Toaru Majutsu no Index:Volume14 Capítulo1

From Baka-Tsuki
Jump to navigation Jump to search

Capítulo 1: Uma Taxa de Mudança rápida demais. Em_Um_País_Distante.[edit]

Parte 1[edit]

O 3° Distrito da Cidade Acadêmica possuía várias salas de exposições internacionais.

O 23° Distrito, era uma ferrovia cuja levava direto para a entrada da cidade quando vindo de outro país. Havia muitas facilidades para turistas no distrito, e a qualidade dos hotéis lá era a das melhores em toda a Cidade Acadêmica. As instalações de hóspedes foram colocadas longe do aeroporto do 23° Distrito, assim eles não seriam incomodados pelo barulho dos aviões.

No 23° Distrito sempre ocorria muitos eventos.

Havia um show de motor no qual continha o melhor da tecnologia de automobilística, um show de robôs mostrando peças de pura engenharia mecânica, e muitos outros. Mas essas exibições não eram somente para diversão; seu objetivo era promover a tecnologia mais recente da Cidade Acadêmica, tecnologia essa que o Conselho julgava de nível aceitável para ser usado fora da cidade. Elas eram colocadas em exposição e a companhia estrangeira que desse o maior valor era escolhida (A Cidade Acadêmica não "procurava" por eles, eles simplesmente "escolhiam"), e esta companhia pagaria grandes quantidades pela tecnologia.

E nesse dia, havia um evento específico.

As muitas tecnologias em exposição eram helicópteros de ataque não tripulados, os mais recentes exoesqueletos[1], um aparelho que dispara raios ultra-violeta do qual era uma arma de alta-potência que usava um determinado tipo de luz para ferir, matar e até mesmo usado em bombardeios aéreos.

O evento era chamado de "Show Interceptor", assim, nada muito perigoso seria exposto.

— Faaa.

Ouve-se um suspiro profundo.

Pertencia à Yomikawa Aiho, retirava o capacete do exoesqueleto em que estava, próxima à cúpula da sala de exposição internacional.

Normalmente ela vestia uma camisa antiquada sobre seu corpo, isso a destacava e fazia os jovens ficarem incomodados, mas ela parecia estranhamente de bom humor vestindo o volumoso exoesqueleto.

— Está muito quente… Por que demonstrar um exoesqueleto é tão cansativo?

Enquanto segurava o capacete em seus braços e olhava as mulheres em roupas de trabalho próximas à ela, Yomikawa parecia cansada com o que estava fazendo. Esta mulher fazia parte da equipe de desenvolvimento de exoesqueletos, então seria normal ela vestir um jaleco branco. Graças a isso, as roupas de trabalho não combinavam com ela, assim como as roupas das crianças no festival de Shichi-Go-San[2].

— Não se preocupe, não é só com você. A sala de exposição inteira está quente.

No seu colo, a engenheira tinha um laptop com um cartão que parecia com um celular fino preso na lateral. A tela do laptop mostrava detalhes do exoesqueleto.

— Isso não ajudou muito.

— Eu não disse com essa intenção.

— A propósito, porque tem tantas pessoas em um evento como esse num dia da semana? Essa sala não está ultrapassando o limite?

— Hoje as pessoas trabalham, então não tem muitas pessoas. Amanhã será aberto ao público, será um verdadeiro inferno.

— Isso me ajudou menos ainda!

— Eu não disse com essa intenção.

Yomikawa ficou desanimada com as palavras da engenheira e pôs o capacete no chão.

O capacete media cerca de 50cm (20 polegadas) de largura. Parecia que você poderia colocá-lo na parte superior dos robôs em forma de tambor que vagavam pela Cidade Acadêmica. Os outros exoesqueletos pareciam mais como uma versão um pouco mais espessa dos exoesqueletos ocidentais, o que fazia a cabeça parecer enorme.

— Ahh. Eu acho que vou tirar tudo.

Quando ela disse isso, Yomikawa começou a sair pelo pescoço do exoesqueleto que estava agora sem capacete. Dentro do exoesqueleto, ela estava usando uma roupa preta semelhante a que as forças especiais usam.

Ela sentou-se e ficou encostada no exoesqueleto imóvel, abanando seu rosto com sua mão.

— Realmente, por que temos que vestir roupas blindadas dentro dessas coisas? Vocês não conseguem criar uma roupa especial para operar um exoesqueleto que seja um pouco mais respirável?

— Bem, então você deveria ter apoiado a sugestão do chefe do projeto, assim você sairia num biquíni sexy. Teria ganho um grande aplauso da imprensa.

A voz monótona da engenheira dizendo isso, fazia soar que ela não estava muito preocupada.

Yomikawa limpou o suor no seu rosto com uma toalha.

— Aliás, por que o chefe parece tão empolgado enquanto fala de ter uma mulher apresentando o exoesqueleto?

— Ele tem uma coisa por mulheres que fazem esse tipo de coisa. Uma coisa pobre.

— E por que ele acha que alguém como eu faria uma coisa dessas? Eu sou quase a mulher menos refinada no Japão. Alguém cometeu um

grande erro me escolhendo.

— Deve ser difícil ser da Anti-Skill. Você fica com mais trabalhos estranhos do que um membro da JSDF.

— Só ficamos com essas coisas quando não há nada mais a fazer. Então fazer algo assim mostra como as coisas estão pacíficas.

Yomikawa parou de falar e olhou em volta.

Todas as cabines ao seu redor exibiam várias ferramentas utilizadas para matar pessoas.

Antigamente, todas as armas exibidas nesses eventos davam a entender que foram criadas para parar um esper furioso, fazendo o menor dano possível. Mas desta vez havia um tanque e, próximo a ele, uma poderosa arma capaz de atirar no tanque e matar alguém atrás dele.

(Só consigo pensar em uma coisa que explicaria essa repentina mudança de foco...)

Yomikawa olhou para o laptop que a engenheira estava usando. Não só mostrava os dados do exoesqueleto de quando Yomikawa estava fazendo a apresentação, também havia uma pequena janela mostrando um programa de televisão.

Era um programa de notícias e o apresentador estava lendo as notícias recentes.

— Hoje, pouco antes do amanhecer no sul da França, um protesto religioso de grande escala eclodiu na cidade industrial de Toulouse.

Vários quilômetros de uma estrada que corre ao lado do Rio Garonne que leva ao centro da cidade foi sobrecarregado por uma multidão. O tráfego agora bloqueado, está tendo um grande efeito na infraestrutura da cidade.

As imagens gravadas mostravam a cidade escura iluminada por chamas de tochas enquanto um grande número de pessoas marchavam.

Podia serem vistos homens e mulheres segurando banners com declarações de raiva escritas em francês e jovens incendiando posters da Cidade Acadêmica.

Eles estavam participando de um protesto; não era uma multidão fora de controle. Mesmo assim, a visão de dez mil pessoas irritadas marchando era intimidante.

— Suas ações estão focadas onde há vários carros de companhias Japonesas. É presumível que isso seja uma demonstração de oposição contra a Cidade Acadêmica. Cerca de 80% da França diz serem Católicos Romanos, então a mesma coisa pode estar acontecendo em outros países.

Mesmo assim, poderia facilmente ser pior.

Enquanto Yomikawa olhava a tela, as notícias da manhã apareceram novamente.

— No centro da cidade alemã, Cidade de Dortmund, uma escavadeira que teria sido roubada chumbava a Igreja Católica Romana e 9 padres ficaram feridos. Pensa-se que foi em resposta à série de protestos sendo feitos, mas até então ninguém se apresentou alegando está por trás do crime. Os receios de que os conflitos entre a Igreja Católica Romana e a Cidade Acadêmica piorem estão se espalhando.

Ela já tinha visto essa notícia, mas ainda a incomodava.

Era como uma uma pequena faísca se espalhando para um monte de palha. O movimento do mundo havia mudado drasticamente nesses últimos dias. As manifestações pelo mundo feitas pela Igreja Católica Romana e as muitas reações exageradas a eles estavam tomando rumo.

E, quase como se em resposta a tudo isso, a Cidade Acadêmica estava agora fazendo eventos com armas.

À primeira vista, poderia ser considerado que o Conselho estava oficialmente dizendo que eles não perderiam para as manifestações.

(Mas tudo está sendo feito com muita eficiência.)

Desenvolver armas não era a mesma coisa que fazer bonecos. Você tem que se aplicar ao trabalho, calcular o orçamento estimado de novo e de novo, tendo o examinado, cria um modelo de testes, constrói parte por parte, e faz simulações dezenas de milhares de vezes. Só então quando encontrar bons resultados você poderá finalmente lançar como um "produto".

Poucos dias atrás as manifestações começaram a piorar.

Não era hora de entrar em um processo de desenvolvimento que normalmente leva anos.

Isso significa que…

(A Cidade Acadêmica já estava preparada. Eles previram que isso aconteceria e decidiram se preparar para tomar controle do resultado em vez de parar do começo.)

— Droga, Yomikawa murmurou.

Pode não ter sido a Cidade Acadêmica que puxou o gatilho da guerra. Mas era claro que eles estavam tirando o melhor da situação.

A engenheira cuja o laptop pertencia limpou o suor de sua testa usando sua manga da camisa e olhou desinteressada para as notícias na tela.

— Está em todos os canais. Em horas como essa que eu desejo assinar canais que só passam programas variados.

— …O que você acha dessa situação?

— Bem…

A engenheira pesquisadora do desenvolvimento de armas deu um profundo suspiro.

— Eu não gosto de trabalhar demais. E ter que pôr horas extras não pagas é pior ainda.

— Esta exposição está muito diferente das anteriores?

— Sim, o chefe está muito entusiasmado com essa. Ele disse algo sobre a necessidade de derrubar a ideia de que ser um contratante militar é horrível, assim teremos um novo mercado para trabalhar. Também disso que é uma ótima época para desenvolver armas. Ele tem trabalhado muito ultimamente, esses dias até joguei um pouco de gelo nele para tentar esfriá-lo.

— É fácil de perceber que a tecnologia mostrada aqui não é para vender para empresas de fora. Então de fato, isso é um exercício militar.

Nós estamos apenas mostrando nossas armas ao "inimigo" como uma ferramenta diplomática.

— As empresas com que estamos tentando negociar não vão receber as coisas assim como estão aqui. Assim como as rifles em lojas são vendidas sem a função de automático, essas armas serão vendidas depois de reduzidas à 3 ou 4 camadas. No fim, as armas são vendidas

como as criadas por tecnologia de fora da Cidade Acadêmica.

Yomikawa olhou para alguns homens de terno que estavam conversando um pouco longe do palco.

— Além disso, estão vendendo para organizações de vários países que ajudam a Cidade Acadêmica licenças para criarem as peças dos núcleos das armas. Só precisam nos informar quantas eles farão e onde instalarão. Francamente, por que a Cidade Acadêmica está indo tão longe por dinheiro?

— Com bastante fundos poderíamos produzir em massa armas ridículas de poderosas. O chefe estava dizendo sobre um robô gigante que poderia viajar através do espaço. Ele provavelmente escolherá um adolescente para pilotá-lo.

— …Você não parece muito motivada.

— Nem um pouco.

Parte 2[edit]

Não tinha como Yomikawa Aiho saber, mas no centro de todo esse conflito estava um único garoto.

Kamijou Touma.

Além de seu poder especial, Imagine Breaker, ele era só um estudante normal. Mas se o que o "Assento Direito de Deus" disse for verdade, ele fez um inimigo de 2 bilhões de pessoas. Quando ele pensava nas coisas que se envolveu em poucos meses atrás e como havia as resolvido pouco a pouco, não era tão surpreendente assim.

Mas agora, onde estava Kamijou Touma, o garoto no meio deste conflito?

— Vocês podem me explicar por que fizeram o que fizeram?

Estava tomando bronca de uma professora alta na sala dos professores.

Na verdade, Kamijou não era o único tomando bronca. Aogami Pierce e Tsuchimikado Motoharu estavam alinhados próximos a ele.

E atrás desses três estava Fukiyose Seiri, a qual o rosto nervoso parecia perguntar porque ela também estava lá.

A sala dos professores era cheia de mesas de metal desordenadas, lotadas de objetos. Estava na hora do recesso de almoço, então havia muitos professores lá. Alguns estavam comendo seus bentôs, outros corrigindo testes, e outros estavam em cavalos eletrônicos que se moviam, os quais tinham o intuito de ajudar a controlar o peso dos mais baixos.

Dentre eles, uma professora não estava fazendo nada disso. Em vez disso, Oyafune Suama estava sentada em uma cadeira giratória barata, cruzando suas pernas nas quais usava uma meia-calça bege. Penteava seus cabelos negros que pareciam tão duros quanto metal, encarando Kamijou e os outros com um olhar afiado através de seus óculos de triângulo invertidos, possivelmente de uma marca cara.

— Vou pedir novamente que me explique, porque vocês estavam tendo uma briga cheia de socos e almas ardentes nesse lugar de aprendizado?

Ela só escutou o silêncio.

O apresentador de notícias podia ser ouvido da TV que estava na parede.

— Como um resultado das seguidas demonstrações e protestos, a liga de futebol italiana anunciou que o jogo desta manhã foi cancelado por segurança.

— Vocês não conseguem explicar?

Aquela nervosa professora de matemática que não usava nenhuma roupa que não fosse de marca era bem conhecida na escola por ser rigorosa em relação à disciplina. A turma de Kamijou não tinha aulas com ela, então eles nunca cruzaram caminhos antes, mas ela havia apanhado-os hoje.

A professora encarregada da classe de Kamijou era Tsukuyomi Komoe, mas nem mesmo ela podia acompanhar o que estava acontecendo na sala de aula durante o recesso de almoço. Oyafune Suama estava passando pela sala quando eles estavam brigando, e os arrastou para a sala dos professores.

Depois de um tempo, Kamijou, um dos três idiotas, começou a falar.

— Mas...

Seu olhar estava cheio de determinação.

— Mas Aogami Pierce e eu estávamos discutindo se garotas de coelhinhas vermelhas ou pretas eram melhores. Então Tsuchimikado veio com uma besteira dizendo que coelhinhas brancas são as melhores!

Suama caiu da cadeira, com um grande estrondo.

O estrondo chocou Kamijou, mas parece que o seu comentário chocou ainda mais a professora de óculos.

A professora de matemática desviou seu olhar dos três idiotas para Fukiyose Seiri, que estava atrás deles.

— N-não me diga que você também tomou parte nessa discussão tola.

— Eu só estava tentando fazer esses idiotas calarem a boca! Por que eu tive que ser arrastada para cá também?

As veias na testa de Fukiyose saltaram enquanto ela gritava.

Quando Oyafune pisou na sala de Kamijou, Fukiyose estava segurando Tsuchimikado em uma chave de pescoço, chutando Aogami Pierce no chão, e acertando Kamijou com sua testa dura, tudo ao mesmo tempo. Ela claramente era a maior valentona da cena.

Index v14 002-003 Pt-br.jpg

Enquanto isso, Tsuchimikado, que estava usando óculos escuros azuis, virou-se para os dois lados e gritou.

— Nyaa! Viva as coelhinhas brancas da DFC!

Aogami Pierce não pôde ficar quieto depois de ouvir isso.

— Por que você sempre prefere as "tábuas"? E você nem gosta mesmo de coelhinhas! Você se satisfaz com qualquer loli!

— Isso é verdade, Aogami Pierce. Seja em uma roupa de coelhinha, um collant de ginástica ou um maiô escolar, quando colocadas juntas à maravilha que é uma loli, as pequenas distinções entre uniformes são discutíveis. Então meu argumento é que lolis ficam bem com qualquer roupa que usem. Assim sendo, uma loli coelhinha é a melhor coelhinha!

— Seu maldito! Então você realmente não estava falando sobre coelhinhas?!

Os três idiotas começaram a dobrar as mangas para um segundo round quando Oyafune Suama, que ainda estava no chão usando seus óculos e uma roupa formal, puxou um apito do seu bolso.

Tweeeet!! Um barulho muito alto soou e Saigo-sensei, um orientador parecido com um gorila, se aproximou deles com um andar pesado, vindo da parte de trás da sala de professores.

Parte 3[edit]

No fim, Kamijou e os outros foram forçados a capinar atrás do ginásio.

Era uma área úmida onde o sol nunca batia, mas as ervas pareciam crescer bem lá. Bastou dar uma simples olhada na grande quantidade de ervas verdes e ele perdeu toda a motivação para o trabalho. Parecia que não havia necessidade de fazer a área bonita porque ninguém ia lá.

Mas havia algo que deixava sua motivação mais baixa ainda.

— Maldição. Aogami Pierce e Tsuchimikado desapareceram.

Apenas dois dos quatro ordenados a capinar estavam lá: Kamijou e Fukiyose.

Enquanto olhava a área que se estendia atrás do ginásio, Kamijou desanimou. Atrás da fina parede do ginásio, ele podia ouvir as vozes enérgicas e felizes dos times de vôlei e basquete desfrutando suas atividades extraescolares. Isso só fazia os grilhões mentais do trabalho duro ficarem mais pesados.

Mesmo assim, reclamar que Tsuchimikado e Aogami Pierce haviam desaparecido não iria fazer aquelas ervas daninhas sumirem.

Kamijou pegou um carrinho de mão para transportar as ervas daninha para a lixeira e colocou um par de luvas.

— Você sabe, nós só conseguiremos terminar isso tarde, bem depois do horário permitido para alunos permanecerem na escola. Nós podemos então capinar sem pressa até que eles nos chutem para fora.

— Se pudéssemos arrumar um piro cinético para nos ajudar, nós acabaríamos bem rápido, Kamijou reclamou ainda mais.

Fukiyose reclamava sobre ter sido punida junto com eles enquanto tirava ervas daninha com mais eficiência que Kamijou.

Cinco minutos depois, Kamijou se cansou de capinar e tentou puxar conversa com Fukiyose, a qual estava trabalhando duro, um pouco mais afastada.

— Ei, Fukiyose.

— O quê?

Fukiyose devia estar entediada também, já que rapidamente entrou na conversa.

Kamijou falava enquanto continuava o trabalho.

— As provas de outubro foram canceladas, mas você continua a passar todo seu tempo livre estudando sozinha. Por quê?

— Que tipo de pergunta é essa? Fukiyose respondeu. — Sem as provas de outubro nossas notas do segundo semestre estarão concentradas nas provas finais. E a matéria das provas será o dobro do que deveria ter sido. Isso significa que teremos que trabalhar ainda mais.

— ...

— E antes que você me pergunte: não vou deixar você olhar minhas anotações.

Kamijou estava extasiado que eles não teriam provas em outubro, então a atitude indiferente de Fukiyose foi como jogar sal na ferida.

Depois de receber esse dano inesperado, Kamijou entrou em "modo contrário".

— H-hmph. Notas não são tudo, você sabe?

— Você faz parecer que eu não sei fazer nada além de estudar.

— ...Então você consegue fazer outras coisas?

— É claro que eu consigo!! Fukiyose esbravejou. — Eu posso não ter porte atlético, mas consigo arremessar uma forkball[3]. Apesar disso, eu não ligo para beisebol!!

— Eh?!

Kamijou deixou escapar um ruído idiota.

— Você provavelmente aprendeu em algum curso de longa distância ou conhece alguma maneira em que arremessando forbkalls pode se manter saudável ou algo assim.

— N-não importa como eu aprendi; só importa se eu consigo arremessar ou não! Então pare de olhar para mim como se não acreditasse, e eu vou mostrar para você!

— Certo, mas nós não temos uma bola de beisebol.

Kamijou havia dito aquilo subitamente, mas então Fukiyose Seiri tirou uma bola larga do bolso de sua saia.

— Você tem que estar mais preparado!

— Umm, está escrito “aperte essa bola 100 vezes ao dia para receber ondas saudáveis” na bola.

Kamijou estava completamente chocado, mas Fukiyose não parecia se importar. Ela parecia estar muito entusiasmada com isso, raspando seu tênis no chão para amaciá-lo.

Agora eles tinham uma bola de beisebol, mas não tinham uma luva de apanhador. Contudo, não parecia que Kamijou tinha muita opção nessa situação, então ele colocou várias camadas de luvas comuns e se abaixou, distante de Fukiyose, similar ao que os apanhadores fazem.

Kamijou falou em um tom enfadonho, quase como se estivesse suspirando.

— Certo, vamos lá, Fukiyose.

— Certo, Kamijou. Veja essa bola rápida de 150 km/h, mas não caia!

— Uma forkball de 150 km/h? Eu estou quase caindo de choque com essa mentira!

Kamijou estava desorientado.

Fukiyose parecia realmente excitada enquanto apertava com força a bola branca e colocava seu corpo na posição correta.

Ela estava concentrando suas energias quando Kamijou gritou.

— P-pa-pare, Fukiyose!

— O quê?!

Fukiyose esbravejou enquanto balançava por ser interrompida no meio do arremesso.

Kamijou hesitou ao tentar explicar, então decidiu dar apenas o núcleo da informação.

— Sua saia!

— ...?

Index v14 033.jpg

Fukiyose parecia confusa com esse comentário quando notou para onde Kamijou estava olhando. Quando olhou para baixo, ela viu que a perna que ela havia erguido estava levantando sua saia, deixando sua linda calcinha completamente visível.

Fukiyose Seiri lançou sua bola extremamente rápida.

Kamijou errou o tempo de bola e o objeto macio e emborrachado o acertou diretamente no estômago. Foi um barulho e tanto.

Enquanto se contorcia de dor, ele disse em uma voz trêmula.

— ...I-isso não foi uma forkball. Voou em uma linha completamente reta...

— Essa não valeu!!

Fukiyose declarou em um tom enérgico, em uma tentativa de enganá-lo e pegar a bola de volta.

— Agora é uma forkball. Ela vai descer, então coloque a luva embaixo.

Ela se posicionou novamente para arremessar mas, graças ao aviso de Kamijou sobre a saia, estava mais cautelosa e ergueu sua perna o mínimo possível.

Devia ser por isso que ela parecia desequilibrada. Mesmo assim, ela conseguiu lançar a bola com uma força incrível. Chocou-se na luva que Kamijou usava, fazendo um grande barulho. A mão dele doía, mesmo que eles estivessem usando uma bola de brinquedo ao invés de uma profissional. E mais, Fukiyose não arremessava por baixo, como um arremessador de softbol; ela arremessava por cima, como um jogador profissional de beisebol, e ainda lançava bem.

Kamijou suavemente apertou a bola que ele havia apanhado.

— ...Essa desceu?

— Claro! Para onde você estava olhando? Não viu o arremesso na frente de onde o rebatedor deveria estar?

— Ehhh? Parecia um arremesso normal para mim.

— K-Kamijou!! Você não consegue ver porque não está olhando da perspectiva de um rebatedor!! Se você estivesse segurando um bastão, você seria capaz de ver o efeito de uma forkball claro como o dia!

— Heh? Agora você me desafiou, Fukiyose.

Kamijou sorriu e pegou um cabo plástico de vassoura, de mais ou menos 50 cm, que eles haviam preparado por precaução.

— Vamos lá.

Ele segurou o cabo de vassoura como se fosse um bastão de beisebol e balançou a ponta com pequenos movimentos do pulso, como se tivesse medindo o tempo certo para acertar a bola.

Enquanto isso, Fukiyose pegou a bola que Kamijou levemente lançou para ela, e um sorriso largo apareceu em seus lábios.

— Você acha que pode acertar um arremesso de uma major league[4] como eu? Ridículo!

— Eu vou acertar um homerun[5].

— Então eu farei você sentir a vergonha de perder para uma forkball de veeerdaaaaadee!

— Vou jogá-la para loooongee!

Ela arremessou a bola branca.

A bola voou cortando o ar.

Se ele esperasse para ver se a bola desceria ou não, seria muito tarde para acertá-la.

Como se estivesse medindo as habilidades e intenções verdadeiras dela, ele se moveu.

Poder e tensão correram pelo seu corpo.

Ele calculou o tempo, deu uma breve respirada, juntou força em suas pernas, mexeu seu quadris junto com o movimento de suas pernas, e girou a vassoura que estava em suas mãos o mais forte que pôde.

E…

Parte 4[edit]

De seu traje e óculos até sua meia calça, Oyafune Suama estava coberta de roupas de marca. Ela era uma mulher que sabia das vantagens que a beleza trazia.

Em primeiro lugar, ela sabia disso porque era a pessoa que estava em desvantagem por não ser bonita.

Mas qualquer um pode atingir um certo nível de beleza se tentar. A teoria de Suama era que você pode até não ser a “melhor das melhores” ou até mesmo “entre as melhores” através apenas de esforço próprio, mas você poderia ser pelo menos “melhor que a maioria”. E sendo “melhor que a maioria”, você poderia sentir um gostinho das bênçãos da beleza.

Era vantajoso ser bela.

Os alunos a escutavam durante as aulas, os outros professores não a menosprezavam, e pessoas cediam seu lugar a ela na cafeteria. E tudo isso era o resultado dela aperfeiçoar seu corpo por dentro e por fora tomando vários banhos por dia, colocando loção no rosto antes de dormir, tomando café da manhã todos os dias, mantendo seu peso baixo para não afetar sua pele, passando quase uma hora pela manhã colocando maquiagem, e gastando fortunas comprando roupas ocidentais que ela via em revistas pela internet.

Quando a aula terminava, Oyafune Suama estava sempre bastante preocupada se sua maquiagem estava começando a sair e principalmente se suas sobrancelhas ‘desenhadas’ já estavam sumindo por causa do suor. Mas atitude e atmosfera de uma pessoa são partes importantes de ser “bonita”. Se ela mostrasse algum tipo de sinal que indicasse que ela estava preocupada com sua maquiagem, as “bênçãos da beleza” diminuíram, então ela não podia ficar constantemente checando em seu espelho de bolso ou indo ao toalete.

(...)

Suama lentamente olhou à sua volta.

Ela estava na sala dos professores. Neste horário, a maioria dos professores já havia saído para orientar atividades de clubes, então não havia muitas pessoas por lá. Ela pensou em checar suas sobrancelhas se ninguém mais estivesse lá, mas...

— Úaaa. Preparar lições é um trabalho duro.

Os olhos de Suama foram de encontro a uma professora que parecia uma aluna de escola primária, sentada bem próxima à ela.

Era Tsukuyomi Komoe.

Olhando para as montanhas de papéis em volta dela, parecia claro que ela estava fazendo mais que o material de um professor só. Essa pequena professora sempre olhava os dados de cada aluno e preparava a melhor aula para cada um deles, mas agora ela estava trabalhando em lições de outra classe também.

Muitos Anti-Skill estavam atualmente fazendo preparações para guerra, então eles não tinham tempo de preparar aulas. Isso significava que professores que não faziam parte do Anti-Skill tinham que ajudá-los.

Suama foi forçada a fazer planos de aula de outro professor também, mas a professora com os óculos de "triângulos invertidos" estava mais interessada na pequena altura de Komoe-sensei.

— Que tipo de tratamento você usa para deixar sua pele tão jovem? De fato, os números não batem.

— Qual é o problema? Eu sou boa em matemática, se você precisar de ajuda.

A professora de 135cm rapidamente se moveu ao ouvir a voz perplexa de Suama. Suama sabia que ela devia aprender de professores mais antigos, mas essa realmente parecia uma aluna da escola primária.

Tsukuyomi Komoe pegou os documentos na mesa de Suama e acenou com a cabeça enquanto checava cada um deles.

— A propósito, Oyafune-sensei. Eu escutei que meus estudantes causaram problemas para você hoje. Eu queria me desculpar.

— Não, não foi nada.

— Ah, me lembrei de uma coisa. Eu queria ter uma conversa com Kamijou-chan e os outros. Você sabe onde eles estão? Parece que saíram logo após a chamada. Você acha que eles foram para casa?

— Ô-ou.

Suama olhou no relógio da parede.

Eram quase seis horas da tarde.

Já se passaram algumas horas desde que ela os mandou arrancar ervas.

— Droga... Me desculpe, Komoe-sensei. Vou buscá-los imediatamente!!

— Ahh. Mas onde eles estão?

Oyafune Suama deu as costas à professora mais antiga e saiu correndo da sala de professores. Estava quase na hora das atividades de clubes acabarem, e os alunos que não faziam parte de clube já teriam ido embora, então o corredor de entrada estava escuro e quase vazio. Enquanto ela se dirigia à entrada de funcionários, aquele vazio fazia parecer mais tarde do que realmente era.

Não, delinquentes que começam brigas na escola não ficariam todo esse tempo. Provavelmente não estão mais lá capinando; devem ter pulado fora e ido embora há muito tempo.

Ela pretendia verificá-los depois de meia hora e deixá-los ir embora depois de dar uma bronca, então ela estava se sentindo culpada. Contudo, eles estavam sendo punidos, então ela não podia simplesmente se desculpar.

Nesse ponto, ela chegou à entrada para funcionários, colocou seus sapatos caros, e rapidamente se dirigiu para trás do ginásio.

E o que aquela professora de matemática viu foi

Parte 5[edit]

— Ei ei eeeeeei!! Está 13 a 9!! Sua forkball parece patética!

Kamijou balançava a pequena vassoura em suas mãos, incitando Fukiyose.

— Cala a boca! Não ignore as nove vezes que você perdeu... E se eu tivesse uma bola de beisebol de verdade, as coisas seriam diferentes!!

Desde que eles introduziram uma nova regra que o perdedor de cada rodada deveria passar cinco minutos arrancando o máximo de ervas possível, Kamijou e Fukiyose ficaram tão entusiasmados que se esqueceram que esse serviço seria muito mais fácil se os dois apenas trabalhassem juntos.

Enquanto Kamijou, de bom humor, balançava o "bastão", Fukiyose apertava a bola, e seus ombros se moviam para cima e para baixo, de acordo com sua respiração. Ela então olhou as horas no seu celular.

— Faltam apenas 30 minutos até o horário máximo que podemos ficar... Mas é tempo mais que suficiente para virar isso!

— Ei, seus arremessos estão caindo como deveriam?

— Eu já te disse que estão! Estão caindo como raios! Por que você não consegue ver a bola caindo repentinamente bem na sua frente?

— Ehh? Para mim, parecem mais parábolas...

— Preste mais atençãããããããoooo!

Fukiyose gritou o mais alto que podia e arremessou a bola.

Em resposta à bola vindo em sua direção, Kamijou começou a se mover para um giro completo do bastão.

(Uma forkball...)

Ele finalmente reagiu às palavras de Fukiyose e corrigiu levemente a trajetória da vassoura para baixo.

Mas a rota do arremesso não mudou.

Continuou em linha reta.

— Maldição... Viu? Você não está fazendo direito!!

Ele tentou corrigir novamente a trajetória do bastão, mas era tarde demais.

O bastão se moveu levemente para cima, mas não alcançou a rota do arremesso.

Mesmo assim, ele sabia que o cabo de vassoura raspou levemente a bola.

— Gwoooohhh!

Kamijou gritou, mas ele sentiu que não havia acertado solidamente a bola.

A bola branca tocou de leve no cabo da vassoura, mudou um pouco sua trajetória diagonalmente para cima, e voou para algum lugar atrás de Kamijou.

(Droga. Errei!)

Não havia faltas nesse jogo. Se o bastão acertasse a bola e a mesma voasse para frente, a vitória seria de Kamijou. Qualquer outra situação seria vitória de Fukiyose. Eles distinguiam strikes e bolas contando somente com a visão.

Um ponto irritante dessas regras é que o perdedor teria que buscar a bola. E como o perdedor tinha também que arrancar ervas por cinco minutos, buscar uma bola que voou longe era realmente um saco. Ainda segurando o cabo de vassoura usado como bastão, Kamijou começou a pensar em um plano.

(Dah. Estava 13 a 9, certo? Acho que inteirei 10 derrotas então. Talvez eu devesse demorar a pegar a bola propositalmente, assim o tempo vai acabar enquanto eu ainda estou na frente.)

Mas então ele escutou um barulho estranho atrás dele.

— ...?

Kamijou não fazia ideia do que aconteceu, mas pela expressão chocada de Fukiyose, ele começou a ficar pálido.

(??? O que tem atrás de mim?)

Kamijou virou-se para trás.

Ele viu óculos de "triângulos invertidos" sujos de grama e terra.

Oyafune Suama estava em pé lá e foi claramente acertada pela bola em cheio no rosto.

Ela teria acertado Suama no estômago, mas o bastão de Kamijou mudou sua trajetória o suficiente para acertar o rosto dela.

— ...

Oyafune Suama deu uma longa, profunda respirada, mas seu corpo estava tremendo.

Quando Kamijou começou a se desesperar, já era tarde demais.

Suama veio correndo em direção a Kamijou e seu punho girando na direção dele. Kamijou se ajoelhou e se abaixou pedindo desculpas, sem perceber o que ela estava fazendo e milagrosamente evitando o punho dela. Consumida pela raiva não só pela bola, mas por ter acertado o ar com seu ataque, a professora de matemática pisou nas costas de Kamijou com a ponta do salto de seu sapato.

Parte 6[edit]

Oyafune Suama correu de volta para a sala dos professores.

Komoe-sensei deve ter ido fazer alguma outra coisa, porque ela não estava mais lá.

Suama estava tentando usar seu lenço para tirar a grama e a sujeira.

(Wah! Sujeira, sujeira, SUJEIRA! Está no meu rosto, ESTÁ NO MEU ROSTO! Ah, não! Eu devo ter tirado minhas sobrancelhas com o lenço!!! O que eu faço? O QUE EU FAÇO??!)

Ela estava obviamente em pânico e, depois de confirmar que não havia ninguém mais na sala, ela pegou o espelho de bolso para checar esquecendo de se dirigir ao toalete primeiro.

Pelo menos suas sobrancelhas estavam ok.

Mas isso não foi o bastante para acalmá-la.

Ser linda tinha vantagens.

O que também significava que era desvantajoso não ser bonita.

(Vamos ver. Está nas minhas roupas. Aqui, também. E aqui!! Meu cabelo está todo atrapalhado, estou toda suada, e tem um buraco na minha meia calça por andar tão rápido. Onde eu arrumo primeiro?)

Ela começou tirando o paletó e tirou a sujeira que estava na sua blusa branca. Então ela começou a desabotoar a blusa para balançá-la e tirar a sujeira que ela não conseguiu tirar escovando-a. Ela então tirou sua meia calça bege furada e colocou a reserva que estava na sua bolsa. Para fazer isso, ela teve que levantar sua justa saia, mas ela não tinha tempo de se preocupar. Ela tinha que retornar a sua forma perfeita e linda o mais rápido possível.

Mas...

De repente, a porta da sala dos professores começou a deslizar para ser aberta.

Suama estava levantando uma de suas pernas para poder colocar a meia calça e pulou de susto.

— Ah. Espere. Pare.

Ela tentou impedir.

— Eh? O que aconteceu?

As palavras dela claramente alcançaram quem quer que estivesse do outro lado, mas a porta se abriu mesmo assim.

Kamijou Touma estava em pé ali.

Oyafune Suama estava com sua blusa desabotoada, então seu sutiã preto estava visível. Além disso, sua justa saia ainda estava levantada para poder colocar a meia calça.

— Ky-

Ela quase gritou, mas segurou o grito.

Ao invés de gritar, ela esticou a mão até sua mesa, pegou o conjunto de réguas de metal de 50 cm que usava em aula e jogou com força total na direção da porta da sala dos professores.

Kamijou fechou a porta com força e a ponta do conjunto de réguas fincou nela como uma shuriken.

O resto do conjunto ressoou com o impacto.

Ela escutou Kamijou gritando pelo corredor.

— Wahh! Você está tentando me matar?

— Por que você abriu a porta mesmo depois que eu disse para não abrir?

Depois de colocar a meia calça, abotoar a blusa, e colocar de volta o paletó que estava dobrado sobre a cadeira, ela se dirigiu ao corredor.

No entanto, ela escutou um barulho estranho na altura de suas coxas.

— ...

Suama olhou para baixo e viu que sua meia calça nova, a qual ela usava por exatamente 2 minutos, tinha um buraco nela.

— U-um... Com licença...

Como se tivesse cronometrado, Kamijou cuidadosamente abriu a porta.

Ele viu Oyafune Suama com as pernas abertas, sua saia levantada, e curvada olhando a região de sua virilha.

Essa não era apenas uma cena que uma beldade não deveria deixar alguém ver; isso era uma cena que mulher nenhuma deveria deixar alguém ver.

— !!

Desta vez a professora de matemática silenciosamente pegou um grande transferidor de quadro negro e jogou na direção da porta. Outra peça de ensino estava fincada na recém fechada porta.

Uma voz trêmula veio do corredor.

— Eu só ia explicar porque eu tinha vindo aqui antes!

— Por que razão você teria para tornar essa situação pior ainda? Explique-me sua razão da forma mais concisa que puder!

— Um, já passou do horário que nós podemos ficar na escola. Podemos parar de arrancar ervas agora?

— É só isso?

As veias na testa de Oyafune saltaram. Ela pegou o grande compasso de quadro negro de cima de sua mesa e correu em direção ao corredor na intenção de acertar o problemático estudante com ele.

Mas Kamijou Touma não estava lá.

Ela vislumbrou uma figura virando o canto do corredor, em direção às escadas.

— O que está acontecendo aqui...?

Suama murmurou, completamente exausta. Mas não havia ninguém lá para escutá-la.

Parte 7[edit]

— Maldição... Eu realmente pensei que ia morrer.

Kamijou deixou a escola e falava consigo mesmo enquanto se arrastava no escuro caminho de casa.

Era outubro agora, então começava a esfriar nessa hora do dia. Deve ser por isso que não parecia que tinha tantas pessoas na rua como no verão. Vindo de uma aeronave voando no céu sombrio, ele podia escutar um anúncio dando alertas para possibilidade de fogo por causa do ar seco.

Kamijou vagarosamente andava ao lado da calçada, evitando robôs de limpeza e pensando o que ia fazer para o jantar. Ele decidiu ir até a loja de departamentos perto da estação porque ele estava um pouco preocupado em não ter comida suficiente na geladeira. Tinha um supermercado mais barato, mas um pouco mais longe, então ele não chegaria a tempo se fosse nesse. Se ele se atrasasse, Index ficaria louca no seu dormitório por causa de seu estômago vazio.

Enquanto andava em direção à estação, ele notou uma garota de cabelos castanhos usando o uniforme da Escola Secundária Tokiwadai. Era Misaka Mikoto.

E ela estava aplicando um chute alto em uma máquina de bebidas e inclinando sua cabeça por estar confusa que nada saía de lá.

Vendo isso, Kamijou rapidamente virou em 180 graus e se apressou em sair de perto.

— É melhor evitar perigo. Como eles dizem, deixe cães que estão dormindo dormirem.

— O que você quer dizer com isso?

Quando seu comentário casual, que fizera para si mesmo, recebeu uma resposta vindo de trás dele, as costas de Kamijou se enrijeceram de pânico.

Ele cuidadosamente virou 180 graus mais uma vez e viu Misaka Mikoto à sua frente com um olhar perplexo em seu rosto.

— Uhhh... Kamijou deixou sair um pequeno "suspiro de angústia". — Por favor, me perdoe...

— Eu perguntei o que você quis dizer com isso.

— Eu estou tão cansado de arrancar ervas daninha e todas as outras coisas que aconteceram hoje! Então me perdoe e não me traga mais problemas!

— De novo. O que você quer dizer com isso?

Mikoto segurou a gola da camisa de Kamijou quando ele tentava fugir em velocidade Mach e gritou tão próximo do ouvido dele que ele pensou que a garota iria lhe arrancar sua orelha.

— Por que você tem que reduzir nossas conversas toda vez? Você nem mesmo respondeu ao email que te mandei! Deixe-me ver seu telefone por um segundo!!

— Email...? Você me mandou um email?

— Sim, mandei!

Kamijou pensou por um instante, pegou seu telefone, abriu a caixa de entrada para mostrar à Mikoto, e inclinou de lado sua cabeça, confuso.

— Você mandou?

— Eu estou falando que mandei!! O quê?? Não tem nada na sua caixa de entrada!! Não me diga que meu endereço está sendo considerado spam?!!

A princípio, Mikoto estava chocada pelo seu email, mas então ela esbarrou em outra "verdade".

Ela levantou e segurou a mão de Kamijou para impedi-lo de apertar algum botão enquanto encarava um certo nome na sua pasta de recebidos.

— Porque você tem o endereço da minha mãe no seu telefone?

— Hah?

(Pensando bem, eu realmente encontrei Misaka Misuzu bêbada outro dia.)

A sobrancelha de Mikoto se moveu e ela começou a mexer no telefone de Kamijou. Ela estava ligando para Misuzu.

— E-ei, espere!!

Seu celular não tinha opção de alto falante, então o volume do aparelho estava bem alto. Graças a isso e ao fato de que ele não estava tão afastado de Mikoto, ele podia escutar o barulho do telefone chamando.

— Alô, mãe? Eu preciso te perguntar uma coisa.

— Hã? A tela do meu celular deve estar com defeito, não estava mostrando o seu número, Mikoto-chan.

Misuzu parecia confusa.

Do que Kamijou conseguiu escutar da conversa entre mãe e filha, Mikoto estava pedindo uma explicação detalhada de como o número de Misuzu foi parar no celular de Kamijou.

— Hmm...

A resposta de Misuzu veio lentamente.

— Eu acho que eu encontrei esse garoto na Cidade Acadêmica uma noite dessas... mas eu estava bêbada, então eu realmente não me lembro dos detalhes. Eu não faço a mínima ideia de como o meu número pode ter parado no celular dele. Ha ha ha.

— Entendi. Entendi. Mikoto balançou a cabeça lentamente e desligou.

Ela sorriu e elegantemente devolveu o telefone ao Kamijou.

— O que diabos você estava fazendo com minha mãe quando ela estava bêbaaadddaaaa?

— Haaaa? Que tipo de dedução maluca é essa? E eu tenho certeza quase absoluta que sua mãe lembra tudo o que aconteceu! Aquela risadinha no final fez parecer que ela estava mentindo!

Isso era algo que alguém perceberia facilmente, mas Mikoto devia ter pensado que era uma crise que podia destruir sua família, porque ela ficou nervosa e envergonhada.

— Vamos mudar de assunto! Kamijou decidiu mudar o rumo da conversa. — V-veja! Eu tenho que lavar o arroz para a janta quando eu voltar para o dormitório e eu tenho certeza que está quase na hora do toque de recolher no seu dormitório! O sol já está se pondo!

— O quê? Toque de recolher? Isso é fácil de contornar.

Kamijou queria enterrar sua cabeça em suas mãos devido a facilidade com que Mikoto respondeu.

Ela provavelmente não percebeu o estado de espírito que ele se encontrava, mas pelo menos ele conseguiu mudar de assunto.

— Mas é verdade que eles tem ficado mais rígidos na checagem. Talvez por causa de como as coisas tem andado ultimamente. Até mesmo pessoas que nunca leram jornal estão ocupadas olhando notícias nas TVs de seus celulares ou procurando sites de notícias na internet.

— ...

— Mas eu acho que todos estão preocupados com o que aconteceu.

Mikoto provavelmente se referia ao que aconteceu em 30 de setembro.

Aquele acontecimento foi o gatilho que iniciou a guerra invisível.

Aquele evento onde o portão da Cidade Acadêmica foi destruído, os moradores de toda a cidade, sendo eles professores ou alunos foram atacados, o funcionamento da Anti-Skill e Judgment, os defensores da ordem, foram interrompidos completamente, e uma cratera com um raio de 100 metros de destruição foi criada na paisagem da cidade.

Tudo aquilo não aconteceu por causa de apenas uma pessoa. Foi o resultado de múltiplas organizações e seus ideais cruzando caminhos iguais. Até mesmo Kamijou, que estava no meio de tudo não sabia de toda a história. Na verdade, ele mesmo duvidava que existia uma única pessoa que entendia a situação por inteiro.

E se alguém que estava no meio de tudo se sentia assim, alguém que apenas foi envolvida nisso como Mikoto saberia muito pouco.

Talvez por estar distante do centro de tudo ela achou que podia investigar isso de uma distância segura.

E certamente Mikoto não acreditou por completo na versão oficial que dizia que o ataque foi feito por um esper cientificamente desenvolvido em segredo por um grupo religioso estrangeiro.

Mikoto desviou seu olhar do rosto de Kamijou e pôs sua visão ao longe.

Mais ou menos 500 metros de onde eles estavam agora estava a área que foi destruída pelo aparecimento de um certo "arcanjo". Kamijou pensou que ela poderia estar relembrando o acontecido de 30 de setembro, mas parecia que ela estava observando aquela aeronave no céu sombrio.

Notícias estavam sendo mostradas na grande tela ao lado da aeronave.

— Até agora, os protestos e demonstrações em larga escala feitos pelos membros da Igreja Católica Romana só haviam acontecido na Europa, mas agora eles se fazem presente na América também.

A voz do apresentador era calma.

— Atualmente, isso está acontecendo apenas em cidades da costa oeste como São Francisco e Los Angeles, mas espera-se que se espalhem por toda a América em pouco tempo.

Um vídeo começou a rodar.

Parecia ser de L.A...

Devia ser tarde da noite lá, mas o vídeo mostrado se passava no meio do dia.

(Maldição. Está se espalhando muito rápido...)

O rosto de Kamijou mostrava uma expressão de quem olhava para um ferimento terrível.

Como no começo de uma maratona, numa pista de uma autoestrada três delas ficaram completamente lotada de pessoas. Elas estavam queimando posteres da Cidade Acadêmica e rasgando em pedaços banners da mesma cidade.

Elas preenchiam estradas principais por horas para mostrar o quão nervosas elas estavam. Elas não deixavam essa raiva controlá-las e sair pela cidade destruindo coisas.

Mas mesmo assim não era seguro.

Algumas brigas devem ter acontecido. O vídeo mostrava um homem com sangue saindo da cabeça se escorando em uma ambulância. Uma freira com hematomas no rosto estava ajudando um padre que não conseguia ficar em pé sozinho e gritando por ajuda.

Todas as pessoas lá eram apenas pessoas normais.

Nenhuma delas parecia ter conexão com o mundo dos espers e dos mágicos.

Era verdade que as pessoas que participavam destas demonstrações tecnicamente faziam parte destes mundos por acreditarem na Igreja Católica Romana. Elas usavam crucifixos em seus pescoços e provavelmente podia citar partes da Bíblia.

Mas era difícil acreditar que elas pudessem ter conexão com as partes mais profundas da Igreja Católica Romana ou que conhecessem pessoas como Vento da Frente. Elas iam para escola e iam trabalhar. Nos fins de semana, elas descansariam em casa e fariam refeições ao ar livre em seus grandes quintais. Elas eram pessoas normais, pessoas do dia-a-dia.

— ...O que está havendo?

Mikoto sussurrou enquanto olhava para a grande tela fixada na aeronave.

— Eu não sei o que aconteceu em 30 de setembro, mas não era isso que eu queria. Mesmo que digam que foi aquele incidente que começou tudo isso, a Cidade Acadêmica ainda está completamente pacífica. Por que essas pessoas estão lutando umas contra as outras e se machucando por isso? Não está certo que a pessoa que está por trás de tudo isso fique escondida enquanto toda essa gente sofre.

— ...

Kamijou escutava as palavras de Mikoto em silêncio.

A pessoa por trás disso.

Mikoto inconscientemente decidiu que havia uma. Provavelmente era o que ela desejava ser verdade. Se houvesse alguém por trás disso, era possível resolver "esse" problema e tudo poderia voltar ao normal... Já que Mikoto tinha uma poderosa habilidade conhecida como “Railgun”[6], esse era o jeito mais fácil o qual ela podia pensar desta situação.

Mas não havia nenhuma pessoa por trás disso.

Era verdade que o incidente em 30 de setembro que iniciou tudo isso foi causado por pessoas específicas: Vento da Frente e Kazakiri Hyouka. E havia “alguém” por trás de suas ações. Se os eventos daquele dia tivessem sido propriamente detidos, as coisas poderiam ser resolvidas pelo método que Mikoto queria.

Mas a situação atual não era a faísca que originou o fogo.

Isso era o grande incêndio que veio como resultado da faísca.

Já estava bem além do estágio em que capturar a pessoa por trás disso iria resolver o problema.

As pessoas que participavam dos protestos eram todas pessoas normais. E elas não estavam sendo ordenadas a fazer isso. Elas leram os jornais ou assistiram as notícias na TV e decidiram tomar parte da indignação. Todos estavam meramente agindo de acordo com suas crenças pessoais.

Para “deter a pessoa por trás disso” você teria que socar todas as pessoas em volta do mundo que participavam dessas demonstrações.

Essa não era a verdadeira solução.

Mas como isso poderia ser resolvido?

— ...O que está acontecendo?

Mikoto somente repetiu o que havia dito antes, mas desta vez essas palavras perfuraram o coração de Kamijou.

Isso não era um problema o qual um garoto poderia achar uma resposta.

Nas entrelinhas 1[edit]

A Torre de Londres era uma atração turística bem conhecida na Inglaterra.

No passado, era uma instalação sanguinária, de tortura e execução; a última parada para prisioneiros. Foi dito que uma vez que você passasse dos portões, nunca mais sairia vivo. Mas estava atualmente aberto para o público e apenas por 14 libras (menos do que um chá da tarde em um restaurante) qualquer um podia entrar e dar uma espiada. Não eram apenas os aparatos históricos de tortura que estavam à mostra; você também podia ver os tesouros da família real.

Mas ao mesmo tempo, havia um grande “ponto cego” da instalação que ainda era usado para seu propósito original.

Como uma sombra profunda que se forma por causa de uma luz brilhante, uma pessoa podia se aproximar da Torre de Londres como um turista, mas ainda havia um “ponto cego” confuso. Os prisioneiros ainda eram mantidos lá e eram torturados ou executados sem hesitação quando necessário. A Torre de Londres era bem conhecida por suas execuções e esse propósito sombrio ainda é realizado nos dias de hoje.

Se alguém entrasse pela entrada normal, esse "lado obscuro" era totalmente inacessível.

Se alguém entrasse pela entrada secreta, não poderia escapar do "lado obscuro".

— ...Este lugar continua sombrio como sempre.

Stiyl Magnus sussurrava enquanto tragava o cigarro que trazia.

Ao contrário das partes abertas à visitação, as áreas ainda usadas eram corredores apertados e escuros. O amontoado de pedras que fazia parte das paredes estava manchado por causa da fuligem das lâmpadas, e o balançar das chamas fazia parecer que as manchas se moviam. Não devia haver muita proteção contra a umidade, pois o chão estava coberto de orvalho frio.

A garota que andava junto com Stiyl começou a falar.

Era Agnese Sanctis, ex-freira da Igreja Católica Romana.

— Então nós iremos interrogar Ridovia Lorenzetti e Biagio Busoni?

— Eu quero lhes perguntar algumas coisas sobre o "Assento Direito de Deus". Como a líder de um esquadrão como você não sabe, provavelmente será mais rápido se eu perguntar aos VIPs.

— Você acha que eles vão dizer algo à você? Eles são praticamente nobres.

— Veja e aprenda; vou te mostrar como lidamos com isso na Inglaterra. Dizer para cada membro de suas Forças vai ser um saco, então você pode contar a eles depois.

Stiyl parou em frente à porta.

Era uma porta grossa de madeira, escurecida pela umidade.

Ele abriu a porta sem bater, chegando a uma sala pequena. Era uma sala quadrada com somente 3 metros de cada lado. Essa sala era apenas para “interrogatório”, então não havia objetos de tortura geralmente associados à Inquisição. O que estava na mesa diretamente parafusada ao chão era um par de cadeiras para duas pessoas, similarmente firmadas ao chão.

A cadeira à direita da mesa era pouco almofadada.

Por outro lado, a cadeira à esquerda da mesa era madeira pura. E os apoios para os braços tinham cintos e fivelas metálicas para restringir os braços de uma pessoa.

E o assento para duas pessoas da esquerda tinham duas pessoas presas nele.

Eles eram Ridovia Lorenzetti e Biagio Busoni.

Eles eram pessoas importantes que tinham posições especiais dentro da Igreja Católica Romana.

— Tenho certeza de que sabem o motivo pelo qual estou aqui.

Stiyl sentou na cadeira à direita e falou com um tom irritado. Agnese não sabia se devia sentar também, então ficou em pé próxima a ele.

Biagio, um bispo de meia-idade, estava preso na cadeira por um cinto. Ele encarou Styil. Seu olhar nunca ficou diretamente nela, mas Agnese se encolheu, sendo ela uma ex-membro da Igreja Católica Romana.

Contudo, Styil não parecia se importar.

Poderia ser pelo fato que ele foi privado de sono, chegando ao ponto que desgastava sua mente, não afetando sua saúde, mas Biagio não parecia bem. Seus cabelos e pele perderam seu brilho e agora apenas pareciam secos e quebrados.

Index v14 004-005 Pt-br.jpg

— ...Então você quer falar. Se for me dar um sermão da Bíblia, é melhor deixar para domingo.

— Diga-me tudo o que você sabe sobre o "Assento Direito de Deus".

— Tragam os aparelhos de tortura que a Igreja Anglicana tem tanto orgulho. Eu quero mostrar a um amador como você o que significa piedade.

A arrogância de Biagio continuava forte como sempre.

Enquanto isso, Ridovia não parecia interessada na conversa. Não parecia que ela estava suprimindo suas emoções; ela realmente não sentia nada forte o bastante que se mostrasse em seu rosto. Ridovia devia ter mais paciência que Biagio, quem a irritação se mostrava claramente em suas feições.

Isso era exatamente o que Agnese esperava e ela sabia que isso ia demorar um pouco.

— Não subestime a Necessarius.

Biagio não era o único arrogante.

Styil Magnus lentamente soprou a fumaça de seu cigarro e sorriu.

Era um sorriso surpreendentemente cruel.

— Nós não nos preocupamos se você acabar morrendo pela tortura. A Necessarius[7] tem métodos de conseguir informações do cérebro de um cadáver. Embora isso seja uma questão de nível de defesas e nível de danos.

Até mesmo Agnese sentiu um calafrio quando ouviu isso.

Ele devia saber que Styil não estava blefando, porque Biagio tinha um olhar irritado. Também, Ridovia finalmente parecia ter se interessado quando voltou seu olhar para Styil.

Styil começou a falar em um tom irritado, parecendo alguém que estava prestes a começar um trabalho o qual não queria fazer.

— O que vocês chamam de "tortura" e o que chamamos de "tortura" são duas coisas diferentes. Ideias ridículas de que você vai achar paz na morte não funcionam aqui. Eu não me importo se você resistir, mas isso significaria morrer em vão.

Houve uns poucos segundos de silêncio.

Biagio continuou a encarar Styil, mas Ridovia começou a falar.

— Nós não nos importamos com coisas triviais como essas também.

Ela olhou nos olhos de Styil enquanto falava.

— Mas tem uma coisa que eu quero saber. Como estão as coisas lá fora?

Styil parecia confuso com a pergunta, mas se lembrou.

(Pensando bem, houve um relatório sobre isso.)

Ridovia Lorenzetti era uma singularidade até mesmo para os Católicos Romanos que estenderiam a mão para pessoas que a sociedade abandonou.

Para ela, estar aprisionada na Torre de Londres, sem poder saber o que estava acontecendo lá fora, fazia com que ela se preocupasse enquanto "protetora". Tudo o que ela havia escutado era o caos que se espalhava no mundo.

Ao se lembrar disso, um sorriso apareceu no rosto de Styil.

— Eu tenho certeza que você consegue adivinhar o que está acontecendo.

— ...

A expressão de Ridovia se desfez levemente.

É claro, as primeiras pessoas a serem vítimas dos tumultos e do caos são os mesmos tipos de pessoas frágeis as quais ela tentava proteger.

— ...Hmph.

Por outro lado, Biagio Busoni era bem mais elitista, que acreditava que o clero era superior a todos os outros. Ele estava mais interessado nos efeitos e resultados do caos do que da destruição que ele causara.

Ridovia olhava para o rosto de Styil enquanto falava.

— Em troca da minha cooperação, eu peço que liberte todos os meus “companheiros” que estão presos aqui. Eu quero que os soltem para que eles ajudem o máximo que puderem para acabar com esse caos e dar abrigo aos fracos e oprimidos que foram pegos nele.

Foi Biagio, não Styil, quem reagiu a isto. Ridovia estava completamente calma, enquanto Biagio não fazia esforço para esconder sua irritação. Ele estalou sua língua tão forte que parecia que estava cuspindo.

Enquanto isso, Styil não mostrava reação.

— Você realmente acha que concordaremos com isso?

— Eu vou fazer vocês concordarem.

— Como?

Depois que Styil fez sua pergunta, Ridovia parou de respirar por um tempo.

Então seus lábios suavemente se moveram enquanto ela estava presa na cadeira.

— San Pietro elude le trappole dell’imperatore e del mago. (São Pedro escapa das garras do imperador e do mago.)

Styil parecia confuso com as palavras dela.

Eles tiraram todos os amuletos e itens espirituais dela. Ela não devia ser capaz de realizar nenhuma magia entoando um feitiço aqui.

Uma luz brilhou.

Não vinha da direção de Ridovia Lorenzetti.

Vinha próxima de Styil. Mais especificamente, vinha da cruz Católica Romana que estava no pescoço de Agnese.

— Tch!!

Antes que Styil pudesse reagir, um raio de luz voou da cruz. O raio se estendeu na direção de Ridovia como uma estaca e destruiu o cinto e as fivelas que prendiam seus braços na cadeira.

Ridovia pegou um pedaço afiado de metal quebrado e se lançou na direção de Styil.

Os braços dos dois se chocaram com um barulho que parecia ser um tiro.

— ...

— ...

Styil e Ridovia estavam em silêncio.

Styil tinha um pedaço de metal quebrado apontado para sua garganta. Ridovia tinha o canto de uma carta de runa apontada para sua garganta.

— ...! Ridovia!

Depois de se recuperar do choque, Agnese se apressou em pegar seu bastão de Lotus que estava escorado na parede.

Mas Styil usou sua outra mão para tirar Agnese do caminho enquanto encarava Ridovia.

O mago estava claramente se divertindo. Era como se dissesse: "É assim que um interrogatório deveria ser".

— Você realmente achou que podia tirar minha vida com tanta facilidade?

— Se você não libertar o número de pessoas que eu preciso, não tenho outra escolha.

Ridovia falou em um tom despreocupado.

— Eu exijo que você solte Oriana Thompson para que ela possa guiar aqueles que foram pegos nos tumultos.

— Por que você acha que está em posição de fazer exigências?”=

A voz de Styil não mostrava hesitação.

Oriana era a hábil mensageira que havia sido parceira de Ridovia.

— A mensageira sabe da situação no mundo. E ela veio com um acordo para "sua líder Ridovia Lorenzetti poder proteger os fracos". A Igreja Anglicana fez um acordo em que ela temporariamente vai cooperar conosco. Se você quer libertá-la disso, não acho que ela vá aceitar.

— ...

Ridovia e Oriana tinham tido a mesma ideia.

E Oriana agiu mais rápido.

Ridovia permaneceu em silêncio e Styil continuou falando.

— Não desperdice o que ela fez. Essa situação foi iniciada pela Igreja Católica Romana... não, pelo "Assento Direito de Deus". Então, se eles forem derrotados, isso pode vir a ser resolvido, certo?

Ridovia não respondeu.

Biagio estalou sua língua e desviou seus olhos como se dissesse que isso era ridículo.

Depois de um longo, profundo silêncio, ela lentamente abriu a boca.

— ...O que você quer?

— O objetivo de Necessarius é claro.

Styil ainda parecia irritado enquanto falava.

— Nós queremos salvar os cordeiros perdidos que foram engolidos pelo poder esmagador da magia. Nosso objetivo é o mesmo que sempre foi.

Ridovia encarou Styil.

Ele não recuou.

Seja o que for que Ridovia observava em Styil, ela finalmente suspirou e relaxou.

— ...Eu nunca os encontrei diretamente, mas em algumas ocasiões eu escutei um pouco sobre eles.

As palavras de Ridovia Lorenzetti ressoaram na sala escura do interrogatório.

Agnese finalmente sentou próxima a Styil e abriu um pedaço de pergaminho para registrar o que havia sido dito.

— E pelo que eu escutei, o "Assento Direito de Deus" está...

Referências e Notas de Tradução[edit]

  1. Veículo/Robô humanóide controlados por humanos no seu interior, imitando os movimentos do piloto.
  2. Festival comemorado em 15 de novembro. Nesta data, meninas de 3 e 7 anos e meninos de 3 e 5 anos, vestidos em kimonos especiais, vão aos santuários com suas famílias para pedir por saúde, crescimento e felicidade. Shichi-go-san (七五三) significa, literalmente, sete, cinco e três, números que indicam boa sorte e idades consideradas marcantes na vida de uma criança.
  3. Bola usada em partidas de beisebol.
  4. É o nível mais alto de jogo em beisebol profissional nos Estados Unidos da América.
  5. É uma rebatida na qual o rebatedor é capaz de circular todas as bases, terminando na casa base e anotando uma corrida.
  6. Em português "Canhão Elétrico". É uma arma cujo sistema de funcionamento utiliza a eletricidade para acelerar um projétil ao longo de um par de trilhos metálicos, usando o princípio de um motor homopolar.
  7. Do latim necesse + arius. (Em português: Inevitável, Necessário.). Em japonês 必要悪の教会ネセサリウス (Hitsuyōaku no Kyōkai), lit. "Igreja do Mal Necessário". Possui tal nome pois seus membros usam a "magia" para lutar de igual contra os bruxos/hereges, coisa essa não aceita nas Igrejas Anglicanas visto que possuem uma cultura anti-magia.


Voltar para Prólogo Retornar para Página Principal Ir para Capítulo 2