Boku wa Tomodachi ga Sukunai:Volume 1 Hasegawa Kodaka

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Hasegawa Kodaka[edit]

Eu estava lendo na biblioteca quando percebi que o sol já estava se pondo no horizonte.

Era hora de ir para casa. Saí da biblioteca e então lembrei que havia esquecido meu uniforme de educação física, então voltei para a minha sala de aula.

Já que a maioria dos estudantes já havia saído da escola ou fazendo as atividades de seus clubes, não havia muitos estudantes no corredor.

Andei pelo corredor vermelho-âmbar sozinho.

Quando cheguei à porta da quinta sala do segundo ano, pude ouvir risadas vindo de dentro.

“Haha, você está brincando, Não tem como isso ser verdade.”

Parecia que ainda havia alguém dentro da sala de aula.

Era uma voz feminina.

Como eu posso descrever a voz... Vamos apenas dizer que era uma voz bem agradável.

O tom não era nem tão alto e nem tão baixo, entrava pelos meus ouvidos e percorria o meu cérebro onde ele repentinamente se esvaiu me dando uma sensação maravilhosa.

Mas eu não lembrava de ter ouvido essa voz antes.

Apesar de ter passado apenas um mês desde que me transferi para cá eu deveria reconhecer a voz de todos os meus colegas de classe. Eu não teria esquecido o dono de uma voz tão maravilhosa.

Outra coisa que notei foi que eu só podia ouvir uma voz.

Provavelmente ela estava falando ao telefone.

Acho que se eu entrasse na sala enquanto estivesse falando ao telefone ela não se assustaria muito, não é?

Bem, apesar de não poder evitar, eu não queria assustá-la.

Eu gostaria de evitar essa situação.

Então o que eu deveria fazer... Eu deveria esperar ela terminar sua ligação e sair da sala?

Não, espere um segundo. Não é como se eu estivesse planejando algo ruim. Eu não poderia só entrar na sala como outra pessoa normal e pegar minhas coisas? Não seria melhor?

Dentro da sala havia uma aluna.

Ela estava sentada ao lado da janela que estava aberta. Suas pernas justas, sombreadas pelo pôr do sol, balançavam encostadas à parede. Ela estava conversando alegremente.

Quando a brisa suave soprava, um brilho azul podia ser visto em seus cabelos.

Ela não era alta nem baixa e tinha um corpo magro.

Além disso, ela era muito linda, em outras palavras, alguém que uma pessoa normal se referiria como Bishoujo[1].

Pelo que me lembrava, o nome dela era Mikazuki Yozora.

Normalmente eu sou bem ruim em me lembrar do rosto e do nome das pessoas juntos. Pondo os estudantes homens de lado, eu só lembrava o rosto de poucas garotas; mesmo assim eu tinha apenas uma pequena impressão delas.

Ela era uma de minhas colegas de classe na 5ª sala do segundo ano.

Mikazuki Yozora; uma estudante da 5ª sala do segundo ano da Escola de Santa Crônica... mesmo que isso fosse o que eu sabia, eu ainda estava confuso.

“Ahaha, foi o que eu disse antes, não é verdade. Ah, sabe aquele professor,”

Pelo que me lembrava, eu nunca a havia visto conversando como uma garota normal.

Mikazuki sempre teve um olhar carrancudo em seu rosto. Havia uma constante áurea irritada ao seu redor. Durante os intervalos eu nunca a vi indo a lugar algum ou com alguém.

Nas aulas de inglês, algumas vezes há exercícios de diálogo com outros estudantes. Ela apenas sentava em seu lugar e encarava a janela. Aparentemente ela era assim desde o primeiro ano e nosso professor de inglês desistiu dela há muito tempo.

E também, quando era para ela responder perguntas na classe, ela sempre respondia as perguntas corretamente com uma voz forte, diferente do tom descontraído que estava usando agora. (Ela parecia uma estudante esforçada; nunca a vi responder uma pergunta incorretamente).

“Eeh? Sério? Ahaa isso é tão gentil...”

Sem seu olhar carrancudo e sua atitude irritada e com sua risada inocente Mikazuki pareceu uma pessoa completamente diferente. Ela... era bem fofa.

Aquela realmente era Mikazuki Yozora?

Com toda a seriedade me debati nesse pensamento.

Ela não estava segurando um celular.

Não havia mais ninguém na classe que não fosse ela e não ouvi a voz de ninguém que não fosse a dela.

Ela estava olhando para um ponto vazio, como se alguém estivesse ali, conversando alegremente.

Sozinha numa sala de aula à luz do pôr do sol, uma bishoujo estava conversando com algo invisível.

Estranhamente o início das light novels que li na biblioteca eram bem parecidos.

Então isso que estava acontecendo, certo?

Eu acidentalmente descubro seu segredo e sou arrastado em suas batalhas com fantasmas, monstros e coisas assim que ‘não deveriam existir nesse mundo’. Já que a bishoujo e eu sobrevivemos a diferentes tipos de batalhas e dificuldades nós nos apaixonamos um pelo outro. Eu estava destinado a encontrar esse tipo de história clichê?

Mas se me acalmasse e pensasse nisso, aquele cenário era impossível. Aquelas novels possuíam algumas ilustrações em meu coração, apenas isso. Era apenas porque minha vida escolar era tão idiota que eu subconscientemente via esse tipo de história sobrenatural.

Infelizmente eu estava começando a ficar um pouco desconfortável.

Sem perceber eu acabei girando a maçaneta da sala de aula.

Kachak.

A porta abriu suavemente.

“Falando nisso, naquela hora que a Tomo-chan disse─”

Eu fiz contato visual com Mikazuki Yozora.

Por um pequeno segundo ela pareceu estar sem palavras. Mas rapidamente voltou à sua expressão irritada de sempre... e sua anatomia se tornou várias vezes mais vermelha que o pôr do sol.

Aquilo era extremamente ruim.

Só o que eu podia fazer era agir como se não tivesse visto nada, dizer em voz alta que havia esquecido minhas coisas, pegá-las e sair dali.

Mas por uma infeliz coincidência, minha carteira estava bem na frente da dela.

Então não tive escolha senão ir na direção dela. Enquanto sorria pobremente, andei cuidadosamente até ela (tecnicamente eu estava indo na direção da minha carteira).

Naquele instante Mikazuki possuía um olhar assustado em seu rosto.

“É como uma águia que avista sua presa e lambe o bico com euforia...!”

Como eu esperava, ela estava me encarando.

Com minha súbita presença, ela estava completamente em guarda contra mim.

“Ah isso...”

Se eu apenas me aproximasse dela sem dizer nada, ela continuaria a permanecer hostil perto de mim. Eu acho que deveria primeiro abrir minha boca e dizer algo.

“O quê.”

Ela me encarou e perguntou. Seu tom era completamente oposto ao que eu tinha ouvido antes. Estava bem baixo, como se não mostrasse nenhuma moderação em sua hostilidade.

“Isso...”

Infelizmente eu não era um detetive policial ou um negociador. Além disso, eu nunca fui tão sociável pra começar. Eu não sabia que tipo de tópicos de conversação poderia usar para quebrar o gelo.

“Você... pode ver fantasmas ou algo assim?”

“Você... pode ver fantasmas ou algo assim?”

De qualquer forma, eu senti a necessidade de dizer algo. Então eu disse isso.

Em resposta, Mikazuki disse “O quê?” de novo. Ela me olhou como se eu fosse um idiota.

“Por que teria um fantasma aqui?”

“Não, mas você estava falando com algo...”

Rapidamente o rosto de Mikazuki ficou vermelho cintilante.

“Então você viu...”

Depois de ela gemer indignadamente, virou para mim novamente e me olhou diretamente. De forma orgulhosa e de cabeça erguida ela anunciou,

“Eu estava conversando com meu amigo. Meu amigo de ar!”

...?

Levou quase meio minuto para tentar e compreender o que ela havia acabado de falar.

E então eu finalmente entendi; ela havia acabado de dizer algo que eu era incapaz de entender.

“Amigo de ar?”

Enquanto ela fazia uma careta, Mikazuki assentiu com irritação.

“O que significa isso?”

“Significa exatamente o que eu disse que significa! Não tem algo chamado ‘guitarra de ar’? É algo assim, mas é um amigo!”

“... Vejamos...”

Eu levei minha mão à testa para me dar uma chance de pensar.

“Então você está dizendo que tem uma amiga imaginária e estava só conversando com ela? Então por que─“

“Não é imaginária. Tomo-chan é real! Veja, ela está bem aqui!”

Parece que o nome da amiga de ar dela é Tomo-chan.

E claro que eu não vejo ninguém na direção que ela está apontando.

“É sempre um prazer conversar com a Tomo-chan. Eu sempre me esqueço do tempo. Ter amigos é tão bom...”

Mikazuki disse seriamente, até mesmo corando um pouco enquanto falava.

“Só estávamos falando sobre aquele dia no ginásio quando fomos ao parque de diversões e uns caras tentaram cantar a gente, e como conhecemos nosso novo professor; esse é o cenário.”

“Cenário! Você acabou de dizer cenário!”

“Eu nunca disse isso! Essas coisas realmente aconteceram!“

“Então das coisas que você estava falando, quantas delas são verdade?”

“Ginásio.”

“Então foi 100% inventado?! Pelo menos a parte do “parque de diversões” deveria ser verdade...!”

“O que tem de tão divertido em ir em um parque de diversões sozinho?”

“Você acabou de admitir que estava sozinha.”

“Ah, isso não conta. É que Tomo-chan é tão fofa que se fôssemos a um parque de diversões sozinhas seríamos incomodadas por idiotas, com certeza. Pelo menos podemos ir ao parque de diversões na minha mente.”

“Você acabou de dizer que sua amiga foi ao parque de diversões em sua mente...”

Ela era um caso perdido... se eu não fizesse algo logo...

“Por que essa expressão?”

Mikazuki olhou severamente pra mim.

“Não, isso...”

Eu apressadamente dei um passo para trás.

“Se você quer conversar com amigos por que não sai e faz alguns? ... Digo, amigos reais, não de ar...”

Eu fui direto ao ponto e foquei no assunto principal.

Mas Mikazuki bufou para a minha sugestão.

“Huh, é mais fácil falar do que fazer.”

Wow.

Ela era tão franca que me deixou sem palavras.

E então Mikazuki olhou para mim ainda mais claramente.

“Ei, agora que te vi de perto, você não é o aluno transferido que sempre está sozinho na sala de aula?”

Você só percebeu com quem estava falando agora?!

“Você não está em posição de ensinar os outros a fazer amigos também, aluno transferido.”

“Faz um mês desde que comecei a frequentar essa escola. Pare de me chamar de aluno transferido.”

Mikazuki ficou em silêncio após ouvir minha reclamação.

“... Seu nome?”

Ela nem mesmo sabia meu nome. Droga.

“... Hasegawa Kodaka.”

Eu disse a ela meu nome.

“Kodaka eh? ... Huh. Você não está em posição de ensinar os outros como fazer amigos, Kodaka.”

“Por que começou a me chamar pelo primeiro nome?”

“Huh? Qual o problema?”

Mikazuki parecia despreocupada.

“... Nada.”

A última vez que fui chamado daquele nome foi por meus colegas de classe formandos na minha antiga escola. Fazia tanto tempo que alguém da minha idade havia me chamado daquele jeito, me senti um pouco feliz.

Enquanto isso, Mikazuki continuou com seu olhar triste.

“... Faz um mês e você ainda não fez nenhum amigo. Deve ser tão solitário.”

“Não quero ouvir isso de alguém que tem um amigo de ar!”

Mikazuki suspirou levemente.

“Está dizendo que Tomo-chan é idiota? Tomo-chan é fofa, inteligente, atlética, amigável, sociável, boa ouvinte e... ela nunca me trairia.”

Pude perceber que disse a última parte de maneira bem emocional.

“Amigos de ar são bons, por que não tenta fazer uns também?”

“Não, obrigado. Eu estaria pisando em um reino fora da sanidade humana se fizesse isso.”

“O jeito que você disse isso fez parecer que eu não posso mais ser considerada humana.”

Eu silenciosamente evitei olhar para Mikazuki.

Mikazuki corou novamente e então murmurou:

“... Eu sei. Eu sei que estou fugindo, eu sei disso. Mas não posso evitar; eu não sei como fazer amigos...”

Ela disse.

‘Eu não sei como fazer amigos’ já que me sentia da mesma forma, permaneci em silêncio.

“O que eu tenho que fazer pra ter... amigos.”

Eu suspirei e murmurei.

Mikazuki suspirou também.

“... Então, Kodaka. Você também não fez amigos na sua antiga escola?”

Balancei a cabeça.

“Na verdade eu fiz.”

“Huh?”

Ela parecia cética.

“É verdade. Por coincidência tinha uma criança interessante sentada ao meu lado. Por causa disso ele era bem popular, então naturalmente as pessoas formavam um círculo ao redor dele e saiam juntos.”

“Fuhuh... Então você ainda fala com seu colega de classe depois disso?”

“...”

Meus olhos se afastaram.

“... No meu último dia todos foram para um restaurante para uma festa de despedida. Naquela hora todos estavam tipo ‘se você passar por aqui não se esqueça de nos dizer’ e ‘lembre-se de me mandar uma mensagem’... Eles disseram essas coisas...”

“Em outras palavras, quando você trocou de escola eles te largaram.”

Mikazuki disse a verdade sem hesitação.

“... Você pode dizer que eram seus amigos, mas seria só consideração sua.”

Enquanto ela continuou com seus golpes eu fiquei abatido.

“... Falando nisso, quando a conta chegou à mesa estava dividida; eles nem mesmo me trataram bem na minha própria festa de despedida...”

Até mesmo Mikazuki olhou como se estivesse com pena de mim.

Eu mudei o assunto e disse,

“Mas o que aconteceu no passado não é importante; o que importa é o presente e o futuro!”

“... E daí?”

“Aí...”

“..”

“...”

Novamente silêncio.

“... Que tal perguntarmos aos outros para serem nossos amigos como pessoas normais?”

Em resposta à minha pergunta Mikazuki bufou novamente.

“Esse tipo de coisa só acontece em programas de TV, e mesmo assim eu não entendo. Outras pessoas simplesmente viram seus amigos só porque aceitam? Mesmo que você seja um estranho para eles? E o que acontece depois de virarem amigos, eles podem continuar sendo seus amigos mesmo que não tenham um assunto em comum?”

“... Bem, eu concordo com você nessa parte.”

“Certo? Ah, sim.”

Mikazuki juntou suas mãos.

“Você teve uma boa ideia?”

“Sim.”

Ela assentiu confiante.

“Que tal pagarmos para ter amigos? Coisas físicas são mais atraentes que meras coisas verbais.”

“Isso é muito patético!”

“Ficar juntos na escola por mil ienes, incluindo comida e bebida. Que tal isso...”

“Contrato de amor... Não, contrato de amizade?!”

“Você entende as coisas bem rápido. Que piada engraçada. Sim, um contrato.”

Mikazuki não parecia nem um pouco animada. Ela disse sem expressão,

“... Se pagar diretamente não funciona, que tal se comprassemos alguns jogos?”

“Jogos?”

“Se você tem os mais novos vídeo games em casa, então você pode atrair outros para serem seus amigos, com coisas como VirtualBoy e NeoGeo.”

“O que é VirtualBoy e NeoGeo?”

Eu não estava familiarizado com essas palavras estrangeiras.

“Só disse os nomes de alguns consoles que conheço. ‘Virtual’ e ‘Neo’, quando você ouve esses termos você não fica energizado?”

“São bons nomes, mas... Eu nunca ouvi falar deles. Ah, bem, que seja, quem liga. De qualquer forma, só os garotos gostam tanto assim de vídeo game, não acha?”

“... Acho que sim.”

Mikazuki pareceu arrependida, e então disse,

“... Não é como se eu precisasse fazer amigos, de qualquer forma.”

“O quê?”

“... Não me sinto mal por não ter amigos. Só não quero que outras crianças me rebaixem e digam ‘aquela garota não tem amigos, que triste’.”

“Ah, entendo.”

Todo mundo diz que ter amigos é algo bom e então pensam que não tê-los é algo ruim.

“Eu não me importo em estar sozinha. Quando encontro com outras pessoas na escola é o suficiente se só precisar lidar com elas quando for preciso.”

O jeito que ela disse me passou a impressão de que estava sendo exageradamente egoísta.

“Pelo menos isso é melhor que ter amizades vazias.”

Então ela zombou amargamente.

“Todos são assim, ok? Mas quantas pessoas você acha que existem no mundo que estão juntas, não por amizades falsas, mas por amizades verdadeiramente sinceras?”

“...”

Para mim, que perdi todo o contato com os amigos só porque mudei de escola, não era possível negar o que ela disse.

“... Mesmo assim eu ainda quero fazer amigos de verdade.”

“Fuuhuh”

Eu insisti e Mikazuki deu uma resposta bem sincera.

“... Então o que você acha que deveria fazer? Métodos que poderiam rapidamente fazer você ter amigos.”

“Eu?”

Pensei silenciosamente e depois de hesitar, disse,

“... Que tal se eu entrar em um clube?”

“Clube?”

“Se você trabalhar com outros membros vai acabar achando alguns interesses em comum. Conhecer melhor uns aos outros com as atividades do clube não parece ruim.”

Acho que é uma ideia boa e realista.

Para Mikazuki, já que estava sozinha aqui depois da aula, havia chances de também não estar em nenhum clube.

“Rejeitado.”

Mikazuki se irritou e rejeitou minha proposta.

“Por quê?”

“É embaraçoso.”

“... Ei!”

Eu a encarei, ela olhou de volta para mim e continuou.

“Pense nisso, já estamos em Junho do nosso segundo ano. Para a maioria dos clubes, suas relações internas já estão feitas. Não se sentiria envergonhado se entrasse no meio?”

“É verdade. Você tem razão.”

“Não é?!”

Mikazuki estava feliz por algum estranho motivo.

“Mesmo assim, eu não posso avançar até superar essa pedra no caminho.”

Eu disse.

“Então, você tem alguma coisa em que é bom Kodaka...? Algo que tem praticado desde o primeiro ano, uma habilidade que ninguém pode te superar?”

Mikazuki subitamente perguntou.

Eu pensei nisso por um segundo.

“... Não, não tenho.”

Eu respondi vagamente. Um pequeno sorriso surgiu no rosto irritado de Mikazuki.

“Digamos que você se junte a um clube, você iria se infiltrar nas dinâmicas interpessoais já estabelecidas. Tudo isso só porque você quer ‘fazer amigos’, e por causa disso, você bagunça a dinâmica do grupo. E finalmente, você é um novato sem nenhuma habilidade surpreendente... quem iria recepcionar alguém assim?”

“Ugh...”

Gemi.

Não pude pensar em uma única resposta.

Motivo inapropriado, falta de habilidade, e finalmente, estragar trabalho em equipe. E isso fica melhor ainda pelo fato de eu ser um estudante transferido.

E então Mikazuki murmurou,

“... Mas, atividades do clube... atividades do clube...”

Mikazuki parecia estar tendo pensamentos intensos.

“─É isso, atividades de um clube!”

Ela gritou.

“...?”

Eu estava atordoado, mas Mikazuki apenas sorriu confiante.

Ela era tão fofa quando ria, mas só quando ria.

Depois disso Mikazuki saiu seriamente da sala de aula.

Eu não entendi exatamente o que estava acontecendo, mas sabia que ficar sozinho na sala de aula seria inútil. Então peguei meu uniforme de educação física e fui pra casa.

Depois de chegar em casa e terminar meu jantar, tirei meus cadernos da mochila.

“Haah...”

Suspirei enquanto abria o caderno de inglês.

Eu odiava as aulas de inglês.

Não porque eu não sou bom nisso.

Minha mãe é Inglesa então na verdade inglês é minha especialidade.

Eu não sou ruim nisso, mas odeio as aulas. Para ser mais exato, às vezes nas aulas de inglês você precisa fazer diálogos em inglês com pessoas com quem você sai, ou ‘praticar com seus amigos’, e eu odiava isso.

Para alguém que não tem amigos, eu me tornava sombrio sempre que era forçado a entrar nesses grupos.

Falando nisso, por razões parecidas, eu odiava as aulas de educação física.

Eu, Hasegawa Kodaka, tenho sido transferido de escolas por todo o Japão graças ao trabalho do meu pai. Entretanto meu pai começou a trabalhar no exterior à um mês. Por causa disso, durante o meio de maio do meu segundo ano, eu retornei à minha antiga casa na cidade de Tóquio pela primeira vez em 10 anos.

Além disso, já que meus pais são antigos amigos do diretor da escola, eu fui posto na Escola de Santa Crônica.

E então, eu comecei a sair pelo campus.

Como eu posso dizer... delinquente juvenil? Gangster? Isso é o que os outros pensam de mim.

O motivo disso é basicamente pela minha aparência.

Como eu mencionei, minha mãe é Inglesa. Ela tem lindos cabelos loiros.

Como seu filho, eu também tenho cabelo loiro, mas não é tão agradável como o dela. Meu cabelo tem vários tipos de cores, como se tivessem sido queimado. Por ser assim deixa as pessoas desconfortáveis.

Então ninguém pensa que meu cabelo é de cor natural.

Se eu não explicar isso, as pessoas que me veem pensam que eu sou um tipo de ‘delinquente juvenil que queria ir pra um salão para pintar seu cabelo de loiro, mas faltava dinheiro pra isso. Então ele comprou tinta com um vendedor de rua e tentou pintar ele mesmo e falhou’.

Além do mais, fora a cor do meu cabelo, eu tenho a maioria das características faciais do meu pai japonês. Minhas íris são pretas e minhas características faciais são de estilo japonês. Meus olhos também são um pouco mal humorados.

Quando eu era um estudante do ginásio, havia várias ocasiões em que eu agia normalmente e as pessoas me perguntavam por que eu estava encarando elas.

Santa Crônica é conhecida por seus estudantes disciplinados. Para comprovar o rumor, comparada com todas as minhas escolas anteriores, os estudantes eram muito calmos. Seria por que nenhum deles foi incomodado por delinquentes, ou por que não tem nenhum delinquente na área? Eu só podia imaginar.

E também há o fato de que... Eu me atrasei no primeiro dia. Acho que esse gigante e retardado erro também faz parte do motivo.

Aconteceu um mês atrás.

Eu sabia que para um estudante transferido, uma primeira impressão é importante, e eu não poderia me atrasar. Então saí de casa duas horas mais cedo (6 horas) do início das aulas.

Leva dez minutos para ir da minha casa até a estação; se eu pegar o ônibus, leva vinte e cinco minutos. Quando eu cheguei ao terminal de ônibus antes das seis e meia, eu era a única pessoa usando o uniforme de Santa Crônica.

Tenho certeza de que é cedo, pensei. Então embarquei no ônibus que normalmente vai à Sawara Kita (onde a escola fica)[2].

Então eu fiquei a bordo do ônibus por quase uma hora, em outras palavras, o ônibus não parou no ponto de ônibus de Santa Crônica. Eu sabia que algo estava errado, mas já que o ônibus estava lotado com homens de negócios, eu não tive a chance de perguntar ao motorista. Ao mesmo tempo eu me senti envergonhado em perguntar a algum estranho no ônibus. Então continuei até o ponto final.

Depois de todos os passageiros saírem do ônibus, eu tive a oportunidade de perguntar ao motorista. Foi então que eu descobri que o ônibus estava destinado à Sagara Kita, não Sawara Kita. Além do fato dos dois parecer iguais, os dois ficavam no norte. Você não poderia distingui-los.

Então peguei o ônibus de retorno, fiquei nele por mais uma hora, voltei ao local perto da minha casa e esperei pelo correto. Novamente não havia nenhum estudante de Santa Crônica no lugar porque a hora do rush havia passado. Eu ainda esperei 20 minutos pelo ônibus certo.

Eu estava atrasado no meu primeiro dia. Quando finalmente cheguei na escola, eu queria chorar.

Já que o professor da nossa sala já havia ido dar aula em outra sala eu não tive escolha senão entrar na sala no meio do primeiro período. Então lá estava eu sentado sozinho no meio da sala; meus colegas de classe já me olhavam estranhamente.

Meus olhos estavam um pouco vermelhos pelas lágrimas que eu havia evitado derramar. Tentei camuflar meu nervosismo ao deixar meus olhos vesgos e suprimir minha voz e disse friamente ‘Eu sou um estudante transferido. Meu nome é Hasegawa Kodaka.’. Meus colegas de classe ficaram perturbados pelo que eu disse. O professor de sociologia, que pareceu um pouco frágil, ficou perturbado também. Ele me deixou sentar em um lugar vazio.

Depois de o primeiro período acabar, ninguém veio tentar falar comigo.

Normalmente quando você tem um colega novo em sua classe você pergunta coisas tipo ‘onde você mora’, ‘do que você gosta’ e ‘medidas do corpo’. Eu até mesmo tive o trabalho de preparar algumas respostas engraçadas e espirituosas, então eu poderia deixar uma impressão de ‘que cara divertido’ na mente das outras pessoas. Eu estava confiante de que poderia respondê-los lindamente, especialmente aquelas perguntas idiotas sobre as medidas do corpo. Mesmo agora, quando lembro disso eu rio. Foi uma oportunidade perdida.

E isso continuou por um mês.

Eu, que sofri um enorme contratempo no começo, não tive a chance de me redimir.

Nas aulas de inglês meu parceiro sempre foi o professor (Um americano que parecia ter um interesse especial em mim por causa da minha pronúncia). Nas aulas de educação física eu sempre formei grupo com uma criança excluída pelas outras turmas (Mas era claro pra mim que ele também tinha medo de mim). Durante a prática de passagem no futebol, as pessoas raramente passavam a bola para mim. Ninguém nunca gritou meu nome e passou a bola. Algumas vezes havia pessoas que passavam para mim sem intenção, mas então elas se sentiam desconfortáveis e se desculpavam. Sempre que acontecia eu também me sentia desconfortável, assentia para eles e dizia ‘Aah...’. Uma vez eu tentei sorrir e dizer ‘Não tem problema’, a pessoa engasgou e olhou aterrorizada. E no dia seguinte ele me pagou um suco e me implorou por perdão.

Eu sempre comi meu lanche sozinho na sala.

Houve essa vez em que eu queria comprar pão, e uma garota de outra sala sentou no meu lugar. Quando eu voltei, ela, junto com seus amigos com quem estava comendo, rapidamente correu para fora da sala. Para um garoto adolescente, ter garotas correndo para longe de você pode ser uma experiência bem traumática. Naquela noite eu chorei no banheiro.

Esse tipo de coisa aconteceu várias vezes. Sempre que me lembrava delas eu me sentia traumatizado pela experiência. Mais algumas vezes e eu chegaria ao meu limite.

Eu tentei ler livros e estudar na livraria e na classe para mostrar uma imagem ‘sofisticada’, mas não adiantou muito.

Eu chorei assim que terminei minha lição de casa (se eu escrevesse uma novel de celular chamada ‘A trágica história da juventude’ minhas circunstâncias venderiam bem).

Naquele momento me lembrei da conversa que tive com Mikazuki depois da aula.

Uma trágica colega de classe que conversava alegremente com seu amigo de ar.

Ela era tão linda também... que desperdício.

Mas um amigo de ar, huh... ela parecia bem feliz lá...

Não!

Eu estava seriamente considerando ter um amigo de ar! Eu puxei minhas bochechas com as mãos e disse,

“Não, de jeito nenhum! Se eu fizesse isso eu estaria fora da realidade também!”

Eu precisava ter uma boa ideia para mudar a situação.

... Eu originalmente pensei que entrar em um clube seria uma boa ideia.

Na verdade, eu estava pensando nisso antes de encontrar com Mikazuki.

Mas como eu disse, eu não tive coragem de entrar em um clube já estabelecido. Agora com o que ela disse hoje; eu seria o novo cara que atrapalhou as relações no clube. É lógico que eu não seria popular. Na verdade, se eles negarem minha inscrição (eu não quero nem pensar nisso) eu não seria capaz nem de me levantar de novo.

“Haah...”

Esse mero pensamento era o suficiente pra me sufocar.

Já que terminei minha lição de casa, eu deveria tomar um banho agora e ir dormir...


No dia seguinte, durante o intervalo de almoço.

Quando eu estava almoçando sozinho na sala, Mikazuki subitamente parou em pé na minha frente.

“Kodaka venha aqui.”

Ela ainda tinha um olhar irritado em seu rosto. Sem esperar por minha resposta ela saiu da sala.

“Quê? Ei?! Espere!”

Eu timidamente a segui.

Logo depois de eu sair a sala ficou bem mais barulhenta.

Com eu a seguindo, ela rapidamente virou na entrada mais longe do prédio escolar, numa plataforma de descanso nada popular.

Quando eu finalmente a alcancei, ela se virou e disse,

“Toda a papelada está pronta.”

Do que ela estava falando?

“... Papelada?”

“A papelada para começar um novo clube.”

“Um novo clube?”

“Aah, veja, se você não pode entrar em um clube já estabilizado, por que não criar um você mesmo.”

Eu finalmente percebi que isso era uma continuação da conversa de ontem depois da escola.

“...Ah, a conversa sobre fazer amigos. É uma forma, eu acho. Se é um clube totalmente novo não há preocupações com relações já estabilizadas.”

Mas não funcionaria se não tivesse ninguém no clube para começar uma relação.

Se você não quer entrar no meio das relações interpessoais dos outros clubes, faça um você mesmo. Isso não derrota o propósito?

“... Espere um pouco. Você disse ‘Toda a papelada está pronta’.”

“Foi o que eu disse.”

“... E que tipo de clube é?”

Eu perguntei ansiosamente. Mikazuki proclamou confiantemente,

“O Clube dos Vizinhos.”

“Clube dos Vizinhos?”

Ela assentiu.

“De acordo com os ensinamentos do Cristianismo, o esforço de nosso clube para se tornar um bom vizinho para nossos estudantes e melhorar nossa amizade com eles, e fazer sinceras ofertas para nos melhorar em se adaptar a diversas situações.”

“Isso parece... suspeito...”

Eu notei.

Eu não pude identificar o motivo do clube!

“E você me diz isso com um motivo tão malfeito, sua inscrição foi aprovada?”

“Não importa quão desobediente você seja essa escola sempre vê bondade em você. Na mente dos oficiais, enquanto você afofar o que fiz com o espírito do Cristianismo, ou os ensinamentos de Jesus, ou a gentileza de Maria, eles iriam entender errado suas intenções. Religião é tão descuidada.”

Eu acho que Mikazuki havia dito algo que irritaria todos os devotos do Cristianismo pelo mundo.

“... Você terminou toda a papelada em um dia? Você é mesmo bem motivada.”

Eu comentei com espanto em minha voz.

Se você pode se tornar tão ativo por que você não entra em um clube normal pra começar?

“Sou especialmente talentosa em coisas chatas e monótonas como preencher formulários e escrever propostas, coisas que posso deixar pra trás quando estiverem prontas.”

“Isso é um talento?”

“Sim. Eu também sou boa no canal de compras da TV.”

Por algum motivo Mikazuki parecia orgulhosa de si mesma. Ela começou a assentir a cabeça concordando.

Você pode ser bom no canal de compras da TV?

...Apesar de eu me assustar ao telefonar para outras pessoas.

“Então, esse Clube dos Vizinhos, é para quê exatamente?”

Mikazuki respondeu minha pergunta com uma resposta direta.

“Fazer amigos, é claro.”

“... Isso não é o que eu estava imaginando.”

“E então você pode começar a fazer amigos com pessoas que te rebaixavam porque você não tinha amigos, e um dia você pode achar aquilo chamado de ‘amigos de verdade’!”

“Eu não sou esperta?” Mikazuki disse orgulhosamente.

Eu suspirei.

“... Que seja... Faça o que você quiser.”

Mas Mikazuki se surpreendeu com minha reação e disse,

“Por que você está falando como se fosse o problema de outra pessoa? Você já é um dos membros!”

“Quê?!”

Eu ergui minha voz em surpresa. Mikazuki continuava sem se incomodar e continuou,

“Você foi embora da escola sozinho. Então eu preenchi o formulário por você. Lembre-se de me agradecer.”

“Mas o que!”

“Os professores estão bem preocupados com você também. No segundo que eu disse ‘Hasegawa Kodaka quer se tornar um dos membros também’ eles ficaram bem felizes. Um deles disse ‘Eu rezo para que ele experimente o verdadeiro espírito do Cristianismo através das atividades do clube. Talvez ele veja os erros de suas atitudes e se arrependa.’.”

“Que ‘erros de suas atitudes’!? Eu não sou um delinquente!”

Até os professores pensavam que eu era um. Eu estava chocado.

“Como eu disse, membro Kodaka, nós vamos começar as atividades de nosso clube hoje depois da aula.”

Ela se virou e saiu.

Bem, pelo menos eu tinha certeza de uma coisa; um dos motivos de Mikazuki não possuir amigos era porque ela não ouvia outras pessoas de maneira nenhuma.

Não importava o que fosse. Então foi assim.

Foi assim que eu, Hasegawa Kodaka, e uma garota estranha chamada Mikazuki Yozora, nos envolvemos nas estranhas atividades do Clube dos Vizinhos.

Referências[edit]

  1. Uma linda garota
  2. Sawara do norte


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