Nekomonogatari Branco ~Brazilian Portuguese~/Tigre Tsubasa/061

From Baka-Tsuki
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061[edit]

Para Black Hanekawa-san,

Um prazer te conhecer.

Embora seja algo estranho para eu dizer, sou a Hanekawa Tsubasa.

Primeiramente, por favor permita-me expressar minha gratidão.

Obrigada por todas as dores tomadas em meu lugar, durante a Golden Week, e antes do Festival Cultural também.

É provável que eu vá te colocar em situações muito difíceis uma vez mais.

Minhas sinceras desculpas por todos os problemas que eu te causei.

Finalmente caiu a ficha de que talvez, quando te enterrei depois de você ser ser atropelada na estrada, foi só para abastecer o meu ego. Eu duvido que o ônus em mim, a pessoa com quem você está ligada, seja algo que algum dia pagarei.

E talvez, aí se encontra o verdadeiro significado por trás daquelas palavras tão frequentemente ditas por Oshino-san, que 'pessoas só são salvas por si mesmas.'

Afinal, como não tinha considerado se eu poderia verdadeiramente carregar a ligação que tenho com você, ou esse ônus, nesse momento, tudo o que fiz não foi nada mais do que uma solução provisória.

Exatamente como o Araragi-kun se ligou à Shinobu-chan a fim de salvá-la, eu te acorrentei a mim como Black Hanekawa.

Porém, diferentemente do Araragi-kun, eu não estava minimamente preocupada e continuei a viver tranquilamente sem me importar com nada.

O quão pecaminosa eu sou.

Sendo assim, eu não estou em posição nenhuma de te pedir algo, mas se isso continuar, eu acabarei machucando meus preciosos amigos.

A única coisa que posso fazer é confiar em você.

A única pessoa em que posso confiar é você.

É por isso que eu direi isso pela primeira vez desde que nasci — socorro.

Socorra-me.

Por favor, socorra-me.

Eu não te enrascarei nunca mais, e nem te deixarei sozinha de novo.

Por favor.

Eu te imploro.

Talvez você não tenha escolha uma vez que você precisa me proteger, então minhas palavras podem não mudar nada, mas por favor, eu realmente preciso te pedir isso.

Pode ser usado como referência, então dessa vez, eu escreverei tudo o que sei.

Embora você compartilhe as minhas memórias, parece que dessa vez você está completamente arrancada de mim (eu posso imaginar o motivo, como escreverei abaixo) então pode ser mais fácil de entender se você ler em texto.

Diferentemente da sua, a minha memória está cheia de vazios, então não posso afirmar nada com certeza, mas essa aqui provavelmente é verdade.

Eu não sei de tudo. Só sei do que sei.

Essas são as palavras que uso com o Araragi-kun, como uma desculpa, mas por favor permita-me dizê-las a você também.

Eu te darei tudo o que sei.

Bem, isso não é algo que precisa ser dito, algo que você como anormalidade já saberia mesmo sem eu dizer, mas aquele tigre gigante, o Tigre Inflamado, é como você, um novo tipo de anormalidade nascida do meu coração.

Mais precisamente, é uma anormalidade recentemente arrancada do meu coração.

Eu posso dizer isso com certeza.

A grande diferença é que enquanto você foi baseada em uma anormalidade antiga, o Sawari Neko, nenhum fundamento, nenhum molde como esse existe para o Tigre Inflamado.

No máximo, a base foi você.

Como você é um gato, ele é um tigre.

Algo mais primordialmente indomado.

Após o gato, imagino um tigre, uma criatura mais primordial, uma besta mais feroz.

O próximo da fila, podemos dizer.

Eu deveria ter percebido antes, mas nesses últimos meses eu tenho me tornado acostumada demais com anormalidades, inclusive você.

Aquele que sofre o extraordinário é puxado para ele.

Essas foram as palavras de Oshino-san.

Assim como Araragi-kun tem se acostumado em utilizar sua imortalidade desde as férias de primavera, eu tenho me acostumado a tratar meu coração como uma anormalidade e arrancá-lo desde a Golden Week.

Assim como me acostumei a usar lentes de contato — é possível se acostumar com qualquer coisa.

E o resultado da minha competência

foi o Tigre Inflamado.

Acredito que o motivo das diferenças entre o você da Golden Week, o você do Festival Cultural e o você de agora não são tanto assim individualidades mas sim uma expressão da minha competência.

Era simplesmente muito oportuno que uma anormalidade como a Black Hanekawa aparecesse somente durante meu sono, liberar todo meu stress e voltar para mim antes do meu acordar ou da necessidade do Oshino-san ou do Araragi-kun com a Shinobu-chan de lidarem com você. E bem conveniente para mim.

Mas era uma coisa óbvia.

Você é, afinal, uma anormalidade nascida de mim, para o meu bem.

Óbvio que seria conveniente.

Talvez essa tenha sido uma coisa que você já percebeu ou até mesmo algo sobre o que tenho pensado errado desde o começo, mas em primeiro lugar, eu te chamei dessa vez, obstinadamente, não só para liberar o stress da casa pegando fogo.

Kanbaru-san tinha 'pensado que você estaria triste, mas pelo jeito não é o caso', e isso é graças a você, claro — mas essa foi só uma consequência incidental.

Não está relacionado com o incêndio em si — está relacionado com a fonte.

Isso não é algo que eu estava consciente no momento, tampouco tinha memórias, então só posso falar sobre na terceira pessoa, mas é provável que eu tenha contado contigo como guarda-costas contra o Tigre Inflamado.

Assim como tenho sempre dependido de você no passado, antes mesmo de ser atormentado pelo Sawari Neko.

Eu dependi de você uma vez mais.

O diagnóstico conhecido como 'dupla personalidade' pelo público e 'transtorno dissociativo de identidade' pelos profissionais da medicina moderna. Eu não sou alguém que possa afirmar mas, mesmo que eu não esteja correta, eu duvido que exista uma interpretação mais simples do tipo de pessoa que sou.

Algum tempo atrás,

"Você me assusta, sabe?"

Araragi-kun me disse isso.

E,

"A forma que a representante de classe age como uma santa, é nojento."

Oshino-san disse isso a mim.

Pra ser honesta, eu não tinha ideia do que eles estavam falando naquele momento.

Eu sou sempre eu mesma, no meu estado mais simples.

Se você perguntasse ao Araragi-kun, ele diria que eu estava me esforçando demais para uma garota normal, que eu era excessivamente lógica. E embora seja uma dedução bem próxima à verdade, ela ainda não respondia ao porquê de eu me me tornar capaz de fazer algo tão desordenado.

Não era algo que alguém poderia fazer só por desejar fazer.

E ainda assim, como que eu posso administrar isso?

O motivo era simples.

É porque eu tenho desviado os olhos das verdades inconvenientes e arrancando meu coração de mim mesma desde minha juventude.

Anteontem, Senjougahara-san tinha dito que eu era 'turva para as trevas', o que era absolutamente verdade, mas mais que isso, eu era 'cega' para elas.

Eu virei as costas para a malícia e ao infortúnio.

Isso não é auto-proteção e sim auto-sacrifício, eu acho — uma vez que eu estava arrancando o 'eu' inconveniente, me preservando.

Assim como eu não pude ver minha casa da janela da escola aquele dia, no momento em que vejo algo que não gosto, eu o arranco como um objeto que não é meu. Até mesmo quando sofro dores, eu as arranco como se não fossem minhas.

Assim, minha personalidade não seria infestada por coisas ruins.

Eu estaria livre das preocupações.

Eu não iria nem mesmo ficar mais sábia com meus erros.

Porém, essa infestação é algo necessário para a sobrevivência de qualquer ser humano, e eu a fiz desaparecer completamente.

É óbvio que as pessoas se assustariam ou se sentiriam enojadas.

Araragi-kun disse que isso era algo grande demais pra chamar de milagre — pois meu jeito de ser não é um milagre, e sim algo bem pior, é o resultado de uma batalha sangrenta.

Parece que, quando tratando uma criança que não é amada por seus pais, ou em outras palavras, que tem sido mal-tratada durante sua criação, a tarefa mais difícil é primeiro fazer a criança admitir que tem sido mal-tratada.

Admitir o fato de que ela tem sido tiranizada.

Aceitar que você não é amado por seus pais não é uma tarefa fácil.

Na maioria dos casos, a criança irá tratar a verdade de seu mal-trato como 'não tendo acontecido'. Talvez distorcendo os fatos em alguma explicação, ou simplesmente tratando a verdade em si como se não tivesse acontecido; há muitas variações para o resultado, mas o ponto que todas elas compartilham é que elas viram as costas para a realidade.

Sim, eu deveria admitir agora.

Eu fui mal-tratada pelos meus pais na minha criação.

Eu fui mal-tratada em cada e todas as possíveis maneiras.

Nenhuma vez fui amada.

Por nenhum momento fui amada.

Mas eu nunca estive consciente disso.

Eu ignorei minha própria dor, pensando que acontecia em todas as famílias, em alto ou baixo grau. Até mesmo quando apanhei na cara, eu não pensei que era mal-trato. Nem um pouco. E assim, eu arranquei os stress como Gata, e tratei aquilo como se nunca tivesse acontecido.

Primeiramente, se você me pedisse pra definir o significado de 'mal-trato', seria algo extremamente fácil e ao mesmo tempo extremamente difícil.

O ato de 'mal-trato' pode ser estabelecido mesmo sem violência. Levando ao extremo — embora seja até um ponto de vista comum — 'mimar' também é uma forma de mal-trato.

O mal-trato conhecido como educação. O mal-trato conhecido como disciplina.

O mal-trato conhecido como cuidados. O mal-trato conhecido como descendência.

Talvez até a opinião de que qualquer coisa que os pais façam à criança seja mal-trato é fundamentalmente possível e, dependendo do argumento, algo que não pode ser completamente negado e sim escutado. Afinal, nosso desprezo a tal lógica não leva em conta a aprovação ou rejeição da vítima — é uma discussão ambígua, mas não podemos simplesmente julgar sem uma imagem compreensível dos fatos.

Esse foi o motivo pelo qual eu continuava o aceitando.

Eu poderia continuar a desviar os olhos, aceitar que eu não estava sendo mal-tratada.

Eu nem estava sendo tiranizada.

Eu nem estava sendo negligenciada.

Eu nem conseguia lembrar dessas coisas acontecendo.

Eles fizeram o mínimo, como parentes —

É pior que uma falácia.

Eles fizeram o mínimo.

O mínimo do mínimo, foi isso o que eles algum dia fizeram.

Era assim que eu deveria ter pensado.

Eu fui mal-tratada da pior maneira, por 'não ser amada' — e claro, eles tinham suas desculpas.

Porém, essas desculpas não tinham nada a ver com a criança.

Para os pais, amar os filhos não é uma obrigação a ser feita, mas uma emoção, e se não pode ser sentida, esses dois adultos nunca deveriam ter se casado ou tido filhos.

Se você pudesse existir sem a sensação de dor e manter uma desconexão para a tristeza, então você poderia permanecer livre do stress e constantemente poder realizar sua melhor performance seja nos estudos, esportes, lógica ou moral.

Se alguém pudesse existir sem sentir a pressão da falha, sem a ansiedade de possível futuro sofrimento e sem as dores do corpo e da mente, então esse alguém seria o perfeito ser humano em todos os aspectos.

Essa é a verdade da honrosa estudante, Hanekawa Tsubasa.

A desprezível resposta para a questão do por que eu sou do jeito que sou.

Eu posso ignorar o tédio.

Eu posso ser injusta porque posso deixar para os outros as trevas e dores que é nascida com todos humanos.

Senjougahara-san estaria enfurecida se ouvisse sobre isso.

Pensar que ela sofreu por dois anos — sua batalha durante dois anos que só existiram para trazer a ela dor, e eu, sem sofrer, sem sentir dor, sem batalhar, podia colocar tudo isso em seus ombros.

Frustração falharia em descrever isso.

Que eu criaria a forma de Black Hanekawa após me envolver com o Sawari Neko é de incrível interesse, mas como descrito acima, a anormalidade não foi nada além de um gatilho pra mim.

Você não é ninguém além de você mesmo.

Além do mais, esse 'terceiro' você é muito mais profundamente arrancado de mim do que os outros dois. O motivo, como descrito acima, é porque eu 'fiquei boa nisso'.

Quando perguntei qual o segredo para construir uma torre de carta para Tsukihi-chan, ela me disse "sério, é só questão de se acostumar. Não há técnica, eu só continuo tentando de novo e de novo. Até você conseguiria fazer, Hanekawa-san, se tentar umas vinte vezes." o que é uma verdade universal, e é o porquê de eu poder te arrancar do meu coração de uma forma melhor que a primeira ou segunda vez.

Você foi nominada como um indivíduo.

Poderíamos até chamar de ataque de loucura. Notícias terríveis.

Na verdade, é bem pior que isso.

Afinal, você não foi a única anormalidade independente que arranquei do meu coração dessa vez.

Talvez eu deveria dizer que há outro entre nós.

Talvez eu deveria dizer que há outro na cambada de gatos.

Eu arranquei o Tigre primeiro antes de arrancar você.

Se você é a encarnação do meu stress — então o Tigre Inflamado é a encarnação da minha inveja.

Assim como eu nunca teria chegado na ideia de 'um novo tipo de anormalidade' se não tivesse falado com a bibliotecária, eu nunca teria chegado nessa palavra se não fosse pela conversa com a Karen-chan e Tsukihi-chan, embora agora que eu percebi o que é eu estou absolutamente convencida de que não poderia ser mais nada, de tão familiar que a palavra é pra mim.

Inveja.

Embora para ser honesta, a palavra 'inveja' era realmente desconhecida para mim até anteontem.

Ela nem precisou ser arrancada.

Eu nunca tive inveja de ninguém.

Afinal, eu sou alguém que pode fazer qualquer tarefa sem stress, com todo meu vigor, uma repugnante perfeita estudante honrosa.

Eu nunca tive rancor de ninguém.

No máximo, os sentimentos que tive foram mais próximos de insatisfação; 'Por que ninguém se esforça mais? Se ao menos eles trabalhassem mais duro.'

Esse foi um sentimento pelo qual Araragi-kun um dia me deu bronca, algo que, agora que vejo, foi muito egoísta da minha parte. Diferente de mim, todo mundo luta com seus stress do dia-a-dia, e é exatamente por causa da maneira que trapaceio que ninguém nunca me disse isso.

Se você se esforçar, você pode fazer qualquer coisa.

Eu desviei os olhos até dos sentimentos do Araragi-kun, que deu uma bronca em mim, alguém que conquistou tudo o que tinha exatamente porque nunca trabalhou duro ou se esforçou.

Por isso a palavra 'inveja' é desconhecida pra mim.

Bem, não posso dizer que eu nunca a senti, mas é certo que a quantia acumulada dela na minha vida é bem abaixo da média.

A quantia total de inveja que foi arrancada do meu coração é sabida por mim.

Porém, foi três dias que essa quantia pulou o seu limite.

Eu agora lembro.

Foi no dia do novo trimestre.

Sendo acordada pelo limpador a vácuo como sempre, lavando o rosto, me vestindo e indo para a cozinha para tomar café, encontrei aquele que eu deveria chamar de meu pai e aquela que eu deveria chamar de minha mãe já comendo.

Eu aceitei essa vista como se não houvesse nada de errado, e comecei a fazer o meu próprio café da manhã. Mas, não é só porque eu arranquei da minha memória imediatamente ou só porque a memória foi substituída que significava que eu não tinha testemunhado aquilo claramente.

Os dois tinham o mesmo prato.

Embora todos vivêssemos na mesma casa, nós todos vivíamos separadamente, então como que um dos dois claramente cozinhou um prato pros dois e comiam juntos?

Agora que penso nisso — sim, certamente.

Naquela manhã, eu tive que escolher meus utensílios para fazer meu café da manhã — o que não deveria ter acontecido.

Afinal, eu fui a última a entrar na cozinha. Não deveria precisar escolher — os outros dois utensílios já deveriam estar usados.

Em outras palavras,

isso só poderia significar que um deles cozinhou para o outro — que eles estavam tomando café da manhã juntos.

Eu me tornei o resto.

E eu senti meu ciúmes claramente.

...Provavelmente parece ridículo que eu deveria me importar se esses pais abusivos, que moram na mesma casa que eu mas não podem nem ser chamados de família, tomam café da manhã juntos ou não.

Mas não há lógica nisso.

Essa falta de lógica é a explicação do por que eu sentir tão incrível rejeição ao ponto de querer que a casa dos Hanekawa queimasse e os forçasse a ficar em um hotel.

Eu não queria ser deixada sozinha naquele cômodo.

Eu não me importava de ser uma das parte separadas de 'três pessoas',

Mas eu não queria que fossem 'duas pessoas' e 'uma pessoa'.

Não que eu quisesse ter voltado a ser 'três pessoas', eu só não queria ser 'duas pessoas' e 'uma pessoa'

Eu não queria ver aquilo, mesmo que eu tivesse que dormir na rua.

Eu queria desviar os olhos.

Aqueles sentimentos de carinho, de que essa poderia ser uma boa chance para eles tomarem pequenos passos para se aproximarem, na verdade não eram nada além do oposto.

Eles não estavam simplesmente retorcidos.

Eles estavam completa e rigorosamente distorcidos.

Eles estavam aterrorizantes, repugnantes — e tolos.

Por não perceber meus próprios sentimentos e arrancar o que eu tinha percebido — o desejo da união dos dois — meu coração já não era o de um ser humano.

Provavelmente era o de uma anormalidade.

Além da face pública, o 'verdadeiro eu' de alguém existe porque invertemos nossos olhos e olhamos para dentro.

Claro, eu era o motivo pelo qual o relacionamento deles se tornou tenso, e tal motivo estaria deixando o Japão em meio ano. Talvez não seria estranho mudanças acontecerem entre aqueles que primeiramente eram marido e mulher. Ou talvez o gatilho foi apertado durante a Golden Week quando eles foram hospitalizados juntos.

Mas, nesse caso, não faria sentido ter ciúmes dos dois. Não se não houvesse outro motivo por minha parte.

E é por isso que não há lógica nisso.

Mesmo que eu diga que eles podem se separar,

mesmo que eu queira que as chamas extintas do amor se reacendam,

Eu não queria ver eles se dando bem,

e não importa como, eu estava com ciúmes da reconciliação deles.

Eu estava com ciúmes, do fundo do meu coração, da tentativa deles de reconstruir a família depois de tanto tempo.

Eu estava queimando de ciúmes.

Isso foi o necessário para que minha inveja passasse de seu limite comum, para o nascimento do Tigre Inflamado.

Assim como eu dei a luz a você durante a Golden Week, eu dei luz ao Tigre no novo trimestre.

Eu fui capaz de criar uma nova e original anormalidade sem precisar de uma base como o Sawari Neko, o que outra vez prova que você pode ficar bom em qualquer coisa, se você repeti-la o suficiente.

Pelo jeito, aí é onde a frase 'não mais ardente um tigre do que as chamas da tirania' entra, mas como Senjougahara-san disse, também parece pra mim que a Gaen-san me guiou até aqui, de certa forma.

Adicionalmente, acredito que se eu não tivesse encontrado a Mayoi-chan naquele dia a caminho da escola, o Tigre não haveria nascido.

Foi graças à minha conversa com a Mayoi-chan no caminho da escola que eu descobri que o Araragi-kun estava fora, o que significava que eu sabia que ele não estaria aqui pra lidar com o Tigre, diferentemente de suas duas últimas aparições.

O Araragi-kun é algo como os freios de meu coração. Eu estava ansiosa para encontrar Araragi-kun na sala de aula naquele dia do novo trimestre mais do que eu esperava estar.

Foi tudo uma simples questão de lugar errado na hora errada.

Esse foi sem dúvidas o motivo para a aparição do Tigre imediatamente depois de me despedir da Mayoi-chan.

No final, a culpa foi minha.

O Tigre Inflamado é uma espectral aparição nascida da fragilidade de meu próprio coração.

As chamas do ciúmes que consomem tudo.

O motivo pelo incêndio na casa dos Hanekawa foi certamente ciúmes sobre meus pais, e o motivo pelo incêndio na escola primária foi similarmente ciúmes.

Os ciúmes que eu senti por Kanbaru-san, por ser a única de quem Araragi-kun pediu por ajuda.

Naquela hora, eu estava com raiva do Araragi-kun — ou ao menos eu achava que estava, mas na verdade, eu estava provavelmente com muito ciúmes da Kanbaru-san, assim como a Senjougahara-san.

Esse deve ter sido o caso.

A inveja que descobri pela primeira vez — era uma emoção cabível demais para mim.

Porém, essa emoção foi logo arrancada de mim e colocada no Tigre. Meu ciúmes já tinha a perfeita válvula de escape preparada de antemão.

Sobre o Tigre, eu escrevi que ele era uma anormalidade independente como você, mas talvez deveria ter descrito como uma anormalidade autônoma.

Diferente de você, que está ligada ao meu corpo, o Tigre é livre pra se mover e agir.

Como resultado,

aquela memorável escola primária foi reduzida a cinzas.

O palpite de Senjougahara-san, de que os lugares onde dormi foram imediatamente incendiados, estava no final das contas errado. Considerando porém a realidade, as coisas poderiam ser bem melhores se fosse verdade.

Resumindo, as coisas de que tenho ciúmes se tornam alvos para o Tigre queimar, uma após a outra.

Seria algo dentro dos parâmetros se o flat de Senjougahara-san ou a casa dos Araragi fossem incendiados em algum momento. Não porque eu dormi ali, mas porque eu estava com ciúmes.

A memória pode estar já perdida para mim, mas ter oportuna e curiosamente sido capaz de observar o lar dos Senjougahara por dentro, com sua resoluta ligação de pai com filha, e o lar dos Araragi, construído por uma família baseada em confiança mútua, tornou impossível a tarefa de não ter inveja.

A forma que virei as costas pra esse ciúmes, o joguei para o Tigre, e me agarrei a pensamentos leves como 'fico feliz por ser tratada como um membro da família' me fez querer me amaldiçoar. Minha maldição, porém, está apontada para os outros.

A esse ponto, a única consolação é que, assim como você durante a Golden Week, os alvos do Tigre estão limitados a construções e não a pessoas. Parece que o princípio de não machucar os outros é claramente estabelecido em mim.

Provavelmente, isso é porque eu sabia o quanto o Araragi-kun sofreu durante as férias de primavera, tendo que escolher entra a vida de um e o resgate de outro.

Não, não era isso.

Eu estava só embelezando.

Durante a Golden Week, eu mais ou menos não me preocupei com ninguém, com as vítimas, ou com meus pais, mas simplesmente virei as costas e corri para liberar meu próprio stress, então a vida deles estavam em segundo plano (de fato, eu acabei quase matando o Araragi-kun), eu estava agindo somente para mim mesma.

Não era diferente dessa vez.

O que eu realmente invejava, que eu realmente sentia ciúmes, não eram outras pessoas mas outros lugares.

Lugares bons para se morar.

Por isso que a maioria dos meus alvos tem sido casas.

Lugares onde pessoas viviam umas com as outras.

É precisamente porque eu dormia no corredor e não tinha quarto para mim que a casa dos Hanekawa, a escola primária, que esses lugares queimaram.

Esse é o Tigre que dei à luz.

Querendo ter algum lugar onde eu pudesse pertencer, eu fiquei com ciúmes daqueles que sempre tiveram como se fosse algo natural.

É por isso que ele queimava casas ao invés de pessoas.

Ele aceitou minha inveja, a maior de todas, e todos meus impulsos destrutivos que diziam que casas como essas deveriam desaparecer — esse era o tanto que eu queimava.

Isso é o quão feroz minha paixão se tornou.

Sim, era irresponsável da minha parte dizer que 'como os outros' eu tinha impulsos destrutivos e pensamentos como 'uma casa assim deveria desaparecer'.

Como seria ser 'como os outros'?

O quão doloroso seria ser 'como os outros'?

Eu nunca nem me importei em saber.

Eu pensava que esses desgastantes impulsos destrutivos, vindos de todo o arrancar e cortar do meu coração, eram emoções — eu pensava que eu era normal.

Eu era muito protetora comigo mesma.

quase como se eu tivesse mal-tratando a mim mesma.

Sim.

Mais do que qualquer um,

Eu me mal-tratei, e matei a mim mesma.

A maioria dessa auto-análise estava provavelmente correta, mas todas as coisas em comum com a Golden Week até agora não significavam que ninguém ter se machucado.

Ao acaso aconteceu que não havia ninguém dentro da casa dos Hanekawa ou da escola primária, mas se houvesse, eles estariam queimados também.

Se, por exemplo, Araragi-kun ou Kanbaru-san estivessem no prédio quando o Tigre agiu.

Eu me arrepiei com a possibilidade.

E não é nem um pouco impossível que a mesma possibilidade possa se tornar realidade com o flat de Senjougahara-san ou a casa do Araragi-kun.

A relação que Senjougahara-san tinha com seu pai.

A relação que as irmãs Araragi tinham com Araragi-kun.

Eu provavelmente não poderia dizer que nunca os invejei.

Provavelmente era uma mentira dizer que eu nunca conheci a inveja. Eu sentia inveja de cada pessoa que eu sentia ciúmes.

Eu queria uma pai como esse.

Eu queria ser acordada por irmãs assim toda manhã.

Esses sentimentos — se tornaram chamas.

...Talvez seja absolutamente correto que eu nunca 'passei a noite' na casa de um amigo antes. Ou na verdade, talvez eu tenha sempre evitado subconscientemente.

Não, não era isso.

Se eu Tigre 'ficou bom' nisso — se repetidas vezes ele cumpriu sua conflagração e adquiriu proficiência nisso, então nenhuma casa no mundo escaparia de suas chamas, independentemente de eu ter dormido nela ou não.

Nem mesmo a escola.

Nem mesmo a biblioteca.

Nem mesmo a praça.

Nada seria deixado ileso.

Esse

era o quanto eu invejava um lar caloroso.

Tanto que eu queria extinguir esse calor com chamas.

... Para ser honesta, eu não sei quais princípios você, como a anormalidade Black Hanekawa, tem.

Embora você compartilhe das minhas memórias e conhecimento, e enfrente coisas que eu viraria as costas, você e eu somos quase completamente diferentes (não haveria sentido ter uma dupla personalidade se não fosse esse o caso).

Sendo assim, não é claro para mim quais opiniões você tem sobre essa situação, sobre o Tigre Inflamado.

Talvez você não vê nenhum problema em seguir com essa linha de pensamento. Acho que é assim que a perspectiva de uma anormalidade funciona.

Talvez você diga que algo como 'embora começar incêndios seja um grave crime, esse tipo de caso não é punível pela lei' e que sendo assim, eu não preciso me preocupar.

É só mais um ponto de vista entre vários.

Certamente, eu desejaria aceitar essas gentis palavras.

Mas é hora de acabar com isso, também.

Que pesadelo seria pior que ser capaz de fragmentar meu coração em frente à menor provocação, incessantemente criando sucessivas anormalidades, deixando todas responsabilidades com os outros, e deixá-los receber horríveis destinos enquanto eu continuo a viver, confortável e despreocupada, sem perceber nada?

Quantos seres humanos eu despedacei, quanto sofrimento eu espalhei desde a Golden Week, sem nem perceber?

Era como não sentir dor mesmo com minhas bochechas sendo puxadas.

Isso não lembra a vida que tive?

Não é que eu não queira ser alguém bom ou exemplar. Não importa quais morais ou lógica que eu possua, nada faz sentido se eu estiver me apoiando nas costas do outros.

Eu não quero viver

enquanto me apoio nas suas costas, ou na do Tigre.

Mesmo que esse incidente como o Tigre se resolver, não poderia eu criar uma leão ou um leopardo da próxima vez, vez após vez?

Mesmo que vocês todos me dissessem que não se importavam, que era o que vocês nasceram pra fazer, meu coração já está decidido.

Esse meu coração, despedaçado tantas vezes que nem sua essência sobreviveu, já está decidido.

Um fim deve ser colocado a tudo isso.

Não, um começo deve finalmente acontecer.

Eu manterei meus olhos à frente

e não só enfrentar o Tigre, mas você também.

Eu abrirei esses olhos fechados.

A Bela Adormecida que esteve inconsciente por dezoito anos precisa agora acordar.

Então, por favor, Black Hanekawa-san.

Volte para mim.

Por favor, volte para meu coração.

Volte, junto com o Tigre.

Eu te imploro.

Meu coração é seu lar.

Eu nunca te deixarei sozinha, então por favor não me deixe só.

Se Oshino-san estiver correto, quando eu chegar aos vinte — ou talvez até antes, você e o Tigre podem desaparecer.

Pelo jeito, uma vez que a garota cresce, aquelas fantasias adolescentes não mais existirão e desaparecerão.

Até mesmo agora, você provavelmente não é nada mais que um eco.

A seu tempo

você provavelmente desaparecerá.

Assim que as coisas devem ser.

Mas, por favor não.

Por favor não desapareça. Por favor não vá embora.

Por favor, volte.

Vamos parar de viver separadas assim.

Meu coração pode ser pequeno, mas podemos viver lá juntas, como uma família faria.

Eu não te mandarei ir dormir de novo.

Eu te prometo agora que eu te amarei por inteiro: o stress, a inveja, a ansiedade, a dor, as piores possibilidades e as mais escuras trevas.

Pode até ser um desejo descarado,

mas que descarado seja.

...Araragi-kun provavelmente ficará decepcionado.

Afinal, o mérito que ele vê dentro de mim, ou como a Senjougahara-san chamou, a minha puridade 'branca como inocência', é simplesmente o vazio deixado pela parte indomada de mim.

Esse ponto, ao menos, eu não tentarei esconder.

Eu não quer que ele se sinta abatido.

No final, eu nunca falei que o amava.

Eu simplesmente me apaixonei, e me tornei amarga de amor, tudo sozinha.

Para ser honesta, sempre me pareceu estranho o jeito que eu me tornei fascinada por ele mesmo nunca tendo falado com ele antes das férias de primavera, e como até agora estou profunda e teimosamente apaixonada por ele, mas agora entendo.

Ele era uma figura tão radiante para mim porque eu não conhecia mais ninguém que enfrentaria suas próprias fraquezas tão diretamente.

Ele era tão estonteante, eu me cegaria se olhasse diretamente para ele.

Ainda lembro docemente daquela noite que fiquei falando mal dele junto com a Senjougahara-san — e que embora eu achasse que ela seria como eu, os insultos que ela tinha para ele eram todos, de fato, elogios.

Que ele era muito mole, por exemplo.

Tudo o que ela disse foi mais ou menos nessa risca.

A raiva que ela sentia dele era na verdade a mais honesta das afeições.

Os sentimentos que eu tenho por ele são as únicas coisas que não arranquei.

Até mesmo quando me tornei você, eu ainda amava o Araragi-kun profundamente.

Como ele mesmo me disse, ele salvou a quase morta Shinobu-chan até mesmo enquanto chorava amedrontado com a morte.

Se fosse eu, provavelmente teria a salvo com um sorriso.

Sim, foi isso. Se teve um momento onde eu realmente me apaixonei por ele, foi quando eu o vi lutando com Shinobu-chan até a morte, até mesmo enquanto chorava.

Porque eu nunca tinha chorado antes.

E assim, eu me apaixonei pelo Araragi-kun bebê chorão.

Episode-kun disse que eu me tornei normal, mas se eu algum dia perder mais de mim mesma,

se eu acabar me tornando 'eu', Araragi-kun provavelmente choraria de novo.

Eu realmente não queria isso.

Mas não mais desviarei os olhos das coisas que não desejo.

Eu quero me tornar uma com você dois, mesmo encarando a realidade que seria desapontar Araragi-kun.

E

isso é para que eu continue o amando, também.

'Eu'.

Seria você o outro eu dentro de mim?

Isso parece errado.

Estou certa de que, pra mim, você é algo como uma irmã mais nova. Eu percebi quando vi a Karen-chan e a Tsukihi-chan.

Eu sou uma má irmã mais velha. Me desculpe.

Me desculpe por fazer você se preocupar todo esse tempo.

Esse é verdadeiramente meu último desejo.

Essa é a última vez que te forçarei a pegar o papel mais doloroso.

Por favor, salve nossa irmã mais nova.

Ela fugiu de casa, perdida em seu hipnotizador jogo de fogo, e eu realmente não sei como me aproximar dela. Mas eu esperarei pelo retorno dela, não importa quanto tempo leve.

Eu amo vocês duas, e me amo.

Sinceramente,

PS: Por favor perdoe minhas poucas palavras.

...Bem.

Eu terminei de ler a carta que Senhorita escreveu antes de ir pra cama miau.

Você tá zoando com minha cara miau.

Eu sempre achei que a Senhorita fosse inteligente, diferente de idiotas como eu miau — mas parece que você é idiota igual, ou até mais do que eu miau.

Eu achei que ela tinha escrito essa carta porque ela é a esperta e eu sou a burra, mas até disso estou duvidando.

Mesmo que ela não tivesse deixado cartinha pedindo por ajuda para uma andarilha como eu, eu não teria escolha — preciso estabelecer o personagem miau — mesmo se ela simplesmente tivesse ido dormir como sempre, eu teria saído pra dar um couro naquele tigre miau.

Uma vez que compartilho das memórias da Senhorita, eu perceberia a natureza daquele tigre — do Tigre Inflamado assim como ela fez, sem perder nada no processo miau.

Não, a Senhorita já entendeu tudo isso miau — foi isso que ela escreveu miau.

Será que isso significa que era uma coisa que ela precisava pedir para si mesma miau?

Acho que podemos dizer que ela estava sendo auto-consciente demais, mas no fim, a Senhorita nunca perceberá que é esse tipo de coisa que a torna anormal miau.

Essa é a maior tragédia de todas miau.

"Miau"

Eu deixei a carta na mesa.

Na verdade eu tenho a memória de quando a Senhorita estava escrevendo essa carta, então de fato não há motivos pra eu ler miau. Então talvez eu nem seja alguém pra falar dela uma vez que eu parei pra ler a coisa toda miau.

De qualquer forma, eu já entendi o que tá acontecendo miau.

O Tigre Inflamado.

E o trono de doença trazido à luz pela Senhorita.

Tudo foi explicado miau.

Tendo dito isto, parece que a Senhorita ainda tem uns mal-entendidos na cabeça miau — embora eu suponha que, já que ela estava palpitando sem muita informação pra se basear, esses erros seriam inevitáveis miau.

E também, tanto o estilo quanto o contexto da carta tá todo bagunçado, pelos padrões da Senhorita — definitivamente não foi algo que ela escreveu enquanto estava calma miau.

Não é uma situação onde você precisa gabaritar, então pontuar um 8 para tirar um A é o suficiente miau.

"Mas eu não entendo. Miau, quer dizer, até que entendo. Mas parece que a questão do porquê a Senhorita, que sentia tanta inveja de casas e lares ao ponto de entrar em combustão, não sentir ciúmes sobre Senjougahara Hitagi e Araragi Koyomi estarem juntos, meio que se destaca miau."

A mais forte emoção da Senhorita é o amor miau.

Não é preciso nem explicação, se você levar em conta a transformação durante o Festival Cultural miau.

Basicamente, a irmãzinha mais nova do bastardo estava certa em ser a primeira a ligar 'fogo' com 'amor'.

Mas nesse caso, a verdade seria que a primeira coisa que a Senhorita teria queimado não seria a casa dos Hanekawa ou a escola primária, mas sim ninguém menos que a própria Senjougahara Hitagi miau —

A Senhorita não pensou nisso miau?

Não pode ser miau.

Era isso que ela queria dizer com desviar os olhos miau?

Mas se a Senhorita realmente não estiver mais desviando os olhos e sim mantendo os olhos abertos, ela vai chegar nessa conclusão eventualmente miau.

Embora eu me pergunte se ela pode aguentar miau.

Aguentar essa dura realidade — quando ela não mais puder arrancar seu coração.

"Amar nós dois — e se amar. Eu não acho que ela entenda o quão difícil isso será miau. A Senhorita pode ser um caso extremo, mas todo mundo desvia os olhos do stress ou da inveja em algum grau miau."

"Não existe nenhum ser humano que possa olha diretamente para o mundo sem desviar os olhos miau. Por que a Senhorita tem que estar presa a essas algemas sozinha miau?

Por que ela tem que estar algemada à mim e ao Tigre?

Arrancar tudo de si mesma

não significa que não vai doer também miau.

De fato, você consegue imaginar a dor de arrancar seu próprio coração?

"O maior mal entendido de tudo é me chamar de algo como 'família' — miahahahau, eu sou só o gato da casa, ta ligado."

Não, eu sou só um gato de rua.

Fora que, eu era macho quando fui atropelado, então é estranho me chamar de irmãzinha — fora que, mesmo que minha base tenha sido o Sawari Neko, vendo como fui criada por matéria-prima vinda da Senhorita, meu sexo não só é vago, é inegavelmente uma área cinza entre ser uma irmã e uma irmão miau.

Qual é o sentido de perguntar a uma anormalidade o seu sexo, de qualquer forma?

E chamar aquele tigre colossal de 'irmãzinha', isso é realmente algo miau. Você sabe que as feras fêmeas tendem a ser mais ferozes, certo?

Estaria tudo bem se ela tivesse me pedido pra derrotá-lo ou exterminá-lo, mas é ridículo me pedir pra arrastá-lo de volta para seu coração miau. Então, não é nem um 'Procura-se Vivo ou Morto', só um 'Somente Vivo' né?

Isso é loucura miau.

Eu estava querendo dar um couro nele de qualquer forma. Mas agora ela tá pedindo mais coisa ainda.

É tipo o que o especialista Aloha disse: "Não pense com violência. Anormalidades e humanos devem coexistir." Aquele humano bastardo também falou algo assim miau.

Ainda que nós dois sejamos anormalidades nascidas da mesma Senhorita, diferente de mim, ele não tem uma anormalidade como base — ele não tem um molde miau. No fim das contas, a Senhorita simplesmente não consegue entender o significado disso, uma vez que ela própria não é uma anormalidade.

Ela não entende o quão livre é ser uma anormalidade descrita em nenhum texto, encontrada em nenhum arquivo, e mencionada por nenhuma boca miau.

Francamente, eu não quero nem imaginar miau.

Resumindo — aquele Tigre não tem pontos cegos, não tem fraquezas.

Já seria difícil enfrentá-lo numa batalha, imagine então trazê-lo de volta miau.

Eu terei que encará-lo de forma direta

e trucidar suas forças miau.

"Aaaah."

Eu suspirei.

As coisas parecem pesadas em meus ombros miau.

Parece até uma tonelada de tijolos miau.

"Na real, não me importo. Sou uma anormalidade que trabalha somente para a Senhorita, então pra ser honesta, mesmo que a casa dos pais dela queime, ou algum lugar memorável queime, ou a casa de uma amiga queime, ou essa casa queime, eu realmente não ligo. Tipo, provavelmente ia ser até legal ver as chamas crescendo e tal."

Fundamentalmente, não há muita diferença entre o Tigre, a encarnação da inveja, e eu, a encarnação do stress miau.

Ele até falou pra mim que somos do mesmo tipo de anormalidade miau — então no mínimo eu entendo como ele se sente.

A outra diferença entre nós é que ele é independente da Senhorita enquanto eu estou preso miau.

Na verdade, eu duvido que haja algum sentido nisso tudo.

Como a Senhorita já sabe, uma anormalidade como eu irá desaparecer um dia, não importa como — eu sou só um eco que desaparecerá no tempo miau.

Talvez o Tigre seja assim também.

Talvez se você deixá-lo em paz, ela poderá arrancar todas as chamas das suas emoções, e elas desaparecerão sem deixar vestígios — então talvez não haja a necessidade da Senhorita se preocupar com tudo isso miau.

E não é só algo desnecessário.

Isso pode trazer à tona até mesmo o efeito oposto miau.

É definitivamente um saco pra ela eu aparecer assim, afinal — não sou algo para ser aceito, mas sim algo para ser apagado.

Tem que ser exterminado miau.

E nem é difícil, na verdade é bem simples. Enquanto a Senhorita desejar, eu desaparecerei miau.

Mas não foi essa a escolha da Senhorita miau.

Ela está tentando nos levar de volta, depois de ter nos arrancado.

Esquisito, não?

Tipo, eu e o Tigre,

nós somos uma dor de cabeça para a Senhorita.

E é por isso que ela não deveria teimosamente aceitar-nos — se a Senhorita realmente fosse esperta, ela conseguiria fazê-lo —

"É por isso — que não há sentido nisso miau."

Senjougahara Hitagi mudou.

Aquele humano bastardo também mudou, eu suponho.

E a Senhorita também mudou.

Mas só porque você mudou a si mesma não significa que você mudou algo no mundo miau.

Só o fato dela ter mudado não significa que ela possa fazer o passado desaparecer. Só o fato dele ter mudado não significa que ele possa fazer o passado desaparecer.

Isso não pode ser mudado, não pode ser substituído, não pode ser fingido.

Uma pessoa é ela mesma pelo resto da vida.

A Senhorita pode ter nos criado durante as férias de primavera, quando estava vagueando pela cidade esperando encontrar um vampiro, mas isso não muda nada — e é por isso que a melhor coisa a se fazer é nos deixar desaparecer miau.

Aquele bastardo e o Aloha também devem querer isso.

Eu sou um fardo e uma dor de cabeça

assim como o Tigre.

"Mas, miau. Certo que foi um pedido miau."

Me pergunto o que é esse sentimento miau?

Mesmo que me peçam ou não, não faz diferença, eu faria o que eu vou fazer — então por que me sinto tão ansiosa?

Esse peso em meus ombros deveriam estar me empacando.

Então por que eles são tão confortáveis?

Por que ele me faz sentir como se eu pudesse fazer qualquer coisa, só por saber que não estou mais sem objetivo — que eu tenho um lugar, um lar para retornar?

Parece até que estou feliz miau.

Parece até que estou prestes a chorar miau.

"Ainda assim, você não verá nenhuma lágrima de mim — eu sou um gato. Você não vai ver nenhuma lágrima, mas você definitivamente vai me ouvir chorando miau.

Mi-au.

Eu ronronei — e abri a tranca da janela.

Meu ir e vir foi descoberto pela Senhorita porque eu esqueci de trancar essa janela ontem à noite (embora vendo como haviam muitas outras evidências, eu acho que ela ainda assim descobriria) mas eu não voltarei de novo para esse quarto como eu mesma de qualquer forma, então não há por que se importar com isso miau.

Aparentemente, a Senhorita pegou as roupas que estou vestindo agora porque elas são fáceis de se mover, mas pra mim, a forma mais fácil de se mover é estando completamente pelada miau. Mas isso não seria bom para a Senhorita (e eu me sinto mal por ter saído vestindo somente lingerie durante a Golden Week) então eu vou só aceitar o favor miau.

Mas ainda assim não colocarei nada nos pés, obrigada.

Assim que coloco meu pé no batente da janela porém, eu penso em algo miau.

Eu acho que as pessoas chamam isso de 'capricho' miau.

Assim como a Senhorita não será mais a mesma, eu também não serei a mesma quando isso acabar miau.

Não estou só falando das diferenças individuais entre as Black Hanekawas — depois disso, eu nunca mais sairei de novo.

Depois de vários adiamentos em Maio e Junho, a anormalidade que eu sou finalmente será resolvida miau.

Nesse caso, deixarei algumas palavras também.

Embora eu acho que, no meu caso, seja mais como um Testamento miau.

Miau, não ligue.

Eu não vou morrer ou desaparecer. Só vou voltar pra casa.

Embora eu esteja bem atrasada miau.

"Bem, hora de servir à Senhorita pela última vez miau."

Eu não quero escrever nada muito longo miau.

Após rapidamente escrever mais uma linha com a letra da Senhorita, eu finalmente pulo da completamente aberta janela em direção à noite iluminada pela luz da lua.

"Estou indo, adeus."


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