Toradora (Portuguese):Volume1 Chapter4

From Baka-Tsuki
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O plano era simples...

Ia haver uma partida de basquetebol na aula de educação física. Os garotos e garotas seriam divididos em duplas e iriam jogar um contra o outro, porém antes todos iriam se preparar... Formando equipes de dois em dois para se aquecer, o que demoraria mais ou menos dez minutos e consistia em se esticar e passar cuidadosamente a bola de basquete entre si.

Os estudantes estavam livres para escolher seus companheiros da forma que quisessem. O professor não se importava como ficavam as equipes.

“... Então é por isso que essa é uma boa oportunidade para duas pessoas que quase não falam conversarem. Creio que vai ser ótimo! Então, faça dupla com o Kitamura! Problema resolvido.”

Ryuuji explicou sua estratégia enquanto caminhavam até o ginásio. Todos usavam o uniforme de educação física. Caminhando a seu lado estava Aisaka, que deprimida, brincava com o rabo de cavalo que tinha feito.

“Faça dupla com ele... Mas, quem da nossa sala quer e vai fazer dupla com alguém do sexo oposto? Eu sempre faço dupla com a Minorin e Kitamura-kun sempre está com você. Agora você me pede que do nada faça dupla com ele... Não tem como eu fazer isso!”

Ela ficou calada depois de dizer o que queria. ‘Tut, tut, tut!’ Ryuuji sacudiu seu dedo enquanto explicava sua estratégia.

“Este é o ponto. Agora escute bem! A meta aqui é normalmente fazer equipe com ele. Tudo que falta é um pouco de preparação. Primeiro, farei equipe com você...”

Aisaka olhou suspeitosamente a cara de Ryuuji.

“... e então?”

“Uma vez que isso ocorra, Kitamura terá que fazer dupla com outro garoto. Mais tarde, esse garoto que fez dupla com ele vai ser acertado ‘por acidente’. Irei dar uma bolada nele. Mesmo que não vá machucá-lo, vai ser o suficiente para causar uma pequena confusão. Como eu terei que levá-lo para a área hospitalar, advinha quem vai ficar sozinha para trás?”

“... Eu e... Kitamura-kun?”

“Correto. Dessa maneira você vai poder ir e falar ‘parece que não tem outra forma se não formarmos uma dupla agora’...”

“Você é realmente um péssimo ator. Está achando que eu sou tonta? E as coisas vão ir tão bem assim?”

“Farei o possível para tudo funcionar da forma correta!”

Os dois se sentaram lado a lado para trocar os sapatos e depois disso se reuniram com os outros na frente do professor de educação física.

“Hoje... praticaremos passando a bola com um parceiro.” Explicou o professor.

“Agora, vamos fazer um aquecimento. Formem duplas!”

“Ei Aisaka!”

“Estou aqui! Vamos fazer uma equipe Takasu-kun!”

“Sim, vamos!”

“... Bem, podem ir para seus lugares! Parece que temos alguns alunos animados hoje!”

Ryuuji e Aisaka rapidamente caminharam até um dos cantos do ginásio. “Incrível... Takasu não dá valor a própria vida...”, “É como se ele fosse uma mascote da Tigresa de Bolso...”

Mesmo que todos começassem a falar entre si, com medo, ninguém foi incomodá-los. Olhando um para o outro, eles conversaram sem pronunciar nenhuma palavra.

“Passamos pela primeira etapa sem nenhum problema.”

“Sim.”

Eles inclinaram as cabeças e trocaram olhares.

Infelizmente o movimento repentino de Ryuuji e Aisaka conduziu a sala em uma direção interessante. Com exceção dos realmente tímidos, os outros alunos tomaram uma decisão...

“Hmmm... então hoje é um ótimo dia não é? Bom, vou formar uma equipe com uma garota! Quem quer fazer dupla comigo?”

Começando com um pequeno grupo, logo outros continuaram.

“Eu também! Quero fazer par com um dos garotos!”

“Tem razão, suponho que dessa maneira será divertido.”

“Quem sabe? Vamos tentar!”

O ambiente se pôs animado. Tirando os que tinham prometido ter equipes fixas, os outros começaram a fazer duplas com pessoas do sexo oposto.

No fim...

“Maruo-kun! Digo, Kitamura-kun! Faça dupla comigo!”

“Quê? Ahh, está bem, como Takasu me abandonou...”

Ah! Ryuuji pôde escutar um grito e Aisaka o puxou pela camisa para que chegasse mais perto.

“Ei, espera, o que está acontecendo?! Kitamura-kun está fazendo dupla com essa garota estranha!”

A garota que ela chamava de estranha era uma das garotas mais populares da sala. Kihara Maya. Para 17 anos, ela tinha um corpo realmente ótimo. As sobrancelhas estavam perfeitamente feitas e os lábios estavam cobertos por um lápis labial transparente. Levando maquiagem, o que infringia a regra da escola, parecia até simpática... Ao menos era o que Ryuuji pensava.

“O que quer dizer com garota estranha? Essa é a Kihara-san. Não vá chamando os outros colegas de sala de estranhos dessa forma! Mesmo que as coisas não estejam seguindo seu... o quê!?”

Dessa vez, era Ryuuji quem tinha gritado.

“Kushieda, vamos praticar juntos.”

O que estava falando era Noto Hisamitsu, um garoto da antiga sala 1-A, com quem Ryuuji até se dava bem. Um garoto de 17 anos, com óculos negros que não combinavam nada com sua aparência. O que demônios esse maldito estava fazendo!? Ryuuji se perguntou enquanto o olhava de forma raivosa.

“Vamos lá!”

Minori correu feliz até Noto.

“O quê? Você?! Eh?! Kushieda-san! Como ela pode estar se aproximando desse garoto estranho?!”

“Eu pensava que ele era seu amigo. Realmente, foi por isso que falei que você era um cachorro inútil. Como você não previu um acontecimento como esse?”

Enquanto esses dois tentavam jogar a culpa um no outro, o apito do professor fez eco por todo o ginásio. Todos se colocaram em fila e começaram a fazer os exercícios de aquecimento.

Parada tristemente diante de Ryuuji, Aisaka começou a mover seu pequeno corpo, sacudindo seu rabo de cavalo a cada passo. Os garotos perto dela foram fuzilados pelo seu olhar e pelos sons de desaprovação que fazia. Essas pobres almas rapidamente pediam desculpas e saíam de seu caminho.

Não importa quem é (com exceção de Minorin), qualquer pessoa que entrasse em seu caminho levaria uma mordida. Dai vinha seu apelido, Tigresa de Bolso, que derivava também do seu nome. Ele se lembrava do dia em que um colega de classe havia explicado o porquê dela ser chamada de tigre. Apesar de tudo, ela não mudava seu comportamento e não ligava sobre o que Kitamura poderia pensar a seu respeito.

Olhando aquela garota se aquecendo, ouvindo música nos fones de ouvido, sua figura pequena e frágil, ela não parecia de forma alguma associada à palavra ‘selvagem’. Os que não sabiam, provavelmente pensavam nela como uma garota bonita e frágil. Na verdade, quando ela entrou na escola, havia muitos que pensavam nela como uma das garotas mais bonitas entre os novos estudantes, e alguns até mesmo fizeram fila para se declarar a ela... Ryuuji definitivamente podia entender como eles se sentiram.

Comparada com as outras garotas, ela tinha um tamanho bem mais proporcional ao de uma ‘garota’. O uniforme de educação física que não ficava bem nas outras parecia muito grande para ela e por causa disso ela teve que dobrar a parte de baixo. Tudo nela estava dentro do diminutivo.

Falando francamente, mesmo que ele tivesse sido atormentado por ela até agora, Ryuuji pensava que Aisaka Taiga era ‘bem simpática’, mesmo que fosse somente de aparência. Seu coração não conseguia mentir. Ele começava a bater mais rapidamente quando eles se olhavam... e o suor que caía de seu rosto também não mentia.

Seria ótimo se não houvesse um tigre dentro desse corpo... Não, o que estou dizendo?!... Justamente quando estava pensando nessas coisas inúteis...

“Está perdido nos próprios pensamentos, pedaço de lixo? Ahhhh, será que você já se rendeu?”

“... d... diga o que quiser. Meu cérebro não perde tempo formando frases para se defender contra seus insultos repentinos...”

O tempo de se aquecer havia acabado.

Aisaka friamente abaixou a cabeça e sentou de costas para Ryuuji. Agora vinham os alongamentos.

“... Por que tenho que fazer alongamentos com você, que tem essa péssima atitude? Pensando bem, não iríamos jogar basquete quando acabasse o aquecimento?”

Aisaka murmurou enquanto se queixava do plano falho de Ryuuji, esticando seus dedos pequenos para frente, ela tocava a ponta dos sapatos sem esforço. Para empurrar o corpo dela para frente, terei que tocar sua camisa e seu corpo... Ryuuji hesitou por alguns momentos. Ele tentou ficar tranquilo e falou:

“Ei, mas, você é muito delicada! Seria ótimo se pudesse falar com Kitamura assim!”

“Sim.”

Enquanto aquela conversa sem sentido continuava, Ryuuji começou a se sentir inquieto. Provavelmente porque estivera pensando em Aisaka fazia alguns momentos, agora não conseguia parar de olhar para seu corpo.

Embaixo das omoplatas de Aisaka, suas costas pareciam quentes devido aos exercícios inicias. Mesmo que fosse somente um pouco, Ryuuji pôde discernir as linhas da roupa íntima que ela usava.

Ele pensava sem fazer barulho, ‘o que ele tinha acabado de fazer era um presente incrível para todos os garotos da sala. Provavelmente eles nunca mais fariam dupla com alguém do mesmo sexo’.

“Ummmph... Ei! Você está fazendo muito peso. Pare de empurrar tanto!”

Sem ouvir Aisaka, Ryuuji se preocupava com Kushieda Minori. Noto também estava observando as linhas da roupa íntima que ela usava?

“... Ryuuji, estou ficando sem ar! Ei! Você é pesado! Ow, pe... sado...!”

Enquanto Ryuuji pensava, seu olhar se moveu até a nuca de Aisaka e seu rabo de cavalo. Como ela raramente saía no sol, sua pele naquele lugar estava branca como a neve. Toda a região de trás das suas orelhas até as artérias da nuca, pareciam mármore polido de tão liso. Parecia que se ele encostasse iriam ficar marcas... Somente olhar aquilo era o suficiente para seu coração bater mais rapidamente e sua respiração acelerar...

“...!...!...!”

“... Quê? Por que parece que você está sentindo dor?”

Quando ele a soltou, Aisaka se levantou e inalou profundamente.

“V... vai saber em um minuto... Venha, vamos trocar de lugar...”

Aisaka sorriu para Ryuuji pela primeira vez. O que estava acontecendo? Ele não entendia. Havia ocorrido alguma coisa boa?

Um minuto mais tarde era a vez de Ryuuji dar as costas para Aisaka e se sentar.

“Lembre-se de não empurrar muito forte!” Ryuuji falou antes de se virar.

E então ele sentiu...

Começou fraco, mas do nada ele sentiu por toda a coluna...

“Idio... Para... Whoa!...”

Com seu peso e sua força, este tigre estava tentando romper sua coluna. Sua cintura parecia que iria se quebrar a qualquer momento.

“Maldição... Isso dói...!”

“Também senti muita dor faz alguns momentos! Agora estamos iguais!”

Aquilo não iria adiantar de nada a não ser fazer ela se cansar. Por fim chegou a hora de praticar basquetebol. Depois de ser acertado pelo chute voador de Aisaka, as pernas de Ryuuji pareciam estar perto de se quebrar. Vai ser um milagre se eu continuar de pé com o resto da sala!

“Vamos dar continuidade ao plano está bem?”

Aisaka falou, parada a cinco metros de distância dele. Os outros alunos também começaram a passar a bola e logo aquele som estava ecoando por todo o ginásio.

O plano era de que Ryuuji iria jogar a bola ‘suavemente’ até o companheiro de Kitamura. Esse era ao plano original, mas agora havia um problema...

Diagonalmente atrás de Aisaka, e diagonalmente a frente de Ryuuji, a pessoa que atualmente fazia dupla com Kitamura era Kihara-san, uma garota...

Não importava o quão fraco ele jogasse a bola, Ryuuji ficava hesitante em ferir uma garota propositalmente. De qualquer forma, deixe-me passar a bola para Aisaka primeiro!

“... O quê? Por que está me dando a bola em vez de...?”

Seus olhos grandes refletiram a luz como uma faca e dispararam diretamente até Ryuuji.

“... Estou esperando uma boa oportunidade. Passa a bola de volta!”

“...”

Com uma cara feia, Aisaka atirou a bola de volta para Ryuuji; Enquanto ele agarrava a bola, Aisaka rapidamente indicou com o queixo,

“Agora!”

“... Ok, ok...”

Depois de hesitar um momento ele jogou a bola novamente para Aisaka. A boca dela se colocou na forma de um V de cabeça para baixo.

“Ei! Que diabos? Se apresse!”

Aisaka manejava a bola habilmente como uma jogadora de basquete profissional. Depois de alguns passes...

“Ai está!”

“Whoa!”

Ela havia jogado a bola como uma bala contra ele.

“Ei, você...”

Ryuuji conseguiu agarrar rapidamente a bola apesar dela ter acertado e arranhado metade de sua cara. Ele não se sentia com raiva, bem, talvez um pouco com raiva, mas ele tinha mais medo.

“Ei Ryuuji! Devolve a bola, agora!”

Do outro lado Aisaka andava da esquerda para direita como se nada tivesse acontecido. Seus sapatos faziam barulhos no chão enquanto ela se movia. É claro que até aquele momento ele não tinha planos de realmente passar a bola com força, então se limitava a mover seus braços lentamente. Mas então... Tentarei passar a bola de uma forma masculina! Mas justo quando Ryuuji levantou as mãos...

“Ah...”

Aisaka repentinamente olhou para outro lugar, o que fez Ryuuji parar rapidamente o movimento que iria fazer.

“O quê demônios está olhando?!”

Aisaka ignorou o comentário e falou,

“Ei Kitamura-kun, aonde você acha que está jogando essa bola?”

“Minha culpa!” Kihara Maya começava a correr atrás da bola que estava rolando, a qual parou justamente nos pés de Aisaka.

“...”

Uma cara feia.

Falando nisso, a verdade era que Aisaka não sabia qual expressão fazer quando pegou a bola.

“Wah! Aisaka-san! Sinto muito, você está com raiva? Foi um acidente!”

Será que é porque ambas eram garotas, a comunicação entre elas era mais fácil? O sorriso de Kihara não mostrava nenhuma das expressões de medo que os garotos normalmente faziam.

“Poderia passar a bola para cá, por favor?”

Kihara levantou seu braço e percebendo que sua munhequeira estava solta rapidamente abaixou para fechá-la.

Enquanto ela estava ocupada naquilo, outra voz interveio na situação...

“Ei... Aisaka! Sinto muito quanto a isso, mas poderia devolver a bola, por favor?”

Era nada menos que o Sr. Boa Gente com suas habilidades brilhantes, Kitamura Yuusaku. Como esperado de Kitamura, ele tratava todas as garotas da mesma forma. Suponho que seja isso que as pessoas chamam de ‘inocência’.

Rrrrr! Aisaka de repente havia parado de funcionar como se fosse um motor que tinha ficado sem gasolina. Devido ao local onde se encontrava, Ryuuji não podia ver sua expressão, mas podia ver claramente como seu corpo estava tão rígido quanto um pedaço de madeira.

“Rrrrr...” Aisaka começava a se mover de maneira estranha com todo esse ruído que fazia. Ela deu alguns passos, braço e perna direita se movendo juntos como um robô, seguidos do braço e perna esquerda. Sem dizer nem mesmo “cuidado!” ou “ai está!” ela devolveu a bola. Ou melhor, ela jogou e bola, e de uma forma bem patética.

Depois de quicar algumas vezes a bola rodou para direita e...

“Obrigado!”

Foi parar em frente a Kitamura, que fez um estranho sinal de V com as mãos. Ele usava a camisa presa dentro dos shorts, que por sua vez tinham as partes soltas amarradas nas pernas.

“Ai, Aisaka...?”

“...”

Aisaka, que parecia gostar desse tipo de garoto, havia perdido todo o sinal de vida... Ao menos era o que parecia. Ela nem mesmo respondia aos chamados de Ryuuji enquanto ficava parada. Para ela não importava que estivesse atrapalhando os outros a jogar a bola.

Ryuuji decidiu se render depois de chamá-la algumas vezes. Cuidadosamente ele se aproximou de Aisaka e sem animar nem provocar...

“... Aisaka!”

“...”

Suavemente puxou a manga de sua camiseta, e pouco a pouco a trouxe de volta para o lugar. Inesperadamente, Aisaka o seguiu obedientemente. Ele olhou para sua cara calada...

“Whoa!”

Ryuuji rapidamente retrocedeu. Aisaka Taiga estava sorrindo! Não era fácil discernir, mas ao inspecionar mais cuidadosamente, ele podia ver que ela estava realmente sorrindo. Seus olhos estavam quase fechados, como uma gatinha que havia comido recentemente. Sua cara inflada foi acariciada por suas mãos e sua boca revelou a forma de um triângulo de lados iguais. Ela ficou assim até que suas bochechas ficaram avermelhadas. Se alguém parasse para ouvir atentamente, poderia escutar pequenos sons vindos das profundezas de seu abdômen...

“Heh, heh, heh, heh, heh...”

… Estava rindo.

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"E, ei... Aisaka, você está bem?"

"Heh... o que foi agora? Quem parece mal é você! Por que parece tão aturdido? Deveria estar feliz por mim, como meu cachorro."

“... Feliz? Por você?"

Depois de escutar essa declaração inesperada, Ryuuji só podia ficar calado. Feliz pelo quê? Mesmo que Aisaka estivesse fazendo cara feia, ela parecia realmente bem... Suas mãos estavam brincando com o rabo de cavalo e ela havia começado a dar voltas lentamente...

Ela está... dançando?

Mas, por quê? Como as coisas tinham chegado nesse ponto? Por alguma razão, parecia difícil perguntar algo para ela... Ryuuji, cujo braço foi acertado pelo enorme rabo de cavalo, franziu a testa e perguntou.

"Ei... Ei! Por que deveria estar feliz?"

Aisaka parou ao escutar a pergunta que havia sido bem direta e depois de uma cara feia exclamou, "Quê!"

"De quê você está se queixando? Se esqueceu do que estávamos tentando conseguir? Estou vendo... como você é um completo idiota. O quão pequeno é esse cérebro seu? Quê? Pare de brincadeira! Não tenho tempo para perder com você! Direi porque estou feliz! Quer escutar ou não? Não? Ki, Kitamura-kun acaba de passar a bola comigo! He, he..."

Ela voltou então para seu riso. "He, he, he, he, he"... Depois de pensar por alguns momentos Ryuuji falou,

"... o quê quer dizer com isso?"

"O quê?! Seriamente, um cachorro não tem o direito de se queixar..."

“... Não estou me queixando... é a maneira como você está feliz... sinto muito, para ser franco, você não está feliz pelas razões erradas? Quando você disse praticar passar a bola... Você não jogou a bola para ele somente uma vez? Além disso, a nossa meta não era você praticar com ele todo o resto da educação física? Não deveria ter usado essa oportunidade para começar uma conversa com ele, e talvez se conhecerem um pouco melhor?"

“Ah...”

O sorriso de Aisaka rapidamente foi modificado para sua expressão normal.

"Não é?" Ryuuji continuou. "Ademais, o que você fez? Você nem falou com ele. Não ficou calada o tempo todo? Tudo o que fez foi jogar a bola de uma forma ridícula e ele simplesmente agradeceu. Você chama isso de conversa?"

Ele pegou a bola enquanto repetia o mesmo sinal que Kitamura havia feito a alguns momentos. Como resultado...

"Hmph!"

Aisaka rapidamente se virou e golpeou a bola que estava indo em sua direção. Em conta da grande força aplicada, a bola voou bem alto quase acertando o teto.

‘WHACK!’

Então caiu diretamente em cima da cabeça de Ryuuji. Aisaka pegou a bola quando a mesma saiu quicando e disse,

"Tem razão... Hmmm, parece que você pode dizer algo útil de vez em quando! Vamos seguir com o plano!"

Com uma cara de patroa malvada, Aisaka deu a Ryuuji que já sentia dor, um soco de leve e então voltou para seu lugar.

"Ei Ryuuji!"

"Whoa!"

Ela sem avisar, fez um arremesso de alta velocidade. Ryuuji não estava preparado quando agarrou a bola... ou melhor, a bola o pegou diretamente no peito.

"... Ei! Isso dói!" Exclamou Ryuuji.

Os olhos de Aisaka brilharam perigosamente, ela estava tão animada a ponto de ficar louca. A força de arremesso era muito maior que antes, e parecia que agora ela estava rodeada de chamas. Aparentemente, aquele pequeno momento que ela passou com Kitamura havia dado forças às chamas do amor dentro de Aisaka. De repente ela fez aquele difícil pedido novamente,

"Ei, se apresse e continue com o plano agora. Desta vez temos que vencer."

“... Bem, sabe... esse plano..."

"O que está murmurando? Não foi você quem deu a ideia? O tempo está quase acabando!"

“Tem toda razão, mas...”

Ryuuji se virou um pouco e mirou na companheira de Kitamura...

Simplesmente não posso fazer isso! Sacudiu a cabeça ao pensar. Não importa o quão forte jogasse a bola, aquela pessoa era uma garota. Realmente não consigo fazer! Talvez deva enrolar até que o tempo de treinar termine, mas...

É isso ai!

Ryuuji de repente arregalou os olhos. OK, eu farei. Ficarei parado até o fim. Aisaka vai ficar morrendo de raiva, mas não tem como evitar... Terei que pensar em algo para dizer a ela...

"O quê você está esperando? Ah, maldição! Por que tem que me dar cócegas no nariz justo agora?..."

Essa era minha oportunidade! Ryuuji estava jogando a bola para Aisaka como uma metralhadora, e a mesma estava tentando de toda forma esfregar o nariz.

"Como está aguentando? Parece horrível! Falando nisso, você estava espirrando muito de noite. Pegou alguma infecção no nariz? Ou talvez ele seja muito sensível? Talvez ele tenha sido afetado pelo cheiro horrível da sua cozinha? Quando foi a ultima vez que você limpou aquele lugar? Provavelmente nunca não é? Que desperdício de boa almofada... E, aonde você conseguiu aquela almofada? Parece incrível. Não é japonesa é? Gostaria de conseguir uma daquelas..."

"Que almofada? Já chega, do que está falando? Como eu deveria saber?... Ugh... meu nariz... ugh... Ahhh, você é chato! Isso não importa, anda logo com o plano... ugh...!"

Aisaka agora tentava freneticamente esfregar o nariz. Ela parecia irritada. Parece que ia estourar!

"Ei, me passa a bola! Joooo... gaaa!!!"

Aisaka exclamou fortemente enquanto estendia seus braços por todo o lugar como uma mulher aranha. Seus olhos diziam, "Se você jogar a bola para mim, está morto!"

Mas só havia tempo de jogar mais uma vez... Ryuuji fez uma avaliação mental. Suponho que farei um passe normal! O nariz de Aisaka estava incomodando-a novamente? Sua cara parecia torcida...

“... Ugh... aaah..."

"Já! Vou passar para você Aisaka!"

Dessa vez Ryuuji usou bastante força no passe.

Mas Aisaka de repente se inclinou para trás e nesse mesmo momento...

"AHHHTCHIIMMM!"

"AHHH!!!!"

“Caramba!”

Os dois sons que ecoavam por todo o ginásio eram o espirro de Aisaka e o grito de terror de Ryuuji... Não fiz de propósito! Eu juro! Não foi de propósito! A pior situação possível havia acontecido... A bola acertou diretamente na cara (espirrando) de Aisaka. Ela caiu lentamente do nada, e deixou para trás a bola que lentamente rolou para longe. Ryuuji ficou demasiado impressionado para fazer alguma coisa. Tudo havia passado tão rapidamente. Demorou alguns segundos para ele recobrar os sentidos.

"Sin, sinto muito! Você está bem... whoa?!"

Enquanto Ryuuji se apressava para levantar Aisaka, ela se assustou de repente. Isso era mal. Ela tinha desmaiado, e seu nariz estava sangrando... Por alguma razão as imagens de Inko-chan e de Yasuko nessa manhã vieram diante dele. Os dois caídos no solo em posições estranhas, e agora Aisaka estava assim também. Será que as cenas de manhã cedo havia sido uma previsão do que estava acontecendo agora... E por que estou pensando em todas essas coisas inúteis em um momento como esse?!

"O que aconteceu Takasu? Quem machucou? Foi a Aisaka?"

O professor de educação física e o representante de sala Kitamura vieram correndo. Essa era a oportunidade para deixar Kitamura cuidar de Aisaka! Ryuuji pensou de repente, e voltou a olhar para Aisaka que estava deitada contra seu peito...

“... Não!"

Havia algo com o rosto dela. Não podia deixar Kitamura ver aquele rosto daquela forma! Um sentimento de culpa fez com que ele apertasse Aisaka mais fortemente contra o peito.

"E, ela está mal! Vou levá-la ate a clínica da escola!"

Enquanto os outros alunos murmuravam, Ryuuji escondeu o rosto de Aisaka contra o peito e correu até a enfermaria. Vários garotos excitados começaram a gritar, “A Tigresa de Bolso realmente foi incapacitada pelo Takasu!" "Isso sim é que foi final interessante!"

Tirando a direção geral do plano – que era mandar alguém para enfermaria, nada seguiu de forma correta.

Takasu Ryuuji começou a ficar sério, principalmente pelo que havia passado antes.

Não tinha feito de propósito, mas... Mesmo que ela seja a Tigresa de Bolso, ele tinha a feito desmaiar e ainda fez seu nariz sangrar... Ele tinha medo da vergonha que Aisaka tinha passado, mas tinha mais medo da própria consciência.

Então, quando Aisaka voltou para sala na hora do almoço...

"Aisaka! Sei que é um pouco repentino, mas você quer almoçar comigo? Quero te recompensar pelo que aconteceu na aula de educação física. Ok? Kitamura, Kushieda, por que vocês não se juntam a nós?"

Assim começou a 'operação almoçar juntos' de Ryuuji. Convidando Aisaka, que normalmente comia com Minori, ela poderia comer felizmente com Kitamura, e ele mesmo poderia comer felizmente com Minori. Que plano perfeito!

Inocente de seus planos, Kitamura levantou a mão sem hesitar e disse,

"Parece bem para mim! Que boa combinação! Vamos juntar as mesas, Kushieda, Aisaka?"

"Sim, claro! Vamos comer juntos! Ei, Taiga, venha aqui! Takasu-kun disse que quer comer conosco! Ele quer te recompensar pelo que ocorreu no ginásio... Ei! Deixe de ficar parada ai no canto!"

Minori caminhou até Ryuuji empurrando Aisaka, que estava levando um obento que o próprio Ryuuji tinha feito. Ela estava calada por algum motivo. Ryuuji quase pôde ver a palavra ‘nervosa’ escrita sobre sua cara tensa. Ela estava realmente bem? Um momento de dúvida passou por sua mente. Do outro lado,

"Nós não precisamos realmente de quatro mesas. Duas pessoas podem comer na mesma mesa." sugeriu Kitamura enquanto movia as mesas. "Sim, tem razão". Minori falou concordando e então continuou, "Vou me sentar aqui!" Ela rapidamente aterrissou em uma das cadeiras. "Então irei me sentar aqui!"

Enquanto Ryuuji olhava, Kitamura já tinha tomado o outro lugar.

Justo em frente da Minori...

Justo em frente ao Kitamura...

Só havia uma coisa que Ryuuji queria, e era sentar ao lado de Minori. A mesa era pequena e os dois se sentariam bem perto um do outro, mas, Minori já estava indicando o assento a seu lado e começava a abrir a boca. Provavelmente ela iria dizer, "Taiga! Por aqui!"

Não posso deixá-la fazer isso! Os olhos de Ryuuji brilharam fortemente, mas ele não tinha coragem de simplesmente se sentar na cadeira ao lado dela, então em vez disso decidiu... . "Sinto muito, tropecei!"

Ryuuji fingiu tropeçar e empurrou as costas de Aisaka.

"Umph!"

Aisaka rapidamente entendeu as intenções de Ryuuji e decidiu mover suavemente seu pequeno corpo até o assento ao lado de Kitamura. Ela tentou chegar à cadeira elegantemente enquanto aproveitava a força de Ryuuji para passar pelo caminho estreito. Está bem, isso iria dar certo! Ryuuji fechou os punhos. Mas, parecia que a força que ele tinha usado era demais, e a boa atuação de Aisaka iria ser desperdiçada já que ela estava caindo no chão em direção contrária a da cadeira...

"Cuidado!"

Não posso deixá-la cair no chão assim! Ryuuji rapidamente agarrou a mão de Aisaka e pisou adiante, então girou seu corpo como se fosse uma dupla de dança em um baile. Ele a fez cair ao lado do assento de Kitamura com precisão. Mas, aplicou um pouco mais de força do que devia e o assento de Aisaka quase caiu...

"Hmph!"

Aisaka separou os pés e firmou-os no solo enquanto segurava a mesa com a mão. Ao se estabilizar na cadeira...

“... Phew..."

Ryuuji deu um suspiro natural de alívio e se sentou cansado ao lado de Minori. Será que aquilo foi muito exagerado? Ryuuji pensava enquanto levantava a cabeça.

"O que foi Aisaka? Sua comida vai cair se você sacudir a mesa assim. Você parece realmente energética!"

"O que vamos comer hoje? O que vamos comer hoje? O que vamos comer hoje?... Aha! Temos frango frito! Agora todos juntos! 'Frango frito'..."

Kitamura e Minori estavam animados da forma distinta que faziam naturalmente. Enquanto isso os demais estudantes começaram a murmurar,

"Isso sim foi uma bela dança entre a Tigresa de Bolso e Takasu!" "Realmente assombroso!"

Mas as piadas não entravam nas orelhas de Aisaka. Ela estava muito...

"..."

... preparada. Não tinha nenhuma intensão de abrir sua caixa de obento. Enquanto sua cara sem expressão estava muito tensa, ela colocou suas mãos para baixo e seus olhos brilharam perigosamente. Aisaka não podia falar devidamente com ele. Talvez ela pensasse que era muito cedo para comer com Kitamura?

Mas era Kitamura que estava sentado perto dela que falou primeiro,

"Hmmm, parece que Aisaka também trouxe um obento. Foi sua mãe quem fez? Ou você fez sozinha?"

Kitamura perguntou inocentemente sem pensar muito. Ryuuji segurou seu hashi enquanto olhava atentamente. Vai Aisaka! Você conseguiu chegar até aqui então deixa de fugir! Use essa oportunidade para poder conversar com ele! E então...

“... Quê? Eu?"

Ela ainda estava nervosa. Aisaka sem esperar indicou a resposta com seus pausinhos. Ou seja, ela apontou para Ryuuji. Sim... Os olhos de Ryuuji começaram a se movimentar. Parando para pensar no assunto... quem havia feito esse obento... fui eu...

"O quê? Takasu? Quem fez esse obento para você foi Takasu?"

Mas... seria melhor que ela não falasse isso não é?... Não, esse não era o problema...

"ARRHHGG!!!"

Ryuuji não pôde reter o grito. "O que foi?" Kitamura perguntou ao olhar para ele. Minori olhava atentamente para sua comida. Ryuuji estava rígido, impressionado por sua própria estupidez. Não fui eu a pessoa que havia ajudado Aisaka a preparar seu obento?! Sem mencionar que o conteúdo dos dois eram exatamente iguais. Se Kitamura e Minori vissem isso, o que pensariam?!

Ele agarrou fortemente a caixa de obento, suas mãos tremiam. O que farei? Ryuuji olhou rapidamente para Aisaka... Não vale. Ela estava completamente deslumbrada ao olhar para Kitamura, como um veado ao ser atingido pela luz dos faróis de um carro. Eu realmente tinha que mostrar para ele o almoço simples que estávamos comendo juntos? Os olhos de Aisaka percorreram toda a sala, não sabia o que fazer, enquanto ainda apontava os palitos até Ryuuji.

"Takasu, o que foi? Você parece terrível."

"S, sim?"

Era isso! Simplesmente fingirei que não me sinto bem e irei sumir daqui com o obento... As vozes dos deuses passaram por sua cabeça tão rápida como um relâmpago. Justo quando ia levantar...

"O quê? Alguém está me procurando?"

Kitamura olhava para trás de Ryuuji, e isso fez Ryuuji se virar também. Parado aonde Aisaka apontava com os hashis, ou seja, justo atrás da cabeça de Ryuuji, havia um estudante do primeiro ano chamando,

"Kitamura-sempai! Kitamura sempai!"

"Esse não é nosso supervisor do primeiro ano?"

Minori olhou e parou, sugerindo a Kitamura que parasse de comer também. Depois de os dois conversarem por algum tempo, voltaram a seus assentos e falaram,

"Sinto muito amigos! Temos alguns assuntos para resolver."

"Eu realmente sinto muito, mas parece que tem uma reunião de emergência no clube, então ele veio nos avisar para levar nossos obentos e ir para a sede. Taiga, Takasu-kun, iremos à frente! Vamos comer juntos da próxima vez!"

Depois de empacotar rapidamente seus obentos, em meio a desculpas os dois saíram da sala.

Tudo aquilo tinha ocorrido muito rapidamente e Ryuuji não teve tempo para raciocinar. Ele só pôde olhar enquanto eles saíam pela porta antes de recobrar os sentidos,

"Ah! Eles saíram..."

Ele olhou para Aisaka,

"Whoa!"

Ryuuji ficou ainda mais agitado. Aisaka Taiga agora estava bem deprimida, e descansava a cara sobre a caixa de obento. Ela cobriu o rosto com as mãos e com cansaço, abaixou mais ainda a cabeça. Seus ombros que já eram pequenos, pareciam ainda menores. Ela parecia fazer uma bola perfeitamente como um gato.

"Ai, Aisaka..."

Ryuuji percebeu que ela murmurava algo, e ele parou para escutar atentamente. O que ele ouviu soava como um mantra, "Por quê? Era uma oportunidade tão boa! Que má sorte! Por quê? Não entendo, nessa velocidade...", além disso, ela falou também uma série de maldições, rápida e seguidamente. Ela tinha ficado bem nervosa e esperava que algo bom ocorresse naquele encontro... Ryuuji não tinha o que dizer.

Mas, não podia deixar as coisas como estavam.

"N, nós o convidaremos para almoçar amanham outra vez ok?... de qualquer forma, vamos comer primeiro. Está tudo bem?"

Ryuuji estava dando seu melhor para animar Aisaka, mas...

“... amanhã?"

Sacudindo seu cabelo, Aisaka levantou um olhar matador e perguntou,

"Quer dizer que amanhã você vai me dar outra bolada na cara?"

"Eu nunca falei isso!"

Ryuuji negou francamente. Ugh! Ele então retrocedeu, porque viu que o rosto de Aisaka estava se enchendo de lágrimas. Não! Não chora! Ryuuji começou a entrar em pânico. Aisaka então disse,

"Você não me usou como uma desculpa para poder convidar Minori e Kitamura-kun? Não podia convidá-los tranquilamente sem uma razão não é? Ou você tinha outro plano? Definitivamente não quero nada tão direto assim! Absolutamente não! Absolutamente...!”

"O, ok, ok! Agora vamos comer!"

As bochechas de Aisaka começaram a ficar molhadas enquanto falava, então Ryuuji rapidamente colocou um pedaço de batata na boca dela com os palitinhos. As batatas tinham sido perfeitamente cortadas para caber na boca de Aisaka. Como não tinha razão para cuspir fora, ela começou a mastigar. Vendo o quão forte ela mastigava, Ryuuji disse incomodado, "Está muito grande?" Um pouco mais tarde Aisaka que por fim tinha engolido seguiu,

"... Snifff!"

"Vai espirrar? Não se preocupe, tenho bastantes lenços!"

"Não, idiota! Estava pensando que eu poderia ter morrido lá!"

Aisaka pegou a caixa de leite da mesa. ‘Glup, glup, glup... ’ Quando terminou de tomar, suas lágrimas já haviam secado.

Deixando sair um suspiro de alívio, Ryuuji começou a comer seu próprio obento. Kitamura havia feito uma boa coisa ao sair, ou então ele realmente teria fugido e deixado Aisaka para trás. Então só Deus sabe o que ela teria feito. Pensando naquilo, Ryuuji sentiu que as coisas estavam começando a melhorar.

"Ah!... Ryuuji..."

Aisaka que originalmente estava de mau humor e estranhamente calada, agora havia levantado e estava olhando para Ryuuji.

"O que agora?"

“... Não tem carne..."

"Como pode? Minha casa não é o tipo de lugar aonde facilmente se pode encontrar carne no refrigerador. Se você quer carne, então vá viver com esse tipo de família!"

E então os dois silenciosamente comeram seus almoços.

Vendo todo o espetáculo, os outros estudantes começaram a pensar,

"O que estava passando?" "Como isso acabou assim?  

Essa dupla dinâmica era simplesmente assombrosa, mas ninguém tinha coragem de se aproximar pessoalmente para falar com eles.


Um ambiente irreal preenchia a sala 2-C... O dia por fim estava terminando.

Nem Ryuuji e nem Aisaka haviam notado esse estranho ambiente. Os dois haviam sofrido atrasos dolorosos durante a aula de educação física e o almoço. Essa era a última oportunidade que eles teriam no dia! Não importava o quão pequeno fosse o resultado, eles tinham que deixar ao menos algum tipo de impressão dentro da cabeça de Kitamura.

E era por isso que...

“... está pronta Aisaka?"

"..."

"Ei, Aisaka, respire profundamente! Lembre-se de respirar profundamente!"

"... agora, inspire..."

Era justo antes do começo da última aula...

Em um canto ruidoso da sala, Aisaka levava uma cara séria. Até mesmo Ryuuji também estava sério. Ele era preenchido por um sentimento de culpa, que tinha feito todo seu corpo estremecer.

"Estou nervosa... Não seria muito complicado fazer algo como isso?"

"Por que está dizendo coisas assim justo agora que chegamos até esse ponto? Relaxe! Raramente garotos ficam chateados ao receber chocolates feitos a mão de uma garota. Kitamura também adora coisas doces, e ele não é do tipo que rejeita coisas feitas a mão. E eu também não acho que ele te odeie..."

"S, sério?"

Com certeza! Ryuuji respondeu com a cabeça, enquanto via a expressão de Aisaka ficar menos tensa. Seguras firmemente em suas pequenas mãos, estavam os chocolates que ela tinha feito na aula de economia doméstica.

Como essa era uma escola mista, garotos e garotas, ninguém pensaria nada estranho ao receber um doce de alguém do sexo oposto. Havia garotos esperando receber chocolates de sobra das garotas, e as garotas os faziam aos montes para poder dar aos garotos.

Sem deixar que os outros a vissem, Aisaka secretamente (ou melhor, usando o corpo de Ryuuji como uma forma de tampar a visão dos outros) fez um grande esforço criando todo o tipo de bombons de chocolate coloridos. E assim eles bolaram o plano para dar chocolates ao Kitamura.

Esse plano era chamado 'operação, eu fiz muitas, quer algumas?'. Isso daria a Kitamura uma boa impressão de Aisaka. Mas, as coisas não andavam como haviam planejado. Dos dez bombons que haviam sido feitos secretamente, seis saíram carbonizados... Isso aconteceu porque essa tigresa colocou a temperatura errada! Pior ainda, para destruir a evidência, os seis bombons queimados foram parar no estômago de Ryuuji.

Somente quatro deles haviam sobrevivido sem nenhum dano. Aisaka Taiga, seu êxito depende desses quatro chocolates! Ela fechou a mão fortemente enquanto empurrava de forma nervosa o pacote contra o peito.

Vendo sua cara ansiosa a 30 centímetros acima, uma sensação estranha tomava conta do coração de Ryuuji. Essa cara nervosa iria causar algum desastre?

"De qualquer forma me escute! Não se preocupe com as coisas dessa maneira, basta atuar como se não fosse nada demais! E não fique nervosa de repente..."

"Sim, eu sei. Estou tentando relaxar! Relaxar... relaxar..."

Aisaka relaxou as mãos... e então suas pernas... por fim todo seu corpo estava relaxado...

"Sim! Agora todos voltem para seus assentos! A aula está para começar!"

Aisaka se assustou ao ouvir a voz da professora. Então todos os estudantes se apressaram para voltar a seus lugares. Essa criatura de 145 centímetros lentamente andava por entre os outros assentos.

Uma vez que todos haviam cumprimentado a professora, ela teria que chamar rapidamente o Kitamura... Essa tinha sido a ordem que Ryuuji tinha dado a ela. Como Kitamura normalmente está ocupado, ele vai ao conselho estudantil depois das aulas. E quando acaba todo o trabalho, vai praticar atividades dos clubes que faz parte. Se você ficar distraída sonhando, ele vai estar fora da sala antes que se dê conta!

Então o plano é chamá-lo para fora assim que a aula terminar, entretanto...

"...olá? olá?..."

Ryuuji olhou para Aisaka com o canto do olho e suspirou.

Ele sabia que Aisaka estaria nervosa, mas não esperava que fosse tããããão nervosa assim. Ela agarrou a mesa, suas costas estavam curvadas como se tivesse dores no estômago, seus pés se sacudiam violentamente e por fim sua cara ficava cada vez mais pálida enquanto se transformava no rosto de um demônio.

"Simpático... Que cheiro bom está na sala de aula hoje! Deixe-me ver... farinha, açúcar, manteiga... Ah, já sei! Estavam fazendo bombons na classe de economia doméstica? Adoro bombons! Hee hee hee, que boas lembranças me trazem! Recordo-me de fazer bombons com a família que me hospedou enquanto fazia intercâmbio na Inglaterra..."

"Tch!"

Parece que a professora (Koigakubo Yuri, solteira, 29 anos) estava de bom humor e tentava prosseguir com aquelas palavras sem sentido. Sentindo-se nervosa e agitada ao mesmo tempo, Aisaka cruelmente fez um estalo com a língua. Assustada pelo barulho, a professora (Koigakubo Yuri, solteira, virando uma trintona em dois meses) se sacudiu de nervosa enquanto olhava Aisaka com sua cabeça abaixada...

"N, não deveria fazer um barulho assim na frente de um professor..."

Os estudantes sentados ao redor de Aisaka já estavam tremendo de medo. A professora decidiu continuar falando sem temor, mas...

"Tch!"

“... U, ummm... Não está bem que uma garota faça barulhos assim..."

"Tch!"

“... Ahhh, minhas palavras não conseguem chegar ao coração dos meus estudantes...”

No fim, ela cobriu o rosto com as mãos e começou a chorar. Sabendo que as coisas chegariam a esse ponto, não seria melhor que ela tivesse ficado calada? Por que ela tinha que se intrometer com algo que vai além de seus poderes? Não me surpreende que esteja solteira.

"Sensei!"

Começou o barulho. O som de alguém vindo correndo. Era Kitamura.

"Ainda falta algum tempo para acabar a aula. O que acha de eu, como representante de classe, acabá-la enquanto você descansa? Ademais, muitos de nós temos atividades do clube depois, então creio que seria melhor continuar com esse assunto amanhã!"

O que ele estava tratando de dizer era, 'Somos pessoas muito ocupadas. Não dá para acabar a aula de uma vez?'. A solteira (Koigakubo Yuri, professora principal, sete anos sem namorado) soluçou e disse,

“... não entendo o que você quer dizer Kitamura-kun..."

Simplesmente não havia forma de manter uma comunicação compreensível com ela não é? Ryuuji se sentia um pouco frustrado. Mas Kitamura não se chamava 'Maruo' por nada. Ele parou na frente dela com as pernas separadas e anunciou para toda a sala,

“... Temos artes e artesanato amanhã, então não se esqueçam de trazer suas coisas! Todos parem o que estão fazendo! Se inclinem! Até mais tarde, Sensei!"

"Ate amanhã Sensei!” Todos repetiram. Ok, vamos para casa! Assim a aula principal foi concluída unilateralmente pelos estudantes. A solteira (não vamos repetir) fungou e disse, 'eu não fui feita para esse trabalho'. E saiu sem dizer mais nada.

"Ai, Aisaka!"

Ryuuji parou enquanto procurava seu objetivo. Nesse momento Aisaka também parou repentinamente. E então...

"Uwaa!"

Deixou cair sua bolsa no chão. Estava começando a entrar em pânico. Que garota lerda! Agora, onde estava Kitamura? Ryuuji olhou ao redor procurando.

"Caramba, já está tarde... a presidenta vai me matar."

Kitamura rapidamente recolheu sua bolsa e correu para porta. Não! Se ela não conseguisse alcançá-lo antes dele chegar à sala do conselho estudantil, não haveria mais oportunidade de estar a sós com Kitamura. Ryuuji rapidamente correu para o lado de Aisaka,

"Ei, esquece a bolsa, vai e chame-o!"

"Ah, um... Ki, Ki... Ki..."

Que demônios? Ryuuji coçou a cabeça de frustração. Aisaka havia parado e estirado o braço até a blusa de Kitamura, mas seu nome simplesmente não saía por aquela pequena boca. Como se houvesse sido pega por um feitiço que a fazia esquecer como dizer 'Kitamura-kun', ela estava a ponto de começar a chorar. Abrindo e fechando a boca continuamente, não produzia som algum.

"Maldição! Ele já saiu! Se apresse e siga-o!"

"Ah... sim!"

Quando ele empurrou seu pequeno corpo, ela rapidamente saiu correndo pela porta. Ryuuji também foi atrás dando largos passos. Se ele deixasse aquela idiota correr por si mesma, então quem sabe aonde ela iria acabar se metendo?

Agarrando o pacote contra o peito, Aisaka perseguiu Kitamura, seguida de perto por Ryuuji. No fim do corredor viraram a esquina.

"Por ali! Vai!"

Quando chegaram as escadas, estavam indo contra a grande quantidade de estudantes que iam para casa depois das aulas...

"Fora do meu caminho! Saiam!"

Aisaka simplesmente disse isso e, "Whoa! É a Tigresa de Bolso!" "Todos saiam do caminho! Ela é perigosa!" Os estudantes que desciam as escadas rapidamente partiram no meio como o mar vermelho e deixaram Moisés passar. Uma vez que haviam passado pela multidão, voltaram a correr e encontraram outro grupo de alunos...

"Sinto muito! Poderiam me deixar passar?"

Ryuuji disse simplesmente. "Whoa! É o Takasu!" "Os dois chefes estão andando um atrás do outro!"... Uma vez mais o mar vermelho se abriu. Parece que fora a sala 2-C, todos ainda o consideravam um delinquente. Isso o fez se deprimir por alguns momentos. Não é hora para me preocupar com isso! Ryuuji rapidamente começou a correr atrás de Aisaka, que havia tomado dianteira...

Ele repentinamente se deu conta que não precisavam realmente alcançá-lo. Desde que Aisaka o chamesse, estaria tudo bem. E tudo que eu tenho que fazer é me assegurar de que ela faça isso.

"... hah... hah..."

Ryuuji respirou profundamente ao parar, e então olhou para cima casualmente... Ao mesmo tempo começou a gritar,

"WHOOOAAA!!!"

Ao chegar ao final da escada, Aisaka tropeçou e começou a cair para trás, justo onde Ryuuji estava, a poucos degraus abaixo.

Depois de gritar, uma força incrível – somente vista durante um desastre, se apoderou de seu corpo.

Ryuuji 'voou' a uma velocidade incrível.

"...!"

Tão elegante como um jogador de baseball, saltou para o degrau do meio e milagrosamente agarrou Aisaka com seus braços. Mas o impacto foi muito forte. As costas de Ryuuji se chocaram contra a parede e o peso de Aisaka fez tudo se tornar ainda mais doloroso. Ele soltou um sonoro "Umph!". De alguma forma aquilo tinha sido cômico. Seus olhos se arregalaram pela dor repentina. No seu campo embaçado de vista, viu o pacote voando das mãos de Aisaka e formando uma curva, passando diretamente pela janela.

Esse era o terceiro andar...

O que havia caído eram os quatro chocolates que deram tanto trabalho para fazer.

"AH!" Aisaka gritou e passou o braço pela janela. Mas já era tarde demais e os bombons caíram para fora.

"Ai..."

Aisaka... Ryuuji tentou falar, mas não pôde. A dor de suas costas não permitiu que ele respirasse devidamente.

"Ryuuji!"

Mesmo que sua voz estivesse débil, Aisaka ainda podia escutá-lo. Ela se agarrou fortemente a ele, que sem poder dizer nada, fazia uma expressão rígida, como a de alguém que acaba de comer algo venenoso. Estou bem... Parecia que ele podia respirar um pouco, então Ryuuji balançou a cabeça para indicar que estava bem, para que ela não ficasse tão preocupada.

O que importavam eram os bombons, e Kitamura. Ryuuji indicou a janela e as escadas...

"... S... se apresse... vá pegar... os chocolates..."

Ele apenas fez um pouco de ruído, e então lentamente empurrou Aisaka para longe. Em parte impulsionada pela determinação de Ryuuji,

“Trabalhou muito duro para fazer estes chocolates, e mesmo que eu tenha te ajudado, também desejo que você os dê ao Kitamura”.

Ele quis que a determinação e trabalho duro de Aisaka fossem devidamente comunicados a Kitamura.

Ainda assim, Aisaka não olhava para o caminho que Ryuuji tinha indicado.

"Ryuuji, você está bem?! ... Ahhh, como isso aconteceu...?"

Ela lentamente tocou as costelas e o peito de Ryuuji para se certificar de que não havia quebrado nada. Ver a Tigresa de Bolso, normalmente violenta, parecendo preocupada se ele tinha se machucado tratando de protegê-la... Se fosse possível, Ryuuji gostaria que aquele momento durasse mais, porém...

"Estou bem, então... está vendo? Não tenho nenhum machucado."

Com toda a força, Ryuuji fingiu estar bem e começou a fazer alguns alongamentos para Aisaka. Além de suas costas, que havia doído ao ponto de deixá-lo paralisado, ele não parecia estar machucado em nenhum outro lugar. Vendo-o assim, Aisaka por fim deixou sair um suspiro de alívio.

"Ryuuji... Eu... eu..."

Ela estirou suas mãos até Ryuuji com uma expressão que ele nunca havia visto, como se estivesse tentando dizer algo...

"Ei, quem está jogando coisas pela janela?! Apareça agora!"

Ugh! Os dois gemeram. Era o diretor super maldoso da escola. Como tinha chegado até este ponto, já não havia mais tempo de levar os chocolates para Kitamura.

“... Nosso plano perfeito. Parece que não dá mais tempo. Corra até ele antes que acabe ficando com mais raiva e explique tudo, quando acabar você me encontra. Irei te esperar na sala."

"... mas... então irei te levar até a sala primeiro!"

“Não se preocupe. Eu consigo andar. Se apresse, não queremos que isso vire um problema de verdade."

Anda, vai. Ryuuji indicou a direção para ela ir empurrando-a pelas costas. Ela franziu as sobrancelhas e olhou várias vezes para trás antes de finalmente descer as escadas.

Durante esse tempo, a voz do diretor estava ficando cada vez mais feroz. Aisaka precisava se apressar... Falando nisso, será que existe alguém capaz de assustar a Tigresa de Bolso? Eu realmente não tinha ideia.

“... whew... parece que eu usei..."

Já que ele estava sozinho, Ryuuji caminhou lentamente enquanto falava consigo mesmo.

Ele lembrava do que Yasuko havia dito quando estava na escola primária. Disse que antes, era uma 'mini esper', que tinha o poder de se teleportar por três vezes durante toda a vida. Ela usou este poder pela primeira vez quando ainda era uma garotinha: sofreu um acidente de trânsito e foi jogada a vinte metros de distância. Ela conseguiu se teleportar com segurança antes sem se chocar contra a terra e ser ferida. A segunda vez foi quando teve que sair de casa para dar à luz a Ryuuji, em uma jornada para encontrar o homem que tanto amava e sempre levava uma revista embaixo da camisa. Yasuko não entrou nos detalhes, tudo que sabia era que graças a sua habilidade, ela havia conseguido chegar em segurança ao lado daquele homem.

E na terceira e última vez, ela disse, "Deixarei para que Ryuu-chan a use! Ya-chan já não tem nenhum uso para esse poder." Então colocou a mão sobre Ryuuji, ainda pequeno, e transferiu seu poder para ele. Yasuko completou, "Se houver encontrado algo perigoso, use este poder, e volte em segurança até Ya-chan!"

No fim, Ryuuji usou aquele poder somente para ajudar Aisaka. Não havia outra explicação. Ele havia tentado usá-lo quando estava atrasado para escola, ou durante várias outras ocasiões... Ainda bem que não tinha usado-o até agora! Mesmo que tenha se sentido mal por Yasuko por ter usado o poder daquela forma, estava satisfeito por ter ajudado Aisaka - era isso que Ryuuji realmente pensava.

* * *

"Tem certeza de que está tudo bem?"

"Já te falei um milhão de vezes, estou bem!"

"Mesmo que você seja meu cachorro, perderia o sono se tivesse se machucado..."

Aisaka falava suavemente, apertando seu rosto contra o vidro da janela. Não posso acreditar que realmente ela teve a coragem de dizer aquilo depois de invadir minha casa e tentar me matar com uma espada de madeira... Ryuuji quis dizer, mas por alguma razão se manteve calado.

Depois de pegar os chocolates e voltar para sala, a voz de Aisaka parecia mais fraca. Ela estava bem deprimida.

Agora que estavam a sós naquele lugar, tudo era bem silencioso. Fora ele, ninguém nunca havia visto aquele lado da Tigresa de Bolso antes.

“... Sempre sou um fracasso. Nada sai bem, nunca..."

As palavras que ela dizia já não tinham o entusiasmo do resto do dia.

"Esse é só o primeiro dia de esforço, então não é muito surpreendente que não tenhamos tido êxito."

"... é verdade? Se eu não fosse tão lerda, se fosse um pouco mais inteligente... até mesmo você acabou machucado. Nada aconteceu direito não é?... já chega..."

Aisaka se inclinou para trás em direção a janela e se apoiou. Sentada ao lado das pernas de Ryuuji, ela encolheu as próprias pernas.

Brincando com seu longo cabelo, ela usou-o para esconder a expressão que fazia e disse,

"Pelos últimos dezessete anos eu nunca havia me dado conta... mas agora sei a quão lerda eu sou..."

"Um, creio..."

"Se quiser falar, então fale claramente!"

Suas mãos pequenas puxaram a calça de Ryuuji,

"Você também... você também acha isso não é? Deve pensar que não há forma de me ajudar, não?"

Enquanto abaixava a cabeça, ele se encontrou fazendo uma troca de olhares com Aisaka, que estava olhando para cima. Ela descansou as bochechas nos joelhos enquanto seus olhos tremiam de tristeza.

Seu modo normal raivoso havia desaparecido, substituídos por confusão em seus olhos, na maior parte, causados por sua autolamentação.

“... Bem, a culpa do incidente na educação física foi minha, sem falar que o plano era bem falho..."

"Não foi isso que estragou tudo. Foi minha burrice..."

Aisaka fechou os olhos, cansada, como se estivesse lembrando de todos os incidentes do dia.

A aula de educação física no terceiro horário, o almoço de má sorte, e a grande decepção de alguns momentos atrás...

Ele havia se dado conta que foi Aisaka quem jogou o pacote pela janela, e o diretor sabia que não havia forma de puni-la, então rapidamente disse a ela que voltasse para sala.

Eles tiveram sorte de que não ocorreu nada de ruim, mas...

"... Depois de fazer tanto esforço para criar esses bombons... e... (suspiro)..."

Enquanto ela murmurava para si mesma, notou um pequeno arranhão sob o queixo. Tinha sido causado quando Ryuuji a havia salvado de se machucar, e seu rosto bateu contra os botões da camisa. Suavemente ela acariciou o arranhão enquanto pegava o pacote de chocolates que estava no bolso. Tudo que sobraram foi algumas migalhas que não saíram voando.

"Escrevendo uma carta de amor, mas colocando-a na mochila errada; tentando bater em alguém, mas então desmaiando de fome; sendo acertada pela bola enquanto praticava; encontrando pessoas para almoçar, mas que acabaram tendo de ir embora; acidentalmente queimando os chocolates, tropeçando, caindo e jogando-os pela janela; e... tudo isso... isso é só..."

"Oh, você se esqueceu de um... esquecendo-se de colocar a carta no envelope!"

"Sim, tem razão..."

Ryuuji estava tentando brincar para animá-la, mas a maneira com que ele falou não saiu muito bem. Afundada em tristeza, Aisaka escondeu a cabeça entre as pernas e ficou calada.

"Ai, Aisaka..."

Não ouve resposta.

Sentada bem abaixo de uma forma incômoda, ela se envolveu fortemente enquanto ficava imóvel, como um caracol quando entrava para seu casco; somente seus pequenos dedos estavam visíveis e tremiam. Seu cabelo suave cobria os ombros que se moviam lentamente com o ritmo da respiração.

Agora não era tempo, mas Ryuuji sentia que...

Mulheres simplesmente são astutas.

Não importava o quão arrogantes pudessem ser, ou quantos problemas causassem aos outros, contanto que pudessem fazer essa expressão, rapidamente podiam derreter o coração de qualquer homem.

Essa expressão era impossível de ignorar.

Não dava para negar algo como aquilo.

Então Ryuuji levantou sua cabeça e intensificou o olhar. Foi primeiro em sua cadeira, e então voltou até onde estava Aisaka, sentando-se ao seu lado.

“... Aisaka, vamos fazer uma troca!"

"...?"

Ryuuji tocou o ombro dela para fazer com que ela olhasse para cima, enquanto fingiu não poder ver as lágrimas que escorriam de seus olhos. Ele colocou os chocolates que tinha feito e estavam envolvidas em papel alumínio (muito masculino isso) no colo dela, e então pegou o pacote de chocolates que ela segurava em troca. Ryuuji suavemente abriu o pacote que estava bem danificado, só havia alguns pedaços de migalhas dentro, apesar de ainda haver uma boa quantidade.

"Eh... espere... Ryuuji, esse foram pegos do chão, e, e são..."

"Como só comi seus chocolates queimados antes, tenho curiosidade de saber como esses estão!"

Depois de responder, não fez caso aos protestos de Aisaka e colocou as migalhas na boca. Depois...

"..."

Silêncio.

Quando ele comeu os chocolates queimados, o calor do forno, o sabor amargo de carvão e o fato de Aisaka ter enfiado tudo de uma só vez em sua boca, fez com que Ryuuji cuspisse tudo para fora... Então aquela era realmente a primeira vez que ele havia provado das habilidades culinárias de Aisaka... Ero só que, ela provavelmente... Havia trocado a açúcar pelo sal...

"O, os chocolates... estão bons?"

“... Ahhh! Saborosos!"

Aisaka com preocupação abriu mais seus olhos.

"Sim, estão realmente ótimos! Ah... que pena que não pudemos dá-los ao Kitamura. Bem, melhor sorte da próxima vez não é?"

Ryuuji conseguiu escapar com sua cara geneticamente impassível e então sugeriu que Aisaka provasse os chocolates que ele tinha feito. Ela cuidadosamente abriu o envoltório, e então olhou Ryuuji assombrada.

"Uwah... Maravilhoso! Parecem perfeitos. Eu realmente posso comer?"

"Eu queria levá-los para minha mãe, mas suponho que não faz diferença. São todos seus."

Os chocolates foram cozidos de forma bem delgada, essa edição especial estava decorada em cima com açúcar e manteiga. Aisaka olhou os chocolates por algum tempo...

"... são bonitos! De verdade!"

Seus olhos se abriram mais ainda quando ela os colocou na boca.

“... Essa é a primeira vez que eu escuto você falar a palavra 'bonito'."

"Está incrível! São melhores que os que vendem na padaria!"

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"Pela minha experiência, sobre produtos feitos em padaria, sempre acabam saindo melhor quando você mesmo os faz ao invés de comprá-los. Claro que isso é só minha preferência pessoal, mas para os que querem seus chocolates devidamente suaves depois de sair do forno, é melhor cozinhar você mesmo."

"Entendo... um... para mim... eu realmente gostei!"

Aisaka parecia como uma garota normal enquanto se concentrava em comer os chocolates. "Deliciosos!" Disse com migalhas em suas bochechas. Lambeu o açúcar dos lábios e suavemente completou,

"Seriam ótimos servidos com chá vermelho!"

Além de mim, quem mais conhecia esse lado de Aisaka Taiga?

Uma sensação incrível. Até ontem, como muitos outros estudantes, ele também temia a Tigresa de Bolso. Não só temia ser mordido, mas também temia tudo que tinha relação com ela. Então Aisaka Taiga era esse tipo de pessoa... Nessas horas, apenas se interessava em pensar coisas assim.

Essa garota... a filha de algum chefe da máfia ou mestre de caratê, uma garota cruel que escraviza as pessoas como se fossem seus cachorros, ficava tão nervosa ao ver a pessoa que amava que até mesmo se esquecia de como falar. Uma garota incrivelmente lerda, que ficou tão deprimida ao ponto de chorar, devido a vergonha de sua lerdeza... Sempre estava com fome, e queria comidas saborosas.

Ela era uma garota extremamente peculiar... Sempre causando problemas aos outros e causando dores de cabeça.

Mas Ryuuji de repente se deu conta de que não conseguia odiá-la por ser a estranha que era. Ele ainda pensava, ‘Estou feliz de ter conhecido esse tipo de pessoa’. Nesse momento, ele se sentia feliz por alguma razão.

Sim. Mesmo que seja incômoda, mesmo que me dê problemas, ainda que se machuque, só quero confortá-la... Se estou pensando dessa forma, então para mim, Aisaka é...

"... Ei Ryuuji! Eu já sei!"

... se assustou.

Voltando a si mesmo, viu Aisaka Taiga olhando para ele de uma distância bem curta. Mesmo que sua cara fosse pequena, sua pele era bem branca, seus grandes e quase transparente olhos eram realmente lindos. Ainda que ela fosse pequena, seu rosto era simplesmente como o de uma criança... Ryuuji de repente se deu conta disso, e algo semelhante a um calafrio percorreu toda sua espinha.

‘Ahem!’ Ryuuji limpou a garganta.

"... S, sabe o quê?"

Ele perguntou com hesitação, e então...

"Isso é tudo porque você não me ajudou devidamente! É um cachorro estúpido! Um cachorro estúpido sem esperanças de melhorar!"

"..."

Que demônios?! Aisaka encolheu seus ombros e olhou para ele com desprezo. Como devo me expressar... Parece que ela tinha voltado ao normal... Mas, todavia, que demônios?!

Ryuuji estava realmente frustrado, pensando, como podia existir uma pessoa como aquela? Ele deu a Aisaka um sorriso suave... Esquecendo. A perdoarei essa vez!

Pense nisso como um presente especial meu!

* * *

No caminho de volta, eles mantiveram um pouco a distância entre si, ainda que estivessem indo na mesma direção.


Aproximando-se da porta da escola, Aisaka, caminhando mais a frente, parou de andar. Da sua posição era possível ver o campo de esportes que havia depois das árvores.

"O que foi?"

"... O clube de beisebol. Minorin esta lá."

Aisaka indicou mais a frente. Correndo energeticamente sob o sol forte, era nada mais nada menos que Minori. Como se estivesse olhando por um prisma, por alguns instantes só existia Minori na visão de Ryuuji.

Mas ele percebeu que Aisaka não estava olhando onde seu próprio dedo estava apontando. Seus olhos estavam fixos em um dos garotos de cabelo escuro do outro lado do campo, que faziam seus exercícios de aquecimento. Era Kitamura.

Parando de andar, Aisaka ficou ali, suas bochechas tingidas de cor caramelo pelo sol que os castigava. Uma brisa suave soprava, mas ela permaneceu quieta.

Ela realmente parecia gostar do Kitamura Yuusaku.

“... Ei! Posso te perguntar... por que o Kitamura?"

Ela virou a cabeça pela pergunta de Ryuuji, mas não respondeu, e simplesmente abriu e fechou os olhos. Ela o mirava com os olhos claros e disse,

"Já deve ser mais que uma hora, por que não fica aqui um pouco mais?"

Ela parecia estar mudando o assunto. Ele não se importava dela ter ou não respondido a pergunta. Afinal, ele nem mesmo sabia o porquê de ter perguntado aquilo.

“... Você vai ir à frente? O que quer dizer com isso?"

"Tenho certeza de que quer olhar para Minorin com essas folhas de sátiro um pouco mais de tempo. Pode desistir de me ver ajudando vocês dois a ficarem juntos, mas ao menos posso deixar que você a veja um pouco mais! Ela é linda não? Então entendo porque você a escolheu... Não sou tão irracional sabe? Venha à minha casa as oito para fazer o jantar, isso é tudo!"

O que quer dizer com 'é tudo'?! Não, o que queria dizer com 'venha à minha casa às oito para fazer o jantar'?... Não, o que queria dizer com 'é tudo'?!

Sem esperar Ryuuji perguntar nada, Aisaka se afastou a largos passos, e então...

“... Uwaa!"

Seu modo 'desastrada' foi ativado mais uma vez, e ela acabou tropeçando em uma linha que estava no caminho... Sua mochila voou de sua mão enquanto ela caiu sem nenhum aviso como uma garota pequena.

"Ah! Ah...! O que exatamente você está fazendo?!"

Ryuuji suspirou profundamente e se apressou até Aisaka. Ele a recolheu enquanto a mesma murmurava, "cale-se! Deixe-me tranquila!". Depois de pegar sua bolsa e tirar o pó do uniforme, Ryuuji notou que as canelas de Aisaka estavam cheias de marcas... Ela deve ter tropeçado várias vezes enquanto ninguém estava olhando.

Como posso deixar uma garota tão descuidada sozinha? Ryuuji suspirou outra vez. Então olhou de frente o rosto de Aisaka.

"O que você quer para o jantar? Não tem problema eu comer com você não é? Farei a porção para minha mãe e levarei para casa comigo, ok? Você vai pagar os ingredientes não é? Oh, acabei de me lembrar que sua geladeira está vazia. Dessa forma não dá para fazer nada antes de ir primeiro ao supermercado... Oh, e ainda tenho que conseguir um pouco de removedor de mofo e detergente para lavar pratos!”

Não dava para evitar... pensava Ryuuji.

"Assim seja!" exclamou Aisaka. Isso porque não tinha nenhuma forma de recusar. Depois de ontem e hoje, ele sabia que essa garota era estranha, irracional, autolamentante e desagradável. Não havia chance de ameaçá-la. Quando ela decidia fazer algo, ela fazia. Sem mencionar o quanto ela fazia com que ele se preocupasse com ela.

E isso era porque... não podia deixá-la sozinha. Não havia como evitar.

Fora tudo isso, ainda tinham muitas manchas na cozinha europeia de Aisaka que o incomodavam.


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