Owarimonogatari: Volume 1 ~Brazilian Portuguese~/Fórmula Ougi 004

From Baka-Tsuki
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004[edit]

"É estranho."

"Estranho."

"É misterioso."

"Misterioso."

"Portanto... é suspeito."

"Suspeito e..."

Esquisito.[1]

Ougi Oshino — Ougi disse isso indiferentemente enquanto apontava para o desenho rascunhado no caderno aberto sobre minha mesa. Essa situação me lembra de quando Gaen e eu tivemos um encontro similar antes, em Agosto, mas nós usamos um tablet, em vez de um caderno. Nestes dias não é raro para um estudante do ensino médio usar um tablet, mas, se tratando de alguém como a sobrinha de Oshino, uma abordagem analógica é provavelmente mais adequada.

No caderno era retratada a estrutura interna do Colégio Naoetsu — a minha primeira vista, aquilo me pareceu muito bem feito, como se um profissional tivesse implementado o desenho, uma ilustração muito bem feita da estrutura. A planta está tão boa que ela poderia muito bem ser pendurada no quadro de avisos na entrada da escola.

"É estranho..."

repetiu Ougi. Ainda apontando para aquele ponto no diagrama.

"..."

Enquanto ouvia sua conversa, cerca de metade da minha atenção foi direcionada ao rascunho do diagrama, então olhei para ela — para os seus olhos. Para aqueles olhos que pareciam me sugar.

Cujo me lembra, Gaen uma vez se chamou de "a irmã menor de Meme Oshino". Mas por que não irmã mais velha em vez de irmã mais nova? Novamente, parece algo comum àquela pessoa, digo, era assim que eu pensava naquele momento, havia realmente um modelo naquela identidade? À medida que penso sobre Gaen, não se pode haver algo "comum".

No entanto, eu não posso estar completamente despreocupado sobre a razão pela qual a sobrinha de um especialista que deixou esta cidade em Junho poderia estar se transferindo agora. Kanbaru provavelmente chamaria isso de "um capricho do destino", mas, como eu sou alguém que esteve envolvido com Hachikuji...

"Uhm, você pode, por favor, ouvir, Araragi?"

"Oh, sim..."

Ao chamar atenção para minha falta de atenção, desconcertadamente me recompus.

"O-Ougi, por que você não se senta? Estou preocupado que você irá se cansar se continuar explicando enquanto fica de pé. Você não tem que se preocupar, desde que aqueles caras não vão voltar até que o sinal toque."

Eu estou preocupado que a Ougi possa se sentir obrigada a ficar de pé, já que é uma caloura enquanto eu estou sentado, já que sou um veterano. Ao fim, Kanbaru nunca se senta, mas Ougi parece se recusar a um grau extremo.

"Não, desafortunadamente, eu sou obcecada com limpeza. Eu não quero sentar numa cadeira em que alguém já se sentou."

"... Então é isso."

Obcecada com limpeza, huh. Se for este o caso, então não há como ela poder viver num agora demolido edifício de um cursinho como seu tio fez.

"Apesar disso, eu adoraria sentar no colo do Araragi."

"Pare com isso."

"Aah, Araragi, você acabou de pensar em algo lascivo, não foi?"

Ougi alegremente diz enquanto bate palmas uma vez. Sinto que esse comportamento alegre é comum para uma garota do primeiro ano, entretanto, estou longe de compreender sua atitude e minha impressão ainda é um pouco vaga.

"Você é quem disse algo sexualmente sugestivo. Continue de pé como punição."

"Que severo."

"Então, o que foi de novo? Qual é a parte estranha?"

"Até mesmo um pauzinho disposto sobre uma mesa pode ser algo engraçado, mas isso é o que dizem as pessoas da minha faixa etária. Bem, veja, eu não sou uma estudante transferida? Problemas familiares, ou eu deveria dizer problemas pessoas? Eu me transferi várias vezes — me transferi tantas vezes que nem consigo me lembrar."

"Entendo... que duro. Isso me lembra de algo que Kanbaru me disse, ela também foi transferida antes uma vez no ensino fundamental..."

A propósito, Kanbaru se foi agora. Após rapidamente apresentar Ougi para mim, ela correu o mais rápido que pôde. Acho que ela deve ser uma pessoa muito ocupada — ou teria achado melhor não ouvir os pormenores da conversa?

"Mas se transferir de escola parece ser um grande problema. Seu ambiente muda de repente."

"Sim. Apesar disso, já estou acostumada com isso por agora. E, toda vez que me transfiro, há uma coisa que eu sempre faço primeiro na escola a qual me transferi. O que você pensa que é?"

"Uma coisa... Poderia ser que você cumprimenta os professores?"

"Tem vezes que eu não os cumprimento."

"Você não tem que fazer isso toda vez?"

"Apenas escute: eu sempre faço diagramas."

Ougi vira as páginas do caderno. É um caderno novo em folha, mas já está recheado de diagramas do edifício escolar. Os diagramas estão relativamente detalhados. Ela fez um trabalho bem feito ilustrando o Colégio Naoetsu. Não havia apenas plantas da estrutura como também ilustrações tridimensionais — como ela foi até mesmo capaz de criar um desenho sob o olhar de um pássaro? Parece-se com uma tomada de helicóptero.

"Eu desenhei isso para analisar a escola que vai tomar conta de mim, bem, eu posso dizer que isto é um hábito meu, acha estranho?"

"Não, na verdade não..."

Para ser honesto, penso que isso é um esplêndido exemplo de comportamento excêntrico, mas me lembro de que, desde que entrei nesta escola, houve duas pessoas que me mostraram excentricidades similares, então não estou certo se posso chamá-la de estranha. Em vez disso, eu estou honestamente surpreso que haja pessoas além daquelas duas que fariam esse tipo de coisa.

De início, eu sigilosamente verifiquei e cuidadosamente interagi com a Ougi, a quem eu encontrei pela primeira vez apenas recentemente. Ela é também a sobrinha daquele Oshino hipócrita, mas agora estou acostumado com o comportamento excêntrico dela, acho que estou ficando um pouco mais amigável com ela.

Sendo esse nosso primeiro encontro, haveria sua sobrinha reproduzido a linha de caráter daquele hipócrita Oshino e o quanto disso ela apresentaria. Então de modo cuidadoso fui interagindo com ela, dada sua atitude excêntrica, fui me tornando mais íntimo.

"Eu sou obcecada por mistérios de assassinato em mansões, entende. Eu apenas fico tão excitada sempre que o cenário é rascunhado. Portanto, sempre que entro numa nova escola, faço rascunhos como este. Claro, não estou realmente esperando que um caso de assassinato aconteça."

Ainda que ela tenha dito isso com um sorriso, de alguma forma aquilo soou intrigante, então não consegui ver qual era a graça. Eu honestamente acreditaria se ela tivesse dito que ela fez o design disso para uma cena de crime.

"Hm... posso dar uma olhada?"

"Eh? Na minha calcinha?"

"Não, no caderno..."

Isso foi algo que você esperaria ouvir de alguém que é caloura da Kanbaru. Já que não muitas pessoas sabem sobre o lado pervertido da Kanbaru, e já que Ougi parece ter sido influenciada por ela esse tanto, pode ser concluído que a Ougi é relativamente próxima da Kanbaru. (Baseado na observação de Ougi-chan de agora, parece que Kanbaru estava mentindo sobre a Ougi não estar vestindo nenhuma roupa íntima — Me preocupa que ela tenha ficado tão próxima da Kanbaru desse jeito no pequeno período desde que ela foi transferida. Bem, Kanbaru é capaz de se dar bem com qualquer um — eu folheei o caderno de cabo a rabo. Após estudar esse caderno, percebi que há um monte de lugares nessa escola que eu não conhecia, mesmo que eu tenha ido para essa escola por quase três anos. Tive a impressão de que vivo minha vida colegial de modo desleixado.

"... De qualquer forma, você é realmente boa em desenhar, Ougi. Não tenho o hábito de ler mapas e há muitas coisas que não entendo só de olhar para isto. Mas quando olho para este caderno, eu realmente tenho a sensação de que estou andando pelo edifício escolar."

"Seus elogios me honram profundamente. Então, percebeu algo estranho?"

"Hm. Bem..."

Eu realmente não percebi. Não tive a intenção de bajular ela, mas isso, de fato, soa como se eu tivesse elogiado o trabalho duro dela sem ter o apreciado completamente. Relutantemente, pronunciei alguns sons que lembravam uma resposta útil.

"Quanto à quantidade de prédios escolares? Se considerar o número de estudantes em toda a escola, deve ser possível fechar um prédio, alguma coisa assim...?"

"Você está absolutamente errado. Não está sendo estúpido?"

Foi uma resposta educada e, ainda assim, amarga. Pensei que poderia ficar com raiva dela, mas ela continua sorrindo, então talvez este não seja o caso — ela está falando desse jeito por que se transferiu de escolas demais? Talvez seja normal ser rude desse jeito em outros lugares.

"Isso é mais provavelmente apenas um efeito do declínio das taxas de nascimento. Este número de edifícios poderia ter sido necessário no passado. Podemos supor que há muitas salas de aulas vazias porque o atual número de alunos é bem menor do que quando a escola foi fundada; apesar de que não é disso que eu estava falando, estou falando sobre isto."

"O quê?"

"Isto."

Após ter tirado o caderno de minhas mãos, Ougi o abriu numa certa página e apontou para um único ponto — é o ponto que ela estava apontando mais cedo. Mas eu não detecto nada especialmente irregular.

"O arranjo é estranho."

Após ela ter fingido esperar por uma resposta de um certo estúpido, também conhecido como eu, ela iniciou a explicação:

"É estranho, ou talvez eu deva dizer que é anormal. Aqui, por favor, olhe para os andares logo acima e abaixo deste andar."

Enquanto vira as páginas para frente e para trás, ela continua a falar.

"Vê como todo andar tem salas onde deveriam ter? Então seria estranho se não houvesse uma sala onde deveria ser o centro do terceiro andar."

"Isso seria estranho..."

Eu reexamino o diagrama com essa nova informação em mente, mas realmente não percebo nada novo.

"Mas este terceiro andar tem uma sala no centro. É a sala de audiovisual..."

"A planta foi desenhada incorretamente. No lugar de incorreto, talvez eu deva dizer que ela não é tão correta assim. Ainda que o desenho tenha sido feito para bater com a realidade, a sala de audiovisual não é tão longa assim. Se compará-la com a circunferência, você percebe como a largura aqui é desenhada 1,5 vez mais larga do que a sala real?"

"Hmm."

Quando eu comparo isto com as salas de aula ao redor, posso ver o que ela está tentando dizer — a sala de audiovisual que eu usei várias vezes ao longo da minha vida escolar não é tão grande assim. Mas este erro não é pequeno o bastante para se ignorar... Não é como se Ougi fez esse diagrama com a ajuda de um equipamento profissional de inspeção. A sala de audiovisual não ficou mais longa porque Ougi poderia ter errado a sala de aula no andar, fez suas unidades erradas ou deslocou seus resultados?

"O quê, o quê? Poderia ser que você duvida de mim? Me magoa tanto que você duvide de mim."

"Não, não somos tão próximos assim para você se magoar com a minha dúvida."

"Não, não, eu tenho um grande apreço — pelo tolo que facilmente enganei."

E novamente ela me trata como se eu fosse idiota. Como o desdém acompanhado das falas da antiga Senjougahara e ainda com aquele sorriso, não consigo distinguir se há maldade ou inocência. Parece que sofro de dissonância cognitiva.

"Eu nunca cometo erros. Se isto é erro meu, então vou remedir a escola pelada usando minha envergadura como medida."

"Você certamente faz algumas promessas sem pensar..."

Mesmo se eu fosse tão confidente assim sobre algo, não faria uma promessa como essa.

"Fufu." Ougi ri e responde:

"Não há como eu ter cometido um erro. Num romance de mistério, quando a realidade difere da planta, comumente há uma sala secreta" diz ela. "O que você faria, Araragi? Caso haja um tesouro de ouro e prata no espaço vazio dessa sala?"

"Por que haveria um tesouro escondido numa escola... e, mesmo se eu o achasse, não seria meu."

"Você não tem sonho nenhum, é por isso que estudantes de exame deveriam ter mais imaginação."

"Pelo bem da discussão, se seu diagrama não tem nenhum erro, não é plausível pensar que é um erro de construção? Então poderia ser um espaço morto, cheio de concreto ou algo assim..."

Não me lembro de uma parede de concreto ao lado da sala de audiovisual—se alguém me perguntasse o que aconteceu com aquela área, eu não seria capaz de responder. Qualquer um pode sobreviver à sua vida escolar desde que se lembre de onde sua sala de aula fica.

"Essa é uma possibilidade. Claro, essa seria a melhor hipótese. Não, a melhor hipótese envolveria uma sala cheia de tesouros, mas eu não me importaria se fosse uma sala cheia de concreto também. Contudo, vamos imaginar que é algo a mais" propõe Ougi. Ela diz isso num tom sinistro e brincalhão. "Eu acho que é bom checar as coisas antes que alguém saia ferido, se isto for uma esquisitice."

"..."

Após ter ouvido sua real intenção — pensei que ela poderia estar certa. Entendo, o edifício de verdade não é idêntico ao que está no diagrama, isso é realmente bizarro — mas, só porque é bizarro, não significa que foi causado por uma esquisitice. Seria melhor se a teoria da sala secreta fosse verdade — bem, poderia ser uma esquisitice, se eu confiar nestes cadernos.

Primeiro de tudo, se tivesse algo assim no edifício escolar, não há como Shinobu não ter percebido — também é estranho Oshino não ter percebido isso durante as férias de primavera. É verdade que Oshino provavelmente diria algo como, "Eu não aprovo culpar esquisitices por tudo que é misterioso".

O motivo pelo qual eu levei com seriedade a ideia de Ougi é porque ela é definitivamente a sobrinha de Oshino, e — também porque eu não ouvi nada sobre qualquer espaço morto das duas estudantes companheiras, Tsubasa Hanekawa e Hitagi Senjougahara, que também investigaram o edifício escolar inteiro.

Se há mesmo uma sala secreta — sendo que ela tenha vido a existir por causa de uma esquisitice ou não — Ougi percebeu essa anormalidade logo após ter se transferido. A sabe-tudo Hanekawa não mencionou isso, e Senjougahara não percebeu isso quando estava desesperadamente se escondendo pela escola.

Esse fato — não, ainda é uma possibilidade, na verdade, mas eu ainda não estou maduro o suficiente para deixar a possibilidade aborrecer minha curiosidade.

"Mesmo se for pelo bem da discussão, eu presumo que uma esquisitice está em funcionamento, pode ser uma inofensiva... bem, acho que posso concordar em investigá-la, só por precaução."

Eu disse isso num tom excessivamente formal e composto. Eu não queria que ela pensasse que eu impensadamente aceitei uma sugestão qualquer de uma caloura — não quero pisar dentro do território da Kanbaru.

"Uau, eu estou tão feliz. Eu sabia que você diria isso. Bem, por favor, me encontre após as aulas hoje. É um pouco embaraçoso ir até a sala de aula de um sênior."

Ela age de modo bem mais fofo que a Kanbaru. Na verdade, ela estava se dirigindo a um veterano de forma muito rude, mas eu não percebi isso.

"Entendi. Então você quer que eu me encontre com você... mas não gosto de ficar até tarde. Se alguém interpretar mal a situação, pode parecer que estou brincando por aí com uma caloura após as aulas, e temo que eu possa ser morto."

"Claro, eu não tomarei muito do seu tempo. Bem, vai tomar por volta de quinze minutos. Acho que seria tempo o suficiente para descobrir se há algo lá."

Ougi alegremente disse que isso levaria apenas cinquenta minutos. Eu presunçosamente pensei que uma estudante transferida estava tentando fazer amizade comigo usando diagramas e esquisitices como desculpa — claro, eu não poderia estar mais errado.

Quinze minutos foram insuficientes para a investigação — ela ainda está continuando neste momento.

Notas do Tradutor[edit]

  1. A junção de 怪("estranho") mais 異("misterioso") dão forma à palavra que se traduz comumente como estranheza ou esquisitice —「怪異」.


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