Utsuro no Hako:Volume1 27753ª vez

From Baka-Tsuki
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Nossa turma está jogando futebol durante a E.F.

Por estar com o nariz sangrando, estou descansando no colo da Mogi-san.

Subitamente começo a me perguntar sobre seus sentimentos. Será que por me deixar descansar em seu colo, ela esteja tentando, mesmo que só um pouquinho, atrair meu interesse?

Não faço a mínima ideia—ela está inexpressiva como sempre quando casualmente olho para ela.

"…Mogi-san"

"O que foi?"

"No que você está pensando nesse momento?"

"Hã?"

Mogi-san inclina sua cabeça, mas não parece ter uma resposta. Sua única reação à minha pergunta é um olhar pasmo.

Isso me faz pensar—se é tão difícil de reconhecer os sentimentos da minha parceira, o amor pode mesmo progredir?

Por que me apaixonei por uma garota tão difícil?

Sério—quando foi mesmo que me apaixonei por ela?

Tento lembrar.

"............Hã?"

"...Qual é o problema?" a Mogi-san pergunta assim que ouve minha confusão.

"N-Não...nada!"

Meu rosto provavelmente não está sinalizando "nada." A Mogi-san nota isso. Mas já que não tem a habilidade social necessária para me perguntar sobre isso, ela continua em silêncio e se abstém de dizer qualquer coisa.

Me levanto sem avisar à Mogi-san.

"Ah, hum...parece que meu sangramento parou."

"...hum."

Nossa conversa acaba com essas simples palavras.

Por que eu abandonei voluntariamente uma situação tão maravilhosa? Talvez nunca mais tenha outra chance de ser tão feliz.

Mas—é impossível.

Porque não importa o quanto eu tente—não consigo lembrar.

Não consigo lembrar. Não consigo lembrar. Não consigo lembrar!...Não consigo lembrar quando foi que me apaixonei por ela!

Por que me apaixonei? Qual foi o motivo? Ou eu simplesmente fiquei atraído por ela antes de perceber, mesmo sem algo especial ter acontecido?

Eu deveria saber disso; como poderia esquecer? Mas...não consigo lembrar, não importa o quanto eu tente.

Não foi amor à primeira vista, e não temos nada em comum além do fato de sermos colegas.

Ainda assim, por que isso aconteceu do nada? Não pode ter sido um despertar completamente espontâneo do amor, pode se—

"—sem chance..."

Mesmo sendo difícil de acreditar, é a única coisa que consigo pensar. Um despertar completamente espontâneo do amor.

"O que foi? Você está bem?...Quer ir à enfermaria?"

A Mogi-san sugere de forma calma como sempre. É claro que estou muito feliz por ela estar preocupada comigo. Simplesmente feliz. Esse sentimento não é falso.

"...Estou bem. Estava apenas pensando sobre algo."

Repetidamente me pergunto se isso é algum tipo de engano. Mas quanto mais penso, mais verdadeiro parece.

Eu não estava atraído pela Mogi-san.

Até quando? Certo—

Eu não estava atraído por ela até ontem.

"—Ah, entendo."

Olho para a Aya Otonashi, a aluna transferida que está simplesmente parada perto do meio do pátio.

Quando aconteceu o evento que me fez atraído pela Mogi-san? —ah, isso é fácil. Não foi ontem. Mas hoje já estou apaixonado. Então quando foi?

Só há uma opção—num intervalo de tempo entre ontem e hoje.

Durante os mais de 20,000 loops que aconteceram graças à Sala da Rejeição.

Ah, lembrei. Apenas uma parte, mas provavelmente lembrei mais do que o normal. Porém, ainda é só uma parte, então a maioria das minhas lembranças continuam perdidas.

Perdi minha lembrança mais importante—como me apaixonei pela Mogi-san. E definitivamente não recuperarei essa lembrança. Não posso dividir nada com a Mogi-san. Um amor não correspondido pelo qual não posso fazer nada, não importa quanto tempo passe; apenas meus sentimentos ficarão mais intensos.

Não, pode ser mais que isso. Esse amor pode desaparecer assim que a Sala da Rejeição findar. Digo, esse amor não devia nem existir sem a presença da Sala da Rejeição.

Que estranho. Estranho demais. Esse amor não é mentira.

Ainda assim, esse amor é uma falsidade que não pode existir sem a caixa?

Uma súbita rajada de vendo sopra. Ela levanta a saia da Mogi-san. Me pergunto por que tenho um vago sentimento de que já vi essa calcinha azul claro?

Não, ela com certeza me é familiar.

Sei que a Mogi-san está vestindo calcinhas azul claro hoje.

Assim como sei que a Aya Otonashi sacrificou a Kasumi Mogi mais do que ninguém para manter suas próprias lembranças.


Portanto, eu decido—

Defender essa Sala da Rejeição.



Dessa vez, a Aya Otonashi não se aproxima de mim primeiro.

Na verdade, a mesma coisa deve ter acontecido durante o último loop. Minhas lembranças são vagas, mas acho que essa situação vem persistindo faz um tempo.

A Aya Otonashi está comendo sozinha durante o intervalo do lanche, mastigando seu sanduíche com bastante exaustão.

Dessa vez sou eu quem se aproxima.

Só por causa disso, meu corpo se enrijece e meu coração acelera. A rejeição de terceiros da Otonashi-san tornou-se uma enorme barreira, poderosa o bastante para aplicar uma pressão por si só.

"…Otonashi-san."

Me preparo e a chamo. Porém, a Otonashi-san nem ao menos se vira. Desta distância, não tem como ela não ter me escutado, então continuo.

"Quero discutir algo."

"Eu não."

Ela me rejeita sem ao menos me olhar.

"Otonashi-san."

Sem reação. Ela apenas continua mastigando sem vontade o seu sanduíche.

Parece que ela planeja me ignorar não importa o que eu diga. Nesse caso eu simplesmente tenho que tornar impossível que ela me ignore.

O gatilho certo dispara na minha mente depois de pensar um pouco.

"…Maria."

Os movimentos de mastigadas da sua boca param.

"Quero discutir algo."

Ela ainda não olha para mim. Também não diz nada.

Não se ouve um piu na sala de aula. Todos os nossos colegas estão olhando para nós enquanto prendem a respiração.

A Otonashi-san parece finalmente perder sua paciência e suspira.

"Nunca achei que você diria esse nome. Parece que lembrou bastante dessa vez."

"É, por isso—"

"Ainda assim, não há nada para se discutir com você."

Mais uma vez ela começa a mastigar indiferentemente seu sanduíche.

"Por quê?!"

Meus colegas so focam em mim já que começo a gritar subitamente.

"Por quê?! A pessoa com a qual você tem de lidar não sou eu?! Então por que nem tenta me dar ouvidos?!"

"Por que, você pergunta?" ela zomba. "Você não sabe mesmo? Ha! Olha o quão estúpido você está sendo de novo. Nunca pensa por si mesmo. Por que eu deveria me juntar à alguém assim?"

"...Eu não sei como me comportei antes."

"Antes? Que babaquice. Qual é a diferença em você agora? Você é o mesmo!"

"Como pode ter tanta certeza? Talvez eu ofereça minha ajuda. Nesse caso—"

"Basicamente não importa."

A Otonashi-san cospe essas palavras sem nem mesmo me deixar terminar.

Estou prestes à retrucar instintivamente. Mas essa oportunidade é enterrada pela próxima frase da Otonashi-san.

"Porque você já não fez essa proposta apenas duas ou três vezes."

"Hã—?"

Estou tão pasmo que meu queixo cai. Curvando suavemente sua boca para cima, a Otonashi-san embrulha seu sanduíche já pela metade e diz:

"Muito bem. Sou forçada à gastar meu tempo em muitas coisas inúteis mesmo. Essa não é a segunda ou terceira vez que estou lhe dando essa explicação, mas vou dizer mesmo assim."

A Otonashi-san se levanta e começa a se afastar.

Não tenho escolha a não ser seguí-la sem reclamar.



Como sempre, ela me leva à parte de trás da escola. E como sempre, a Otonashi-san se recosta na parede.

"Já deixo avisado. Não vou conversar com você. Você apenas escutará minhas palavras como um idiota."

"...Deixa que eu decido isso."

Digo para parecer um pouco rebelde, mas a Otonashi-san apenas me lança um olhar frio.

"Hoshino, você sabe que iteração é essa? Não, não sabe. Esta é a 27,753ª iteração."

Esse número é grande demais.

"...você contou um por um?"

"Sim, já que não há como confirmar o número se eu parar de contar nem que seja só uma vez. Se eu esquecer disso, vou me perder. Por isso, continuo contando sempre."

Certamente é um pouco relaxante saber quantos passos você já deu em rumo a um destino desconhecido.

"Eu repeti tudo tantas vezes. Já tentei quase todos os meios para me aproximar de você. Não consigo nem mesmo imaginar algo que eu não tenha tentado."

"Por isso acha que conversar comigo é inútil?"

"É."

"Não está nem tentando me convencer à entregar a caixa para você?"

"Já desisti disso faz muito tempo."

"Por quê? Em algum ponto dessas recorrências, eu devo ter cooperado ao menos uma vez."

"Sim, claro. Houveram iterações em que você me tratou com hostilidade, e também houveram vezes que você cooperou. Mas sabe de uma coisa? Não importa. De qualquer jeito, você nunca me entrega a caixa."

Eu não entreguei a caixa mesmo quando cooperei?...bem, é óbvio. Eu não estaria aqui "agora" se a Otonashi-san obtivesse a caixa.

"Apenas para confirmar: você tem certeza que eu tenho a caixa, certo?"

"Isso foi motivo de debates internos constantes. Mas minha conclusão é sempre a mesma. Kazuki Hoshino é, sem dúvidas, o proprietário."

"Por que acha isso?"

"Não há tantos suspeitos como você acha. A explicação toda levaria muito tempo, então vou resumir: é impossível para os poucos suspeitos plausíveis me enganarem todas essas 27,753 vezes. Assim sendo, você é o único proprietário possível. Além disso, há evidências circunstanciais indiscutíveis não relacionadas à Sala da Rejeição, certo?"

Ela está certa—eu já encontrei o distribuidor da caixa antes—'*'.

"Ainda assim, você nunca entrega a caixa. Ou melhor, não pode. Marquei você como o proprietário há mais de 20,000 iterações atrás."

"Então você desistiu?"

Essa Otonashi-san que não mede esforços para conseguir a caixa?

"Não desisti. Apenas não posso obtê-la. Digamos que você está procurando por uma moeda de 100 ienes que deveria estar na sua carteira, mas não pode achá-la não importando quantas vezes revire sua carteira. Procurar por cada canto da carteira é fácil. Ainda assim, não consegue achar a moeda. Nesse caso você tem que concluir que a moeda não está mais lá. Desse mesmo jeito, entre essas 27,753 recorrências eu concluí que 'não posso obter a caixa do Kazuki Hoshino'."

A Otonashi-san me encara por um momento e se vira.

"Pois então, o espetáculo acabou. Ainda quer dizer algo?"

"...Sim! Era por isso que queria falar com você só para começar."

Tenho que dizer.

Eu decidi. Decidi defender a Sala da Rejeição.

A Otonashi-san, que já matou a Mogi-san incontáveis vezes, a farei—

"Farei de você, Otonashi-san, não, Aya Otonashi—"

"—uma inimiga?"

"—hã?!"

Ela previu facilmente minha jogada astuta. E ainda está desinteressada e quer me ignorar.

Quando percebe que estou sem palavras e chocado do fundo do coração, a Otonashi-san solta um suspiro. Ela relutantemente se vira à mim.

"Hoshino, ainda não entende? Quanto tempo acha que eu passei com você, meu caro idiota? Esse é apenas outro padrão que eu já repeti o bastante para enjoar. Não há como eu não identificá-lo, não acha?"

"O-O quê—"

Já fiz essa jogada imprudente tantas vezes assim?

Por que foi tão inefetiva toda vez?

"A propósito, deixe-me dizer algo mais. Mesmo que suas crenças formem sua decisão de me opor, e você tente manter essas lembranças a cada iteração: no fim você abandonaria sua oposição. Tenho certeza."

"N-Não tem—"

Afinal, isso significaria que eu concordaria com ela matando a Mogi-san; que eu escolheria apagar meus sentimentos pela Mogi-san.

"Não acredita em mim? Quer que eu diga a razão que o fez ir contra mim tantas vezes antes?"

Mordo meus lábios.

A Otonashi-san considera a conversa acabada e se vira.

"Seus valores conseguiram durar mais de 20,000 repetições sem problemas. Lhe admiro por isso."

Espontaneamente levanto minha cabeça.

Ela acabou de me "reconhecer"? A Otonashi-san?

"Espera aí."

Há algo mais que tenho de perguntar, não importa o quê.

A Otonashi-san vira sua cabeça para mim.

"Você parou de tentar recuperar a caixa de mim, certo?"

"Sim. Não disse isso?"

"Então...o que planeja de agora em diante?"

A expressão da Otonashi-san não muda. Ela ainda olha diretamente à mim sem desviar seus olhos.

Seu olhar extremamente direto me força à baixar a cabeça em resposta.

"Ah—"

Naquele instante...a Otonashi-san se afastou sem dizer mais nada.

Sem ter respondido minha pergunta.



A Otonashi-san não voltou à sala de aula mais tarde—talvez foi para casa.

Minha aula do quinto período é matemática. Não consigo entender as fórmulas de primeira, mesmo que provavelmente já as tenha visto incontáveis vezes. Em vez disso, observo a Mogi-san o tempo todo.

Vou mesmo abandonar a Mogi-san? Vou mesmo me desfazer dos meus sentimentos por ela por vontade própria?

Não. Isso é impossível. Não importa o que meu eu passado pensou.

Meu eu atual não desistirá da Mogi-san. Isso é tudo que importa.

O quinto período acaba.

Imediatamente me dirijo à Mogi-san. Ela me nota e me olha com seus olhos de amêndoas. Meu corpo endurece como uma pedra. Meu coração perde seu ritmo.

Apenas por olhá-la. Isso demonstra que o que estou prestes à dizer à ela é mesmo especial.

É uma ação que eu nunca tomaria no meu dia-a-dia.

Mas não é minha culpa. Não consigo pensar em nenhum outro jeito de manter minhas lembranças.

Não consigo pensar em nenhum outro método a não ser me confessar à Mogi-san.

"…Mogi-san"

Acho que estou fazendo uma cara bem estranha agora. A Mogi-san me olha curiosamente e inclina sua cabeça.

"Err, há algo que eu gostaria de—"


'Por favor espere até amanhã.'


"—ah"

Uma imagem passa pela minha mente. Uma voz começa a repetir na minha mente arbitrariamente. Tenho uma sensação tão clara e viva, machuca como se um vidro perfurasse meus olhos, orelhas e cérebro.

Meu peito bate agressivamente como se estivesse sendo martelado por uma marreta.

N-Não—

Não quero lembrar. Mesmo não querendo lembrar. Mesmo querendo ter apagado essa lembrança repetidamente, ela não desaparece. Mesmo eu conseguindo esquecer qualquer outra lembrança, não importe o quão significante, essa eu não consigo esquecer.

É, isso mesmo—

Muito tempo atrás—eu já me confessei à Mogi-san.

"...qual é o problema?"

"......desculpa, não é nada."

Crio uma pequena distância entre nós. A Mogi-san levanta suas sobrancelhas suspeitando, mas não me pergunta mais nada.

Retorno ao meu lugar e deixo a parte de cima do meu corpo repousar sobre a mesa.

"......entendo."

Parando para pensar, é óbvio. Afinal, eu já repeti esse dia mais de 20,000 vezes.

Me confesso à Mogi-san. Mas esqueço. Então confesso de novo. E esqueço de novo. À fim de resistir a Sala da Rejeição, fiz essa confissão que nem queria fazer, de novo e de novo e de novo, e sempre acabei esquecendo.

E sempre recebi a resposta que eu mais queria não ouvir.

É sempre a mesma. Sempre a mesma resposta. Bem, não há como ela mudar. A Mogi-san não pode manter suas lembranças e então sua respostas não pode mudar também.

Aquela resposta—

"Por favor espere até amanhã."

Que horrível. Esse amanhã do qual você fala nunca chegará.

Cheguei até uma resolução inigualável, reuní a coragem que normalmente não seria capaz de reunir, forcei meus nervos ao limite—mas no fim, minhas sinceras palavras desapareceram completamente no esquecimento. E então sou forçado à interagir com a Mogi-san, que já esqueceu minhas confissões incontáveis vezes.

...Entendo. Elas não se tornam siplesmente vazio.

Não havia nada só para começar.

Esse mundo estava vazio desde o início. Não há valor nenhum em um mundo onde tudo que acontece se torna vazio. Há menos valor ainda à ser encontrado nas coisas bonitas, coisas feias, coisas preciosas, coisas comuns, coisas amadas, coisas odiadas.

Por essa razão nada existe. Há apenas o vazio.

O vazio ilusório chamado de Sala da Rejeição.

Me sinto nauseado. Estou sendo forçado a respirar num ambiente terrível. Enquanto sinto a vontade de esvaziar os meus pulmões, não consigo, já que não conseguiria mais continuar vivendo aqui. Não posso viver sem respirar. Mas se continuar a respirar no vazio, meu corpo se tornará vazio também. Me tornarei tão oco quanto uma esponja.

Ou—já é tarde demais para mim há tempos, já me tornei vazio?

"Qual é o problema, Kazu-kun? Está passando mal?"

Ouço uma voz familiar, levanto minha cabeça lentamente enquanto ainda estou jogado na minha mesa. A Kokone está na minha frente com um rosto sério.

"Seu nariz sangrou durante a E.F., certo? É por causa disso? Se não está se sentindo bem, não deveríamos ir à enfermaria?"

"Não precisa se preocupar com ele, Kiri. Aposto que a origem da sua doença é o colo no qual ele dormiu ao invés do sangramento nasal," diz o Daiya. Não notei ele, mas acho que ele já estava por perto.

"Colo...?...ah! Entendo! Então é isso! Ah, doente de amor..."

Então ela sorri e me dá um tapa de encorajamento no ombro.

"Seu...! Quem diria?! Isso não é atrevido demais para você? Não vai se envolver com algo tão maduro como o amooor."

"Seduzido por algo tão comum—ridículo."

"N-Não! Eu sempre amei—"

Paro antes de terminar. Foi um deslize verbal bem sério. Pra começar, eu admitiria meus sentimentos pela Mogi-san nesse deslize, mas além disso—

"Hã? Você não sentia nada demais pela Mogi até ontem, não é?"

—não seria verdade.

Na verdade, eu me apaixonei por ela hoje. Foi algo súbito da minha parte, pelo menos aos olhos do Daiya e todos os outros. É por isso que ninguém sabia do meu agrado por ela, mesmo que minha atitude deixe bem claro.

"Ei ei, Daiya, parece que esse cara acabou de admitir seu amor não correspondido pela Kasumi. Uhihi."

A Kokone sorri e cutuca o Daiya com seu cotovelo.

"É. No melhor dos cenários isso pode me proporcionar algum entretenimento."

"Uhehe...o amor dos outros é divertido afinal de contas! Hum, hum. Não se preocupe. A Onee-chan aqui te apoia! Lhe darei conselhos e ajuda quando quiser! Se levar um pé-na-bunda, vou até te consolar! Mas se você conseguir, vou matá-lo, porque vou ficar irritada."

"Não se preocupe. Quando os dois começaram a namorar, vou roubá-la dele."

"Uwaa, isso soou legal! A má sorte dos outros e triângulos amorosos confusos! Esplêndido!"

Esses dois são mesmo cruéis, ignorando minha condição depressiva.

Bem, felizmente o XX não está aqui. Se estivesse, ele usaria essa oportunidade e guiaria a conversa para um rumo que acabasse em—

"—hã?"

"Hum? O que foi, Kazu-kun?"

"Nada, só que...estava pensando onde ele está. Não veio hoje?"

"Está falando de quem?" Daiya pergunta com um olhar suspeito.

Estranho. Achei que o Daiya saberia de quem eu estou falando assim que disse aquilo.

"Não sabe? Claro que é do—"

—err, quem mesmo?

Hã? Espera aí! Estou...estou quase dizendo o nome dele. Então por que me esqueci não só do seu nome, mas também seu rosto?

"...Kazu-kun? O que foi? De quem estava falando?"

Me sinto mal, como se tivesse engolido algo meio-líquido e gosmento que me faz querer arrancar meu esôfago. Mas tenho sorte de ainda ser capaz de sentir esse nojo. Se eu houvesse engolido completamente e excretado, então o XX desapareceria.

"E-Ei...Kazu-kun!"

Sem problemas. Consigo lembrar tudo. Consigo lembrar graças àquele nojo que senti.

"?—Haruaki"

O nome do meu querido amigo. A companhia que jurou ser meu aliado para sempre.

...Estou meio perdido, mas ainda tenho esperança. Esperança de que fui o único que esqueci do Haruaki por alguma razão. Mas eu sou mesmo um idiota. Essa esperança—

"Ei, Kazu. Quem é esse 'Haruaki'?"

—acabou de morrer.

Aperto meus dentes assim que tenho essa incômoda sensação. O Daiya e a Kokone me encaram por meu comportamento estranho.

Esses dois esqueceram dele—mesmo sendo seus amigos de infância, eles o conhecem há muito mais tempo que eu.

O fato de que o "Haruaki" não existe aqui é cravado em mim sem misericórdia, e—

"Vou para casa."

—causa uma ferida fatal.

Levanto, pego minha mochila, me viro para eles e saio da sala.

Não aguento mais ficar aqui.

Por que o Haruaki não está aqui?

Sei porque. Sei que o Harukai foi "rejeitado".

Por quem? Isso é óbvio. Ele com certeza foi "rejeitado" pelo protagonista que criou essa Sala da Rejeição.

Entendi tudo errado. Achei que a Sala da Rejeição preservaria o fluxo da vida cotidiana para sempre. Que idiotice. Não há como as coisas funcionarem assim. A vida cotidiana é chamada de vida cotidiana porque flui continuamente. Se você parar o fluxo de um rio, então a lama se juntaria e o pintaria de preto. É a mesma coisa. Os sedimentos se reuniram aqui também.

Aah, entendo. Acho que já presenciei esse fenômeno muitas vezes. Não importa quantos loops eu aguente, sempre rediscubro esse fato. E então paro de me opor à Aya Otonashi.

A Aya Otonashi destruirá a Sala da Rejeição.

E sabendo o que sei agora, por que a pararia?

O sinal soa. A maioria dos meus colegas deve ter retornado à seus lugares agora.

Então antes de deixar a sala de aula eu me viro.

Lugar vazio. Outro lugar vazio. Mais um lugar vazio. E outro lugar vazio bem ali. Aah...já percebi isso, mas ninguém mais acha estranho o enorme número de lugares vazios.



Eu provavelmente poderia ter descoberto antes, mas eu não descobri porque não queria admitir.

A Aya Otonashi concluíu que é impossível recuperar a caixa de mim.

Deveria ser bem fácil acabar com a Sala da Rejeição assim que se identifica o culpado. Ela vivei mais de 20,000 iterações à fim de recuperar a caixa.

Então...o que devo fazer?

Não é óbvio?


Meus membros se contorcem enquanto sou atropelado pelo caminhão. É meio cômico ver minha própria perna direita longe de mim no chão.

"Então acaba aqui..."

Eu fui "morto". Eu deixem me matarem.

"27,753 recorrências sem sentido. Então todo esse tempo acaba em esforços jogados fora? Tenho que... tenho que admitir que até mesmo eu estou me cansando."

Para ser preciso, não estou morto ainda. Mas repousando em uma piscina de sangue, eu sei: vou morrer. Não vou ser resgatado. E fui mesmo morto por ela.

"Ugh...! Gastei essa quantidade enorme de tempo e é isso que eu ganho. Nunca odiei tanto minha incompetência como agora...!" Ela murmura com um arrependimento amargo.

"...vamos andando. Já que não consegui achar a caixa aqui, apenas tenho que procurar a próxima."

Os olhos da Aya Otonashi não estão mais me percebendo. Não, aqueles olhos nunca me perceberam direito só para começar.

Do início até o fim a Aya Otonashi esteve apenas olhando para a caixa dentro de mim.

Esse dia também irá se tornar "vazio"? Não, não vai. Se a caixa chamada Sala da Rejeição está dentro de mim, ela será esmagada quando eu morrer. E como minha carne foi esmagada pelo caminhão, essa caixa já está esmagada também.

Esse dia não se repetirá mais.

Aah, que ironia. Se esse fosse o único jeito de acabar com a Sala da Rejeição, então morte era a única coisa predestinada desde o início. Bem, claro que é vazio. Esse mundo com certeza era—o mundo após minha morte.

Mas com isso, nossa luta chega ao final.

Foi uma luta unilateral sem reviravoltas, mas chegou ao seu fim.


É...é isso que você acha, não é? Otonashi-san?


Sinto pena de você. Sinto mesmo, Otonashi-san!

Acho que é por ter me ignorado tanto. Não teria se enganado de outro jeito.

Por isso você desperdiçou tanto tempo.

Escute, Otonashi-san. É bem simples se parar para pensar. Não tem como uma pessoa normal como eu ser o protagonista.

Quero dizer isso à ela, mas não posso mais fazer isso. Não consigo nem mesmo mexer minha boca.

Minha consciência desaparece. Eu morro.

E isso—não acaba com nada.


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