuru" não estavam no cronograma oficial do festival. Então, aparentemente, não ganharemos o primeiro premio. Acho que todos os votos que seriam para nós vão para a sociedade de cinema no lugar.

Ah certo, lembra do filme que deu a idéia da Haruhi de fazer seu próprio filme? Depois de alguma pesquisa, descobri que ele não ganhou o Globo de Ouro. Era só um filme promocional em preto e branco exibido em Cannes, chamado “Only”. Ela devia estar louca pensando que esse filme poderia ganhar um premio. Para confirmar isso, até aluguei o filme. Como resultado, dormi na primeira meia hora. Então até agora não sei se o conteúdo do filme é chato ou divertido. Acho que vou tentar ver de novo antes de devolver.


Como era uma oportunidade única, também assisti a peça da 1-9.

Koizumi estava sorrindo durante a peça inteira. Seu personagem morreu de forma bem estúpida no final; uma estupidez tão grande que rivalizava com o filme de Haruhi. Mas de alguma forma ele parecia ser bastante popular. Talvez eu esteja inconscientemente denegrindo a atuação só porque o ator era o Koizumi. Sua atuação não era realmente uma atuação, ele parecia estar interpretando a si mesmo na peça. Acho que esse era mais um motivo para achar ruim.

Após agradecer a platéia que o ovacionava, Koizumi piscou para mim em resposta. Claro que eu corri quando essa piscadela chegou até mim. Também iria rir da sala de Nagato, porem não esperava que houvesse uma fila tão grande para a sala de previsão do futuro. Dei uma olhada lá dentro. Sob algumas cortinas escuras, havia algumas garotas vestidas de preto, vi o rosto pálido e sem expressão de Nagato. Ela pôs as mãos sobre uma bola de cristal e falava em um tom sem emoção. Nagato, por favor, só os ajude a achar coisas perdidas e nada mais.


Todas as anormalidades causadas pelo filme parecem ter sido consertadas com o aviso "Essa é uma obra de ficção" no fim. Mas esse mundo não poderia ser consertado com essas simples palavras, poderia? Haruhi, Asahina-san, Nagato, Koizumi e eu ainda estávamos lá, não estávamos? Como esse aviso de "Sem relação com pessoas reais" seria verdade? Talvez algum dia todos nós poderíamos viver nossas próprias vidas, porem agora, a Brigada SOS continua a existir, tanto seus membros quanto sua chefe.

Ahh... como diria isso? Às vezes eu acho que tudo isso é uma grande mentira, e que Haruhi não tem poder nenhum, tudo isso é uma piada inventada por Asahina, Nagato e Koizumi. Essas pombas foram só pintadas; Shamisen falando era só ventriloquismo ou um microfone escondido; e as cerejeiras no outono e o Raio Mikuru eram só efeitos especiais.

Mesmo se fosse assim, não posso falar muita coisa alem de:

"Não tem como isso ser possível."

Não importa como, esse tipo de situação não é exatamente feliz. Acho que estar com todo mundo é melhor do que ficar sozinho com Haruhi. Fico contente de não ser o único membro da Brigada SOS.

Mesmo sendo o único normal.

O relógio da sala entrou no meu campo de visão, e esse lugar se tornara um local de relaxamento, assim como a sala 1-5.

Ah sim, esse não é o momento de ficar viajando, já é quase hora. Como poderia desperdiçar esse precioso cupom de desconto? Sem mencionar que gostaria de ver o que ela está vestindo.

Corri em direção ao lugar aonde combinei de me encontrar com Taniguchi e Kunikida. O plano era ir até a loja de yakissoba da sala de Asahina-san.





Notas do Autor[edit]

Notas do autor


Notas do Autor

As lojas de conveniência perto da minha casa fecham uma após uma, agora tenho de andar quinze minutos até a mais próxima. No caminho há um lago aonde os pássaros migratórios se juntam durante o inverno.

Já é quase verão, mas por algum motivo há um pato nadando indolentemente na superfície do lago.

Eu penso o porque desse pato ter abandonado seu bando e ter ficado sozinho. Imagino que um dia ele acordou e ficou pasmo ao perceber que não havia mais ninguém lá, tendo sido deixado para trás dessa maneira. Sinto pena dele. Mas há alguns dias quando fui fazer compras, achei esse pato caminhando relaxadamente pela beira do lago. Soltei um suspiro de alivio sem nenhum motivo. Percebi que esse pato era apenas um pato excêntrico!

Assim como existem humanos que rejeitam a sociedade sem motivos aparentes, esse pato era único entre seu tipo. Talvez ele tenha negado a oferta de seus companheiros de ir para o norte, dizendo; “Não, eu quero ficar aqui, não há motivo algum para isso, sério.” E decidiu se separar de seu nicho. Ele é um pato estranho que gosta de sair por ai a noite, e não se preocupa de estar sozinho em um grande lago, um pato que ama a solidão.

Pensei um pouco, e isso bateu com a minha educação, mas depois de uma pesquisa, descobri que é cada vez mais comum os patos ficarem ao invés de voar para o norte na primavera. Em outras palavras, como cada vez mais pessoas alimentam esses patos, eles não precisam se preocupar em passar fome, e começam a se sentir confortáveis ali. Isso significa que ele não era um pato excêntrico, e sim um pato de mente simples que não queria problemas demais. Me senti deleitado com esse fato, porem meus sonhos foram estraçalhados, então escrevi isso, mas acho que esse pato não dá a mínima para tudo isso.

Voltando ao assunto principal, o próximo volume será uma complicação de histórias curtas publicadas na revista Sneaker (atualmente estamos no verão de 2003). O titulo será "O Tédio de Suzumiya Haruhi", eu acho. Mas isso ainda pode mudar. Afinal gastei menos de três segundos para pensar no nome "A Melancolia de Suzumiya Haruhi", então não tinha idéia de como nomear o resto da série. De fato, nunca pensei que isso se tornaria uma serie de livros, me desculpe sobre isso.

Mudando novamente de assunto, um grande obrigado a quem conseguiu permanecer um longo tempo jogando mahjong comigo. Sou grato pela sua piedade... nada, nada mesmo.

Finalmente, gostaria de agradecer ao Sr. S por editar esse livro e para Ito Noizi-sensei pelas suas ilustrações. Assim como a todos envolvidos na publicação desse livro, e a todos os seus leitores, vocês têm a minha profunda gratidão. Vou continuar em frente esperando os ver novamente.

Tanigawa Nagaru.